Como previsto, eram cinco horas da tarde e eu ainda não tinha decidido. Claro, vimos umas casas bonitas, mas eram demais para mim. Muito espaço e muito chamativas. Queria uma coisa mais simples, e de preferência com espaço de sobra para Elena brincar, o que com certeza não aconteceria naquelas casas. Elas tinham tudo, menos espaço para uma criança de nove meses brincar. E falando em Elena, acabei deixando ela na casa de Federico e Ludmila, pois Olga teria que sair por um tempo e os dois tinham acabado de chegar da Itália. Eles tinham casado um mês atrás e passado todo esse tempo com os pais de Fe, voltando só porque Ludmila assumiu as aulas de teatro e não queria passar muito tempo fora.

E, além do mais, os dois babavam pela minha filha.

Mas agora estava olhando para um dos sites em que a foto de nós três rodava. Teoria maluca é pouco para o que eles diziam. Só espero que tudo se resolva em pouco tempo. Suspirei, arrumando meu cabelo, que agora batia um pouco para baixo dos ombros.

—Deixou a minha princesa com aqueles loucos? – Leon perguntou sentando na minha frente.

—Os deixei treinarem um pouco – ri. – Pelo que sei, não vai demorar muito para os dois terem os herdeiros também.

—Sério? Achei que Diego e Francesca seriam os primeiros!

—Não, Di quer casar e comprar uma casa primeiro, mas eles também não demoram muito. Já estão morando juntos.

—Quanto tempo eu perdi? – ele murmurou pra si mesmo. – E o Maxi?

—Ann, Naty e ele estão naquele jeito de junta separa de sempre. Da última vez que eu falei com ela, no caso quinta passada, os dois tinham brigado porque Naty queria apresentar ele pra família e Maxi ficou nervoso...

—Esses dois nunca se acertam? – Leon riu.

—Duvido muito. Mas eles se amam muito, sempre acabam se acertando.

—Sabe, eu até queria reencontrar o pessoal do Studio. Numa tarde, sei lá, sinto saudade do jeito que éramos unidos.

—Não é preciso muito pra reunir o pessoal. Quem sabe, na inauguração da minha casa nova podemos juntar eles e fazer alguma coisa.

—Mas antes você precisa de uma casa nova, não é?

—O corretor me passou o endereço de uma casa mais afastada da cidade, acho que é essa.

—Ok, vamos. Meu carro está perto daqui, quando quiser ir...

—Podemos ir agora, ele vai para a casa às cinco e meia. – disse me levantando e pegando a bolsa. Mexi nela todo o percurso tentando achar o endereço, só encontrando o papel quando Leon estava abrindo o carro. Ouvi alguns cliques e suspirei, pensando no meu rosto estampado em todos os sites de fofoca. Leon percebeu meu desconforto e tratou de sair dali o mais rápido possível.

—Endereço, milady? – ele pediu fazendo graça. Entreguei rindo, e assim passamos o caminho inteiro. Rindo, cantando e fazendo graça.

—Cá estamos. – eu disse. A casa realmente tinha a minha cara, com jeito de casa de filme. Flores enfeitavam o redor da janela de formato clássico, e as duas entradas de pedra que levavam às varandas davam um toque de romantismo. E logo atrás da casa, uma clareira enorme se abria. Saímos do carro e logo em seguida o corretor chegou.

—Senhorita Castillo, o que achou da casa? Creio que deve ter gostado.

—Eu adorei pelo menos o lado de fora. O que você acha Leon?

—Esse lugar grita Violetta – ele disse, olhando a campina.

—Bom, vamos entrar? – o corretor disse me entregando a chave. Logo de cara, me apaixonei. O lugar realmente gritava Violetta.

—Então, devo preparar os papeis? – ele perguntou ao final.

—Sim, o mais rápido possível, por favor! – falei animada. Leon riu, pegando a chave do carro enquanto o corretor anotava algo em um papel.

—Meu escritório, senhorita Castilho, terei os papeis prontos amanhã as nove, caso queira passar bem cedo.

—Na verdade, já tenho compromisso – disse olhando para Leon. – Mas creio que não vou demorar.

—Ah, claro. As dez então? – perguntou me entregando um cartão com endereço.

—Sim, sim. Obrigada, senhor... – peguei o cartão.

