Pulsos Atados escrita por Anayra Pucket


Capítulo 10
Capítulo 9 - Distrações - Keyla




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A chegada de Richard despertou aquele incômodo em seu interior ainda mais. Keyla estava totalmente confusa e perdida, afinal o que estava acontecendo? Ela deveria contar para Mariana como se sentia. Ela sabia disso, mas e se fosse apenas invenção de sua cabeça? E se fosse apenas bobagem?
Keyla não precisou de esforço para notar o quanto Mariana estava feliz por estar ali, mesmo que naquele instante ela só a visse como uma completa estranha. Dava para notar o quanto aquela esquisita que por acaso era sua melhor amiga estava feliz por estar ali, e de alguma forma ela não queria estragar isso. Quantas vezes Mariana havia se divertido em público na vida? Nenhuma!
Richard depois de cumprimentar a todos se assentou em uma cadeira próxima a de Mariana e mesmo de soslaio dava para se perceber a expressão boquiaberta dele ao vê-la. Keyla segurou um sorriso e pegou educadamente uma batata frita com o garfo, torcendo para que não estivesse cometendo um erro ao fazê-lo. Afinal aquele era o Deluzze's, educação e classe eram exigidos e esperados naquele lugar.
Mariana estava rindo acompanhando as gargalhadas junto aos outros convidados, só ela estava por fora, totalmente perdida e desconcertada por causa de algo que nem ela própria sabia o que era. Aquilo a teria irritado se não estivesse ocupada encarando sua amiga.
A conversa dos convidados tinham diversos temas semelhantes, com as mesmas palavras vazias e banais de sempre e por alguma razão Keyla sentia como se já tivesse vivido tudo aquilo. Como se tudo apenas estivesse sendo reproduzido em tempo real como uma espécie de filme. Nada a impressionava, nada a divertia naquele lugar, era quase como um sufoco. Faltava-lhe ar para respirar dentro daquele lugar. Para onde quer que ela olhasse ela só sentia a vibração daquela energia maligna oculta como uma névoa invisível. E todos agiam como se não a sentissem também.
– Mas que merda! O que tá acontecendo hein?! - Mariana estava debruçada na mesa aparentando estar um pouco bêbada encarando Keyla com os olhos semicerrados - Por que você está assim... tão quieta? A falante sempre foi você.
Keyla olhou para ela e lutou para segurar as lágrimas que insistiam em transbordar de seus olhos.
– Eu não estou muito bem, acho que tô meio enjoada. - Ela olhou com profundidade nos olhos da amiga, esperando que Mariana pudesse ler seus olhos e ir além de toda aquela confusão. Keyla realmente esperava que ela entendesse o que estava se passando por sua mente, e o quanto aquilo era grave.
Mariana repentinamente passou de bêbada para preocupada, mas havia aquela mesma mensagem subliminar em seus olhos que a denunciava.
– Que horas são? - Mariana perguntou pegando seu celular de dentro da bolsa - Já é tarde 23:05 não é a toa que você está cansada. Precisa descansar, vou te levar para casa. - O silêncio se propagou na mesa. - Muito obrigado pelo convite e pela ótima recepção, mas temos que ir, minha mãe vai ficar preocupada se eu chegar muito tarde em casa.
– Claro, sem problemas. – Clara, a mãe de Richard saudou. - Eu entendo como sua mãe se sente perfeitamente.
Mariana se levantou da mesa e deu um beijo no rosto de cada um dos convidados ali presentes, mas sua postura mudou quando foi a vez de Richard. Ao invés de apenas beijá-lo na bochecha, ela apertou primeiramente sua mão. Ninguém pareceu notar algo estranho nisso. Apenas de onde Keyla estava, atrás deles, dava para se ver um papel toalha amassado no meio das mãos dos dois, com algumas manchas vermelhas do que parecia ser batom. Mariana estava entregando uma bolinha de papel toalha disfarçadamente para Richard naquele aperto de mão.
Deveria ter algo escrito. Essa era a única explicação lógica que Keyla podia pensar para Mariana ter feito aquilo. Em um dia qualquer, Keyla teria achado isso o máximo e tiraria sarro dela até não poder mais, mas aquele dia... não era um dia qualquer.
