Dilemma escrita por Han Eun Seom


Capítulo 26
Diamante


Notas iniciais do capítulo

Fui boazinha, não?



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– Você vai ver. – Ela fungou e eu senti um aperto no meu coração. – Tinha tantas cartas e documentos lá. – Passou os braços na minha cintura e eu a abracei. – Era horrível.

Mas nada daquilo fazia sentido na minha cabeça. Como assim cartas e documentos? Achei que Sara soubesse do por que Nicolas tinha ido embora, por isso que sempre que eu perguntava sobre ela ficava com um olhar choroso... Talvez seus pais se recusassem a falar para ela e ela ficava sensível sobre isso?

Nem meus próprios pensamentos e teorias estavam fazendo sentido.

Ela me contou que esta caixa estava dentro de um armário pequeno debaixo da escada. Nunca tinha dado muita bola para ele por que era pequeno demais para portar algo importante.

– Pelo menos era assim que eu pensava até que quando cheguei ontem e por pura falta do que fazer eu tentei o abrir e não consegui – disse. – Pensei, por que diabos eles deixam um armário trancado? Nunca trancam nada. – Fungou mais uma vez antes de continuar. – Foi então que por volta da uma hora eu desci para procurar as chaves e encontrei um molho dentro da gaveta da cozinha, tentei fazer o mínimo de barulho possível e tive que tentar chave por chave... Até que eu consegui e achei uma única caixa alta e larga com um milhão de documentos. – Ela saiu do abraço e me olhou nos olhos. – Quando peguei um e comecei a ler eu logo vi o nome do Nicolas e tantas coisas! Mas não consegui ver mais por que ouvi passos na escada. Tranquei o armário e me escondi atrás da cômoda só para ver minha mãe ir direto para a cozinha...

Depois disso ela tinha subido para o quarto dela e ficado lá.

– Mas e a chave? – perguntei.

Ela foi até o guarda-roupa dela e abriu a gaveta de calcinhas tirando uma chave pequena. Eu assenti e disse que iríamos checar aquilo hoje mesmo. A pergunta era o que faríamos até lá? Tanto ela como eu estava ansiosa demais para simplesmente ir assistir alguma coisa ou passear.

– Por que não vamos visitar Nicolas? – Eu suspirei e Sara me olhou. – Acho que nenhuma de nós vai ficar muito tranquila aqui, simplesmente esperando dar uma da manhã.

– Está certa... Ok, vamos lá. Até chegarmos lá já deu o horário de visitas.

Sara somente arrumou o cabelo e calçou um All Star preto para sairmos. Para chegar ao hospital da casa dela era preciso pegar apenas um ônibus, mas era uma viagem de meia hora sem trânsito até lá.

Resolvemos escutar música no celular dela enquanto isso. Ela me mostrou duas músicas novas que achei legais, mas não grande coisa. Depois ela com o olhar baixo me perguntou se eu sabia que tipo de música Nicolas gostava. Não tive vontade de sorrir, mas se a situação fosse menos tensa eu teria sorrido.

– Acho que ele curte muito esta aqui – Peguei o meu próprio celular e mostrei para ela a playlist.

– Como você sabe? – Ela arqueou as sobrancelhas e eu dei de ombros não vendo por que mentir.

– A gente conversou um pouco sobre isso.

– Ah... – Ela fez uma pequena pausa. – Então vocês conversaram sobre bandas?

– Sim. – Eu assenti e coloquei o fone no meu celular. – Conversei com ele sobre isso na quinta antes do acidente. - Eu não menti para ela, simplesmente omiti o fato de que ele estava acordado de madrugada e falou comigo rapidamente. Não parecia algo que valesse a pena comentar também. – Aqui, escuta uma.

Passamos o caminho escutando duas bandas que eu e Nicolas gostávamos e isso me fez perceber que eu sentia saudade de conversar com ele sobre isso. Com um suspiro me chega uma mensagem do Skype. Era Érica perguntando se eu tinha recebido o presente. Caramba, eu tinha me esquecido totalmente daquilo.

Sem que Sara visse eu a respondi dizendo que iria ao correio para tirar e que depois eu tinha que conversar com ela sobre muitas coisas.

