Richard segurava a bolinha de papel de guardanapo em suas mãos com certa avareza. Ele estranhou o fato de Mariana ter dado em cima dele de forma tão direta - e tão indireta também. Ele nunca achou que ela realmente o correspondia em relação aos seus sentimentos. Ela nunca pareceu se importar.
Ele ainda se lembrava de quando a convidou para o jantar no Deluzze's. Ela parecia distante e vazia, respondeu como por impulso e não por vontade própria. Até ele, que era mó "desligado" como todos diziam, percebera isso.
Relutante, ele abriu disfarçadamente - olhando em volta para ver se alguém da mesa prestava a atenção nele - e voltando a desembrulhar o papel amassado, observou atentamente as manchas de batom vermelho até que pudesse ler corretamente a caligrafia elegante de Mariana.

Me encontre em 15 minutos no Three's N' Baar.

Sua M

Three's N' Baar era uma loja de roupas infantis, que ficava perto da escola onde ele estudava quando era criança, uma pequena instituição que cuidava de crianças conhecida como "Lar dos Nanicos". Ele costumava brincar de mudar o nome dela, mas isso foi há muitos anos atrás. As coisas haviam mudado.
Ele não era mais uma criança que fingia odiar aquele lugar. Na verdade, ele guardava boas lembranças, foi lá onde parte de sua inocência havia sido roubada, mas mesmo assim, ele adorava relembrar as brincadeiras que faziam e as lições que aprendera.
Mariana não tinha o chamado para brincar de Esconde-Esconde ou Rouba-Bandeira. Era algo mais sério, e mais malicioso. Algo mais perigoso e mais além do que uma criança podia imaginar.
Ele estava ansioso para aquele encontro inesperado. Não podia evitar a ansiedade e o êxtase de finalmente poder ter a garota que ele era afim aos seus pés. Depois de tanta insistência, ele finalmente conseguira.
– Querido? Você está bem? Está tão quieto. - Sua mãe disse preocupada claramente encarando-o com os olhos semicerrados.
Agora todos na mesa o olhavam com expectativa.
– Amm... Eu só estou meio sonolento, sabe como é né mãe hoje é sexta. A essa hora eu deveria estar dormindo.
– Ou traduzindo - O pai dele o cortou em tom sarcástico. - teclando sem parar na internet a noite toda naqueles malditos jogos.
Todos riram, menos o próprio Richard.
Ele estava feliz por dentro, mas ele não queria estar naquele lugar com aquelas pessoas. Ele queria estar com a menina que ele era apaixonado desde a 4ª série. Queria poder alisar aqueles cabelos macios e sentir o aroma de seu hálito com cuja respiração sincronizada com a dele. Essa era a verdade. Ele sempre foi louco por ela.
E sempre seria.

❀ ◕‿◕ ❀
Dez minutos depois de muito blá blá blá ele finalmente se despediu dos convidados de maneira singela, demonstrando claramente a sua pressa. Ele tinha exatamente cinco minutos para ir até a Rodovia, chegar ao centro daquela mísera cidade e dirigir mais quase um quilômetro até Three's N' Baar. Isso se Mariana tivesse paciência para esperá-lo até lá.
Ele chamou seu pai privadamente. Os dois foram para um poste que já estava quase tombado de tão velho.
– Pai, preciso ir encontrar a Mariana no Three's N' Baar.
A resposta dele não foi imediata.
– Ela te convidou? - Sua voz era rouca, o que indicava certamente que Willian não estava muito convencido que aquela seria uma boa ideia.
– Sim.
Ao ver o olhar de dúvida dele, ele acrescentou:
– Relaxa Willian, eu não vou fazer besteira.
Olhar de desaprovação.
– Sou seu pai, tenha respeito. - Ele hesitou, suavizando suas feições. - Mas pode ir, tenha cuidado.
Aliviado ele abraçou o pai e sussurrou em seu ouvido:
– Valeu pai, não vou demorar.
Ele começou a andar rapidamente em direção ao seu carro, (que ele ganhara fazia um mês) um Fiat Ideia prata, fugindo rapidamente do seu pai antes que este mudasse de ideia.
– Tenha juízo e se previna!
Aghh! - Seu inconsciente disse em seus pensamentos, enquanto fechava a porta do carro e inspirava o leve aroma de couro com limão.