—Perez – ele sorriu. – Sempre bom fazer negócios com os Castilho. Até amanhã, então, senhoita Violetta.

—Até - respondi, caminhando em direção a Leon, que estava encostado no carro, mexendo no celular.

—Podemos ir? – ele perguntou, bloqueando o celular rapidamente quando me viu.

—Claro, podemos. – falei entrando no carro. – Eu definitivamente preciso tirar a carta.

—Também acho – ele riu. – Será que Federico está em casa?

—Deve estar, por quê?

—Queria falar com ele, ele é meu melhor amigo, apesar de tudo. – disse mexendo no rádio, achando uma estação qualquer. – Eu te entreguei a letra?

—Não, na verdade.

—Tenho uma cópia dela por aqui, será uma regravação. Aliás, regravar essa música nem foi minha ideia. Melisa é cheia das invenções, mas Alex acabou gostando da ideia...

—Quem é Melisa? – pedi um pouquinho enciumada.

—A Me? Uma menina que trabalhou comigo na Espanha, era estagiária na gravadora. – ele disse, começando logo em seguida a cantar uma música que tocava no rádio. Comecei a rir das caretas que ele fazia durante a canção.

—Interpretar é tudo – falou, piscando para mim, o que me fez rir mais ainda. Senti-me leve, como se todos os meus problemas desaparecessem, e naquele instante só existiam eu, Leon e a música. Cantamos o caminho inteiro, me fazendo lembrar os momentos bons no Studio, quando ainda estudava. A paixão que eu tinha por cantar voltou, e, pela primeira vez desde que “abandonei” a carreira, me perguntei o porquê. Elena, claro, veio como resposta na hora, mas agora ela já poderia ficar com Olga, Fe, Fran, Naty...

“Por que eu não volto a cantar?” pensei. “Por que eu desisti de fazer o que me deixa feliz?”

—O que se passa nessa cabeça, Vilu? – Leon perguntou enquanto dobrava a esquina da casa de Ludmi e Fe.

—Me perdi em pensamentos. Mas você veio rápido também, ou eu fiquei mais tempo pensando do que parece? – perguntei confusa.

—Viemos bem rápido, quase não tinha trânsito. – ele explicou. – Pode me contar no que pensava?

—Tentei achar um porque para eu ter parado de cantar. Lena, claro, é o motivo principal, mas ela já está crescida o suficiente para ficar com a Olga ou com alguma das meninas... Não sei por que não voltei ainda a cantar.

—Você é professora de canto, Vilu. Tem isso também. – falou enquanto desligava o carro.

—Sim, tem isso. Mas não é a mesma coisa, quero voltar com a minha carreira, Leon. Quero voltar a cantar, compor e tudo o resto. – disse olhando para meus dedos.

—Posso te ajudar, se você quiser – ele falou pegando minha mão. Senti meu rosto esquentar, sabendo estar corada.

—Obrigada. Por tudo, por aceitar Lena e me perdoar, me dar uma chance de gravar com você e querer me ajudar com minha carreira... Leon, eu acho que você é um anjo. – desabafei, sorrindo e olhando para os olhos que sempre amei. Ele sorria para mim.

—Eu, um anjo? Estou fazendo só minha obrigação, Vilu. Não é minha culpa se você é uma pessoa maravilhosa e merecedora. – ele riu. Ficamos presos em uma bolha particular, olhando um para o outro, nos aproximando cada vez mais...

Uma batida na janela nos fez pular nos assentos. Fe estava do lado de fora segurando minha princesinha, que ria. Saí do carro sorrindo, acompanhada de Leon.

—Lena se comportou? – pedi a pegando no colo.

—Se essa garota se comportou? Vilu, você trouxe um anjo para nós vigiarmos. – ele brincou. – Leon, quanto tempo cara! – os dois se abraçaram. – Entrem, nem que seja por um segundo.

—Onde está Ludmi? – perguntei entrando na casa dos dois.

—Alguém me chamou? – a voz estridente ecoou, sua dona aparecendo logo depois. – Leon, quanto tempo. – falou o abraçando.

—Verdade, Ludmila. Desde a nossa formatura, se não me engano – Leon disse se afastando.

—Meu amor, estamos indo pro escritório por um tempo, ok? – Fe disse beijando a testa de Ludmi. Ela assentiu, me puxando para o sofá e exigindo saber por que Leon estava comigo.

