O Vizinho Perfeito - Leonetta escrita por Nicky Uchiha Zoldyck


Capítulo 8
CAP. 8 - Conversa de Garotas




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Violetta começou a cantar enquanto tra­balhava, fazendo um dueto com Mark Foster(vocalista da banda: Foster the people- cantando a música "Call It What You Want"). Atrás dela, a janela aberta re­velava um belo dia ensolarado, vez por outra as­saltado pela leve brisa fria de abril e permeado pelo inevitável ruído das ruas de Londres.

No entanto, o sol do lado de fora não estava menos radiante do que o humor de Violetta. Viran­do-se para o espelho preso à parede, a seu lado esquerdo, tentou imitar uma expressão de espanto que pudesse ajudá-la na caracterização de sua per­sonagem. Porém, tudo que conseguiu fazer foi sor­rir. Sorrir com plena satisfação.

Já havia sido beijada antes, claro. E também fora envolvida pelos braços de um homem. En­tretanto, todas as experiências que tivera se com­paravam a um mero "incendiozinho" local, se com­paradas à explosão vulcânica que fora se ver nos braços de León.

Na noite anterior permanecera com aquela de­liciosa sensação de zonzeira durante horas. Ado­rara cada um dos momentos daquela espécie de arrebatamento de sensualidade feminina. Poderia haver algo mais incrível do que sentir-se vulne­rável e forte, boba e sábia, confusa e esclarecida, tudo ao mesmo tempo?

E tudo que precisava fazer para sentir aquilo era fechar os olhos e deixar sua mente devanear, livre de qualquer censura. Imaginou o que ele estaria pensando, o que estaria sentindo. Nin­guém conseguiria ficar indiferente a um experiên­cia daquela... magnitude. Um homem não poderia beijar uma mulher daquela maneira e não sofrer... digamos... algum efeito colateral.

Sofrer até que era uma palavra adequada, con­cluiu ela, pensando nas conseqüências em seu pró­prio corpo. Riu, suspirou alto, então voltou a se concentrar no trabalho, cantando com KT Tunstall(“Sundelly I see”)

Sim, estava mesmo se sentindo como uma garota linda. Linda até demais. O beijo de León deixara um rastro de chama em seu corpo e, embora aquilo fosse delicioso, era também assustador ao mesmo tempo.

– Pelo amor de Deus, Vilu, está muito frio aqui!

Violetta levantou a vista.

– Oi, Franática. Olá, meu amor! - acrescentou, olhando para Hugo.

O bebê olhou para ela com um sorriso sonolento, enquanto Francesca se aproximava da janela, manten­do-o apoiado sobre seu quadril.

–Vai apelar para o apelido, é? Você sentada diante de uma janela aberta, e a temperatura não deve estar mais do que quin­ze graus lá fora. Quem é a lunática aqui? - Fran riu, fechou o vidro sorrindo mas, estremeceu com um arrepio de frio.

– Eu estava sentindo um pouco de calor - declarou Violetta, deixando o lápis de lado para aper­tar a bochecha rechonchuda de Hugo.

– É mi­lagroso, não, que os homens se transformem dessa maneira? Nascem como bebês lindinhos assim e depois... Uau! Transformam-se naquilo tudo.

Francesca franziu o cenho, olhando a amiga com ar de curiosidade.

– Está com uma expressão meio engraçada - disse ela. - Sente alguma dor? - Pousou a mão sobre a testa de Violetta, em uma atitude maternal.

– Não está com febre. Agora mostre a língua.

Violetta obedeceu, ficando vesga ao mesmo tempo só para fazer Hugo cair na gargalhada.

– Não estou doente. Estou é em estado de graça.

– Hum... - Francesca apertou os lábios, não parecendo muito convencida. - Vou pôr Hugo em sua cama para tirar uma soneca. Ele está até zonzo de sono. Depois prepararei um café para nós duas e quero que me conte o que está acontecendo.

– Claro.

Voltando a adquirir o mesmo ar sonhador, Violetta pegou o lápis novamente e desenhou pequenos corações sobre o papel. Então se empolgou e co­meçou a desenhar outros maiores, esboçando o rosto de Vargas dentro de um deles.

Sim, ele tinha traços fortes e marcantes, mas que se amenizavam quando sorria. Ela adorava fazê-lo sorrir. Aliás, fazer as pessoas sorrirem era um de seus talentos.

Ficaria mais tranqüila quando conseguisse ar­ranjar um emprego para ele. Depois providencia­ria um sofá para aquela sala vazia, mas isso não seria difícil com seus contatos. Tinha muitos ami­gos que poderiam ajudá-la a encontrar móveis prá­ticos e por um bom preço. Queria ver Vargas instalado com mais conforto, só isso. Claro que não havia nenhum interesse de sua parte, afinal, faria isso por qualquer pessoa. Ainda mais por um vizinho maravilhoso que beijava como um deus saído diretamente do sonho de toda mulher.

