O Herdeiro de Odair escrita por Bru Semitribrugente


Capítulo 12
A pessoa especial!


Notas iniciais do capítulo

Ola!
nem sei se ainda tem alguém que lê, mas estamos ai. seria legal ter uma alô de alguém só para saber mesmo, mas eu vou continuar postando até terminar.
beijos e espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/608213/chapter/12

Exatamente como eu achava, depois do aniversário da Melissa as coisas entre Ariane e eu estavam muito diferentes, a liberdade com que conseguíamos falar sobre absolutamente qualquer coisa era incrível, nós ligávamos um para o outro nos finais de semana, ou simplesmente íamos até a casa do outro só para conversar. Mas de certa forma as coisas não estavam tão diferentes, depois daquela pequena declaração momentânea que fiz as coisas estão assim: Ela sabe o que eu sinto e ela sabe que eu sei que ela sabe, e ela demonstra interesse também, apesar de nunca ter falado nada a respeito. Já falei com Louise sobre a possibilidade de estar me iludindo, e ela diz que é impossível, que a única coisa que elas conversam basicamente é sobre mim, e é meio constrangedor já que Louise tem ficado muito tempo com os Storm ultimamente, ela e David tem estado bem amiguinhos, o que é bom porque nós dois continuamos nos ignorando todos os momentos em que nos encontramos, e odeio admitir, mas essa “amizade” tem feito bem a Louise. Ela não é mais atropelada pelos problemas familiares. Não é fácil ter que ouvir como foi a tarde de sábado dela com David, principalmente quando essa tarde acabou na casa dele e eu acabo tendo que ouvir a historia duas vezes quando Ariane me conta de novo, mas eu faço o sacrifício pelas minhas garotas, se eu ignorar bastante o fato de que é o David eu até consigo ficar feliz por elas.  

Há umas duas semanas Ariane cumpriu a promessa que fez a minha mãe e foi lá em casa ajudá-la a fazer um jardim bonito. As duas se divertiram colocando a mão na terra e plantando mudas e contando histórias, enquanto eu ouvia e as desenhava. Foi mais um desenho que eu precisei fazer uma cópia depois porque Ariane o quis, mas eu não me importo, significa que agora tem mais um desenho meu na parede dela. Ontem teve uma tempestade muito forte e muitas das mudas que elas plantaram acabaram se afogando e murchando. Minha mãe estava desconsolada, ela realmente queria aquele jardim bonito para mostrar ao meu pai, ela disse que ele anda meio sumido, e que se ela tivesse algo bem bonito para mostrar ele apareceria. Então eu fui até a casa de Ari pedir algumas dicas para que eu pudesse concertar para ela, para eles.

—Nem sempre quando uma planta fica murcha ela está morta. Minha mãe dizia que ela só está triste, então você só precisa dar uma forcinha para ela ficar feliz.

—Estou me sentindo uma criança! —ela ri.

—Aula de botânica para iniciantes, o que você queria? Gritos dizendo que você não é bom e que devia desistir?

—Definitivamente não! —estamos em seu jardim e ela está me mostrando o que ela fez com as plantas dela que foram danificadas pela tempestade.

—Que bom, não tenho essa capacidade! Não consigo ser cruel!

—Você deveria trabalhar com crianças! — ela sorri para mim e levanta um vasinho de flor.

—Ou com plantas! São muito parecidos na verdade, precisam da sua atenção enquanto estão crescendo, de carinho, de água, de luz do sol, e depois que já estão grandes, você está livre para observar seus feitos e sua beleza!

—E quais são os feitos de uma planta?

—Que tal o ar que você respira?

—Ok eu me rendo. O que eu tenho que fazer?

—Se elas estiverem quebradas você precisa amarrá-las em um pedaço de madeira, para sustentá-las enquanto elas se curam, um pouco de adubo vai acelerar o processo, as que estiverem muito murchas foram afogadas, então você precisa colocar mais terra seca na raiz, mas tem que estar bem seca se não ela não vai sugar a água extra que estiver na planta. O resto é com a natureza, elas ainda são mudinhas, se tivermos mais tempestades como a de ontem durante a semana elas não vão sobreviver.

—Foi assustadora não foi? Minha mãe apareceu no meio da noite perguntando se eu não queria dormir com ela.

—Finnick ainda está sumido?  —eu afirmo.

—Ela tem tido muitos momentos de lucidez ultimamente, e tem se dedicado aquele jardim na maior parte do tempo em que eles chegam, ela ficou muito devastada quando abriu a porta de manha e estava tudo daquele jeito.

—Eu imagino!

—AI MEU DEUS! CUIDADO! —ouvimos alguém gritar, então a moto vermelha aparece na entrada da vila. David está no lugar do passageiro e o motorista tem cachos vermelhos saindo pelo capacete. Eu encaro Ariane que dá de ombros e nós nos levantamos enquanto Louise faz zig-zagues tentando estacionar a moto. —CUIDADO COM O MEIO-FIO! AI MEU DEUS! O FREIO LOUISE, VOCÊ NÃO ESTÁ APERTANDO O FREIO! —a moto freio bruscamente cantando o pneu e eles param na frente da casa, David pula no moto e arranca o capacete ele parece exasperado. Louise tira o dela e ela está rindo, gargalhando.

—Ai meu deus, você tem que ver a sua cara! — ela diz para David saindo da moto.