—Ludmi, eu acho que não sou eu quem tem que contar uma coisa. – falei, rindo da cara de ingenuidade dela.

—Está tão na cara assim? Fe não reparou...

—Você sabe o quanto Fe é apaixonado por você, nunca que ele ia reparar em um detalhe como você estar mais pálida.

—Vilu, eu acho que... Acho que...

—Desembucha Ludmila.

—Euachoqueestougrávida.

—Vamos de novo?

—Ah, Vilu! Eu acho que estou grávida. – ela sussurrou a última parte.

—Sério?! Ludmi, isso é maravilhoso! Você já fez algum teste?

—O que? Não! Eu... Eu estou com medo, Vilu. Nós nos casamos faz pouco tempo, e a mãe dele deixou claro que não vai com a minha cara. – ela disse triste.

—Ludmi, eu não acredito. Foi você que me obrigou a fazer os testes, e agora está com medo?

—Mas o Fe... Vilu, e se o Fe não gostar da notícia? – Ludmi falou olhando para os próprios dedos.

—Ele é louco por você Ludmi. Nunca, em um milhão de anos, ele não gostaria de uma notícia dessas, nunca mesmo. Aposto que ele vai me ligar no momento que descobrir e começar a gritar. – ri, fazendo ela e Lena rirem também.

—É eu acho que sim – Ludmi falou olhando para Elena – Mas eu sempre vou poder fugir pra sua casa quando precisar, não é?

—Claro sister, mas agora ela ficou um pouco mais longe...

—Tio German se mudou? – ela perguntou descrente.

—Não, eu fui expulsa de casa...

—COMO ASSIM?!

Suspirei e contei para Ludmi tudo, ela ouviu e palpitou um monte, no final concordando com minha escolha de casa. Também conversei sobre recomeçar minha carreira como cantora, e ela também se ofereceu para me ajudar, dando um gritinho animado quanto contei sobre minha participação especial no álbum de Leon.

—Fe interrompeu um momento Leonetta? – ela quase gritou. – Eu vou brigar com ele!

—Ludmi! Primeiro, o que diabos é Leonetta? Segundo, provavelmente não ia rolar nada, Fe não interrompeu nada mesmo. – falei brincando com Elena.

—Leonetta é a junção de Leon e Violetta, sua bobinha. Suas fãs do You-Mix surtavam quando tinha um momento fofo de vocês. Aliás, você tem que entrar no seu Twitter assim que chegar em casa!

—Por quê? – pedi confusa.

—Vocês saíram juntos hoje, provavelmente tem uma foto juntos rodando a internet e as Leonetta estão enlouquecendo – ela explicou rapidamente.

—Vocês são todos loucos – eu ri.

—Vilu? – ouvi Leon chamar.

—Sim? – ele me encarava sorrindo. Estendeu os braços para Elena, que prontamente foi para seu colo.

—Podemos ir? Minha mãe provavelmente quer ver Elena hoje de novo. – ele explicou meio envergonhado.

—Claro, já conversamos tudo o necessário, né Ludmi? – falei lançando um olhar cheio de significado para ela, que revirou os olhos.

—Sim, já conversamos o suficiente. Quando você vai se mudar?

—Amanhã a casa será oficialmente minha então, em pouco tempo, creio eu. – falei pegando minha bolsa do sofá.

—Você vai se mudar? – perguntou Fe, incrédulo.

—Eu meio que fui... Expulsa. – falei, mordendo o lábio.

—Nossa, por quê? – ele pediu abraçando Ludmi.

—Ludmi te conta depois, podemos? – pedi olhando para Leon.

—Sim, sim. Vamos ver a vovó, princesa? – ele perguntou para Elena, que mesmo não entendendo riu.

—Nos vemos por aí, me liguem caso precisem de algo. – falei para o casal que agora estava parado na porta da casa.

—O mesmo pra vocês dois, e Vilu, lembrem-se do que eu te falei! – Ludmi gritou, fazendo Leon rir e eu ficar com a pele rubra. Instalei o bebê conforto de Elena (sim, eu tinha levado o bebê conforto, vai que eles quisessem sair com ela no carro?), a coloquei ali e sentei-me no banco da frente.

