Dilemma escrita por Han Eun Seom


Capítulo 27
Federal


Notas iniciais do capítulo

Primeiro:
Eu... eu recebi uma recomendação.

Segundo:
ESTOU FELIZ PRA CARALHO

Terceiro:
Gente eu to no Twitter, quem quiser: @seoungfannie



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Eram dez horas da noite quando a mãe de Sara disse que iria para a cama. Seu pai já estava no quarto também e nós dissemos que não íamos demorar. Depois do jantar ficamos no sofá assistindo TV como qualquer família despreocupada com a vida.

Meus desenhos daquela tarde e noite saíram pessoas com olhos fundos e movimentos estranhos. Não sei se aquilo era por eu era uma iniciante ou por que meu cérebro estava passando por um momento tenso ali. Sara não disse nada quando eu fechei o caderno e não mostrei nada para ela. Sinceramente, eu não queria que ela visse aquilo.

Fomos para o seu quarto e conversamos aos sussurros até dar uma da manhã. Fomos até o quarto de seus pais e estava tudo tranquilo, os dois estavam dormindo.

Descemos as escadas na ponta do pé e Sara conseguiu abri o armário da forma mais silenciosa possível. Quando eu vi a caixa achei que seria um peso insuportável mesmo para nós duas, mas quando tentei a pegar vi que não era essa coisa toda. Era pesada pra caramba, mas Sara tinha exagerado.

Quando viu que eu tinha conseguido pegar a caixa, ela trancou o armário de novo e me ajudou a levar a caixa para cima, para que não acontecesse nenhum acidente. Entramos em seu quarto e ela acendeu a luz.

Era uma caixa para arquivo, de papelão e azul escura, era bem larga e alta também. Quando tiramos a tampa, vi que não tinha nenhuma divisória e estava cheia até a borda com documentos espalhados.

De cara vi o símbolo de um relatório de polícia e recortes de jornais. O que quer que tenha saído no jornal, nós não sabíamos. Nunca ligamos para isso, quando queríamos ver notícias íamos para algum site nem pensamos em checar o jornal.

Sara estava ao meu lado e parecia estar tendo um ataque de ansiedade. Segurei sua mão e com a outra peguei o primeiro papel que estava escrito “SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL: RELATÓRIO. Inquérito nº 8-839/2011”. Olhei para Sara e ela assentiu com a cabeça então comecei a ler em voz alta.

– Este relatório sobre o crime cometido por três indivíduos no dia doze de janeiro de 2011 consistiu com o testemunho de um civil de quatorze anos, Nicolas Morgan, que baseado em seu depoimento voltava da escola quando escutou três estalos altos. Correu para o local de onde achou que tinha escutado os barulhos e encontrou duas jovens deitadas no chão ensanguentadas.

Eu não conseguia pronunciar o que se seguia, Sara tomou o papel de minhas mãos e eu vi seus olhos ficarem vermelhos. Mesmo assim ela forçou sua voz para sair e continuou da onde eu tinha parado.

– As jovens tardiamente reconhecidas como Rebeca Alves e Mariana Oliveira, ambas de quinze anos, estavam nuas e tinham sinais explícitos de violência sexual. Nicolas Morgan, disse que ao lado dos corpos três indivíduos estavam de pé, um com uma arma na mão.

Eu peguei um recorte de jornal enquanto Sara começava a chorar e jogava o papel longe. Era de um renomado jornal e tinha a foto de três homens altos sendo colocados num camburão da polícia.

– Este jornal aqui é de vinte e três de janeiro – minha voz estava estranha, como se minha garganta estivesse seca. Comecei a ler notícia quando Sara secou sua lágrimas. – No dia doze deste mês houve uma tragédia perto da Escola Estadual Professora Roberta Martins, duas jovens foram violentadas e mortas por três indivíduos capturadas pela polícia federal quando a única testemunha ocular que havia sido sequestrada fugiu?!

Eu não consegui acreditar na merda que eu estava lendo. Testemunha ocular? Esta só poderia ser Nicolas, mas era impossível que ele tivesse sido sequestrado!

– Aqui diz que ele foi mantido em cativeiro por três dias, Sara! – Sara estava com a cabeça entre as mãos e negava freneticamente tudo o que eu estava falando. – Não há como ele ter sido sequestrado por três dias e ninguém ter nos falado, porra!

– Meninas...?

Era a mãe dela.

Seus olhos se arregalaram no momento em que ela olhou para caixa, Beto apareceu atrás dela sonolento e logo entendeu o que estava acontecendo. Ela tentou dar um passo para dentro do quarto, mas Sara explodiu.

– Que merda é essa, mãe?! – Ela estava segurando o relatório que tínhamos lido. – Que porra é essa?! Como assim Nicolas foi testemunha da porra de um assassinato e como assim ele foi sequestrado?!

Meu corpo estava imóvel, eu era apenas uma mera observadora ali agora. Sentada no chão, vendo Sara em pé, com lágrimas descendo pelas bochechas vermelhas, atrás da caixa que continha informações que nós provavelmente nunca teríamos descoberto. Uma mera espectadora, assistindo a mãe dela começar a chorar e ao seu pai ter sua expressão sonolenta transformada em puro desespero.

– Sara, nós... – Beto começou a falar, mas não conseguiu completar a frase.