Em cinco minutos chegamos ao nosso ponto e descemos. Era uma caminhada de dez minutos até o hospital ainda. Andamos tranquilas até lá, tínhamos muito tempo até que o horário de almoço chegasse. Quando chegamos lá uma recepcionista que já era conhecida nossa nos recebeu.

– Oi meninas! Nicolas Morgan, certo? – Sara assentiu e com um sorriso ela nos deu adesivos para colar na blusa dizendo aonde íamos e que éramos visitantes.

Subimos para o andar dele e um médico nos indicou onde ficava o quarto. Já sabíamos de tudo isso, mas era como se eles ficassem mais felizes ao informar visitantes, então fingíamos que não sabíamos de nada e deixávamos que nos guiassem.

Entramos no quarto dele e vimos à mesma cena de sempre. A pele pálida, tubos para todos os lados, eletrodos conectados a máquinas e agulhas com soro em seus braços. No começo aquela cena era insuportável de se olhar, mas com o tempo eu percebi que não seria tão ruim quando ele acordasse.

Tento ter em mente que ele vai acordar.

Sara se sentou na cadeira ao lado da cama e eu fiquei na porta mesmo. Observei sua mão tocar a dele e eu tive certeza de que assim que ele acordasse qualquer merda que ele falou iria simplesmente ser esquecida.

– Oi Nicolas. – Ela falou com a voz baixa. – Eu e Roxy viemos te visitar hoje... Dia incomum, não é?

Eu disse para ela logo no começo tentar falar com ele, não obtínhamos resposta, mas quem sabe ele estivesse nos escutando? Sou bem cética quanto assuntos assim, mas eu não queria continuar a vendo naquele estado. Desde que começou a conversar com ele, tentava mais ainda se mostrar feliz para as pessoas, levar a sua vida normalmente.

– Eu queria tanto que estivesse acordado. – Ela suspirou. – Encontrei... Encontrei essa caixa no armário debaixo da escada e tem muitas coisas sobre você, sobre o que aconteceu há quatro anos... Eu sinceramente esperava que você fosse me contar, mas sou curiosa demais para esperar. – Deu uma risadinha. – Espero que não se importe mano.

Era engraçado escutá-la falando “mano” naquela voz calma. Fazia muito tempo que ela não o chamava assim e sinto como se estivesse fazendo de tudo para acordá-lo. Poucas palavras depois eu parei de escutá-la. Fixei meus olhos no rosto adormecido dele.

Você bem que poderia acordar agora, ninguém está bravo com você e tenho certeza de que vão te abraçar pra caralho, segurei um suspiro. Eu também quero que você acorde¸ pensando nisso olhei para Sara que já tinha mudado o assunto e começado a falar algo sobre o teatro, as coisas vão melhorar se você acordar. Tenho certeza de que Sara vai ficar muito feliz... Será a sua tão esperada chance para reatar com ela. Parei de pensar naquilo me chamando de ridícula por que ele não estava escutando nada daquilo.

Ficamos ali por quase vinte minutos e depois saímos do hospital. Eu falei para Sara que eu tinha que passar no correio perto de casa, pois uma prima tinha mandado algo.

– Ah, ok – disse. – Vamos pegar o ônibus então!

A volta foi um pouco mais complicada, não sei por que por volta do almoço tem um trânsito chato. Era para o pessoal estar comendo não pegando ônibus. De qualquer maneira, discutimos sobre como faríamos de madrugada enquanto escutávamos a trilha sonora de um filme que Sara tinha descoberto havia pouco tempo.

Desceríamos por volta da uma da manhã e levaríamos a caixa para cima. Pensamos no que fazer com ela para que os pais de Sara não a descobrissem e pensamos num vão perto ao lado de seu guarda-roupa. Não era o ideal, mas não havia muito a se fazer. Se for tão pesada assim, não conseguiríamos levá-la ainda naquela madrugada para o armário.

Enfim, chegamos ao ponto e fomos para o correio. Mesmo com todas as informações prontas e a bendita caixa lá, eles conseguiriam nos fazer esperar até às três horas da tarde.

– Aqui está, senhora – disse a atendente. Eu odeio que me chamem de senhora. – Pacote para Roxy Montenegro, Brasil de Érica Montenegro, França.

Quando me entregou eu fiquei surpresa, era um pacotinho bege de mais ou menos vinte centímetros de comprimento e dez de largura, também era fininho. Olhei para Sara que deu de ombros.

