A Garota das Amoras Vermelhas escrita por Cath Rose


Capítulo 2
Capítulo 2 – A Lista


Notas iniciais do capítulo

Serena realmente não é nada serena, é pavio curto! Hehehe.



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Entramos em um dos muitos veículos de papai, um dos três pretos existentes, mas o único do tamanho de uma caminhonete. As empregadas contam que esse era o carro que a nossa mãe costumava usar para deixar-nos na escola. Talvez porque fosse o único suficientemente grande para caber seu batalhão de três filhos sapecas (até aquele momento).

Ao chegarmos à Academia, passamos pelo Hall de Entrada e então fomos até o Salão Principal.

Não tinha ninguém lá, a não ser a Senhora Farah, a dona da Academia, e os treinadores. Foi aí, que em meio ao bando deles, avistei Reedus. Calmamente, fui ao encontro dele.

– Ah, olá, bom dia, senhorita Gold.

– Bom dia, senhorito... Reedus. Nossa, estou há nove anos com você e ainda não sei o seu sobrenome.

– Callion.

– Callion. Gostei. Senhorito Callion.

Reedus era o tipo de pessoa perfeita. Sério, porém na medida certa; leve, com um pequeno toque de senso de humor, e muito focado. Sem falar na sua aparência maravilhosa, mesmo sendo bem velhinho. Ele estava por volta dos 36 anos, possuía um grande volume de músculos, olhos azuis penetrantes e uma barba que o deixava ainda mais desejável. Mas, é claro que eu nunca havia pensado nele daquela forma. Éramos ligados fazia muito tempo e ele era como um pai para mim.

– E aí, dormiu bem?

– O que você acha?

– Acho que não. Do jeito que você deve estar nervosa...

– Nervosa? Estou mais para entusiasmada. E sim, eu dormi muito bem. Como não poderia? Você viu que horas saí da Academia ontem?

– É verdade, você deve ter gastado todas suas energias.

– É... E nem sei com que razão. Olha... Você sabe que é o meu sonho ir para os Jogos. Mas, eu estou esperando minha chance de conseguir faz 16 anos...

– Quatro.

– Quatro, o quê?

– Quatro anos. Na verdade, você está esperando sua chance há quatro anos.

– Não, tecnicamente, faz até mais de 16 anos, antes de nascer eu já esperava a minha chance.

– Mas tecnicamente, você só iria conseguir alguma chance com 12 anos, o que faz quatro anos que você completou. – ele sorriu. – É isso aí senhorita Gold, quatro anos.

– Que seja, senhorito Callion.

– Mas quem sabe esse ano seja o ano?

– O ano de eu ir? Acho difícil. Você é o único que consegue realmente ver a minha capacidade. Às vezes escolhem pessoas com status social, mas que nem mesmo duram o banho de sangue... Aqueles energúmenos! Porque você sabe... não sou muito sociável. Sociável como a Mia.

Senti que não deveria ter falado isso, mas surgiu do meu inconsciente. Odiava quando me comparava com ela e deixava-a no lucro. Ela podia até ser mais sociável, mas eu sabia que era muito mais competente.

– Os treinadores acham que essas pessoas têm potencial, que podem honrar o distrito, até eles verem o quão estúpidos foram por escolherem pessoas tão incompetentes. Quem realmente tem potencial, como eu, eles não enxergam... É triste.

– Pois é, mas quem sabe esse ano seja diferente? Tenho um segredo para te contar: Eles têm preferencia em escolher os mais velhos, já que geralmente são mais bem treinados. Quem sabe você tenha sorte esse ano e eles te enxerguem, afinal, você já atingiu uma idade bem considerável e pulou dois níveis. Além disso, te garanto que você chama muita atenção enquanto treina.

– Sério?

– Sem dúvida! É impressionante.

– Você diz isso, mas eles...

– Te garanto, eles acham. Já tivemos algumas reuniões, hoje será a última. Você tem grandes chances. Sem falar do treinamento de ontem, que era o último quesito para fechar as escolhas. E você... Se destacou de uma forma esplêndida! Como sempre. De qualquer jeito, estou tentando convencê-los.

Abri um grande sorriso, ele retribuiu.

– Bom, te vejo depois, tenho que ir para a tal reunião – terminou ele.

– Ok, boa sorte.

– Para você mais ainda.

Então me dirigi de volta para onde minha família estava.

– Vo... – começou Mia.

– Não ouse falar nada. – a interrompi, irritada.

– Crianças, não querem comer nada? Não terminaram as suas panquecas e ainda demora um pouco para todo mundo chegar – falou papai, enquanto algumas poucas pessoas entravam no Salão.

Olhei para o lado e avistei as tradicionais mesas de banquete, cheias de quitutes para comemorar a Colheita. Eu não estava com fome, mesmo não tendo comido nem a quarta parte da minha panqueca. Além disso, não ousaria mexer em nada, já que a mesa estava tão bonita e tão bem posta. O que não tinha nenhuma razão, porque além de eu ser filha do prefeito, dali a alguns minutos as pessoas já teriam arruinado todo o trabalho dos cozinheiros e das pessoas que arrumaram a mesa.

Após algum tempo, bastante gente já havia chegado, então logo a comemoração começaria e a lista dos dois tributos escolhidos seria pregada na parede. Foi aí que avistei, entrando no Salão, uma cabeça loura, que me lembrava muito de alguém.

