O Vizinho Perfeito - Leonetta escrita por Nicky Uchiha Zoldyck


Capítulo 7
CAP.7 - Encontro arranjado, Sra.Calixto




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León pensou em comer algo fora, para ter uma re­feição decente. Quem sabe assim teria mais ânimo de enfrentar o horror de ter de fazer compras e ver todas aquelas pessoas armazenando carrinhos e mais carrinhos de comida no mercado.

Já vestido e sentindo-se mais bem-disposto, abriu a porta.

Violetta abaixou a mão que havia acabado de le­vantar para tocar a campainha.

– Graças a Deus que você está em casa.

León não conseguiu deixar de se lembrar do sonho que tivera havia poucas horas.

– O que foi?

– Você precisa me fazer um favor.

– Não, não preciso não.

– Mas é uma emergência! - Ela o segurou pelos braços antes que ele pudesse se afastar. - E uma questão de vida ou morte! A minha vida e muito provavelmente a morte de Andrés, neto da Sra. Calixto. Sim, porque um de nós vai morrer se eu tiver de sair com ele! Foi por isso que eu disse a ela que já tinha um encontro esta noite.

– E você acha que eu tenho algo a ver com isso porque...

– Oh, não seja ranzinza justo agora, Vargas. Não está vendo que sou uma mulher desespera­da?! Ouça, ela não me deu tempo de pensar, e eu sou péssima com mentiras. Quero dizer, não minto com muita freqüência, por isso não consigo mentir direito. Ela ficou insistindo em perguntar com quem eu ia sair, e eu não consegui pensar em ninguém mais a não ser você.

Violetta continuou de pé bem diante dele, impe­dindo-o de sair. León respirou fundo, tentando se manter paciente.

– Vamos deixar uma coisa bem clara, está bem? - disse a ela. – Isso não é problema meu.

– Não, eu sei que é meu. E com certeza teria inventado uma coisa melhor se ela não houvesse me pegado de surpresa, enquanto eu estava tra­balhando e pensando em outra coisa. - Deses­perada, Violetta passou a mão pelos cabelos.

– Ela vai ficar me vigiando, entende? Vai querer se cer­tificar de que eu vou mesmo sair com alguém.

Dizendo isso, começou a andar de um lado para outro massageando as têmporas, como que para estimular os pensamentos. León aproveitou o momento de distração de Violetta e começou a seguir em frente pelo corredor.

– Ouça, tudo que terá de fazer será me acom­panhar para fora do prédio fingindo ser alguém que está interessado em mim - falou ela, atrás de León.

– Poderemos tomar um café, ou algo do gênero, e passar algumas horas fora an­tes de voltarmos. Sim, porque ela também vai saber se não voltarmos juntos. Aquela mulher sabe de tudo! Prometo que lhe pagarei cem euros por isso.

Ouvir aquilo o fez parar de repente.

– Quer me pagar para que eu saia com você?

– Não é bem assim, mas é quase - admitiu Violetta. - Sei que o dinheiro lhe será útil, e acho justo compensá-lo pelo tempo que você vai gastar. Cem euros, Vargas, por algumas horas. Ah, e eu pagarei o café.

León se encostou na parede e ficou obser­vando-a. A idéia parecia tão absurda que chegava a ser cômica.

– Nem um pedaço de torta? - perguntou a ela. A risada de Violetta foi de puro alívio. - Torta? Você quer torta? Pois terá sua torta.

– Onde está ele? - indagou León, olhando para o bolso dela.

– Ele? Ah... o dinheiro? Espere um pouco aqui.

Violetta entrou no apartamento e León pôde ouvi-la andando de um lado para outro, abrindo e fechando gavetas e armários.

– Deixe-me apenas me arrumar um pouco - disse ela, lá de dentro.

– O cronômetro está correndo, garota.

– Tudo bem, tudo bem. Onde diabos está mi­nha... A-ha! Dois minutos, só dois minutos. Não quero que ela fique dizendo por aí que saio com rapazes sem nem mesmo passar batom.

León teve de admitir: quando ela dizia dois minutos realmente eram dois minutos. Quando voltou, dois minutos depois, estava usando um par de sandálias de salto alto, batom cor-de-rosa e um par de brincos de argola. Segundo ele pôde notar, quando ela lhe entregou o dinheiro, os brin­cos continuavam não combinando. Devia ser uma questão de preferência mesmo, concluiu ele. Uma "inusitada preferência pelo absurdo".

– Ficarei muito agradecida por isso - disse Violetta - Sei que a situação deve estar parecendo ri­dícula, mas é que não tenho coragem de magoá-la.

