O Vizinho Perfeito - Leonetta escrita por Nicky Uchiha Zoldyck


Capítulo 4
CAP. 4 - Parece que você veio mesmo de outro planeta




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León pensou em sair e ir direto para casa, mas sentiu-se irritado com a possibilidade de sua amiga estar sendo aborrecida por aquela lunática. Além disso, seria bom mostrar à sua vizinha abe­lhuda que também estava de olho nela, e que sua perseguição não passara despercebida.

Quando parou ao lado da mesa onde as duas estavam acomodadas, Violetta se limitou a levantar a vista e sorrir para ele.

– Oi. Não vai tocar mais? A música estava maravilhosa.

– Você me seguiu.

– Eu sei. Foi indelicado de minha parte, mas estou contente por tê-lo feito. Adorei ouvi-lo tocar e nunca teria encontrado Naty se não tivesse vin­do até aqui. Estávamos acabando de...

– Nunca mais faça isso - falou ele, antes de se encaminhar para a saída.

– Ooh, ele está mesmo uma fera. - Naty riu. - Esse olhar fuzilante é capaz de intimidar qual­quer um.

– Preciso pedir desculpas a ele - declarou Violetta, ficando de pé.

– Não quero que fique bravo com você.

– Comigo? Mas...

– Voltarei logo - dizendo isso, Violetta deu um beijo estalado na face de Naty, fazendo-a pesta­nejar de surpresa.

– Não se preocupe, vou resol­ver isso.

Enquanto ela se afastava, Naty ficou observan­do-a por algum tempo, antes de soltar outra de suas sonoras risadas.

– Não tem idéia de onde está se metendo, me­nina. E nem meu querido León - acrescentou, com um brilho de divertimento no olhar.

Do lado de fora, Violetta saiu correndo pela calçada.

– Ei! - gritou para León, que já se encon­trava a certa distância.

Então se repreendeu por não haver sequer per­guntado o nome dele a Naty, depois de todo aquele tempo de conversa.

– Ei! - repetiu, acelerando a corrida e conse­guindo finalmente alcançá-lo.

– Sinto muito - começou a falar, segurando a manga da jaqueta dele.

– A culpa foi toda minha.

– E quem disse que não foi?

– Eu não deveria tê-lo seguido. Mas foi um impulso, eu tenho dificuldade de resistir aos im­pulsos. Sempre tive. Além disso, eu estava irritada por causa do idiota do Tomás e... Bem, isso não vem ao caso agora. Eu só queria... Poderia dimi­nuir um pouco o ritmo dos passos?

– Não.

Violetta revirou os olhos.

– Tudo bem, tudo bem. Sei que está desejando que um piano caia sobre minha cabeça, mas não precisa ficar bravo com Naty. Nós começamos a conversar e acabamos descobrindo que a mãe dela trabalhou para minha avó e que ela, Naty, co­nhece meus pais e alguns dos meus primos de sobrenome Saramego. A partir daí, não paramos mais de conversar.

León parou de repente e olhou para ela.

– Com tantos clubes noturnos em tantas cida­des do mundo... - resmungou ele, fazendo-a rir.

– Já sei: eu tinha logo de segui-lo até aquele e fazer amizade justo com sua namorada. Sinto muito.

– Minha namorada? Naty?

Para espanto de Violetta, ele sabia rir. Rir de ver­dade, fazendo o som grave de sua voz se espalhar pelo ar.

– Por acaso Naty parece ser namorada de al­guém? Puxa, parece que você veio mesmo de outro planeta.

– Foi apenas uma suposição. Eu só não quis parecer indelicada, chamando-a de sua "amante".

O brilho de divertimento continuou nos olhos dele quando León voltou a fitá-la.

– Não deixa de ser uma idéia engraçada, mas a verdade é que aquele homem com quem eu estava tocando é o marido de Naty, um velho amigo meu.

– O homem alto e magro que estava ao piano? É mesmo? - Mordendo o lábio, Violetta pensou no lado romântico daquele contexto. - Não é lindo? - disse quase para si mesma.

León se limitou a balançar a cabeça e con­tinuou a andar.

– O que eu quero dizer é... - Hermione recomeçou a falar, confirmando a certeza que León tivera de que ela não havia terminado o raciocínio, e de que, como sempre, não o terminaria tão cedo.

– E que percebi que ela foi apenas verificar qual era minha intenção. Para ter certeza de que eu não iria aborrecê-lo entende? Então uma coisa acabou levando a outra, e você sabe como é... Só não quero que fique bravo com ela.