❀ ◕‿◕ ❀
Ele sabia um atalho mais rápido para a Three's N' Baar. Era por uma estrada de terra, que se seguia mais adiante por um asfalto desgastado, até chegar perto de uma fazenda. Depois era só subir a rua e ele já estava no centro da cidade, literalmente já na Three's N' Baar.
Enquanto seu carro corria em uma velocidade que seu pai com certeza desaprovaria, ele contemplava entorpecidamente os carvalhos frescos a sua volta. Mal esperando a hora de poder afagar aqueles cabelos amendoados e roçar seus lábios nos dela. A ansiedade praticamente o estava corroendo.
Para abafar aquela vontade absoluta de chegar mais depressa, ele ligou o rádio e por coincidência sua música preferida do Avenged Sevenfold "Nightmare" tocava nos alto-falantes. Ele aumentou o volume e começou a cantar, como um tipo de comemoração por finalmente ter a menina de seus sonhos em suas mãos.
Isso fez o tempo passar mais rápido, eram 23h20 quando ele estacionou o carro na rua de frente da loja infantil. Assim que desligou o carro, procurou impacientemente por algum sinal de movimento - Ou mais diretamente, por Mariana - em meio a escuridão da noite. Ele não encontrou nada pela visão do carro. Bufou alto encolhendo os ombros e saiu do carro, recebendo a fria geada da noite. Ele se encolheu imediatamente, sendo surpreendido pela temperatura baixíssima com que a noite o saudava. O aquecedor do carro o havia desacostumado do frio. Atravessou a rua olhando para todos os lados, tentando desesperadamente captar algum sinal ou algum aceno dela.
Depois de ficar cinco minutos ou mais parado em frente à loja, quase perdendo as esperanças de que ela fosse aparecer, seu celular tocou.
Era um número que ele não conhecia. Quem podia ser?
– Alô? - Ele atendeu com expectativa, torcendo para que fosse ela, e seu desejo como que por mágica foi concedido.
– Alô! - A voz dela ressoou pelo celular inconfundível, um pouco alterada como no jantar.
Ele relaxou os nervos.
– Pô Mariana que bom ouvir sua voz, pensei que você tinha desistido de me esperar ou que tinha acontecido alguma coisa com você... Fiquei preocupado. Onde você está? Estou aqui na frente da loja te esperando.
Mariana hesitou antes de responder.
– É bom te ouvir também, Richard. Acabei mudando de ideia quanto ao nosso lugar de encontro. Te esperei até 23h15 depois vim embora pra uma casa que minha mãe comprou há alguns anos atrás. Eu estava com muito frio, espero que não se importe.
Richard suspirou mais uma vez, amando a melodia de sua voz.
– Tudo bem eu não me importo de te encontrar nessa casa. Aonde fica?
Houve uma pausa momentânea.
– Huuum... - Mariana resmungou, pensando. - Fica a caminho da nossa escola. Sabe a rua Ponsey? Que fica na divisa com a Tauwis? Então é lá, em uma casa um pouco velha, eu admito. - Ela riu. - Mas confie em mim os móveis são mais que confortáveis.
Richard sentiu uma indireta na ultima frase, aquilo o excitou.
– Bom saber que são confortáveis. - Ele sorriu maliciosamente. - Sei perfeitamente onde fica. Só preciso saber o número e alguma característica rústica da casa.
– Ela é pintada em tom de verde oliva e é tombada visivelmente para a esquerda.
Ele segurou uma risada. Mariana soava envergonhada da segunda característica.
– Tudo bem, acho que é o bastante. Te vejo em breve M.
– Até mais, baby.
Depois da palavra sedutora, ela desligou, deixando Richard em chamas. Com a ansiedade pulsando a mil.
Agora faltava pouco para ele finalmente tê-la para si, da maneira que sempre quis.