Capítulo Quatro

Washington D.C. – 5:12 p.m.

19 de outubro de 2011

Cho estava interrogando Lilly pela terceira vez. Ela estava no hospital e já assinava a sua alta, só tinha sofrido alguns arranhões.

"Lilly, você tem certeza que é só isso mesmo?"

"Pelo amor de Deus, Kimball. Essa é a terceira vez que você me pergunta". Falou Lilly exasperada. "Eu já disse, estávamos indo para o necrotério, eu fui na parte de trás porque não estava com cabeça para ouvir as ladainhas de Frank. Do nada o caminhão bateu em alguma coisa, eu fui arremessada e um grupo mascarado abriu a traseira, puxou o corpo e fugiu. Não consegui ver os rostos porque eles estavam mascarados".

"Ok, desculpe". Ele disse chateado. "Mas agora vai ficar ainda mais difícil de pegar esse filho da mãe".

"É eu sei". Falou ela. "Mas agora eu só quero voltar para casa e dormir. Minha cabeça está me matando".

"Você está bem?"

"Claro que sim".

"Mas se está com dor de cabeça, é melhor ficar mais um pouco aqui".

Lilly o encarou com desprezo.

"Kimball, eu odeio hospitais, e não me olhe assim". Ela disse e fez cara feia. "Sou médica, mas uma legista, gosto do meu laboratório, e acredite, minha cabeça vai melhorar, mas em casa. Qualquer coisa que surgir... se acharem o corpo... enfim... me chame".

E sem mais demora ela foi em direção a saída do hospital, sem mais nada para fazer lá, Cho também foi embora. Chegou na sede do FBI quinze minutos depois.

Rigsby estava no celular e com um bloco de notas a mão. Van Pelt olhava as câmeras ao redor de onde ocorreu o sequestro do corpo.

"Alguma novidade?" Perguntou ele.

"Consegui as filmagens de dois edifícios próximos ao sequestro". Falou Van Pelt. "Os bandidos estavam mascarados, o que tornou impossível a identificação. Mas eu consegui o modelo do carro, era um Land Raver Evoque preto, placa 447 JIS".

"Ótimo, o que você conseguiu com isso?"

"A placa era falsa. E o carro foi encontrado a quase 2 km do local". Falou ela desanimada. "Estou esperando vídeos das câmeras de segurança de uma loja próximo do local onde o carro foi abandonado".

"Ok, continue trabalhando nisso. Rigsby, conseguiu mais alguma coisa?"

"Vocês não vão acreditar". Ele disse apreensivo. "A testemunha foi levada por dois agentes. Um era o chefe da segurança e tenho certeza que foi ele que trocou as fitas da filmagem e o outro simplesmente saiu com a Sarah. E ninguém mais os viram hoje".

"Droga..." Resmungou Cho. "Ok. Me encontrem na garagem em 10 minutos, eu preciso resolver uma questão e já encontro vocês lá".

"Ok, Chefe".

Saindo do seu andar Cho partiu para sala do seu chefe, Minelli. Ao chegar a secretária o impediu, mas ele conseguiu passar por ela e abriu a porta.

"Chefe!"

Pego de surpresa ele olhou atrás de Cho e viu a face envergonhada de sua secretária.

"Pode deixar, Anne". Ele olhou exasperado para Cho. "Pode entrar, Agente Cho. Qual o motivo dessa urgência toda?"

"Acredito que o senhor esteja a par do que está acontecendo, certo?"  Perguntou Cho e recebeu um aceno afirmativo em resposta. "Eu acredito que estamos lidando com agentes corruptos".

"Agente Cho, você tem alguma noção do que acabou de dizer? Isso são acusações sérias. Você não pode dizer isso como se fosse..."

"Chefe". Interrompeu Cho. "Eu não tenho provas. Acabei de saber que dois agentes saíram com a minha testemunha, e antes que argumente... eles não tinham autorização para esse tipo de conduta. Isso pode parecer algo inofensivo, mas isso aconteceu anos antes. Perdemos uma civil, não pretendo perder mais ninguém".

"Você não tem provas e ainda quer manter esse tipo de acusações?"

"Chefe, essas são as únicas explicações para os eventos de hoje. Depois que o FBI pegou o caso tudo deu errado, e não me venha com essa que estou paranoico". Cortou Cho assim que Minelli abriu a boca. "Hoje não tenho provas, estamos em um beco sem saída, sem corpo, sem testemunhas. Tudo que fizemos deu em nada. Já dispensei meus agentes e vou para casa também". Disse Cho. "Amanhã quando eu estiver com a cabeça mais fria volto para as investigações necessárias".

E do mesmo jeito que entrou ele saiu da sala como um furacão.

Chegando ao estacionamento ele entregou um endereço de uma casa aos seus parceiros e os instruiu a seguir inicialmente o caminho da casa deles, em seguida, vissem se estavam sendo seguidos e fossem para o endereço.

