O Vizinho Perfeito - Leonetta escrita por Nicky Uchiha Zoldyck


Capítulo 3
CAP. 3 - Tonks's




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Foi então que Violetta decidiu seguir seu impulso, um de seus hobbies preferidos.

Destrancou rapidamente seu apartamento e deixou o prato sobre a mesinha de centro. Em seguida, saiu novamente e trancou a porta. Então começou a seguir o Sr. Misterioso, esforçando-se para não fa­zer nenhum barulho ao andar.

Seria um ótimo roteiro para uma nova aventura de Emily, pensou ela, contendo a vontade de rir.

Claro que seria preciso criar um contexto onde Emily estivesse completamente apaixonada, con­cluiu, enquanto tentava descer a escada com ra­pidez e na ponta dos pés. Uma atitude como aque­la não poderia ser justificada como normal, ad­vinda de uma mera curiosidade. Teria de ser algo mais intenso, uma espécie de paixão desenfreada.

Ofegante sob o efeito de uma intensa expecta­tiva, flagrou-se com a mente repleta de possibili­dades. Ao sair do prédio, olhou rapidamente para os lados.

Ele já se encontrava no meio do quarteirão. Uma boa distância, concluiu Violetta, começando a segui-lo e disfarçando um sorriso.

Em seu lugar, claro que Emily manteria um ar de mistério, escondendo-se atrás de postes e nas esquinas, para o caso de ele se virar de repente e...

Com um sobressalto, escondeu-se de repente atrás de um poste, quando a "vítima" de sua per­seguição arriscou um olhar por sobre o ombro. Le­vando a mão ao peito, Violetta inclinou-se ligeiramente para frente a tempo de vê-lo virar a esquina.

Aborrecida por haver decidido usar saltos em vez de sapatos mais confortáveis para o jantar, ela respirou fundo e seguiu na mesma direção onde ele havia virado.

Seu vizinho caminhou durante vinte minutos, até Violetta sentir os pés em chamas e todo aquele ânimo inicial se desfazendo como uma nuvem as­saltada por um sopro insistente. Teria ele aquela mania de caminhar todas as noites pelas ruas com o saxofone?

Talvez não fosse apenas mal-educado, mas tam­bém maluco. Provavelmente fora liberado de al­gum hospício naqueles últimos dias, e por isso não sabia ao certo como se dirigir às pessoas de uma maneira normal.

A família abastada e cruel o mantivera em uma espécie de cativeiro, afastando-o do resto do mundo para que ele não reivindicasse seus direitos sobre a herança da avó falecida, que morrera sob circuns­tâncias suspeitas, deixando toda sua fortuna para o neto. Por fim, era provável que todos aqueles anos de cativeiro, tendo de lidar com um psiquiatra cor­rupto, haviam-no deixado meio amalucado.

Sim, seria exatamente isso que Emily deduziria, chegando à conclusão de que somente seu amor puro e dedicado seria capaz de curá-lo. Então to­dos os amigos e vizinhos tentariam dissuadi-la, tentando mostrar os riscos que ela estaria cor­rendo. Mas Emily, sendo Emily, iria até o fim.

E antes que o Sr. Misterioso pudesse...

Violetta parou de repente, quando ele entrou em um clube chamado Tonks’s.

Finalmente, pensou ela, afastando os cabelos para longe do rosto. Agora, tudo que precisaria fazer seria entrar ali, encontrar um canto escuro onde pudesse se ocultar e ver o que aconteceria em seguida.

O lugar tinha cheiro de uísque e ci­garro. No entanto, não chegava a ser necessariamente ofensivo, segundo Violetta pôde no­tar. Era algo mais... atmosférico, se é que se po­deria chamar assim. O ambiente era permeado por uma iluminação suave, tendo como destaque o agradável tom de azul dos holofotes que ilumi­navam o palco. Pequenas mesas redondas se dis­tribuíam por todo o salão, e embora a maioria delas estivesse ocupada, o nível de ruído era bem baixo.

Violetta percebeu que as pessoas conversavam sus­surrando, desfrutando a companhia umas das ou­tras ou realizando novas conquistas.

Diante do espesso balcão de madeira do bar, à direita da entrada, alguns clientes se mantinham ligeiramente inclinados sobre suas bebidas, como que protegendo-as de possíveis invasores.

O ambiente lembrava o tipo de clube noturno que aparecia nos filmes em preto-e-branco da dé­cada de quarenta. Aquele tipo no qual a heroína usava vestidos longos e justos, batom vermelho ­escuro e uma mecha de cabelos caído sobre o olho esquerdo, enquanto se mantinha no palco, ilumi­nada por um único foco de luz, interpretando can­ções a respeito de amores frustrados.

