Capítulo Cinco

Malibu - 12 p.m.

17 de outubro de 2011

Fazia dois dias desde que a jovem tinha acordado, não lembrava quem era e muito menos da onde tinha vindo, Patrick não tinha tido coragem de mandá-la embora. Mas o que mais o surpreendeu não foi a amizade que a estranha tinha com sua filha, ou a ligação que ele sentia em relação a ela, mas sim Angela não ter comentado sobre ela ficar, era como se não se importasse mais. Porém ele resolveu deixar de lado e conversar depois.

Ele chegou em casa para almoçar pouco depois das 12hs e estava ansioso para ver sua hóspede. Ao se aproximar da cozinha ouviu risadas vindo de lá, pé ante pé ele chegou até a porta e observou à cena dentro do ambiente, Charlotte estava em pé num banco, amassando, o que parecia ser pão, com farinha de trigo até os cabelos. A moça não estava tão diferente de Charlotte, ela tinha trigo no rosto e cabelo também, mas ambas estampavam sorrisos que deixava a cozinha ainda mais brilhante. Mandy e Beth, a cozinheira, estavam ao lado sorrindo e dando instruções a ambas. Sem aguentar ficar sem participar da diversão ele entrou na cozinha anunciando sua presença.

"Oba! Hoje tem pão". Ele disse e sorriu.

"Papaaaai". Disse Charlotte e se mexeu tentando descer do banco.

"Oh... Calma, minha pequena". Falou a moça suave. E com delicadeza colocou a menina no chão.

Correndo até o pai Charlotte o abraçou e sem se importar em se sujar ele a pegou no colo.

"Olá, Charly. Como foi seu dia?"

"Eu e Bela brincamos com Dolly na praia". Disse ela e desceu dos braços dele e voltou para seu “posto”.

Sorrindo ele se aproximou da moça:

"Oi, B. Como foi seu dia?" Dizendo isso ele deu um beijo na bochecha dela e sorriu satisfeito quando ela ruborizou com o gesto.

"Tudo foi bem, a Charlotte é uma menina muito divertida". Ela disse tímida.

"Que bom". Ele passou por ela foi falar com Mandy e Beth, deixando um beijo em ambas. "O que temos para o almoço?"

"Lasanha". Bela e Charlotte dissera em uníssono.

"Huuuummm.. Eu adoro lasanha". Ele disse com os olhos brilhando de satisfação.

"A dona..." Mandy começou, mas não soube como continuar.

"Pode me chamar de Bela como Charly ou B como Patrick". Disse Bela e sorriu. "Por enquanto essas são as opções. E por favor, não me chame de dona. Não precisa de formalidades".

"Vou ficar com Bela". Disse Mandy. "Pois bem... Bela quem fez. Ela sugeriu uma coisa diferente".

Olhando para ela Patrick estreitou os olhos fingindo desconfiança. E depois olhou para carinha sapeca da filha.

"Num sei se deve confiar. O que acha, Charly? A lasanha vai estar boa?"

"Claro que sim, papai. Foi a Bela que fez e eu ajudei". Disse ela ofendida.

Gargalhando ele foi até onde ela estava e a pegou nos braços, arrancando gargalhadas da pequena.

"Que tal um banho, hein? Você precisa estar cheirosinha para o almoço". Ele disse e foi saindo da cozinha, mas não antes de dizer. "Você também, B, está até de cabelos brancos".

Sorrindo ele subiu com a filha para ambos se prepararem para o almoço. Ainda sorrindo Bela terminou com a massa e a colocou numa vasilha.

"Acho que terminei". Disse ela e olhou as duas mulheres. "O que devo fazer agora?"

"Que tal fazer como Patty disse?" Falou Beth "Vá tomar um banho e venha comer a lasanha, assim que almoçarmos voltaremos para o pão".

Afirmando ela saiu da cozinha e deixou as outras sozinhas.

"Quanto tempo acha que vai levar para eles perceberem?" Perguntou Mandy.

"Perceber o que?" Perguntou Beth se fazendo de desentendida.

"Perceberem que estão se apaixonando?" Disse Mandy sonhadora. "Eles têm uma ligação, eu posso ver. Durante os dois anos em que estou aqui eu nunca vi nada parecido entre Sra. Angela e Sr. Patrick".

"Eu sei, eles perderam um pouco do encanto nesses últimos anos. Mas vamos deixar para lá, se eles estão ou não se apaixonando não é da nossa conta". Disse Beth encerrando a conversa e preparam as últimas coisas para o almoço.

Vinte minutos depois os três apareceram na cozinha. Patrick e Charlotte conversavam sobre algum desenho e Bela observava fascinada. Sentaram na mesa e foram servidos por Mandy. Quando estava a ponto de começarem a comer Patrick interrompeu:

"Charly e B, o que acham de Mandy e Beth almoçarem com a gente?" Perguntou empolgado.

"Ótima ideia, Patrick". Bela sorriu alegre.

"Mas papai, elas não podem". Disse Charly num sussurro. "Mamãe falou que elas têm uma mesa para almoçar depois".

