60 dias apaixonado escrita por Mayara de Souza


Capítulo 11
Capítulo 11




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/610016/chapter/11

O relógio mostra que ainda são 06:15 da manhã de uma maldita terça-feira qualquer.

– Merda. – murmuro.

Eu não sei por que é que eu já estou acordado, mas eu estou. Para falar a verdade eu nem sei ao certo se eu consegui dormi. Talvez eu tenha apenas fechado os olhos por uns cinco minutos ou algo assim.

Depois que eu saí do quarto dela na tarde de ontem, eu joguei vídeo-game, comecei a assistir vários filmes e não conseguir terminar nenhum deles, escutei música e até tentei ler um livro. Quando eu dei por mim já estava anoitecendo. Eu passei uma parte da noite relembrando e chorando pela morte da minha mãe e o restante eu consegui dividir entre ficar preocupado com a Isabella e visitar o quarto dela de dez em dez minutos, só para garantir que ela não iria acordar e ter outro surto como o de mais cedo.

Depois de algumas horas, quando o sol já estava nascendo no horizonte e eu não havia pregado os olhos à noite inteira, eu cheguei a conclusão de que seria inútil tentar dormir no meio de toda a confusão em que se encontrava a minha mente. Decidi que o melhor seria encontrar alguma coisa para fazer. Ouvi música.

Me levanto sentindo dor em várias partes do meu corpo e meus olhos embaçados e pesados de tanto cansaço, me olho no espelho e puta que pariu.

Que merda eu estou? – penso.

Vou em direção ao banheiro, passo uma água pelo rosto e escovo os dentes. Molho as mãos e passo pelo cabelo, na esperança de que eu pareça um pouco melhor e bom... Até que funcionou. Me arrasto até a cozinha, surpreso com o estranho silêncio da casa, chego na cozinha e Ana abre um sorriso, sorrio de volta.

Me sento na bancada enquanto ela termina de preparar o café da manhã. Ela começa a falar sobre alguma coisa que aconteceu na novela das nove, que não me interessa em nada. Mas eu finjo que sim.

– Bom dia. Bom dia. bom dia. – Isabella entra na cozinha apressada com o volume alto da voz.

– Bom dia querida. – ela se aproxima de Ana que sela sua testa com os lábios.

Coisas de mãe. Coisas de Ana.

– Bom dia. – murmuro e ela se vira para mim sorrindo. E eu automaticamente sorrio também.

Acho que estou aliviado por saber que ela está bem, pelo menos melhor que ontem. Enzo do céu, que merda está acontecendo com você? – penso irritado comigo mesmo.

– Eu estou super atrasada. – diz enquanto pega uma maça na fruteira á minha frente no balcão.

– Quer uma carona? – Ana se vira para mim com um sorriso confuso e me encara por alguns segundos, Isabella está fazendo o mesmo.

Merda Enzo, ela tem caro. Que tipo de pergunta de merda foi essa Enzo?

– Porque? – ela questiona com uma das sobrancelhas arqueadas.

– Eu preciso ir conversar com o Hugo. – respiro fundo. – Ele me disse que eu podia encontra-lo lá na faculdade. – menti e sorri.

– Er... – ela se vira para Ana e a mesma volta a fazer as panquecas imediatamente, Isabella se vira novamente para mim e hesita alguns segundos antes de me responder. – Claro. Porque não? – sorri.

– Só preciso pegar a chave do carro. – ela se limita em concordar com a cabeça. – Certo.

Me levanto da bancada meio desajeitado e quase vou de cara no chão, meus dois pés esquerdos, que maravilha. Bufo e ela solta um risinho abafado.

– Eu vou te esperar lá fora. – ela pega a mochila do balcão e joga por cima do ombro. – Tchau Ana.

– Tchau Isa. – ela responde sem se virar.

– Vai logo Enzo. – Isabella passa por mim, que no momento estou parado na cozinha feito um retardado e me dá uma cotovelada no braço, eu acho que pra chamar minha atenção.

– Já tô indo.