Enquanto cantava, os homens que a desejavam, e contra os quais ela fazia seu protesto, manti­nham-se debruçados sobre seus copos de uísque, com os olhos parcialmente ocultos pelas abas de seus chapéus.

Em outras palavras, pensou Violetta com um sor­riso, o ambiente era simplesmente perfeito.

Esperando não ser notada, andou sorrateira­mente junto a uma das paredes e sentou-se à mesa mais próxima. Então passou a observá-lo através da nuvem formada pela fumaça dos cigarros.

Ele estava todo vestido de preto. Violetta não conteve um suspiro. O jeans e a camisa pretos ressaltavam ainda mais aquele ar sedutoramen­te másculo. A jaqueta preta de couro havia sido deixada sobre uma cadeira próxima ao palco. A mulher com quem ele estava conversando era linda,pálida com o rosto em formato de coração, cabelos negro, trajando um macacão preto feito de um tecido brilhante e muito justo, evi­denciando cada curva do corpo perfeito. Violetta calculou que ela devia ter mais ou menos um metro e sessenta ou setenta de altura. Como se não bastasse toda aquela beleza, quando ela inclinou a cabeça para trás, o rico som de seu riso se espalhou pelo ambiente.

Pela primeira vez, Violetta o viu sorrir. Mas aquilo não era apenas um sorriso,, pensou ela, encantada com a transformação na expressão do atraente semblante masculino. Aquilo era um intenso raiar do sol após uma noite sombria. Aquilo que o tor­nava tão irresistivelmente atraente a seus olhos, não poderia ser chamado meramente de "sorriso". Era uma expressão repleta de afeição, divertimen­to e charme. Mesmo àquela distância, Violetta sentiu todo seu impacto. Com um suspiro, apoiou o quei­xo sobre a mão e sorriu, como se o sorriso houvesse sido dirigido a ela.

Imaginou que ele e a bela Mulher de cabelos cor de violeta fossem aman­tes, e confirmou isso quando a mulher segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou enfaticamente. Claro que um homem magnífico como aquele tinha de ter uma amante, no mínimo, exótica, concluiu Violetta. E o lugar perfeito para um encontro entre os dois seria um clube noturno permeado por fu­maça de cigarro e músicas melancólicas.

Violetta suspirou alto, considerando aquilo tudo romântico demais.

No palco, Naty pousou a mão afetuosamente sobre o rosto de León.

– Então, agora passou a ser seguido por mu­lheres, meu querido?

– Ela é maluca.

– Quer que eu a ponha para fora?

– Não. - León não olhou para trás, mas podia sentir aqueles olhos Âmbar observando-o.

– Estou quase certo de que ela é uma maluca inofensiva.

– Um brilho de divertimento surgiu nos olhos castanhos de Naty.

– Então, vou só verificar se isso é mesmo ver­dade. Quando uma mulher começa a seguir um homem, meu querido, é melhor averiguar do que ela é capaz. Certo, Maxi?

O homem concentrado e magro sentado ao piano parou de dedilhar as teclas por um instante e sorriu para ela, em resposta.

– Faça isso, Naty. Mas não assuste a moça. Olhando daqui, ela parece ser bastante inofensiva. Pronto para começar? - perguntou ele, dirigin­do-se a León.

– Você começa, eu acompanho.

Enquanto Naty descia do palco, os dedos longos de Remo começaram a exercer sua magia. León deixou-se levar pelo ritmo do piano, então fechou os olhos, permitindo que a música entrasse em seu ser.

Era assim que sempre acontecia. Aquilo sempre esvaziava sua mente das palavras, das pessoas e das cenas que geralmente a preenchiam. Quando ele tocava, era como se não houvesse nada além da música e do magnífico prazer de executá-la.

Certa vez, dissera a Naty que aquilo era como sexo, que tirava algo de você mas lhe dava o dobro em troca. E que quando terminava, era como se houvesse sido rápido demais.

No fundo do salão, Violetta também se deixou levar pelo ritmo suave e contagiante da música. Era diferente vê-lo se apresentar de simplesmente ouvi-lo tocar, com o som abafado atravessando as paredes do prédio. Vê-lo ali no palco era algo mais poderoso, mais excitante, quase como um apelo sensual.

Aquela música era um sonho. Do tipo perfeito para servir de fundo musical para um casal em pleno ato de amor. Deus, como ele tocava bem, pensou ela, mal contendo outro suspiro. Será que ele faria amor com aquela mesma intensidade? O pensamento provocou-lhe um arrepio pelo corpo.