– Obrigada – apesar de toda a demora, eu agradeci por não ter que pagar mais impostos.

– Abre! – Sara disse assim que saímos do correio. – Estou curiosa agora!

Eu abri com todo o cuidado possível. Aos poucos que fui arrancando o papel eu vi que ali estava uma caixa azul escuro com uma textura parecida com a de veludo. Sara parecia muito empolgada enquanto eu, conhecendo Érica, estava bem desconfiada.

Paramos numa lixeira próxima e eu joguei fora a embalagem abrindo com cuidado a caixa.

– Puta merda.

Meus olhos arregalaram quando eu vi aquilo. Havia um colar ali com um pingente em formato de coração e de diamante. Érica sempre me disse que ele era a pedra do meu nascimento e que eu deveria carregá-lo comigo, mas não era apenas isso. Na caixa, ao lado do colar, tinha um cheque com valor suficiente para eu ir para a França e voltar tranquilamente.

– Caramba, Roxy, não sabia que sua família era tão rica – Sara riu tão abismada quanto eu.

– Eu... – Para falar a verdade nem sabia da onde Érica tinha tirado tanto dinheiro. Talvez o pai dela tenha conseguido fazer ótimos negócios lá e deram para Érica o que ela queria. – Caralho.

Fechei a caixa e a segurei bem forte na minha mão. Não queria que ninguém a roubasse. Sara sorriu para mim e riu.

– Você está bem chocada, hein?!

– Claro – falei. Ela estava olhando para mim com algo indecifrável no olhar. – O que foi?

– Nada. – Suspirou. – É que é engraçado por que você definitivamente está achando que não merece isso sendo que na verdade merece.

– Eu... Não estou achando isso – falei mais para mim mesma do que para ela.

– Rexy. – Ela parou na minha frente e me olhou nos olhos de uma forma intensa. – Eu conheço você muito bem, enquanto pode estar confusa ai, eu já decifrei tudo aqui – apontou para a própria cabeça no final da frase. – Agora, vamos para casa.

O clima tinha ficado leve por apenas alguns segundos. Logo nos lembramos da caixa que provavelmente ia esclarecer tudo para nós. Eu concordei e nos dirigimos para a casa dela. Para matar o tempo, Sara resolveu jogar um pouco e eu peguei meu caderno de desenhos.

Estávamos na sala e a mãe dela passou perguntando se estava tudo bem. Fingimos – muito bem, aliás – que não havia nada de errado e enquanto ela colocava o jogo que queria eu peguei o colar e o analisei. Não sei se tinha sido exorbitantemente caro para Érica, mas com certeza não teve preço de uma bijuteria.

Meu coração estava ansioso tanto com o pensamento do que teria naquela caixa e quanto com o de usar aquele colar e eu não sabia por que. Eu não uso esse tipo de coisa por que perco ou danifico muito fácil, por isso deixo guardado o colar que Sara me deu, mas por algum motivo eu não consegui me segurar.

Eu o coloquei e olhei para Sara sentada no tapete, parecendo concentrada em configurar tudo certo. Vi um bilhetinho cair da caixa no meu colo e ele cheirava a gardênia. Isso me fez sorrir, de acordo com minha prima, era a sua flor preferida.

“Escolhi este colar dentre todos os outros por que, sem sombra de dúvida, me lembrou de você. O jeito que ele é claro me lembra de sua objetividade com as palavras, e o jeito delicado com que foi talhado mesmo sendo uma das pedras mais duras que existem me recorda de todas as vezes que você deixou essa sua barreira gigante cair e me mostrou o quanto é sensível por dentro.

O cheque é presente da mamãe para que você venha nos visitar. Era para chegar apenas no seu aniversário, mas o que dez, quinze dias de diferença fazem heh ;P Te amo Roxanne!

Avec amour,

Sa cousine Erica.”

Guardei o bilhete dentro da caixa novamente e vendo Sara jogar, coloquei minha mão com o lápis no papel e me perdi em traços.


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Notas finais do capítulo

Então gente, podem me bater, mas curiosidade só será matada no próximo :3
mas... bem, como posso dizer? Estou bem nervosa com o feedback de vocês, espero que gostem :)

Para esclarecer bem:
Aniversário da Roxy: 18/04
Aniversário da Sara: 20/07



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