– Não estou bravo com ela. Você, por outro lado, já me deu razões mais do que suficientes para ficar bravo.

Violetta pareceu desapontada.

– Bem, sinto muito por isso. Prometo que o deixarei em paz, já que isso, aparentemente, é o que parece agradá-lo.

León ficou parado por um momento, obser­vando-a se afastar pela rua deserta, em direção à calçada oposta. Por fim, deu de ombros e virou a esquina, tentando se convencer de que ficara aliviado ao se livrar dela. Afinal, não era de sua conta se Violetta não se importava em se arriscar andando sozinha à noite. Além do mais, se não houvesse decidido segui-lo de repente, não estaria usando aqueles saltos tão altos e teria mais chance de correr, caso fosse necessário, diante de algum perigo.

Não, não iria se preocupar com isso.

Seguiu em frente com passos firmes, mas bastou percorrer alguns metros para girar sobre os cal­canhares com um resmungo abafado.

Iria apenas certificar-se de que ela chegaria em casa em se­gurança, só isso. Assim que tivesse certeza disso, lavaria as mãos de qualquer responsabilidade e trataria de esquecê-la.

Havia acabado de virar a esquina, quando se espantou com o que viu. Mais adiante, um homem surgiu das sombras e agarrou Violetta, que soltou um grito e começou a lutar. León soltou a ma­leta do sax no mesmo instante e saiu correndo para ajudá-la.

Entretanto, parou de repente ao ver que Violetta havia não apenas se livrado do marginal, como o atingira com um golpe certeiro do joelho em sua parte mais sensível, fazendo-o cair gemendo de dor no chão.

– Eu só tinha dez míseros euros aqui. Dez míseros euros, seu imbecil! - gritou ela para o homem, enquanto León se aproxi­mava.

– Se precisava de dinheiro, por que sim­plesmente não pediu?

– Está ferida?

– Sim, droga. E por sua culpa! - protestou ela. - Eu não teria batido nele com tanta força se não estivesse tão furiosa com você!

Notando que ela estava massageando a junta dos dedos da mão direita, que provavelmente ha­via sido usada antes do "golpe fatal" com o joelho, León lhe segurou o pulso.

– Deixe-me ver. Mexa os dedos.

– Vá embora.

– Vamos, obedeça. Mexa os dedos.

– Ei! - gritou uma mulher abrindo a janela de uma casa do outro lado da rua.

– Querem que eu chame a polícia?

– Sim - respondeu Violetta, movendo os de­dos, como León lhe pedira. Então gemeu quando ele tentou massageá-los.

– Já estou bem, obrigada.

– Vítima polida, você, não? - ironizou ele. - Pelo visto, não quebrou nada. Mas será melhor fazer um exame mais detalhado.

– Muitíssimo obrigada, doutor. - Violetta afastou a mão e levantou o queixo, indicando a rua com a outra mão.

– Pode ir agora, eu estou bem.

Quando o homem caído na calçada começou a se mexer e a gemer, León o imobilizou com o pé.

– Acho que vou ficar mais um pouco por aqui. Por que não vai pegar o sax para mim? Eu o deixei perto da esquina enquanto ainda estava sendo ingênuo o bastante para pensar que você corria perigo.

Violetta quase mandou que ele mesmo fosse pegá-lo, mas mudou de idéia ao pensar que se tivesse de bater novamente naquele bandido tal­vez já não tivesse tanta força quanto antes. Com o que lhe restava de dignidade, andou em di­reção à esquina e pegou a maleta que León deixara para trás.

– Obrigada - agradeceu ao se aproximar.

– Por quê? - indagou ele, surpreso.

– Por haver se preocupado comigo.

– Não precisa agradecer.

León forçou mais o pé ao ver o marginal co­meçar a praguejar, querendo se levantar. Somente quando a polícia chegou, dez minutos depois, foi que ele se afastou do bandido.

Violetta não teve nenhuma dificuldade em des­crever o que havia acontecido, enquanto León rezava para que ela conseguisse ser breve o suficiente para que eles fossem liberados logo. Evidentemente, tinha noção de que sua esperança era vã. Mas um homem podia so­nhar, não podia?

Porém, sua esperança arrefeceu de vez quan­do um dos policiais uniformizados se voltou para ele.

– O senhor viu o que aconteceu aqui? - León suspirou.

– Sim.


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