Os Meteoros de Jonas escrita por Maramaldo


Capítulo 2
Parte II




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Imagine um meteoro entrando na atmosfera da Terra. O que você faria?

Alguns de vocês certamente disseram que não fariam nada, apenas vislumbrariam a beleza que o universo nos proporciona. Outros certamente fechariam os olhos e fariam um pedido para o universo, acreditando que um pedaço de rocha em chamas concederia algo de bom em suas vidas. Já eu certamente olharia para aquela luz passageira, nomeada de estrela cadente, e imaginaria as milhares de pessoas que estão a olhando naquele exato momento, pois, na minha concepção, não há nada mais fascinante do que as pessoas.

~°°°~

Estava decidido. Faria a Luana se apaixonar por mim para poder então compreender o amor. Ao chegar em casa, naquele mesmo dia, comecei a pensar nas coisas que eu faria para ter êxito em minha pesquisa, mas nada do que eu planejava parecia que daria certo. Foi então que concluí que o amor não é feito com planejamento, é feito por momentos aleatórios que tem a capacidade de nos surpreender.

E partindo desse princípio, comecei a minha pesquisa sobre o amor.

PRIMEIRO MÊS

A primeira semana foi a mais difícil. Eu era um completo estranho que estava me aproximando de uma garota com nariz meio torto na qual sua primeira atitude ao chegar na sala de aula foi cair com a cara no chão. Mas aos poucos Luana foi me conhecendo e vendo que eu não era um serial killer, fato que ajudou bastante em nossa aproximação.

As coisas na verdade estavam um pouco estranhas, pois (a) eu estava fazendo tudo sem planejamento, o que dar lugar a coisas eventualmente desastrosas, como derramar suco na minha calça depois de ir em uma lanchonete que ela conhecia; (b) tem vezes que eu fico calado, sem saber o que dizer, então fico a encarando com a maior cara de psicopata enquanto penso em algo que pudesse quebrar o silêncio; e (c) eu não sei o que fazer, e fico me perguntando se estou indo rápido ou lento demais. Como na vez em que pus a mão em sua cintura e ela me bateu (sim, ela me bateu), ou como na vez em que ela me abraçou pela primeira vez.

Eu sou um desastre.

Mas acontece que nesse primeiro mês eu pude conhece-la melhor, assim como também ela pode me conhecer. Todos os dias ela sentava ao meu lado – não ao lado de Edu ou de qualquer outra pessoa da turma, mas ao meu lado. Conversávamos sobre a vida um do outro, e descobri que sua vida é tão sem graça quanto a minha, porém tão rica em “porquês” e nos detalhes minuciosos da vida no qual pensei que nunca encontraria alguém que pudesse interpretá-los.

Lembro perfeitamente o que ela disse quando falei sobre os caminhos da vida, como se eu fosse um gravador que gravava automaticamente suas belas palavras:

– A nossa torta linha do tempo é confusa, cheia de bifurcações e sem indicações para onde cada caminho irá nos levar. Ao escolher um, esperamos encontrar alguém que nos faça feliz e que siga com a gente os mesmos caminhos, não importando quantos apareçam. São caminhos tortos e confusos, onde a cada passo tudo se torna novo, e que só por estar ao lado dessa pessoa, seja ela um amigo, alguém da família ou um amor inolvidável, tudo se torna mais fácil, pois não importa quantas bifurcações apareçam, a companhia de uma pessoa especial é que torna cada caminho o certo – disse ela.

Cheguei a me perguntar se ela achava que estava no caminho certo. Cheguei a me perguntar se eu poderia ser esse alguém que ela falava. Cheguei até a me perguntar se os meteoros também atingiam a atmosfera de sua Terra.

SEGUNDO MÊS

Quando surge o amor?

Será que ele simplesmente nos invade, sem permissão, acelerando nosso coração e invadindo nosso cérebro, nos fazendo perder o controle de nosso próprio corpo? Ou ele chega lentamente, em um movimento silencioso e despercebido, que te faz ver o mundo com ostros olhos, sentir as coisas de outra maneira, como se tudo tivesse mudado?