Saio da cozinha e quando chego na sala corro para as escadas, subo de dois em dois os degraus e volto a correr quando chego no corredor. Entro no meu quarto, pego as chaves do carro e da casa, celular, carteira e óculos escuros. Volto pelo corredor, escada, sala e vou em direção à porta da frente evitando qualquer comentário da Ana caso eu saísse pela porta da cozinha.

Quando chego do lado de fora da casa, Isabella está encostada no carro apoiada na porta do passageiro. Ela está com outro daqueles shorts curtos dela, que deixa as belas pernas á mostra e eu acho improvável que o namorado dela não se irrite com isso. Eu queria poder ver seus olhos mais infelizmente ela está usando óculos de sol e o cabelo está meio preso em um coque desarrumado. Linda. Acho que ela estava usando exatamente a mesma roupa á alguns minutos na cozinha, mas eu não consigo me lembrar. Ela nota a minha presença e ergue o rosto, que até então estava voltado para o chão. Ela sorri e eu também.

http://www.polyvore.com/cgi/set?id=157180081

– Trouxe um presente para você. – ela mantêm o sorriso e tira um embrulho dourado de dentro da bolsa. Arqueio uma das sobrancelhas.

– Um presente? – pergunto confuso.

– É Enzo. – ela confirma. – Um presente. – ela balança o pacote pequeno e quadrado e eu sorrio, totalmente surpreso.

Eu me aproximo o bastante para ela estender o braço e me entregar o “presente”, ou seja, lá o que for isso. Olho para ela confuso e depois para o objeto, sem nenhuma explicação da parte dela eu começo a rasgar o embrulho dourado.

NÃO! ELA NÃO ME DEU ISSO! – penso.

– Sério? – pergunto divertido com o CD na mão.

– Eu sabia que você ia gostar. – ela ri e eu nego com a cabeça.

– Jorge e Mateus? – questiono e ela cruza os braços e faz biquinho, minha vez de rir.

– Você não gostou?

– Vamos logo vai. – tenho certeza que ela não iria gostar nada da minha resposta. Ela se vira aparentemente irritada e abre a porta do carro, entrando em seguida e batendo com força. Maldita.

Dou a volta no carro e me acomodo no banco do motorista, fecho a porta bem devagar e me viro para poder olha-la. Ela está olhando pela janela com os braços cruzados e tenho certeza que ela está irritada. Olho para o CD na minha mão e reluto por um segundo antes de inseri-lo no aparelho de som. Porque eu estou fazendo isso mesmo? Eu não faço ideia.

– É claro que eu gostei... Do presente. – respiro fundo. – Eu só estava brincado com você.

– Eu tenho certeza que você vai gostar. – ela diz ainda encarando o nada além da janela do carro.

– Claro que sim. – murmuro e inesperadamente ela se vira para mim me fuzilando com aqueles olhos azuis, engulo em seco. – Porque o presente? – ela suspira.

– Queria te agradecer por ontem... – ela respira e coloca um fio do cabelo que escapou do coque, atrás da orelha. – Obrigada.

– Você não precisa me agradecer. – sorrio. – Você só precisava de alguém e eu por coincidência estava em casa. – ela volta a sorrir. Graças á Deus.

– Você é quase o meu herói Enzo. – ela coloca a mão direita sobre o meu ombro e se aproxima. Caralho eu esqueci como se respira. Ela sorri e beija minha bochecha. Merda. Quase Enzo.

– Er... – porra, não sei o que dizer.

– Vamos? – ela sugere.

– Vamos! – eu de imediato concordo.

Ficamos em silêncio no mesmo momento em que a música começou a tocar.

"Eu acho que estou gostando de você, mas você não percebe. Porque? Eu vejo o tempo passando e cada vez me apaixonando mais. Mais você não percebe..."

– Que tipo de música você gosta? – ela pergunta.

– Curto um pouco de tudo. Legião Urbana, Cazuza, Jota Quest, Skank. – me viro assim que paramos no primeiro sinaleiro e ela está me encarando sorridente, sorrio também. – E também Green Day, Linkin Park, OneRepublic, Avicii e Katy Perry. – a boca dela cai aberta e ela fica paralisada por alguns segundos. Merda.

