Não escrevi nada durante essa semana pois os dias foram todos monótonos. Como eu disse, assumimos de verdade a função de governante e passamos o dia e boa parte da noite em torno disso.

Agora somente eu, Liss e Thomas ficamos no palácio do governo o tempo todo. Danilo e os outros voltaram a morar no quartel e continuam com suas funções antigas. Os antigos guardas do palácio também quiseram voltar a suas funções de antigamente, como proteger os governantes. Mas fizemos questão de dispensá-los e mandá-los para algum trabalho no quartel.

Não precisamos mais de tanta proteção. Sabemos nos cuidar. Eu nunca admitiria ter um guarda sempre atrás de mim ou um na porta de meu quarto ou de meu escritório.

Eu quis que alguns permanecessem com a Liss. Meu lado protetor sempre fala mais alto. Mas ela não quis aceitar aquilo de jeito nenhum, e inclusive pareceu bastante ofendida por eu sugerir aquilo. Thomas também achou um desperdício.

Passamos todas as manhãs, sozinhos em nossos escritórios analisando papéis e dados. À tarde temos reuniões onde discutimos por intermináveis horas as melhores decisões a serem tomadas pelo país.

As primeiras medidas foram desligar todas as câmeras, acabar com o tratamento privilegiado para os governantes, inclusive a reverência que antes era obrigatória e mudar totalmente a forma da designação. Antes era o governo quem escolhia para a onde o jovem seria mandado, agora o adolescente pode escolher para onde quer ir e mesmo após iniciar seu treinamento pode mudar de ideia e ir para outra designação. Também Liss fez questão que duas vezes por mês os jovens sejam dispensados e possam ir visitar seus familiares, além de poderem ter celulares e falar com eles todos os dias. E por fim, também acabamos ampliando o dia descanso, que antes era só para os militares, para todas as classes de Tazur.

Essas mudanças ainda estão sendo implementadas e pelo que estamos ouvindo falar, estão causando certas confusões entre a população. Mas isso é normal. Logo eles se acostumarão e perceberão que isso será ótimo.

Liss se sai magnificamente bem. Melhor do que eu ou de que Thomas. A princípio ela era quem tinha mais conhecimentos sobre isso, já que acompanhava Margareth em todas as suas reuniões. Por esse fato é ela quem é a líder de nossas reuniões. Quem repassa os assuntos a serem tratados e organiza todos os papéis e anota as decisões.

Ela também é quem demonstra estar mais preparada para isso. Sabe exatamente as necessidades do país. Como as pessoas vivem. Liss veio de uma família mais pobre do que a minha e a de Thomas. Ela conviveu mais com as pessoas, e acima de tudo tem um coração bom. Sempre pensa em fazer o melhor aos outros. Sabe exatamente as necessidades do povo.

Pode parecer estranho e antiquado o que eu vou falar, mas cada vez mais fico apaixonado e perdido de amor por Liss. Muitas vezes nessas reuniões me pego olhando fixamente para ela, reparando em cada detalhe, percebendo toda a sua perfeição e acabo nem prestando muita atenção ao tópico que está sendo abordado e as palavras que estão sendo ditas.

É surpreendente que aquela menina que entrou no quartel. Aquela menina que eu acompanhei desde sua cidade até aqui, que ficou extremamente abalada quando se despediu dos pais, não existe mais. Aquela Liss já era. Agora eu vejo em seu lugar, uma verdadeira mulher! Apesar dos seus 18 anos, ela está cada vez mais madura. Sabe exatamente o que está fazendo, tem opinião formada sobre tudo, é confiante e maravilhosa.

Não sei mais o que fazer para conter esse sentimento dentro de mim. Sei que não posso me deixar levar pelos meus desejos e agarrá-la. Ela me considera um amigo, exatamente como considera o Danilo. E não quero perder isso.

Mas eu faço qualquer coisa por ela. Inclusive consegui com que um avião leve-a até Crytur para rever seus pais. Mal posso esperar até amanha para contar essa novidade a ela, e ver seus olhinhos brilhantes de empolgação.