Os Meteoros de Jonas escrita por Maramaldo


Capítulo 1
Parte I




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Provavelmente o sol um dia irá se apagar, assim como todas as estrelas existentes hoje irão morrer. Provavelmente serei esquecido pelo universo e o tempo irá mudar tudo o que sei, o que faço e o que sou. Provavelmente todos os meus sorrisos, as minhas manias, a minha imagem, serão jogados ao vento desta pequena e breve história da Terra na qual estou vivendo.

Estou dizendo isso para você entender que tudo tem um fim. Tudo é passageiro.

Agora guarde bem essa frase que eu irei dizer: você será esquecido.

~°°°~

– Queria que você largasse esse livro e tomasse seu café – disse minha mãe. – Você já está atrasado.

– O atraso é relativo – disse.

– Como o atraso pode ser relativo?

– Assim como estou atrasado para a primeira aula da faculdade, posso estar chegando adiantado para a segunda. Como também posso estar atrasado para pegar o ônibus que passa daqui a cinco minutos e chegar adiantado para o que passa daqui a meia hora. Ou até posso, o que acho pouco provável, estar atrasado para conhecer uma garota qualquer, e chegar adiantado para conhecer uma que poderia ser especial.

– E isso tudo é só porque você está atrasado?

– Você entendeu algo que eu disse?

– Não – respondeu ela. – Só a parte da garota especial. Por acaso já a conheceu?

– Ainda não. E talvez ela nem exista.

– Não vá me dizer que o amor também é relativo – ela riu.

– O amor não é relativo, é complicado de ser entendido assim como é complicado de ser interpretado. E é difícil de ser compreendido assim como é difícil de ser encontrado.

Silêncio.

– Agora eu estou atrasado – disse, me levantando.

O ônibus que eu pego para ir pra faculdade passou logo assim que eu cheguei na parada, o que não me deixaria assim tão atrasado para a primeira aula como minha mãe imaginava.

Durante meu longo trajeto até a faculdade, fiquei pensando sobre o que minha mãe e eu falamos. Mais precisamente sobre o que eu falei. Enquanto eu olhava a cidade de São Paulo pela janela do ônibus, imaginei em um modo de compreender o amor. Será que isso é loucura? Será que isso é possível?

Peguei me celular e fiz a seguinte pergunta no Google: “O que é o amor?”; e lá estavam várias definições do que seria esse sentimento. Três destas definições me chamaram a atenção, nas quais diziam que o amor é (a) forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais; (b) afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns; forte amizade; e (c) atração baseada no desejo sexual.

Mas nenhuma destas definições respondeu de uma forma que eu pudesse realmente compreendê-lo.

Ao descer do ônibus e entrar no campus, fui em direção a minha turma olhando as diversas garotas que passavam por mim, e fiquei imaginando quantas delas sonhavam em se apaixonar por uma pessoa mesmo não tendo uma compreensão significativa do amor. Aquilo começou a martelar em minha cabeça, como se eu fosse um mundo sendo invadido por meteoros, e, se eu me conheço bem, não vou parar de me torturar internamente até poder enfim compreender o que agora me atormenta.

– Olha só quem resolveu aparecer – disse Eduardo, meu amigo, assim que sentei na cadeira ao seu lado. – Jonas Oliveira Ferreira, seja bem-vindo a mais um frustrante período de nossas vidas.

– Obrigado – eu ri.

– Sabe o único lado bom de cada período que começa?

– Qual?

– É que sempre aparece alguma gatinha nova na turma. Olha aquela – ele apontou com a cabeça. – E aquela. E aquela ali.

– Você fala como se tivesse chance com alguma delas.

– Elas ainda não sabem, mas sou o homem da vida delas – ele fez uma cara estranha.

E fiquei ali, olhando Edu admirar as novas garotas. Logo depois olhei para o relógio em meu celular e vi que o professor estava atrasado. A chuva de meteoros continuava. Olhei para as novas garotas e fiquei imaginando me apaixonar por alguma delas, e foi quando percebi que (a) se eu me apaixonar, não irei conseguir compreender o amor e (b) para compreendê-lo eu tenho que fazer alguém se apaixonar por mim, pois assim eu poderia estuda-lo de perto sem correr o risco de me “infectar”.

Falando dessa maneira até parece que o amor é algo para ser temido, mas ninguém nunca me disse para não teme-lo.

– Olha só essa que acabou de chegar – disse Edu, sussurrando.

Olhei para a porta e vi uma garota de pele clara, cabelos compridos e negros, e vestido branco entrar na turma. Ela andava tranquilamente, olhando para toda a turma em busca de alguma cadeira que não estivesse ocupada, quando Edu gritou:

– Aqui tem um lugar – e apontou para a cadeira ao meu lado.

Ela fez um pequeno aceno com a cabeça e começou a andar em nossa direção. Podia imaginar todos os pensamentos inapropriados que estavam sendo emitidos da cabeça de Edu, poluindo o ar ao seu redor. O vestido branco voava para trás. Por um segundo ela olhou a cadeira vazia ao meu lado, e nesse mesmo segundo ela tropeçou em algo que, de forma atrapalhada, a fez cair no chão. Puf.

Foi uma queda linda.

Enquanto Edu continha o riso, me levantei da cadeira e fui ajuda-la. Peguei suas coisas que estavam no chão e entreguei a ela.

– Você está bem? – Perguntei.

– Estou – respondeu ela. – Obrigada.

Nos sentamos.

– Meu nome é Jonas, e esse retardado aqui é meu amigo Eduardo – disse a ela.

– Sou Luana – ela deu um pequeno sorriso. – Acho que eu comecei o dia com o pé esquerdo.

– Na verdade você começou com a cara – disse Edu, rindo.

Olhei para Edu com uma cara de “Você é idiota ou débil mental?”, e logo em seguida voltei a olhar para Luana.

– Como eu disse, ele é retardado.

~°°°~

Há diversos tipos de amor, eu sei que você está pensando nisso. Mas será que realmente existe? Na minha opinião, assim como os meteoros, o amor é uma coisa só, apenas divido em vários tamanhos causando impactos, sons e cores diferentes.

– Você quer comer alguma coisa? – Perguntei a Luana logo depois da primeira aula.

– Não, obrigada. Estou sem fome – respondeu.

– Eu entendo – disse. – Você acabou de me conhecer e por isso não se sente segura em lanchar comigo. Agora vamos imaginar daqui a seis meses... – fiz uma cara pensativa. – Eu e você já teremos nos conhecido melhor; você, nesse tempo, me abraça com frequência; eu nem tenho mais vergonha de rir quando você cai; você me pede pra comprar algo quando está com fome... Por que a gente não pula todos esses meses e fazemos algo que futuramente será algo bem comum?

– Porque não devemos interromper o processo do tempo – respondeu ela.

Foi uma resposta maravilhosa.

Uma garota geralmente responderia: “Mesmo assim não estou com fome. Obrigada.”; ou “Tudo bem, vamos.”, ou até mesmo me mostraria o dedo médio, como já aconteceu uma vez. Mas a resposta dela foi completamente diferente.

E aqui estou eu com meus meteoros, e ao meu lado está Luana – uma garota que, apesar de ter o nariz meio torto, é incrivelmente linda. E foi então que eu percebi que ela é a garota perfeita para me fazer compreender o amor.


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