—Meu pai não vai estar em casa, acho que vocês duas precisam conversar um pouco mais, sem a presença dele. – Leon disse. Chegamos a casa dele e sua mãe já nos esperava na porta.

—Trouxe minha netinha favorita? – ela perguntou para Leon.

—Lena é a sua única neta, mãe – ele respondeu revirando os olhos.

—Não importa – ela disse vendo Leon levar Elena para a sala, onde um desenho passava na TV. – Vilu, me deixe te falar uma coisa. Meu filho gosta muito de você, mas nós sabemos o quanto Leon pode ser bobo de vez em quando. Eu sei que você gosta muito do meu filho também, não o deixe ir. De todas as garotas com quem ele saiu você foi a única que realmente o merecia.

—Obrigada senhora Vargas, mas eu não planejo o deixar ir tão fácil. – sorri, tendo outro sorriso como resposta.

^*^

—É basicamente isso. Entendeu tudo? – Alex perguntou pela segunda vez.

—Cantar minha parte, não fazer um “ah” a mais, tomar água ou respirar afastada do microfone. Caso precise sair, sinalizar com a mão – repeti, como um robô.

—Isso mesmo. – ele sorriu simpático. – Acho que você tem grande futuro dentro dessa gravadora, Violetta.

—Obrigada Alex.

—Está tudo pronto, podemos começar? – Leon perguntou. Assenti, entrando na sala a prova de som, vendo a porta se fechar atrás de mim. – Não precisa ficar nervosa Vilu, vai dar tudo certo. – ele disse me entregando um dos fones, que prontamente coloquei.

—Ok, eu acho. – ele sorriu e colocou seu próprio fone.

—Todos prontos? – a voz de Alex soou na sala, abafada um pouco pelos fones. Assentimos. – Ótimo. Começando a gravar em 5, 4, 3...

(Deem play e vivam esse momento fofo comigo)

Os outros números ele apenas sinalizou. Ouvi o instrumental começar a tocar e me aproximei do microfone. Ele sinalizou novamente e percebi a minha deixa.

I found myself dreaming in silver and gold

Like a scene from a movie that every broken heart knows

We were walking on moonlight and you pulled me close

Split second and you disappeared and then I was all alone

Respirei rapidamente e olhei para Leon. Encarei os olhos verdes que me encantavam e cantei apenas para ele.

I woke up in tears, with you by my side

A breath of relief, and I realized

No, we're not promised tomorrow

Ele sorriu. Sorri de volta e passei a cantar o refrão.

So I'm gonna love you like I'm gonna lose you

I'm gonna hold you, like I'm saying goodbye

Wherever we're standing, I won't take you for granted

Cause we'll never know when

When we'll run out of time

So I'm gonna love you, like I'm gonna lose you

I'm gonna love you, like I'm gonna lose you

Ele continuou sorrindo. Afastei-me e o deixei tomar seu lugar em frente ao microfone.

In the blink of an eye, just a whisper of smoke

You could lose everything, the truth is you never know

So I'll kiss you longer baby, any chance that I get

I'll make the most of the minutes and love with no regret

Ele me encarou, sorrindo para mim. Estávamos em uma bolha particular, cantando uma para o outro.

So let's take our time to say what we want

Use what we got before it's all gone

No, we're not promised tomorrow

Comecei a cantar junto com ele, presa no brilho dos olhos verdes de Leon.

So I'm gonna love you like I'm gonna lose you

I'm gonna hold you, like I'm saying goodbye

Wherever we're standing, I won't take you for granted

Cause we'll never know when

When we'll run out of time

So I'm gonna love you, like I'm gonna lose you

I'm gonna love you, like I'm gonna lose you

Ele pegou minha mão, me fazendo abrir um sorriso maior ainda.

I'm gonna love you like I'm gonna lose you

I'm gonna hold you, like I'm saying goodbye

Wherever we're standing, I won't take you for granted

Cause we'll never know when

When we'll run out of time

So I'm gonna love you, like I'm gonna lose you

I'm gonna love you, like I'm gonna lose you

Cantei sozinha o último refrão. Não percebi o instrumental acabar, Alex avisando que a gravação acabou ou a feição maravilhada da senhora Vargas, que tinha vindo cuidar de Elena.

Estava presa na minha bolha particular com Leon.

Sorriamos um para o outro.

E eu percebi.

Eu o amava.