– Se os sentimentos da mulher valem cem euros para você, tudo bem. - León deu de om­bros.

– E melhor para mim - acrescentou, guar­dando o dinheiro no bolso de trás da calça. - Agora vamos. Estou faminto.

– Oh, quer jantar? Também posso lhe pagar um jantar. Há um restaurante ótimo no final da rua, onde eles servem massas deliciosas. Tudo bem, vamos começar o teatrinho agora - avisou ela, enquanto se encaminhavam para a saída do prédio.

– Finja que não sabe que está sendo ob­servado por ela. Aja naturalmente e segure minha mão, está bem?

– Por quê?

– Ah, pelo amor de Deus, Vargas! - res­pondeu ela por entre os dentes, entrelaçando os dedos com firmeza entre os dele e sorrindo com ar sonhador. - Estamos saindo para um encontro, lembra-se? Nosso primeiro encontro. Faça um es­forço e finja que está se divertindo.

– Mas você só me deu cem euros.

A ironia fez Violetta dar uma gargalhada.

– Puxa, você é mesmo "durão", 3B. Vamos sa­borear uma refeição quente e ver se isso melhora seu humor.

De fato, melhorou e muito. Seria preciso ser um sujeito muito mais mal-humorado do que ele para conseguir resistir ao apelo de uma enorme travessa cheia de espaguete com almôndegas, alia­da à esfuziante companhia de Violetta.

– Maravilhoso, não é mesmo?! - falou ela, gos­tando de vê-lo saborear o prato com tanta empolgação.

Provavelmente o coitado não tinha uma refeição decente havia semanas, pensou ela, lembrando-se do apartamento vazio. Talvez ele estivesse mesmo com dificuldades financeiras.

– Sempre como demais quando venho aqui - confessou. - Eles servem uma porção suficiente para meia dúzia de adolescentes famintos, mas acho que é isso que dá um certo charme ao lugar. Toda essa fartura. Depois, termino sempre levan­do para casa. o que sobrou e comendo demais tam­bém no dia seguinte. Mas dessa vez poderá me salvar levando um pouco para sua casa - acres­centou ela, com um sorriso.

– Negócio fechado - respondeu León, to­cando a taça de Chianti na dela.

– Sabe de uma coisa? Aposto que há dezenas de clubes noturnos na cidade que se mostrariam mais do que interessados em contratá-lo.

– Hum?

– Para tocar sax.

Violetta sorriu novamente para ele, que não re­sistiu ao impulso de observar aqueles lábios pol­pudos e convidativos.

– Você é muito bom no que faz - continuou ela. - Aposto que conseguirá arranjar um bom emprego logo, logo.

Divertindo-se com o comentário, León le­vantou a taça novamente, sugerindo outro brinde. Então a srta. Violetta Castilho pensava que ele era um músico desempregado? Bem, melhor assim.

– As oportunidades vêm e vão - foi tudo que León falou.

– Você toca em festas particulares? - Subita­mente animada, ela se inclinou sobre a mesa. - Conheço uma porção de pessoas, e há sempre al­guém oferecendo uma festa.

– Imagino que isso seja mesmo muito comum no seu círculo social - ironizou León.

– Posso divulgar seu nome, se quiser. Impor­ta-se de viajar?

– E para onde eu iria?

– Alguns dos meus parentes são donos de hotéis - explicou Violetta. – Worthing não fica muito longe daqui(1 hora 40 min. De Londres a Worthing, de carro). Acho que você não tem carro, certo?

León conteve a vontade de rir, lembrando-se de seu Porsche "novinho em folha" guardado em uma garagem da cidade.

– Não aqui comigo - foi sua resposta.

Violetta sorriu, mordiscando um pedaço de pão.

– Bem, de qualquer maneira, não é difícil se deslocar de Londres para Worthing.

Por mais divertido que aquilo estivesse sendo, León achou melhor amenizar um pouco as coisas.

– Violetta, não preciso de alguém para adminis­trar minha vida.

Ela fez uma careta.

– Eu sei. Esse é um dos maus hábitos dos quais não consigo me livrar. - Sem parecer ofendida, ela partiu o pedaço de pão em dois e ofereceu um a ele.

– Eu me envolvo demais com as coisas - admitiu.

– Depois fico aborrecida quando as ou­tras pessoas se metem na minha vida. Como a Sra. Calixto, atual presidente do partido "Vamos Encontrar um Pretendente para Vilu". Isso me deixa furiosa.

– Porque você não quer um pretendente - afir­mou León.