Estava tão concentrada no que estava aconte­cendo no palco que não viu Naty se aproximar da mesa.

– Está gostando, meu bem?

– Hein? - Violetta levantou a vista, sorrindo com ar de distração. - Oh, é maravilhoso. Quero dizer, a música é maravilhosa. Causa uma espécie de nostalgia em mim.

Naty arqueou uma sobrancelha. A garota tinha um rosto lindo e até inocente. Não parecia ser a lunática que León descrevera.

– Está bebendo ou apenas ocupando o lugar?

– Oh. – Violetta se deu conta de que um lugar como aquele se sustentava pela venda de bebidas. - Esta música pede um uísque - disse com outro sorriso. - Então vou tomar um uísque.

Naty arqueou a sobrancelha com mais ênfase.

– Você não parece ter idade suficiente para andar tomando uísque por aí, mocinha.

Violetta suspirou. Estava acostumada a ouvir aquele tipo de coisa. Sem dizer nada, abriu a bolsa e tirou seu documento de identidade.

Naty o examinou.

– Está bem, Violetta Castilho. Vou pegar seu uísque.

– Obrigada.

Satisfeita, Violetta apoiou o queixo sobre a mão mais uma vez e continuou ouvindo a música. Ficou surpresa quando Naty voltou com dois copos de uísque e sentou-se à mesa, a seu lado.

– O que está fazendo em um lugar como este, minha cara , Violetta?

Ela abriu a boca para responder, mas, no mesmo instante, deu-se conta de que não poderia revelar que seguira seu misterioso vizinho até ali.

– Moro perto daqui, e acho que apenas segui um impulso. - Levantou o copo de uísque e in­dicou o palco com ele.

– Estou contente de ter vindo - disse e tomou um gole da bebida.

Naty apertou os lábios. A garota podia até parecer inocente, mas tomava uísque como um homem.

– Se continuar andando sozinha pelas ruas, à noite, pode acabar tendo problemas, minha cara.

Um brilho de sagacidade surgiu nos olhos de Violetta, acima da borda do copo.

– Não se preocupe, minha cara - respondeu ela, no mesmo tom.

Naty assentiu, considerando a resposta.

– Talvez não seja mesmo preciso eu me preo­cupar. Sou Nathália Vidal Pontes - acrescentou ela, to­cando o copo no de Violetta, em um brinde. - Este é meu clube.

– Gostei do seu clube, Nathália.

– Ora, que bom - admitiu ela, com outra de suas ricas risadas. - Mas vejo que também gostou do meu homem, logo ali. Não tirou seus olhos felinos dele desde que chegou.

Violetta moveu o uísque no copo, pensando em como deveria atuar naquele jogo. Mesmo sabendo que poderia se cuidar nas ruas, ou em qualquer outro lugar, calculou que Naty era muito mais forte do que ela. Além disso, estavam no território dela, e sua desvantagem era mais do que evi­dente. Aquele modo de dizer "meu homem" dei­xara a situação bem clara. De qualquer maneira, não havia motivo para estragar logo no primeiro encontro aquilo que poderia se transformar em uma boa amizade.

– Seu homem é muito atraente - admitiu, em um tom casual. - Confesso que é difícil não olhar para ele. Portanto, vou continuar apenas olhando se isso não a incomodar. Além do mais, aposto que ele não tem olhos para outra mulher tendo alguém como você por perto.

Naty riu, exibindo os dentes alvos e perfeitos.

– Acho que não preciso realmente me preocu­par. Sabe mesmo se cuidar, não é, menina?

Violetta sorriu, tomando outro gole de uísque.

– Sim, eu sei. - Decidindo mudar de assunto, ela acrescentou: - Gostei mesmo deste lugar. Há quanto tempo você o tem, Nathália?

–Por favor me chame de Naty, estou aqui há dois anos.

– E antes? Esse seu sotaque é de Carlisle, não é?-Naty inclinou a cabeça de lado, com um sorriso.

– Tem bons ouvidos, garota.

– Tenho sim, mas foi fácil reconhecer seu so­taque. Tenho família em Carlisle e minha avó foi criada lá.

– Não conheço nenhum Castilho... Qual é o sobrenome de solteira de sua mãe? .

– Saramego!

Naty se encostou uma cadeira.

– Ei, conheço os Saramego! Por acaso, é pa­rente da srta. Adelaide?

– Ela é minha tia-avó.

– Grande dama - asseverou Naty.

Violetta fez uma careta, tomando outro gole de uísque.

– Impaciente, ranzinza e fria como um iceberg. Nós os ‘‘quase tri-gêmeos’’ costumávamos pensar que ela fosse algum tipo de bruxa ou algo do gênero.

