Mundo medonho escrita por Helen


Capítulo 26
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Devit encara Hugo, pronto para atacar mais uma vez. O homem já havia largado sua espada medonha duas vezes com os impactos dos golpes do homem e de Otsugua, e está pela terceira vez tentando pegar a arma e mantê-la em suas mãos. Seu Medo havia saído de sua cabeça em nenhum momento.

Hugo consegue pegar a arma medonha de novo, e dessa vez a segura com mais força. Tenta atingir Devit pela direita, mas o homem recua, desviando. Otsugua segura Hugo e o puxa pra trás, batendo suas costas contra a parede, mas uma onda de pavor emitida por Hugo faz com que Otsugua o largue. Ele tenta se manter de pé com dificuldade, e cospe um pouco de sangue. Devit se pergunta porque os olhos do homem ainda não estão brilhando. Era como se ele não estivesse no estado completo de Rei Medonho, mesmo sua aparência alegando que sim.

A luta continua séria. Otsugua procura nos bolsos de Hugo alguma coisa que pudesse levá-lo até o caderno do homem, enquanto Devit se esforça para machucar Hugo a ponto do Medo sair para ajudar seu Medroso. Ronald e Loch assistem em silêncio, impressionados com a quantidade de golpes que Hugo sofre, mesmo Devit estando desarmado e o homem sendo o segundo melhor dos Scrupulum. Passado algum tempo, Ronald percebe que sua espada está sendo inútil nas suas mãos, e que há alguém bem ali precisando dela. O rapaz joga o sabre pelo chão, e Devit o pega com rapidez, agradecendo com um aceno com a cabeça.

O estranho Rei ataca por cima, e Devit defende o ataque com a arma recém adquirida, empurrando Hugo pra trás novamente. Finalmente, seus olhos irradiam a tão esperada luz branca. Ele joga sua arma medonha para longe, e começa a rir como um louco. Devit, estranhando a ação, fica parado, esperando qualquer movimento suspeito. Até que sente uma dor aguda atrás dos joelhos e começa a fraquejar. O mago então percebe várias pequenas dores em todo o seu corpo, que se juntam e se tornam numa só.

Fundamentado em ataques indiretos e sutis, faz o oponente ter a convicção que está vencendo pela falta de ferimentos, e assim acaba por forçar o corpo sem querer, se autodestruindo. — Devit ouve a voz do Medo, mas não o vê.

Devit cai de joelhos diante do criador dos Medos, que ri com gosto. Três risadas saíam ao invés de uma. Esse era o luxo de ter um Medo que era dois em um. Hugo se aproxima de Devit, que agoniza no chão. Ronald e Loch se preparam para correr contra Hugo, mas o Medo dele sai de sua cabeça, se dividindo em dois (um Físico e um Psicológico) e pula contra os dois.

Devit se contorce de dor, e solta o sabre. Hugo segura o sabre nas mãos e fica analisando a arma, animado. Passa as mãos sobre a lâmina fria, que parece repelir o toque do homem. "Até a lâmina é intrépida" comenta. Ele até arrisca alguns golpes com ela, mas depois a joga no chão, começando a esfregar as botas nela, a derretendo, da mesma forma que havia feito com o sabre de Devit. Hugo ouve o som espectral de Otsugua e ri, como se o tivesse vencido. O homem levanta os braços, sorrindo, e diz bem alto:

— Você não pode encontrar o que não existe!

Otsugua não desiste. Ele segura Hugo e o empurra contra a parede com mais força, fazendo ele vomitar mais sangue. Quando a alma percebe que aquilo não adiantaria enquanto o Medo dele não estivesse em perigo, Otsugua "corre" até Ronald e Loch, segurando os dois Medos, e os força a se tornarem um só novamente. Os dois humanos assistem os dois Medos flutuando e se fundindo, como se estivessem num show de horrores. A alma se irrita e joga a criatura no chão com raiva, perguntando inúmeras vezes em latim onde estava o caderno. Ele joga o Medo contra a parede, o chão e o teto, sem cessar. Isso chama a atenção do Rei Medonho, que segura Devit pelo pescoço e lentamente começa a asfixiá-lo. O ato se reflete em Otsugua, que pareceu perder a força, jogando o Medo com cada vez menos violência.

Ronald corre até Hugo e o enfrenta, o empurrando para longe de Devit. A força de Ronald era quase nada comparada à de Hugo, mas a determinação de Ronald tirava forças de onde não existia. Devit ajuda Ronald a deter Hugo no chão. Hugo se agita com ódio, procurando se soltar dos dois a todo o custo. Ronald imprensa seu antebraço contra o pescoço de Hugo, e o mesmo começa a entrar em desespero, segurando o braço de Ronald com toda a sua força. O Medo do homem corre numa velocidade estupenda, caindo por cima de Devit, tentando fincar suas garras nele.