– Oh, sei que encontrarei um no devido tempo. Vir de uma família grande meio que nos predis­põe... A mim, pelo menos... A querer ter uma tam­bém. Mas ainda há muito tempo para isso. Gosto de morar na cidade grande e de fazer aquilo que quero quando eu quero. Detestaria ter de me sub­meter a horários rígidos, o que, definitivamente, não combina com meu trabalho de criação. Não que o meu trabalho não exija um certo tipo de disciplina, mas sou eu quem a faz, do meu jeito. Como acontece com sua música, imagino eu.

– Creio que sim - anuiu León.

O trabalho dele raramente se tornava um pra­zer, como o dela parecia ser. Mas sua música, sem dúvida, era feita por prazer.

– Ei, Vargas! - começou ela, com outro de seus sorrisos marotos -, quantas vezes você real­mente já se soltou e respondeu a uma pergunta com mais do que três frases curtas em uma mesma conversa?

León comeu o último pedaço de almôndega de seu prato e olhou para ela.

– Gosto do mês de novembro. Geralmente, falo muito mais em novembro. É o tipo de mês de transitoriedade que faz com que eu me sinta mais filosófico.

– Três de uma única tacada - brincou ela. - E todas inteligentes. - Sorriu para ele.

– Você tem um senso de humor escondido em algum lu­gar, não tem? - Antes que ele pudesse responder, ela se recostou na cadeira com um suspiro e per­guntou:

– Quer sobremesa?

– Claro que sim - respondeu León, como se aquela fosse a resposta mais óbvia.

León sorriu.

– Tudo bem, mas não peça o tiramisu, porque serei forçada a lhe implorar um pedaço, depois dois e então terminarei comendo metade dele e provavelmente entrarei em coma.

Sem desviar os olhos dos dela, León fez um sinal para o garçom, com a autoridade casual de um homem acostumado a dar ordens. Aquilo fez Violetta franzir o cenho.

Tiramisu - pediu ele, sem hesitar. - E dois garfos - acrescentou, fazendo Violetta rir alto. - Talvez entrando em coma, você fale menos.

– Acho que nem assim - salientou ela, ainda rindo. - Falo até dormindo, sabia? Minha irmã costumava ameaçar pôr um travesseiro na minha cabeça.

– Acho que eu iria gostar de sua irmã.

– Ludmila é maravilhosa. Provavelmente o seu tipo também. Contida, sofisticada e inteligente. Ela dirige uma galeria de arte em Lewes.

León notou que estavam quase terminando de tomar a garrafa de vinho. O Chianti era mesmo muito bom, e provavelmente estava sendo a causa de ele se sentir tão relaxado. De fato, não se sentia assim havia semanas. Ou meses. Talvez anos.

– Então vai me apresentar a ela?

– Acho que ela iria gostar de você – considerou Violetta, observando-o por sobre a borda da taça e apreciando a sensação de leveza que a bebida lhe dera.

– Você é bonito de uma maneira meio... Como posso dizer... Meio selvagem, acho. Além disso, toca um instrumento musical, o que apela­ria para o lado de Ludmila que é sensível às artes.E é auto-suficiente demais para tratá-la como al­guém da realeza. Muitos homens fazem isso.

– E mesmo? - León se surpreendeu.

– Ela é tão linda que eles não conseguem deixar de agir assim. Ludmila detesta esse tipo de atitude, por isso acaba sempre tendo de dispensá-los. Pro­vavelmente terminaria arrasando seu coração - completou Violetta, fazendo um gesto com o copo.

– Mas a experiência seria boa para você.

– Não tenho coração - declarou ele, quando o garçom chegou com a sobremesa. - Pensei que já houvesse deduzido isso.

– Claro que tem. - Com um suspiro de ren­dição, Violetta pegou o garfo e provou a primeira porção do doce, com um gemido de prazer. - Só que você o mantém guardado dentro de uma ar­madura, para que ninguém possa feri-lo novamen­te - finalizou ela. - Deus, não é maravilhoso? Não deixe que eu coma mais do que esse outro pedaço, está bem?

León continuou a observá-la, aturdido com a precisão com que Violetta tão casualmente o des­crevera, sendo que nem mesmo aqueles que di­ziam amá-lo haviam chegado tão perto.

– Por que disse isso?

– Isso o quê? Eu não lhe disse para não me deixar comer mais disso? Está querendo me matar?

– Esqueça. - Decidindo deixar o assunto de lado, León afastou o prato do alcance dela. - O restante é meu - disse e começou a comer.

Felizmente, teve de ameaçar dar uma garfada na mão de Violetta apenas uma vez.

– Nem sei como agradecer por você haver me livrado de ter de sair com Andrés - disse Violetta, quando os dois voltavam para casa.

