Ele não podia acreditar que aquela garota de olhar intrigante era realmente Anne Murtaugh. Não era nada do que ele lembrava.

– Então, o que anda fazendo da vida, Baker? - ela perguntou o tirando de seus pensamentos.
– Estou na universidade de Chicago, meu pai insisti num diploma.
– E o lance da oficina?
– Como sabe sobre isso? - ele retrucou um tanto surpreso.
Ela o encarou por um segundo.
– É uma cidade pequena, e numa dessas noites os nossos pais estavam se divertindo enquanto se
gabavam dos nossos feitos.
Ele sorriu, ela era intrigante.
– E você? - perguntou, interessado.
– Haward. Deve imaginar o por quê.

Sim, ele podia imaginar. Enquanto seguia ao calcanhar de Anne pela enorme casa, Charlie se permitiu pensar que o cheiro dela era um tanto quanto convidativo. Na adega ele fez jus aos seus pensamentos:

– Você está bem mais atraente que há oito anos. - comentou.
– Obrigada! - ela falou e ele percebeu que a voz dela também era convidativa.
– É lembro que seu nariz era muito grande pro seu rosto e aquela alergia que tinha na mão ela ia
subindo do braço até o seu pescoço e ia por todo lado... - continuou distraído até notar que Anne o encarava com olhar de poucos amigos, apesar dele ter percebido no fundo um sinal de divertimento. - É que bom que já não tem. Está ótima!
– Hum! - ela ergueu as sobrancelhas antes de se virar e abaixar para o frigobar. - Olha se eu lembro bem, você não era nada atraente também. - ela disse e ele se sentiu divertidamente ofendido, porém quando ela abaixou, ele novamente viu no pedaço de pele que escapou entre a saia e a blusa que ela vestia a tatuagem de borboleta no final de sua coluna e pode ter a certeza de que era ela a sereia que vira nadar no lago na manhã que chegou.
Sorriu a esse pensamento. Quando Anne voltou a erguer-se Charlie notou que tinha sido pego no flagra. Ela franziu o cenho com um sorriso querendo brincar em seus lábios.

– Então quer dizer que sou atraente agora? - perguntou ele, tentando reverter às coisas ao seu favor e parece que conseguiu, pois Anne demonstrou que tinha sido pega ao deixar o sorriso escapar.

– Eu não disse isso. - ela tentou se defender. Ele se aproximou.
– Então está dizendo que não sou atraente. - ele provocou.

Ela suspirou, fechou os olhos por um momento antes de responder.

– Não. É inconveniente - disse, antes de passar por ele e subir as escadas da adega novamente. Charlie sorriu e pode jurar que também a viu sorrir quando passou por ele, e assim tornou a segui-la.

Não pôde conter o olhar para o rebolado da garota que andava a passos firmes a sua frente, e se
perguntando o por quê de no momento tudo em Anne Murtaugh estava se mostrando bastante
apreciável para ele. Vê-la nadar era apreciável, vê-la andar era apreciável, provocá-la se mostrou bem prazeroso e a maldita tatuagem de borboleta queimando em sua mente fazia o mesmo com ele no momento. Quando chegaram ao terraço Anne andou mais um pouco mais a sua frente e ele imaginou que movimento a dita cuja borboleta fazia enquanto ela andava.

Aproximou-se dela o suficiente para falar em seu ouvido:
– Seu papai sabe da tatuagem?
Anne estremeceu naquele momento, não só pela voz quente sussurrada em seu ouvido, mas também
pelo tom de ironia e ameaça com que ele soou e mais ainda com a simples idéia de decepcionar o pai
ali na frente de todos.
– Não.

Por isso com o susto que tomou virou-se imediatamente para Charlie, porém esse estava muito perto, no impacto ela colidiu fortemente com o peito dele que por reflexo jogou todo o suco de laranja que trazia na jarra para o lado. Infelizmente, encharcando a blusa de Kate Baker que se encontrava sentada ao lado deles.
Charlie pareceu totalmente arrependido, enquanto Anne ainda segurava o braço dele e se deu conta do que acabara de acontecer. Kate estava totalmente sem graça com a blusa molhada tornando-se transparente e completamente colada a seu corpo. Sarina interveio em seu socorro, mais uma vez amenizando a situação, lhe oferecendo outra blusa emprestada, enquanto Charlie e Anne murmuravam desculpas a uma Kate desconcertada.
Os dois se abaixaram diante do molhado, parecendo arrumar qualquer coisa que não sabia bem o que era, Anne o encarou profundamente.

– Se o meu pai souber antes de eu contar...
– Vai ficar de castigo? - ele provocou e ela percebeu que se enganara, Charlie agora não parecia
nenhum pouco arrependido.
– Por favor, não diz nada! - suplicou antes de levantar-se e voltar para dentro, murmurando que iria pegar mais suco.

Charlie sentiu o olhar dela tão penetrante como nunca havia sentido nenhum olhar antes. Era realmente uma suplica, existia medo ali. Porém ele teve certeza que Anne tinha uma forma aguda de olhar no instante que a encarou a primeira vez quando chegou ao chalé, tomara ciência antes na adega e agora confirmou, teve a estranha sensação que aqueles olhos verdes por muito conseguiria o que bem entendesse, quando bem entendesse.