Loch, que apenas assistia, decide ser mais útil. Corre, e pede para que Otsugua o comande. Otsugua uniu-se com a alma de Loch, e tomou posse dos movimentos do homem. A primeira coisa que fez foi jogar o Medo pra longe de Devit, e o segurar pelo pescoço. Com Medo e Rei contidos, eles poderiam lidar melhor com a situação.

Mesmo contido, o Medo de Hugo ria. Ele solta uma onda de pavor diferente das outras. A onda de energia invadiu a mente de Loch, Devit e Ronald, trazendo à tona memórias acusadoras e perturbadoras das épocas intrépidas da humanidade.

— Sintam o medo! SinTaM o MeDo! SiNtAm O mEdO!— disse Hugo, com o tom de voz desigual.

Loch perde a força diante das visões que teve, e acaba por soltar o Medo. A criatura ri, alegre, e começa a pular por todo o corredor. Sua risada ecoava e dominava a mente dos três.

O criador dos Medos se arrasta até uma parede, e então senta e observa o medo tomar conta das almas intrépidas. Subitamente, sente a sanidade lhe subir à cabeça. A imagem da tortura psicológica dos três assusta Hugo, e ele se levanta de repente, apavorado. Seu Medo, dividido novamente em dois, se aproxima, lhe perguntando o motivo do susto. "Você que fez isso com eles" diz, rindo.

De repente, os dois Medos são esmagados um contra o outro novamente. Otsugua ainda estava ali, são e salvo. Seu som espectral enche Hugo de desespero, e o homem corre. Para diante dos gritos desesperados dos três torturados e tenta correr para uma direção diferente, mas Otsugua o impede.

— O que você quer?! — berra o homem, temeroso.

"Seu motivo de estar são." diz a alma.

— Não está comigo. — a luz dos olhos dele fraqueja. Lágrimas saem dos olhos, apagando a luz. — Me deixa em paz!

Ele se agacha no chão, protegendo a cabeça com as mãos, como se isso fosse realmente o proteger. Otsugua se vira para o Medo, que está tentando se dividir de novo, na parede. Conhecendo a alma medrosa de Hugo, e sabendo de sua dependência, percebe algo óbvio. Hugo não conseguiria se manter louco se estivesse com seu caderno o tempo todo, porque toda a vez que sua loucura estivesse prestes a despertar, ele procuraria controlá-la. Pela lógica, o caderno ou estaria muito longe dele (o que era difícil, já que é um objeto de valor emocional), ou estaria com quem controlava o homem.

A alma avança com muito mais violência contra o Medo, o dividindo em dois com destreza, e esmagando cada um contra a parede, até que um deles vomita o pequeno caderno. Vendo o objeto no chão, o Medo trata de se regenerar mais rápido para ir pegá-lo novamente. A luz dos olhos de Hugo retorna, e ele se levanta, pronto para enfrentar Otsugua. Porém, a alma não se importava mais com ele, e apenas tratou logo de pegar o caderno antes do homem ou do Medo. Ao conseguir, Otsugua invadiu a mente dos três intrépidos torturados e fez o possível para afastar as memórias acusadoras. Ronald foi o primeiro a acordar da tortura, e logo em seguida Devit. A alma os apressou, dizendo que tinha o caderno em mãos. Ronald foi na frente, correndo e Devit perguntou sobre Loch para Otsugua. A alma diz havia feito o possível para amenizar a tortura psicológica, mas o despertar não seria tão rápido. Devit se vai junto com Otsugua, mesmo receoso de deixar o homem ali. Quando Hugo tenta ir atrás deles, o seu Medo ordenou que ficasse, dizendo que iria cuidar disso sozinho.

...

— Achamos! — disse Ronald, feliz da vida, no auditório onde estava Agatha.

Devit e Otsugua chegaram pouco tempo depois de Ronald, comemorando e fechando a porta do auditório atrás de si. Agatha pegou o caderno e começou a folheá-lo. A cada folha, a esperança de trazer Hugo à sanidade diminuía. As páginas estavam sujas de sangue medonho, desbotando, e nenhuma parecia importante o suficiente.

Enquanto Agatha procurava sem cessar alguma folha significativa, Ronald e Devit sentaram em bancos do auditório, se recuperando do golpe do Medo de Hugo. Nunca haviam sentido um medo tão terrível da humanidade intrépida.