Satisfeita com seus planos, cruzou as pernas sob si e voltou a se concentrar no trabalho.

Depois de deixar Hugo no quarto, dormindo feito um anjinho, Fran desceu para o andar de baixo e abaixou o volume do aparelho de som. Então, sentindo-se como se estivesse em sua pró­pria casa, foi até a cozinha e preparou o café. Subiu a escada pouco depois, carregando uma ban­deja com duas xícaras de café e alguns biscoitos. Aquele pequeno ritual matinal era um de seus momentos preferidos do dia.

Considerava Violetta como uma irmã e por isso fazia de tudo para vê-la feliz. De fato, não se dava tão bem nem com as suas próprias irmãs, que só sabiam viver reclamando da vida e dos maridos.

Deixando a bandeja sobre a mesa, entregou uma xícara de café a Violetta.

– Obrigada, Fran.

– Fez uma ótima tira esta manhã. Não acredito que Emily esteja disfarçada com um casaco e um chapéu, seguindo o Sr. Misterioso por todo o dis­trito de Kent. De onde ela tirou essa idéia?

– Você sabe que ela é uma criatura impulsiva e dramática. - Violetta provou um biscoito. Era co­mum as duas se referirem a Emily e aos outros personagens como se fossem pessoas de verdade.

– E abelhuda também. Ela simplesmente preci­sava saber.

– E quanto a você? Já descobriu alguma coisa sobre nosso Sr. Misterioso?

– Sim - respondeu Violetta, com um suspiro. - O nome dele é Vargas.

– Também ouvi dizer isso. - Instantaneamen­te alerta, Francesca apontou o dedo para a amiga.

– Ei, você suspirou!

– Não, só respirei mais fundo.

– Não, você suspirou. E por qual motivo?

– Bem, na verdade... – Violetta estava morrendo de vontade de falar sobre aquilo.

– Nós... acaba­mos saindo ontem à noite.

– Vocês saíram? Como um casal? - Fran puxou a cadeira mais para perto da amiga no mesmo instante. - Onde? Como? Quando? Detalhes, Vilu. Quero detalhes.

– Está bem, então. - Violetta virou mais a ca­deira, até ficarem uma de frente para a outra. - Você sabe que a Sra. Calixto está sempre que­rendo que eu saia com o Andrés, não é?

– Ah, de novo?! - Fran revirou os olhos. - Será possível que ela não vê que vocês não têm nada a ver um com o outro?

O imenso carinho que Violetta sentia pela amiga foi o que a impediu de dizer que aquilo também servia para ela e Tomás.

– Bem, é que a Sra.Calixto adora o neto. De qualquer modo, ela arranjou outro encontro entre nós ontem à noite, só que eu não estava com a mínima vontade de ir. Mas você terá de jurar que não vai dizer isso a ninguém.

– Exceto Diego.

– Tudo bem. Maridos estão excluídos do voto de silêncio nesse caso. Diego vai cair na gargalhada quando ouvir a história.- Bem, o fato é que eu disse a ela que já tinha um encontro... com o Vargas.

– Você tinha um encontro com ele?

– Não, eu só disse isso porque fiquei deses­perada. E você sabe como começo a gaguejar quando minto.

– Deveria praticar mais. – Francesca sorriu e comeu outro biscoito.

– Talvez. Mas assim que acabei de dizer isso, percebi que ela iria ficar olhando pela janela para se certificar de que eu ia mesmo sair com ele, por isso tive de apelar e fazer uma espécie de acordo com Vargas. Dei cem euros* a ele e lhe paguei um jantar.

– Você pagou a ele?! - Francesca arregalou os olhos, mas estreitou-os em seguida, com ar especulativo. - Mas isso é brilhante. Se eu houvesse tido essa idéia na época da faculdade, quando não estava namorando ninguém e nem tinha com quem sair, a história teria sido outra, minha amiga. Como se decidiu pela quantia de cem euros*?

– Achei que parecia justo. Ele não está traba­lhando regularmente, e achei que ficaria agrade­cido pelo dinheiro e pela refeição. Até que nos divertimos - acrescentou, com um sorriso. – Foi realmente muito bom. Só espaguete e boa conver­sa. Bem, na verdade, o encontro tendeu mais para o monólogo, porque Vargas não é muito de falar.

– Vargas - Fran repetiu o nome devagar. - Ainda soa misterioso. Não sabe o primeiro nome dele?

– Ele não o disse em nenhum momento e nem me ocorreu perguntar. De qualquer maneira, é melhor assim. Acho que fui meio precipitada, Fran. Ele estava parecendo relaxado, quase ami­gável, então vi o carro de Andrés e entrei em pânico. Imaginei que a Sra. Calixto não iria me deixar em paz se eu não demonstrasse com clareza que estava interessada em outra pessoa. Então fiz outro acordo com Vargas e ofereci a ele cin­qüenta euros* por um beijo.