– Por que simplesmente não diz a toda essa gente que não está interessada em ter um namo­rado? - perguntou León, intrigado.

Ela suspirou.

– O problema é que não tenho coragem de ma­goar ninguém, e acabaria fazendo isso ao dizer a verdade. Eles só querem o meu bem.

– Mas estão controlando sua vida, Violetta, mes­mo que com a melhor das intenções.

– Oh, eu não sei o que fazer! - Ela exalou outro suspiro. - Veja meu avô, por exemplo. Bem, na verdade ele não é meu avô no sentido estrito da palavra. Ele é sogro de Shelby, irmã de meu pai. Pelo lado da minha mãe, ela é prima das esposas de dois netos dele. É meio complicado, mas tentarei resumir ao máximo.

– Será que terei mesmo o privilégio de pre­senciar esse milagre? - León arqueou uma sobrancelha.

– Pare de me provocar - ralhou Violetta, sem con­ter o riso. - Bem, a ligação familiar entre Antonio e Angelica Blake e meus pais é mesmo complicada, então para que me esforçar em simplificar? Minha tia Shelby se casou com o filho deles, Alan Blake, você já deve ter ouvido falar nele, da época em que foi convidado(como hospede) a morar por uma temporada na propriedade do Duque de Cambridge.

– O nome não me parece estranho.

– E minha mãe, que antes tinha o sobrenome Castilho, é prima dos irmãos Justin, Diana e Gregor, que se casaram, respectivamente, com outros dois netos de Antonio e Angelica Blake, Serena e Caine Blake. Por isso, Antonio e Angelica são considerados como meus avós, entendeu?

– Acho que sim, mas já esqueci o motivo que nos levou a falar sobre isso.

– Oh, eu também. – Violetta começou a rir, tendo de se apoiar nele para não perder o equilíbrio. - Acho que tomei vinho demais. Deixe-me ver... Sim, já lembrei. Casamenteiros. Estávamos falando de pessoas casamenteiras,-o que meu avô, que por acaso é Antonio Blake, mostra ser em todos os sentidos. Quando o assunto é arranjar casa­mentos, é ele quem dita as regras. O homem é uma verdadeira raposa, Vargas. Você nem ima­gina... - Violetta parou um instante e começou a contar nos dedos. - Hum... Até agora, acho que sete dos meus primos se casaram com pretenden­tes arranjados por ele.

– O que você quer dizer com "arranjados"?

– Não me pergunte como, mas ele meio que escolhe a pessoa certa para os netos e depois dá um jeito de uni-los de alguma maneira, deixando a natureza seguir seu curso. Então, antes que você se dê conta, já está a caminho do altar. No último telefonema, ele me contou que meu primo, Nicholas, e a esposa dele, que se casaram no último outono, já estão esperando o primeiro filho. Meu avô está nas nuvens.

– E alguém já mandou ele parar de se meter na vida dos netos?

– Ah, constantemente - respondeu Violetta, lem­brando-se das reprimendas da avó.

– Mas ele não dá atenção. Tenho a impressão de que a pró­xima "vítima" será Ludmila ou Mel, enquanto ele ainda estiver disposto a dar algum tempo de paz a meu irmão, Marcos.

– E quanto a você?

– Ah, sou esperta demais para ele. Conheço todos seus truques e não pretendo me apaixonar tão cedo. E você, já esteve lá?

– Lá onde?

– Na terra dos apaixonados, Vargas. Não seja tão lento.

– Ora, não é um lugar, é uma situação. E não, acho que realmente não estive lá.

– Mas acabará indo - falou Violetta, com ar so­nhador. - Eventualmente... - Ela ia dizer mais alguma coisa, mas parou de repente.

– Essa não! Aquele é o carro de Andrés. Pelo visto, ele acabou vindo mesmo de Aylesbury. Droga, droga, droga! Muito bem, lá vamos nós novamente com o plano. - Dizendo isso, virou-se para León, mas teve de se apoiar nele ao sentir uma onda de tontura. - Eu não deveria ter tomado aquela última taça de vinho, mas acho que ainda sou dona do meu destino.

– Pode apostar que sim, menina.

Violetta fez uma careta de desagrado.

– O suficiente para saber que o fato de você me chamar de "menina" demonstra que está sendo ar­rogante e querendo parecer superior a mim, mas isso não vem ao caso. Teremos apenas de andar mais um pouco de mãos dadas, até passarmos pela janela da casa dela. Com muita naturalidade, está bem?

– Não vai ser fácil, mas verei o que posso fazer.