— Quando a gente acabar com tudo isso — disse Ronald, depois de respirar e se acalmar um pouco. — todos os psiquiatras e filósofos desse mundo vão me dever uma.

— Por quê? — Devit soltou uma risada.

— O tanto de lições que vão sair dessa guerra medonha vai deixar umas pessoas loucas da cabeça. Talvez criem até uma religião pra isso.

— Não duvido. Mas quer saber? Quando acabar tudo isso, eu vou é pedir um dia de folga.

— E muito bem merecido.

A procura desesperada de Agatha foi interrompida por Galxy, que pediu o caderno. Folheando algumas páginas, parou em uma, que estava pouco suja em relação às outras. Nela, dois olhos violetas estavam desenhados. Galxy entregou o caderno aberto na página a Agatha, que indignou-se diante da folha. Perguntou se tinha certeza, e Galxy acenou com a cabeça um sim.

— Tragam Hugo pra cá, achei a folha. — disse Agatha.

— O que é? — perguntou Ronald.

— Dois olhos violetas.

Um flash passou pela mente de Ronald, e ele lembrou-se da "Medusa". Pensou que poderia apenas ser uma coincidência. Mas se não fosse, por que seria ela o motivo da sanidade de Hugo?

O Medo de Hugo arrombou na porta do auditório, interrompendo pensamentos. Ele fez jorrar a gosma medonha pelas paredes, e elas subiram até o teto, quebrando as luzes, deixando tudo escuro. Por sorte, Galxy tinha pele luminosa. Todos se aproximaram do cálice, e ele os carregou até a bancada. Por alguns momentos, não foi possível ver ou ouvir o Medo, até que os seus olhos brancos brilharam na escuridão.

Agatha segurou o caderno com mais cuidado, se preparando para o pior. Ronald não tinha mais o sabre, muito menos Devit. Estavam desarmados e cercados, mas ninguém recuava. O Medo se moveu com velocidade pelas paredes gosmentas e se aproximou do cálice. Quando ele pensa em saltar, recua, vendo Galxy com as mãos prontas para defender. Passos atravessam a parede de gosma medonha que se formara onde antes estava o umbral da porta. A voz de Loch é ouvida. Ele está perdido, e pergunta se há alguém ali. O som gosmento da criatura começa a correr até ele.

— É uma armadilha. — diz Devit.

O Medo enfia as garras em algo, e então entra na mente de Loch. Não era uma armadilha.

Abrindo os olhos brilhantes, novamente como Rei Medonho, Loch começa a caminhar pelo chão estranho com facilidade. Chegou até a base do cálice e começou a tentar subir, sendo empurrado por Galxy sem piedade. "Cadê Hugo?" pergunta Agatha para si mesma, segurando o caderno.

Gosma medonha começou a dominar a pele de Loch pela superfície, então ele começa a subir com muito mais facilidade, e voltar com rapidez para o cálice quando era lançado para fora.

...

Hugo anda com nervosismo pelos corredores do bunker, procurando uma saída. Sua insanidade havia tirado boa parte de suas memórias, e uma delas era a própria planta do local. Confuso, pensou que seria melhor voltar ao Medo e perguntar a ele uma saída, já que todos os Medos que estavam no bunker saíram para a Sociedade. Dando meia volta, foi até o auditório com a ajuda de algumas plaquinhas nos corredores. Chegou lá e atravessou a gosma que havia na porta, e se deparou com Galxy, o cálice, o nosso pessoal e Loch sendo controlado pelo Medo. Seus olhos não brilhavam, e por isso ninguém o percebeu.

Ele caminha pela sala escura e se senta no palco do auditório, perto do cálice, parando para respirar de cansaço da jornada inteira pelo bunker. Dentro da escuridão, fica parado, em silêncio. Ouve uma exclamação de uma voz conhecida, e então vê algo caindo no chão com leveza. Galxy segura Agatha antes que ela se jogue para pegar o caderno com as folhas, e ela esperneia. O Medo de Hugo e agora de Loch se aproxima do cálice, e dessa vez Galxy não o impede. Os dois braços de Loch seguram no batente, e Ronald e Devit tentam pisar neles, mas não tem efeito graças à gosma que protegia o corpo de Loch da dor.

Durante isso, Hugo se aproxima do caderno e passa as folhas com cuidado, até ver a única intacta. Cai de joelhos e começa a pedir desculpas incessantemente, primeiro em sussurros e depois em voz alta. Sua voz atrai a atenção de todos. O Medo ruge de ódio. Está num impasse.


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