Fran apertou os lábios, antes de tomar outro gole de café.

– Deveria ter deixado claro que esse valor es­tava incluído nos cem euros*– disse ela.

– Não houve tempo - justificou Violetta. - Já havíamos definido o acordo e não havia mais tem­po para renegociar. A Sra. Calixto estava nos espiando através da janela. Então ele me beijou bem ali, na calçada do prédio.

– Uau! - Fran comeu outro biscoito. - E qual movimento de impacto ele usou?

– Ele me puxou de uma vez e colou meu corpo ao dele.

– Minha nossa! A puxada súbita. Oh, adoro esse movimento.

– Então fiquei lá, em meio aos braços dele e mal conseguindo me equilibrar na ponta dos pés, porque ele é alto.

– Sim, ele é bem alto - anuiu Fran, ainda mastigando o biscoito. - E atlético também.

– Realmente atlético, minha amiga. Quero di­zer, seus músculos parecem rocha.

– Oh, Deus. - Fran lambeu os dedos, sem des­viar os olhos da amiga. - Então você estava lá, na ponta dos pés. E depois?

– Bem, ele... se inclinou.

– Ah, meu Deus... Uma puxada súbita com inclinação! - Em sua empolgação, Fran quase derrubou o outro biscoito que havia acabado de pegar. - Um movimento clássico. Quase nenhum homem utiliza isso hoje em dia, minha cara. Diego fez isso em nosso sexto encontro, e foi assim que terminamos no meu apartamento, experimen­tando a comida de um fast food chinês, na cama.

– Pois Vargas agiu como um perito no as­sunto. Então, quando eu estava sentindo a cabeça girar, ele se afastou de repente e simplesmente olhou para mim.

– Homens - disse Fran, com ar de censura.

– E fez tudo novamente! - festejou Violetta.

– Um duplo?! Não acredito! - Francesca segurou a mão da amiga, quase dando um-pulo de alegria. - Você recebeu um duplo, Vilu! Há mulheres que passam a vida inteira sem sequer saber o que é isso! Sonham com isso, claro, mas nunca passam pela emoção de experimentar a puxada súbita com inclinação seguida de beijo, olhar in­tenso e beijo.

– Foi minha primeira vez - confessou Violetta. - E foi... maravilhoso!

– Tudo bem, tudo tem. Agora apenas a parte do beijo, certo? Apenas a parte dos lábios e das línguas. Que tal foi essa parte?

– Muito ardente.

– Ah, meu Deus! Acho que terei de abrir a janela de novo. Estou começando a suar.

Dizendo isso, levantou-se com um movimento súbito e abriu a janela, respirando fundo.

– Então foi ardente. Muito ardente. Continue.

– Foi como ser... Sei lá, devorada. Sabe quando seu corpo inteiro fica trêmulo, um calor gostoso se espalha por seu corpo e... - Violetta moveu as mãos, tentando encontrar as palavras certas para se expressar. - Não sei como descrever.

– Tem de se esforçar. - Aflita, Fran segurou-a pelos ombros. - Tente isso: na escala de um a dez, que nota você daria?

Violetta fechou os olhos.

– Não há escala...

– Sempre há uma escala - Francesca a interrom­peu. - Não é possível...

– Não, Fran, o que eu senti não se enquadra em nenhuma escala.

Francesca deu um passo atrás.

– Deus meu... Preciso me sentar. - Francesca sen­tou-se, passando a mão pela testa. - Você experi­mentou um beijo que não se enquadra em nenhuma escala. Acredito em você, Vilu. Mas muita gente não acreditaria. Muitas pessoas poderiam até zombar dessa afirmação, mas eu acredito no que disse.

Violetta sorriu.

– Eu sabia que poderia contar com você.

– Sabe o que isso significa, não sabe? Significa que Vargas arruinou sua vida. Agora, nem mes­mo um beijo nota dez vai satisfazê-la. Você vai sempre procurar um que não se enquadre em ne­nhuma escala.

– Isso já me ocorreu. - Pensativa, Violetta pegou lápis e começou a tamborilá-lo sobre a mesa.

– Mas creio que será possível levar uma vida tranqüila e feliz, alcançando com certa regulari­dade uma escala entre sete e dez, mesmo depois dessa experiência. O homem pode até ir à lua, Fran, viajar pelo espaço e se ver em outro mundo por algum tempo, mas tem de voltar para a terra e continuar vivendo.

– Puxa, isso foi sábio. - Fran tirou um lencinho de papel do bolso da calça. - Quase heróico.

– Obrigada - Violetta agradeceu e, com um de seus sorrisos marotos, acrescentou:

– Mas, en­quanto isso, não fará nenhum mal bater à porta em frente de vez em quando, certo?.


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