Os Meteoros de Jonas escrita por Maramaldo


Capítulo 3
Parte III




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Um dragão tem um coração de gelo, apesar de cuspir fogo; sua beleza é atraente, mas ele pode te matar; seu tamanho e comprimento é inimaginável. O amor pode ser como um sopro gelado, apesar de ter uma chama ardente; ele nos faz ver a beleza do mundo, mesmo naquilo que pode nos ferir; seu tamanho, em todas as suas proporções, pode te surpreender.

~°°°~

O primeiro beijo após pedir uma garota em namoro – e depois de ela ter aceito, é claro, pois pelo contrário estaria com um olho roxo – é como um acordo sendo selado. Para ela, era como se fosse o início de um novo começo. Era como ver o mar pela primeira vez. Era como se jogar de paraquedas. Era como se o presente, o passado e o futuro não existissem. Era como dar a volta ao mundo naquele instante. Era como entender a Teoria da Relatividade... Para mim, aquilo não passava da melhor maneira de proteger minha Terra dos meteoros.

Quase quatro meses depois de eu tê-la pedido em namoro, comecei a ver e a entender melhor tudo o que ela sentiu e o que ainda estava sentindo por mim. Na verdade – não vou mentir pra vocês – compreender o amor não é fácil. Como uma coisa que parece ser tão simples pode ser tão difícil de compreender?

LUANA MONTENEGRO: oi ♥

EU: oi

Não sou muito fã de ficar colocando coraçãozinho nas minhas conversas, mas ela insistiu que eu começasse a colocar.

EU: ♥

LUANA MONTENEGRO: O que você tem a falar sobre o tempo?

EU: Como assim?

LUANA MONTENEGRO: Estou fazendo uma pesquisa, e você é a única pessoa que conheço que tem uma opinião própria sobre o sentido das coisas.

EU: O tempo é a melhor forma, apesar de complexa, de entendermos o sentido da vida e de tudo o que há no universo. Tudo é feito no tempo. Nesse momento estou digitando cada letra em menos de um segundo, assim como vai levar menos de cinco para chegar até você, ou como vai durar um pouco mais pra você ler e responder. O universo é feito de tempo e no tempo. Nosso planeta leva 365 dias para dar a volta ao redor do sol, enquanto Mercúrio leva 88 dias e Netuno, o planeta mais distante, leva 164 anos. Muitos pensam que o tempo é uma linha reta, mas para mim ele é uma linha reta até o instante em que estamos vivenciando, pois, a partir daí, ele se torna um emaranhado de linhas, que mesclam em apenas uma à medida que tomamos decisões, formando nosso passado.

LUANA MONTENEGRO: Levei mais ou menos 65 segundos para ler e responder.

EU: O tempo é complexo demais para falar em tão pouco tempo e em poucas palavras.

Está aí um exemplo de que ela confiava em mim. Confiava nas minhas opiniões. Confiava nas minhas teorias. Confiava no tempo em que se dedicava a mim. E aos poucos, sem que eu percebesse, estava confiando nela também.

– Olha quem resolveu aparecer. Jonas Oliveira Ferreira e Luana Montenegro, o casal mais excêntrico da turma – disse Edu.

– Soletre “excêntrico” – disse Luana.

– E. S. E... Não importa, só quis parecer mais inteligente. – Luana e eu rimos. – Qual é a boa?

– Não tem nada de bom acontecendo – respondeu Luana.

– Sabia que eu deveria ter falado “o casal mais sem graça”. Mas vou deixar essa para amanhã. Vocês fizeram o nosso trabalho?

– Você está falando daquele nosso trabalho que você não teve nenhuma participação? – Perguntei.

– Esse mesmo.

– Fizemos – Luana respondeu.

Luana Montenegro meio que se tornou parte do nosso grupo de amigos. Na verdade da nossa dupla, já que éramos só eu e Edu. Além de namorada, ela era minha amiga.

Essa garota de nariz meio torto simplesmente invadiu minha vida. Hoje eu conto coisas a ela que eu nunca havia contado ao Edu, como alguns problemas pessoais, pois, o melhor de tudo, é que ela sabe ouvir. Enquanto eu tentava compreender o que ela sentia por mim, ficava a observando...

Ela tem um pequeno sinal no canto do olho direito que a deixava ainda mais linda. Ela não gostava de usar maquiagem e sua beleza natural me surpreendia. Seus cabelos longos, negros e cacheados estavam sempre soltos, e quase sempre uma mecha caia em seu rosto.

Ela gostava de usar vestidos. Sua cor favorita é verde. Ela levanta a sobrancelha direita quando está discordando de algo. Ela tem a mania de morder a tampa da caneta. Ela escreve um “L” todos os dias na capa do seu caderno. Ela ainda esfrega suavemente o dedo indicador com o polegar quando eu falo.

Seus cílios realçam seus olhos castanho-escuros. Sua pele clara é macia. Suas unhas estão sempre pintadas. Ela sempre olha para minha boca quando quer me beijar. Ela aperta meu dedo mindinho quando damos as mãos. Ela passa a mão no meu peitoral magro quando a abraço.