– Não acredito que você escuta Katy Perry. – reviro os olhos e volto a prestar atenção na avenida. Ela caí na gargalhada e eu a ignoro completamente. Ou pelo menos tento.

– Só uma música. – murmuro. – Só gosto de uma música dela. – digo.

– E qual é?

– Hot N Cold. – sussurro.

– Qual? – ela se inclina para o meu lado e aproxima o ouvido do meu rosto, eu bufo e ela cai novamente na gargalhada, que bosta, eu e minha boca grande.

– Porra Isabella. Você tá me zuando? – pergunto e ela ri ainda mais alto, se é que é possível. Depois de algum tempo ela tenta controlar o riso, está ofegante e com a mão sobre a barriga. – Você está bem? – ela me olha respirando com dificuldade e um pouco vermelha e eu abafo um riso.

– Aí... meu... Deus... – ela diz com a voz falhada enquanto sua respiração vai voltando ao normal. Ela se abana com uma das mãos, olha para mim que estou olhando completamente confuso para ela e novamente solta um riso, dessa vez menos escandaloso.

Eu me divido entre prestar atenção no trânsito e nela. Eu gosto do sorriso dela, do riso e da gargalhada. Ela fica ainda mais bonita quando está sorrindo.

– E você? – pergunto.

– Eu o que?– ela questiona confusa.

– Que tipo de música você gosta? – me viro para encara-la e ela ainda está sorrindo, sorrio também.

– Ah, vejamos... – ela morde o lábio inferior e uma buzina aguda e irritante zoa alto atras de nós, me assustando e informando que o sinal esta verde de novo, ela volta a gargalhar e dessa vez e me junto a ela.

(...)

Eu não sei direito o porque, mais eu gosto de estar com ela. Gosto da companhia, da conversa, das piadas e do sorriso... Eu gosto dela de um jeito diferente.

Ela me disse que também gosta de Legião Urbana e Skank, mencionou que gosta muito de Projota e An Passant e algumas outras bandas brasileiras que eu nunca ouvi falar, mas que eu estou disposto a escutar. Descobri que ela faz faculdade na USP, cursa letras. Ela quer ser professora, ensinar quem não tem condições ou acesso a educação, que no caso é muita gente. Ela me disse também que tem um sonho bobo, o de mudar o mundo.

Eu não acho que seja um sonho bobo.

Conversamos o caminho todo e ela inutilmente tentava me ensinar como chegar na faculdade, por fim eu tive que descobri por conta própria. Ela é inteligente, sincera, divertida, bonita, encantadora...

Ela sorriu durante todo o trajeto, e eu tenho certeza que ela esconde toda a sua tristeza atrás desse sorriso. Sei disso, porque eu também faço isso. Depois de alguns anos, acaba se tornando em algo extremamente fácil e chega um dia em que nem nós mesmo sabemos quando é real e quanto é fingimento.

Depois de quase uma hora eu estaciono em frente ao campus da faculdade. Eu me viro para olhá-la, ela está me encarando e parece confusa, curiosa, sei lá...

– Eu sei que é mentira. – ela diz. Eu arqueio uma das sobrancelhas e inclino a cabeça um pouco para o lado.

– O que é mentira? – mordo o lábio inferior.

– O Hugo não tem aula hoje. – eu viro para frente novamente e fecho os olhos com força.

– Er... Eu... Porra. – abro os olhos e respiro fundo, me viro novamente para ela que continua me encarando e eu não faço ideia do que esse maldito sorriso no rosto dela quer dizer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SURPRESINHA DO PRÓXIMO CAPÍTULO:

"– Do que é que você está falando Marcelo? – me faço de desentendido e ele me olha com repreensão.

— Enzo. – ele diz calmamente. – Ela é igual a muitas garotas, digo fisicamente, se você a vê como alguém que tem algo diferente é porque ela talvez signifique muito para você. – ele sorri e eu tento sorrir também."



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "60 dias apaixonado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.