–Você é gêmea? Que história é essa de ‘‘quase tri-gêmeos’’? - Naty se surpreendeu.

– Sim, somos fraternos. Eu e o meu irmão nascemos um ano após o nascimento de minha irmã Helena, mas como sempre fomos muito unidos e pareciamos muito fisicamente, ela chamava-nos de ‘‘quase Tri-gêmeos’’ - explicou Violetta.

Após uma breve pausa, Naty falou:

– Ela tem poder, mas apenas por causa do dinheiro e do sobrenome que carrega. Então você é parente dos Saramego? Mas que agradável sur­presa. Quem é sua mãe?

– Angeles Saramego Castilho , a famosa artista.

– Srta. Angie. - Naty deixou o copo sobre a mesa e levou a mão ao peito, encostando-se na cadeira com um sorriso.

– Quem diria que a filha da srta. Angie algum dia visitaria minha boate. O mundo é mesmo pequeno.

– Conhece minha mãe?

– Minha mãe trabalhou como governanta para sua grandmère, minha cara.

– Andrômeda Black? Você é filha de ‘‘tia Andrômeda’’? Ah, meu Deus!

– Violetta tocou a mão de Naty, comovida. - Minha mãe falava de tia Andrômeda o tempo todo. Nós chegamos a visitá-la uma vez, quando eu ainda era criança. Lembro que ela fez bolinhos maravilhosos para nós - acrescentou com um sorriso saudosista. - Sentamos na varanda da casa, tomando limonada enquanto comíamos aqueles bolinhos divinos. Meu pai fez um desenho dela.

– Ela mandou emoldurá-lo e pendurou o qua­dro na parede. - Naty riu.

– Vivia toda orgu­lhosa dele. Eu estava na cidade quando sua fa­mília nos visitou. Estava trabalhando. Minha mãe falou daquela visita durante semanas. Ela gostava muito da srta. Maria.

– Espere até eu contar a eles que encontrei você. Como está sua mãe, Naty?

– Ela morreu no ano passado.

– Oh. - Violetta segurou a mão de Naty com mais firmeza. - Sinto muito. Muito mesmo.

– Ela teve uma boa vida. Morreu dormindo, portanto, acho que também teve uma boa morte. Seus pais compareceram ao funeral. Teve uma base familiar muito boa, Violetta.

– Sim, eu sei. O mesmo serve para você - acrescentou ela, com um sorriso.

León não estava entendendo mais nada. Lá estava Naty, a mulher que ele considerava a mais perspicaz das criaturas, conversando com aquela maluca como se ambas fossem velhas amigas. Compartilhando o uísque, as risadas e segurando a mão uma da outra como as mulheres costuma­vam fazer quando tinham muita amizade.

As duas já estavam ali, no fundo do salão, havia mais de uma hora. De vez em quando, Violetta co­meçava um daqueles que só poderia ser outro de seus monólogos, gesticulando muito e rindo. Então Naty ouvia algumas palavras com atenção, e logo inclinava a cabeça para trás, rindo com satisfação e balançando a cabeça com ar de surpresa.

– Veja só aquilo, Maxi- disse, inclinando-se sobre o piano.

Maxi parou de tocar e acendeu um cigarro.

– Como velhas comadres - falou ele, após a primeira baforada. - A garota é muito bonita, León. Tem uma animação fora do comum.

– Detesto pessoas animadas demais - resmun­gou León, já sem vontade de continuar tocando. Em silêncio, começou a guardar o sax. - Até a próxima - despediu-se, ao terminar.

– Até - foi a resposta de Maxi .

León pensou em sair e ir direto para casa, mas sentiu-se irritado com a possibilidade de sua amiga estar sendo aborrecida por aquela lunática. Além disso, seria bom mostrar à sua vizinha abe­lhuda que também estava de olho nela, e que sua perseguição não passara despercebida.

Quando parou ao lado da mesa onde as duas estavam acomodadas, Violetta se limitou a levantar a vista e sorrir para ele.

– Oi. Não vai tocar mais? A música estava maravilhosa.

– Você me seguiu.

– Eu sei. Foi indelicado de minha parte, mas estou contente por tê-lo feito. Adorei ouvi-lo tocar e nunca teria encontrado Naty se não tivesse vin­do até aqui. Estávamos acabando de...

– Nunca mais faça isso - falou ele, antes de se encaminhar para a saída.

– Ooh, ele está mesmo uma fera. - Naty riu. - Esse olhar fuzilante é capaz de intimidar qual­quer um.

– Preciso pedir desculpas a ele - declarou Violetta, ficando de pé.

– Não quero que fique bravo com você.

– Comigo? Mas...


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