Gosto de sentir seu cheiro – tão suave e marcante. – Gosto de beijá-la, lenta e suavemente do jeito que ela faz. Gosto de acariciar seu rosto quando ela me abraça. Gosto da maneira como ela fala. Gosto de...

O que está acontecendo comigo?

O que eu estou fazendo?

~°°°~

Não poso estar apaixonado!

Eu podia sentir o amor crescendo dentro de mim. Um amor que crescia todos os dias por Luana. Podia senti-lo fazendo meu estômago revirar. Podia senti-lo fazendo meus lábios sorrirem. Podia senti-lo invadindo meu cérebro e me fazendo sonhar. Podia senti-lo alterar minha visão do mundo.

O amor nos invade assim como um cometa invade a Terra. Ele entra em seu território, sem aviso prévio, com uma chama que ilumina todo o seu percurso e, diferente dos meteoros, destrói seu mundo. Tudo o que você conhece muda completamente depois da colisão. O ar, o chão que você pisa, o sol, as pessoas, os objetos ao seu redor, você... Tudo muda.

Se apaixonar é como saber do universo pela primeira vez.

Sentia uma minúscula ânsia de vomito, apesar de não estar afim de vomitar, pois meu estômago simplesmente resolveu criar vida própria. O tempo anda lentamente quando estou longe dela, e minha mão não para quieta enquanto eu não puder tocá-la. Imito seu gesto de esfregar o dedo indicador com o polegar, e o amor começa a me mostrar imagens dela.

Algumas imagens eu reconheço...

UM MES E VINTE E UM DIAS ANTES

– Para de ser idiota – disse ela.

– Mais isso é idiotice – falei.

– Todo mundo faz isso pelo menos uma vez na vida.

Estávamos no topo de um prédio, olhando a cidade de São Paulo.

– Mas eu não estou afim de gritar.

– Ou você grita agora, ou grita enquanto estiver caindo quando eu te jogar daqui de cima – ameaçou ela.

– Você é tão compreensiva – brinquei. Ela riu. – Ok. Lá vai...

Respirei fundo e comecei a gritar feito um idiota para São Paulo inteira ouvir, e logo em seguida ela me acompanhou gritando também.

TRES MESES E QUATRO DIAS ANTES

– Do que você tem mais medo? – Perguntou ela.

– Tenho medo do que eu não compreendo – respondi. – Medo do que não conheço. Medo de perder o equilíbrio da vida. Medo de não sonhar. Medo dos meus meteoros... Acho que é uma lista bem longa – eu ri. – E você, do que tem mais medo?

– Tenho medo de perder as pessoas que amo. Meus pais, minha irmã... Você.

A olhei no fundo dos olhos. A simplicidade naquela frase era uma prova viva do amor que ela sentia por mim. Ela olhou para os meus lábios, e então a beijei.

DOIS MESES E QUATORZE DIAS ANTES

LUANA MONTENEGRO: oi ♥

EU: oi ♥

EU: você acordou cedo hoje

LUANA MONTENEGRO: é que eu sonhei com nós dois

LUANA MONTENEGRO: percebi que era saudade, então resolvi matá-la te acordando cedo também :)

Algumas imagens eu não reconhecia, então concluí que era o amor me fazendo imaginar momentos que eu poderia ter com ela. Momentos que seriam possíveis de acontecer. Foi então que descobrir que o amor não é tão simples quanto eu imaginava.

Imaginei nós dois vendo o pôr do sol na praia. Imaginei nós dois caminhando de mãos dadas em um lugar desconhecido. Imaginei nos beijando no cinema, em frente à nossa casa, na faculdade, em cada despedida... Imaginei nós dois dormindo juntos. Imaginei ela com a cabeça em meu peitoral após transarmos. Imaginei a risada de uma criança que poderia ser nosso filho. Imaginei seu sorriso aparecendo depois de algo que eu disse. Imaginei ela me abraçar inúmeras e inúmeras vezes. Imaginei nossos cabelos ficando grisalhos. Imaginei eu tocando e beijando seu nariz meio torto. Imaginei ouvir seu coração batendo.

As imagens não paravam de aparecer.

Eu não sei como explicar... Eu...

~°°°~

Como um dragão, o amor lançou chamas em mim, me fazendo apaixonar.

Como eu poderia compreendê-lo agora, se tudo o que penso me leva a Luana? Como eu poderia estuda-lo, se ele me cega toda vez que penso nele? Como eu poderia fazer os meteoros pararem de atingirem a superfície da minha Terra, se agora o amor domina todo o meu planeta?

Não poderia mais continuar com minha pesquisa. Não tinha como.

Dos meus emaranhados de caminhos, tinham dois que seriam os mais prováveis: (a) eu terminaria com Luana e me dedicaria a compreender o amor com outra pessoa ou (b) continuaria com ela e deixaria minha pesquisa de lado.

No dia seguinte a toda essa confusão em minha cabeça, ela estava sozinha na porta da sala de aula. Eu a amava. Como não poderia amar aqueles cabelos? Como não poderia amar seu corpo? Como não poderia amar seu jeito? Como não poderia amar seu nariz meio torto?

E lá estavam, diante de mim, os dois caminhos.

Os meteoros ainda caiam.

– Preciso terminar com você.


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