Quase trinta minutos depois Cho chegou ao endereço. Rigsby foi o segundo e cinco minutos depois Van Pelt apareceu.

"Chefe, o que aconteceu? Por que estamos aqui?"

"Primeiro de tudo. Eu confio em vocês". Disse Cho sério. "Faz pouco tempo que os conheço, mas acredito que vocês são honestos. Eu não posso me dá ao luxo de investigar vocês nesse momento, então quero que vocês me respondam. Vocês fazem parte de algum grupo ou complô dentro do FBI?"

"Não". Falou Van Pelt e sorriu. "Desculpe, Chefe, mas isso tudo está parecendo muito... você sabe... Arquivo X. Essa história de não confie em ninguém está um pouco spooky".

"Eu garanto que não é nada estranha". Disse Cho e olhou para Rigsby esperando.

"Não... não faço parte de nada disso. E eu posso dizer que conheço algo assim, quando eu era bombeiro descobrir que éramos mandados para incêndios e acidentes específicos, sempre havia um beneficiário importante. Esse foi um dos motivos de ter saído de lá". Disse Rigsby com raiva. "E descobrir que isso ocorre no FBI é o pior de tudo".

"É eu sei". Falou Cho. Abrindo a garagem com espaço suficiente para os três carros ele entrou novamente no carro e instruiu os outros.

Descendo dos carros eles entraram numa casa pequena, uma sala com televisão, uma cozinha e um quarto. Nesse quarto havia uma porta que ele explicou que era um quarto do pânico e se fosse preciso eles estariam seguros lá.

Mas o local que eles iriam era o porão. Havia uma entrada coberta por um tapete, era lacrado como um cofre militar. Cho colocou todos os códigos e mostrou o caminho para os parceiros. Logo em seguida entrou e trancou novamente a porta.

Assim que entraram Van Pelt e Rigsby ficaram de boca aberta e olhos esbugalhados, o porão era enorme, para falar a verdade era uma base militar. Parecida com algumas construídas na segunda guerra. Havia três mesas, cada uma com computadores e impressoras de última geração. Ao lado dois armários de metais cheios de documentos e arquivos. Fotos, jornais e folhas escritas com casos antigos adornavam a parede. O próximo cômodo tinha uma cozinha, era menor, mas ainda sim bem mobilada, havia uma geladeira, uma mesinha, fogão e armários com mantimentos suficientes para alimentar uma tropa, o que basicamente era o necessário pra Rigsby. Andando mais um pouco encontraram mais dois cômodos, os quartos. Ambos tinham camas beliches e guardas roupas.

"Uau, Chefe. O que é tudo isso?" Perguntou Rigsby.

"Proteção". Disse Cho e sentou numa cadeira. "Há quase sete anos eu e Lisbon descobrimos que o governo estava por trás de muitos “acidentes” que ocorriam ao redor do país. E que o FBI acobertava tudo. Eram casos graves e muitas pessoas inocentes morreram, famílias inteiras destruídas porque o governo achava conveniente. Fomos ao nosso chefe, que na época não era Minelli, mas fomos ignorados e ameaçados".

"Então abandonaram os casos?" Perguntou Rigsby curioso.

"Teoricamente sim. Deixamos tudo de lado, mas meses depois eu encontrei essa casa para vender e logo após descobri o porão. Tendo uma ideia eu e Lisbon meio que fizemos o nosso próprio quartel general. Sabemos que eles desconfiam daqui, mas nunca atacaram. Um amigo nosso era excelente em computadores e arrumou toda a tecnologia, desde o quarto do pânico lá em cima. Até a cozinha aqui em baixo".

"Você disse era, o que aconteceu com ele?" Perguntou Van Pelt.

"Foi assassinato dois meses depois". Suspirou Cho. "Ele era o nosso aviso... Se continuássemos mais gente morreria".

Van Pelt e Rigsby se entreolharam, e em silencio cada um ocupou uma mesa. Indo até a cozinha Cho pegou refrigerantes e voltou para sala.

"Eu os trouxe aqui para me ajudarem com as investigações, tenho alguns nomes para investigarmos". Disse ele. "Mas precisamos ser cuidadosos. Minha esposa e filha estão seguras. Vocês tem alguém próximo para proteger?"

Negando os dois esperaram as instruções do chefe.

"Ok. Há alguns anos investigamos alguns agentes. Eles sumiram assim que começamos a procurar. São três: Gale Bertram, Ray Haffner e Bob Kirkland. Precisamos saber qual a relação deles com o caso".

Cho sentou na mesa vazia e começou sua pesquisa, cada um estava responsável por um nome, horas se passaram quando Van Pelt ofegou surpresa, ambos os homens olharam para ela a questionando, mas não tiveram tempo para a resposta pois ao voltarem seus olhos para seus próprios computadores se assustaram, deixando escapar um “Oh Meu Deus”, Rigsby olhou para Cho e seu chefe tinha uma expressão tão surpresa quanto a dele. E antes que alguém ousasse respirar todas as luzes se apagaram.

Continua...