Surpreso com a informação ele ficou com um pouco de raiva de Angela. Como ela podia ensinar uma atitude tão mesquinha quanto essa?

"Princesa..." Começou ele e chamou a filha até seu colo. "A Mandy e a Beth serão sempre bem vindas à mesa".

"Mas então por que elas sempre comem depois da gente?"

"Bem... elas ajudam a mim e a mamãe a organizar a casa, na hora que estamos comendo elas aproveitam para arrumar algumas coisa. Depois que elas acabam vão comer também. Assim não atrapalhamos elas".

"Então... elas podem sempre almoçaram com a gente?"

"Podem".

"Mesmo sem a mamãe deixar?"

"A mamãe não está aqui agora". Sussurrou no ouvido da filha.

A pequena olhou as empregadas e abriu um sorriso enorme e com uma voz alegre as chamou para se juntarem a eles. Patrick sabia que começaria uma briga com Angela sobre isso, a quebra da barreira entre patrão e empregado tinha sido apagada a partir desse momento.

Porém ele não ligava muito, Beth se tornou uma mãe para ele, ela era a única que o chamava de Patty e que sempre o mimava. Mandy era sua irmã mais nova, sempre brincavam com ela ou a tirava do sério com alguma besteira, então a quebra dessa linha estupida que Angela tinha colocado era inútil agora.

E por falar em Angela ele tinha ficado muito feliz quando no dia anterior ela disse que tinha arrumado um emprego na galeria de uma amiga como consultora de obras. Ela passaria o dia lá, tendo assim poucas oportunidades de vim para casa no almoço o que dava a ele mais tempo com a filha e mais liberdade dentro de casa, coisas que nunca tinha percebido sentir falta antes.

Ele amava a esposa, mas o amor de antes parecia ter se transformando em uma amizade. Mas ele não podia deixar isso acontecer, ele tinha que manter seu casamento pelo bem de Charlotte. Nessa noite ele iria fazer uma noite romântica para ele e sua esposa, eles precisavam. Mas afastou seus pensamentos quando a voz suave de Bela invadiu seus ouvidos:

"Patrick, estávamos perguntando qual o seu sorvete preferido".

"Oh, desculpem... estava longe... Pois bem, eu gosto de morango".

"Papai... não conta. Bela gosta de morango também".

"Como assim não conta? Claro que conta, ela que roubou minha ideia".

"Ei... não foi eu que não escutou as regras da brincadeira... sem repetições".  Falou Bela divertida.

"Ok... ok. Já falaram chocolate?"

E durante toda a refeição eles brincaram sobre o que gostava ou não. Apesar de que Bela sempre afirmava a mesma coisa... “não lembro, mas podia ser...”.

Depois que ajudaram Mandy e Beth na cozinha os três pegaram Dolly no caminho e fora para praia, Patrick ligou para o escritório e avisou que não iria. Ele era o dono poderia fazer o que quisesse, tinha bons funcionários, todos competentes, e que o ajudavam e isso era o suficiente.

Pegando a prancha de surfe na garagem ele encontrou com Bela e Charlotte construindo castelos na areia. Com um sorriso de menino no rosto ele entrou no mar e começou seu esporte favorito.

Bela estava feliz brincando com a pequena e com o cachorrinho, mas em alguns momentos ela focalizava toda a atenção para o abdômen definido em cima da prancha. Ela sabia que ele era casado, mas só olhar não faria mal. E entre as brincadeiras e olhadas na direção dele ela viu exatamente o momento que fez seu coração gelar de medo.

Uma onda maior apareceu e ele abriu ainda mais o sorriso, como se fosse possível e foi em direção a ela com o intuito de pegá-la. Tudo começou bem, ele pegou o impulso e foi na crista da onda, mas ele percebeu tarde demais que tinha se adiantado muito e tomou um caldo.

Da praia Bela viu tudo isso, mas o que fez ela se apavorar foi que após o caldo a única coisa que submergiu foi a prancha quebrada. Segundos depois ele apareceu agitando os braços, porém mais uma onda o atingiu o puxando para o fundo mais uma vez. Ela esperou por cinco segundos antes dele aparecer de novo e ser engolido por mais ondas. E sem saber de onde surgiu tanta coragem ela virou-se para Charlotte.

"Charly, pegue Dolly e corra para casa, peça a Mandy que chame uma ambulância ou aquele médico que me tratou". E sem esperar respostas da pequena e ignorando o medo estampado no rosto dela, Bela correu para o mar.

Tendo o cuidado de saber onde ele estaria Bela nadou até o local, no início não o encontrou, mas segundos depois viu uma cabeça loira flutuando, chegando até ele, ela o pegou e puxou até a praia. O deitando na areia viu que ele tinha desmaiado, e imediatamente começou a fazer uma massagem cardiorrespiratória, mas parecia que não estava dando certo, ela então partiu para o plano B, a massagem e a respiração boca a boca. E em meio a tanto esforço a única coisa que ela pensava era: Vamos lá, Patrick! Fique comigo, fique comigo.

Continua...