O jantar tinha passado tão despercebido que Keyla simplesmente não sabia mais como reagir em relação aquilo. Tudo parecia tão vazio, com aquela mesma propensão ao seu redor. Ela se forçou também a cumprimentar cada convidado com um abraço desconfortável e um obrigado, inclusive Richard.
Richard também parecia surpreso com a surpresa da noite, que mal notou o abraço dela. Ela não podia culpá-lo, conseguia entender um pouco de como ele se sentia, pois ela se sentia de maneira parecida. Não podia acreditar em como estava agindo como estúpida e paranóica, agindo como se fosse uma esquizofrênica ou sei lá... algo pior.
Tudo tinha virado de cabeça para baixo nas últimas horas e as únicas razões disso eram apenas olhares e palavras mal compreendidas... afinal o que ela deveria fazer com relação a tudo isso?
Ela deu as costas para a mesa e para todos seguindo Mariana até a saída. A noite escura as saudou com uma geada de vento balançando seus cabelos, era difícil não se encolher diante daquela brisa gelada. Elas seguiram em silêncio em direção ao carro.
Assim que ambas estavam dentro do carro, ao aroma do estofado de couro e ao som dos dentes batendo incessavelmente por causa do frio, Mariana quebrou o silêncio.
– O que está acontecendo com você? Me fala a verdade.
Keyla engoliu em seco e soube que realmente não tinha jeito para esconder suas emoções.
– E-eu... não sei.
Mariana virou os olhos e se virou diretamente para ela, não parecendo mais incomodada com o frio.
– Como assim não sabe? Se você não sabe, quem diabos sabe?! Me conte a verdade.
– E-eu...
– Me conte a verdade.
Keyla notou que aquilo era uma ameaça e mudou seu olhar enfrentando-a.
– O que você vai fazer, Mariana? Vai me matar?
Ela disse em um tom irônico, mas em parte era sério também.
– Talvez.
Mariana sorriu, mas com maldade nos olhos.
Keyla se notou fisgada no olhar da amiga. Era sombrio e aquele mesmo brilho vermelho luzia tênue na íris e ao redor de seus olhos que já não estavam mais amendoados. Da ultima vez naquela mesma noite em que isso tinha acontecido, Mariana tinha conseguido decifrar parte dos pensamentos de Keyla de alguma forma. Então era isso que estava acontecendo agora?
– O que você está fazendo? Seus olhos mudaram igual aquela hora... - As palavras sumiram da boca dela ao notar um movimento estranho perto da pupila de Mariana. Os olhos dela estavam encobertos por sombras e pelo que parecia ser gotas de sangue preto caindo em um espaço vazio. Era inexplicável.
Mariana revirou os olhos cínica e se virou novamente para Keyla.
– Você sabe demais... posso ver em seus pensamentos e nas batidas irregulares do seu mísero coração. - Ela a encarava odiosamente - Você não vai se lembrar dessa noite, nem da revelação que eu vou te dar agora: eu não sou a Mariana, querida! Suas premonições estão mais que certas... mas não importa, o que importa é que você vai pra casa como uma boa menina e vai agir exatamente o oposto de como você está agindo agora. Você vai parar de ser tão assustada quanto a minha nova pessoa. - Ela olhou para a janela do carro, reconsiderando suas palavras - Ou pelo menos com a minha "passageira" personalidade.
Keyla estava quase histérica, e a única coisa que a impedia de sair correndo daquele carro era uma paralisação estranha em seu corpo, que começara desde que ela vira aquela coisa sinistra nos olhos da Mariana. Ou seja lá quem fosse aquela coisa que comandava os movimentos dela.
Keyla não sabia quem era, ou o que era, mas ela sabia agora que Mariana estava possuída. Não tinha outra explicação para aquela confusão... ainda não tinha caído a ficha que sua melhor amiga não era bem sua melhor amiga.
Em meio aquela pequena pausa, Mariana a encarava sem parar.
– Quem é você? - Keyla perguntou com muita hesitação e medo.
Ela não respondeu de imediato, como se para deixar aquele ar de suspense.
– Não importa. - Ela suspirou e olhou mais intensamente para Key - Você não vai lembrar de nada.
O olhar dela mudou de intensidade de repente, e o espaço ao redor das duas também. Tudo o que Keyla pôde ver antes da luz e suas lembranças deixarem seus olhos, foi uma luz ofuscante muito forte, cegando seus sentidos.
E também a sua consciência.


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