Não sei quando ele começou a surgir, mas eu podia vê-lo nos olhos de Luana, que a cada dia estava mais diferente. Como eu sei que ele estava surgindo? Percebi pelas inúmeras atitudes que ela começou a apresentar. E eis que aqui estou, tentando descobrir quais são sintomas do amor.

Primeiro foram os olhares – claro, tinham que ser. Ela começou a me olhar de um jeito diferente, como se me analisasse. Como se não soubesse o que estava sentindo. Como se estivesse completamente perdida dentro de um labirinto na qual as paredes eram feitas de sentimentos. Como se tentasse achar algum defeito. Como se cada gesto meu fosse algo inexplicável. Como se sua vida dependesse disso. Como se eu fosse big bang.

E toda vez que eu a olhava, ela desviava o olhar.

O amor estava ali, tímido e inocente, pronto para ser interpretado.

Logo depois foram os gestos. Ela sentia a necessidade do toque físico, no qual pude perceber quando ela começou a morder os lábios quando eu me aproximava. Quando ela começou a segurar minha mão quando conversávamos. Quando ela enrolava o cabelo quando me encarava ao longe. Quando ela sorria quando eu não tinha nada para falar e ficava a encarando com cara de psicopata. Quando suas pernas encostavam na minha quando sentávamos ao lado um do outro. Quando ela me dava um daqueles abraços sem fim.

Nessa hora o amor já começa a se mostrar, e eu podia enfim analisá-lo melhor.

TERCEIRO MÊS

No terceiro mês eu não tinha muitas dúvidas. Luana Montenegro estava apaixonada por mim. Ela não me disse isso e nós ainda não nos beijamos, apenas estava no ar, como a poeira invisível que o vento carrega.

Mas eu tinha mais dúvidas.

Eu não soube quando o amor realmente surgiu, ou a melhor forma que ele achou de se mostrar. Eu não sei quais foram os pensamentos de Luana, ou quais atitudes ela quis tomar e não tomou. Não sabia quais foram os pré-requisitos para que ele surgisse, nem quando ela percebeu que estava sentindo algo por mim.

Só pude interpretar o amor de apenas um ângulo, e não foi o suficiente.

Para saber tudo o que eu não sabia, tinha apenas que fazer uma pergunta seguida de um ato. Não sei se eu estava pronto ou se ela estava pronta. Não sei se eu me confundi e tudo o que eu presenciei não tenha sido o amor. Mas eu tinha que me arriscar. Tenho que entende-lo.

Os meteoros ainda caem.

~°°°~

Eu pude sentir seus dedos entrelaçando os meus de uma forma suave. Como se conectassem. Como se fossem feitos para estarem juntos. Ela me encarava de um modo que seus olhos sorriam. Ali estava o amor, em forma de uma garota com o nariz meio torto.

Eu não sabia o que dizer.

– Porque você fica me encarando desse jeito? – Perguntou ela.

– De que jeito? – Perguntei, todo inocente.

– Desse jeito... – psicopata, pensei – Estranho – ela riu.

Eu ri.

Silêncio.

Silêncio.

– Quero te fazer uma pergunta – disse, me levantando e sentando na cadeira ao seu lado, na lanchonete.

– Pergunte.

– Você morde os lábios quando me aproximo. Você enrola o cabelo quando me olha ao longe. Você sorrir quando eu te encaro. Você adora segurar minhas mãos. Você esfrega suavemente o dedo indicador com o polegar quando eu falo – olhei para mão dela e ri. – Posso estar enganado quanto a todas essas atitudes, mas seria idiota se eu não as interpretasse.

A verdade é que EU NÃO ESTOU APAIXONADO POR ELA. E nem poderia estar. Sei que você está pensando que eu a estou fazendo de cobaia para os meus estudos, e talvez você esteja certo. Como eu disse, para entender o amor eu precisava fazer uma outra pessoa se apaixonar por mim, pois, pelo contrário, estaria cego por ele. Não sei se é certo fazer isso, mas o impacto dos meteoros na atmosfera da minha Terra é muito mais forte, o som é ensurdecedor e a forte luz ofusca minha visão.

Estou a apenas uma pergunta do que você consideraria certo ou errado, assim como da destruição do meu mundo ou da compreensão do amor.

Que se dane sua opinião!

– Luana Montenegro, você aceita namorar comigo?


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