– Adoro essa sua veia sarcástica. Muito bem, estamos prontos e preparados. Agora vamos fi­car só mais um pouco aqui porque ela está olhando - acrescentou Violetta, arriscando um -olhar na direção da janela da casa da Sra.Calixto. - A qualquer momento a cortina vai se fechar. Tenho certeza.

O fato de a situação não oferecer nenhum risco, e de ele estar começando a se divertir com tudo aquilo, manteve León no lugar. Segundos de­pois, olhou disfarçadamente para trás, tentando notar se a mulher continuava à janela.

– Parece que ela não vai desistir assim tão fácil. O que faremos agora?

Violetta moveu os olhos com rapidez, como que tentando pensar em algo.

– Terá de me beijar.

– O quê?!

– E terá de ser convincente - salientou ela. - Se formos convincentes, ela se convencerá de que não estou realmente interessada em Andés. Prometo que lhe pagarei mais cinqüenta euros por isso.

León teve de se esforçar para continuar sério.

– Então, vai me pagar cinqüenta euros para que eu a beije?

– Como um bônus - justificou Violetta. - Farei qualquer coisa para mandar Andrés de volta para Aylesbury. Aja como se estivesse sobre o palco, representando. Isso não precisa significar real­mente alguma coisa. Ela ainda está olhando? - perguntou, mudando de posição.

– Sim - respondeu León, mesmo sem olhar para a janela da Sra. Calixto.

– Ótimo, então vamos lá. Aja com romantismo, está bem? Posicione os braços assim, em torno de mim, incline-se um pouco e...

– Sei como beijar uma mulher, Violetta.

– Claro que sabe. Mas um pouco de ensaio não fará nenhum mal...

León se deu conta de que a única maneira de fazê-la parar de falar seria agindo. Em vez de circundar os braços em torno dela, puxou-a de uma vez para si. A última coisa que viu antes de seus lábios esmagarem os dela, foram os expres­sivos olhos cor de mel se arregalarem de espanto.

Ele estava certo. Completamente certo, pensou Violetta. De fato, ele realmente sabia como beijar uma mulher. Teve de se apoiar nos ombros dele para não cair, pois seus pés mal estavam tocando o chão. Então, para seu próprio espanto, deixou escapar um gemido.

Sentia a cabeça zonza, como se, de repente, os dois estivessem em outro lugar, longe das pessoas e do mundo. Seu coração acelerado parecia estar batendo alto a ponto de ser ouvido, e seu corpo se tornara trêmulo, vulnerável ao apelo sensual da proximidade máscula daquele que estava se tornando uma pessoa cada vez mais presente em seus pensamentos mais íntimos.

Era quase como no sonho, pensou León, só que melhor. Muito melhor. O sabor dos lábios de Violetta era adocicado e único, incapaz de ser res­gatado apenas pela imaginação. Depois de sabo­reá-los com voracidade, afastou-a um pouco, mas somente para verificar se o ar de desejo estava tão evidente no semblante dela quanto deveria estar no dele.

Violetta ficou olhando para ele, ofegante, ainda com os braços circundando seu pescoço.

– O próximo é meu - disse ele.

Então Violetta se entregou mais uma vez àquele turbilhão de sensações deliciosas e provocantes. Não protestou quando ele insinuou a língua por entre seus lábios e começou a explorar os recantos mais secretos de sua boca.

Quando ele se afastou pela segunda vez, mo­veu-se tão devagar que foi quase como se não qui­sesse fazê-lo. León queria poder tê-la ali mes­mo, em meio à penumbra da noite e sob os olhares surpresos, e provavelmente escandalizados, dos transeuntes*. Pouco lhe importava que olhassem. Queria saciar aquela sua sede pela energia sensual de Violetta. De fato, só se conteve por saber que uma atitude mais ousada acabaria assustando-a. Ele pró­prio estava assustado com sua reação. Era como se sempre houvesse guardado um vulcão dentro de si que, de repente, resolvera entrar em erupção.

– Acho que isso será suficiente - disse a ela.

– Suficiente? - repetiu Violetta, como se hou­vesse acabado de chegar de outro planeta.

– Suficiente para convencer a Sra. Calixto.

– Sra. Calixto? - Ela balançou a cabeça, ten­tando ordenar os pensamentos. - Oh, sim, claro. Puxa, você é mesmo muito bom nisso, Vargas.

Um sorriso relutante curvou os lábios dele. A sinceridade de Violetta era realmente encantadora, pensou León. E perigosamente irresistível.

– Você também é muito boa nisso, menina - respondeu ele, conduzindo-a em direção à entrada do prédio.


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