Corri para abraçá-lo, já que não o via há dois dias, graças ao meu treinamento especial com Reedus.

– Oi, Garota das Amoras Vermelhas. – disse ele, com sua esplêndida voz rouca, me envolvendo num caloroso abraço.

Noah é o meu melhor – e único verdadeiro – amigo desde os meus cinco anos. Ele é um ano mais velho e é meu vizinho na Aldeia dos Vitoriosos. Na Academia, está no mesmo nível que eu, ou seja, pulou apenas um nível, o que já está de bom tamanho, já que é até muito difícil de não repetir.

Ele me chamava de “A Garota das Amoras Vermelhas”, ou, por vezes, só de “amorinha”, porque entre nossas casas na Aldeia dos Vitoriosos tinha uma amoreira, e todas as tardes eu ia apanhar algumas, enquanto isso, ele ficava me observando. Era como um ciclo, todas as tardes eu ia apanhar as tais amoras e ele ficava sempre na espreita. Até que um dia eu caí e me machuquei, e foi ele quem foi me socorrer. Logo, ficamos bem amigos, mas foi difícil continuar apanhando as amoras quando começamos a frequentar a escola e a Academia, por outro lado, isso só fortaleceu nossa relação, pois começamos a fazer tudo juntos.

– Oi – respondi em tom alegre.

– Muito nervosa?

– Nervosa?

– É... Sabe... Você sempre quis ir para os Jogos.

– Todo ano você fala a mesma coisa e todo o ano eu não sou a escolhida. Então por que estaria?

– Não sei, Sapphire me contou que ficou treinando até tarde ontem.

– É, sempre faço isso – estranhei.

– Mas, ela me disse que você estava muito irritada hoje de manhã, brigando com todo mundo.

– Brigando com todo mundo? Até parece, só briguei com a Mia! Depois eu vou ter uma conversa séria com essa pirralha!

– Viu?! Era disso que ela estava falando.

– Falando do que, Noah?

– Nunca na vida eu tinha visto você xingar a sua irmã. Vocês são muito ligadas, e você acabou de chamá-la de pirralha.

– Que saco! Sabe por que estou irritada? Porque todo ano é a mesma porcaria, eu sempre me esforço ao máximo, acabo com todos do meu nível nos treinos, tiro notas altíssimas de 10 a 12... Sempre fico esperando ser a escolhida, tenho sempre esperanças de ir para os Jogos. Eu cansei! Simplesmente cansei! – gritei. – Eu não estou nem aí, mesmo que meu nível não seja o escolhido esse ano, eu vou me voluntariar. Não posso mais esperar. Você não entende.

– Calma...

– Não dá!

Eu estava irritada, queria atirar uma flecha em alguém, mas aí, vi a multidão começando a se aquietar e virar-se para o quadro de escolhidos. Senhora Farah estava a ponto de colocar a lista. A tão esperada lista.

Não dei tchau para Noah, simplesmente segui irritada. As pessoas se espremiam para conseguir ver os nomes. Mais ou menos uns duzentos jovens desesperados tentando chegar o mais rápido possível à lista. Eu estava ficando para trás, não conseguia me locomover. Eu ainda estava longe.

Algum tempo depois, enquanto tentava me infiltrar no meio da multidão, o bando de pessoas para ver a lista começou a diminuir. Muitas pessoas começaram a voltar, decepcionadas, como sempre. Vi Mia, minha irmã, no meio da multidão, andando muito irritada, esbarrando em todos e fazendo o possível para deixar o máximo de pessoas feridas. Isso só podia significar uma coisa: Ela não havia conseguido. Era seu último ano, e não havia conseguido! Isso era um mérito muito grande para mim, por três razões. A primeira é que ela provavelmente seria a única na nossa família que não teria sido escolhida para ir aos Jogos. Segunda, ela nunca mais poderia se achar melhor do que ninguém, porque agora, não tendo sido a escolhida, ela realmente não era. Terceira: essa era minha chance! Minha chance de ir para os Jogos, já que minha maior ameaça já tinha sido aniquilada.

É claro, não calculei bem os fatos, existiam muitas meninas boas o suficiente para roubar minha chance que ainda não tinha visto voltarem tristes. Tipo a tal da Sherry Rust... Mas, naquele ponto, quem sabia?

Quando finalmente cheguei até a lista, tremi de emoção. Era o que eu esperava. Esperava mesmo antes de nascer. Estava escrito: “Tributo feminino escolhido: Serena Gold, 16. Selecionada por: Habilidades incríveis em furto, luta corporal, escalada e perícia com arco-e-flecha.”

Tudo que eu sempre esperei na minha vida se resumia em duas palavras: Serena Gold. Essas duas palavras eram as que representavam o aluno feminino que se voluntariaria esse ano, ou seja, eu!

Olhei para os lados, as pessoas me encaravam, mas eu não me importava, estava feliz demais para me importar. Eu sempre fora a estranha da turma, a menina bonita mas introvertida e temerosa provinda de família abastada. Mas não mais. Agora todos me temeriam – ainda mais, na verdade – mas por outro lado, me idolatrariam. E eu sei que eu faria tudo certo. A fervorosidade em meu corpo naquele momento era indubitável. Até que li o nome que estava embaixo do meu... Isso acabou com a minha felicidade no ato, mudou completamente minha expressão. Fui de virtuosa a horrorizada. “E agora?”


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