– Vocês o que?! – Ela estava furiosa e gritando. Eu nunca a tinha visto daquele jeito. – Vocês conseguem explicar o fato de que meu próprio irmão foi sequestrado e eu nunca soube disso?!

Ela estava chorando e de repente chutou a caixa com força o suficiente para derrubá-la e derrubar todos os papéis dentro dela. Ela tacou o papel no chão e passou a mão no rosto.

– Como diabos vocês fizeram isso? Por que vocês...

– Nós apenas queríamos te proteger! – A mãe dela gritou. – Como íamos explicar para a nossa filhinha de onze anos que seu irmão tinha sido sequestrado...

– Falando, caralho! - eu me levantei com dificuldade. Todos os meus membros pareciam estar em transe e demorei muito para que eu conseguisse tocar seu braço, mas antes que eu conseguisse isso ela gritou de novo. – O pior de tudo, é que ele foi sequestrado e além de não me contar vocês ainda o mandaram para a porra de outro país!

– Nicolas estava irreconhecível, Sara! Ele ficou extremamente abalado...

– Eu não acredito! É claro que ele estaria abalado, ele foi sequestrado porra! Por três dias! E ao invés de cuidar dele vocês o mandam para uns tios de bosta que temos em outro país? Vocês acham o que? Que isso fez bem para ele?! Caralho que tipo de pais vocês são?! Vocês tem alguma noção do quão absurdo isso soa?!

Eu finalmente consegui fazer minhas mãos me obedecerem. Segurei o braço de Sara antes que ela fosse para cima da mãe dela.

– Me solta! – Ela estava tentando se desvencilhar de mim com força.

– Você não quer bater nela, Sara – eu falei no mesmo tom que ela.

– Você não faz ideia do que é isso, me solta porra! – ela chorava tanto que eu não sabia o que fazer.

– Caralho, Sara.

Eu a puxei para mim com força e a abracei. Sara começou a espernear, tentar se separar de mim, mas eu sou mais forte que ela. Apesar dos socos que estava me dando estarem doendo, eu não poderia soltá-la, o que me garantia que ela não iria desabar? Eu não podia soltá-la.

Olhei para os pais de Sara ali, completamente chocados e sem reação alguma para aquilo. Eu senti minha blusa molhar graças às lágrimas de Sara e aos poucos ela se acalmou e abraçou minha cintura de volta.

– Amanhã a gente conversa sobre isso – eu olhei para eles com um olhar que praticamente os expulsava dali. O pai dela assenti e os dois voltaram para seus quartos.

Na hora em que a mãe dela fechou a porta eu a afastei de mim um pouco e segurei seu rosto em minhas mãos. Limpei suas bochechas com o polegar antes dela se afastar por completo de mim.

– Eu tenho que... – ela disse se abaixando para pegar mais um papel.

– Nem pensar, Sara – eu peguei seu pulso e a puxei para cima. – Chega disso por hoje.

– Por favor, Rexy – ela estava suplicante. – Eu tenho que descobrir mais!

– Passamos quatro anos sem saber de nada, Sara. Aguentamos esta madrugada. Amanhã tenho certeza de que eles explicarão melhor isto – fiz um gesto com o braço em direção aos papéis espalhados. – Deita na cama, vou recolher isso aqui.

Ela pensou um pouco antes de assentir. Andou até sua cama e antes de se deitar, virou para mim.

– Você vai dormir aqui comigo?

– Claro que vou – eu suspirei. – Deita.

Ela deitou e em pouco tempo eu reuni toda aquela bagunça e joguei dentro da caixa. Quando terminei, eu apaguei a luz e me deitei ao seu lado passando um braço na sua cintura. Ela, que estava de costas, se virou para mim e alguns segundos se passaram até que ela começasse a chorar baixinho.

– Ele deve ter passado por tanta merda lá – ela fungou. – Foi pra lá e nem sabia uma palavra em francês e tudo isso por que meus pais não quiseram encarar ele, cuidar dele...

– Ei, calma, ok? – eu passei a mão em seus cabelos.

– Será que a discussão que fez com que o acidente acontecesse foi por isso, Rexy?

– Não sei, Sara... Pode ser – suspirei e depositei um beijo em sua testa.

Alguns segundos de silêncio se seguiram e aos poucos Sara parou de chorar.

– Rexy?

– Sim?

– Obrigada.

Eu a abracei mais forte e sussurrei “de nada” em seu ouvido antes dela mergulhar em um sono profundo. Senti o pingente de coração pesar e eu demorei muito mais do que alguns segundos para conseguir dormir.


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Notas finais do capítulo

Okay, a felicidade que essa recomendação da Leijon Aya quase me fez infartar >.< Cara eu estou tão feliz!!! Caramba, eu vejo que tem gente que gosta de Dilemma aqui, mas eu não imaginei que eu receberia uma recomendação!!!

*respira*

OKAY >///
Me deixem comentários dizendo se vocês se surpreenderam com o conteúdo da caixa, se achavam que seria algo mais ou qualquer outra coisa xD me deu um puta trabalho fazer este capítulo e estou realmente espero que tenham gostado!!!

PS.: Se tem algum fã de K-pop aqui: https://www.youtube.com/watch?v=2gWIjRqvtnI



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