—Você é louca! E nunca mais! Nunca! Em nenhuma hipótese você vai dirigir o meu bebê outra vez! —ele diz arrancando o capacete da mão dela. Mas posso ver o tom de brincadeira, e é estranho saber que eu consigo identificá-lo.

—O que você queria? Foi a primeira vez que eu fiz uma coisa dessas! E você tem que admitir que para uma iniciante eu fui muito bem!

— Bem? Você quase nos matou! —ele vai ate a moto e a abraça. —Não se preocupe bebê essa maluca nunca mais vai tocar em você!

—Que pena! Eu me diverti abeça!

—Que bom que você aproveitou, porque não terá uma segunda rodada!

—Alguém poderia explicar o que está acontecendo? —Ariane pergunta, então os dois se dão conta da nossa presença. Consigo ver David revirar os olhos, mas esse é o máximo de ofensa que tenho enfrentado revirada de olhos e suspiros irritados, por mim está ótimo. Faz quase dois meses que não vou para sala do diretor!

—Hey você! Então, nós fomos dar uma volta, então quando estávamos voltando eu subi na moto primeiro e acabei ficando na parte do motorista, então seu irmão perguntou se eu queria dirigir, e como eu não tinha nada melhor para fazer eu aceitei!

—Eu estava brincando!

—Então porque você deixou? Admita David, você curtiu! —e por incrível que pareça ele sorri para ela, sorri de verdade, sinto meu estomago se embrulhar vendo aquela cena, era diferente ouvir quando Louise conta e ver com os próprios olhos! Muito diferente.

—Isso não quer dizer que vá acontecer de novo! —ela dá de ombros. E nós ficamos ali por um tempo, os quatro se encarando em absoluto silêncio. —Ok isso ainda é esquisito! —diz David, e eu tenho que concordar.

—Eu já estava indo! Ari acho que não tenho destreza suficiente para salvar aquelas plantas sozinho... Você se importa...

—Não, claro que não, amanhã depois da aula eu passo lá, ok?

—Ok! Nós vemos na aula então! —eu digo e a abraço, e percebo pelo canto do olho Louise e David se despedindo também, ela fala alguma coisa eles riem e se abraçam.

—Eu vou indo também Ari! A gente se vê amanhã! —Louise diz e as duas se despedem, David ainda ignorando a minha existência vai até a moto conferir se ela está inteira.  —Deixa de ser paranoico, nós nem caímos!

—Não graças a você!

—Até amanhã David! —ela diz enquanto nós começamos a nos afastar da casa deles.

—Fique longe de motos! — ele grita e ela sorri.

—Ok isso foi bem estranho! —eu digo quando saímos da vila

—O quê?

—Nós quatro!

—Está concordando com o David? Estou vendo o inicio de uma amizade?

—Não força. Já estamos nos ignorando completamente, esse é o maior nível de amizade que você terá de nós.

—Eu sei! —ela sorri.

—Você tem sorrido muito ultimamente!

—Quer que eu volte a me lamentar?

—Obvio que não só estou fazendo uma observação!

—Ok, então eu vou observar que você chamou Ariane para sair com muita facilidade também! Onde está o Liam que tinha vergonha de olhar para ela?

—Eu já te disse! Depois daquele aniversário as coisas estão muito diferentes. Eu nem percebi que a chamei para ir lá em casa, eu só chamei! Nem me veio na cabeça que seria um encontro, eu só queria que estivesse comigo enquanto eu consertava o jardim.

—Tenho certeza que se você não tivesse chamado ela teria oferecido—eu sorrio, porque eu sei que é verdade.

—Onde o casalzinho foi hoje?

—Não somos um casal. Nós fomos ver um jogo de futebol do time do colégio, os amigos do David o chamaram para vê-los jogar. —eu franzo a testa, esportes nunca foram meu forte, mas são o de Louise, ela tem sangue nos olhos por qualquer competição, dá até medo de ver.

—E como foi?

—Horrível, eles são muito ruins, obvio que perderam, quero até mudar de colégio depois daquilo! O pior depois foi ter que cumprimentar os amigos do David e dizer que eles foram bem, eu não aguentei e disse que eles podiam ter ido melhor, eles riram, acho que acharam que eu estava brincando, David não riu ele sabe que eu falei sério.

—Por que ele não estava jogando? —fico impressionado com como eu consigo esquecer que estamos falando Do David e me interessar. Mas Louise fica feliz quando eu me interesso, então eu tento relevar!

—Ele diz que é idiotice perder tempo correndo atrás de uma bola! — eu a encaro — eu sei, também fiquei chocada, eu disse a ele que era exatamente isso que você dizia e ele fechou a cara, foi hilário! Na verdade vocês têm muito em comum!

—Esplêndido! —eu falo com desdém e ela ri.

—E vocês? Faz tempo que não tenho uma atualização de Liane.

—Liane?

—Ainda estou trabalhando em um nome bom!

—Esse definitivamente não! E não é verdade, conversamos sobre nós o tempo todo, está tudo indo bem com a gente, eu só estou esperando o momento certo.

—Você sabe que não existe momento certo. Ela já sabe que você gosta dela, está na cara que ela gosta de você, então por que não agora?

—Digo o mesmo de você! —ela revira os olhos.

—Você sabe que eu não gosto de falar nessas coisas!

—No quê? Sentimentos?

—Ok, já parei, faça o que você quiser quando você quiser!

—É serio Louise. Depois de todo esse tempo você ainda vai negar?

—Nunca neguei nada!

—Mas também nunca admitiu! — começo a ver a casa dela e ela começa a andar mais rápido, sei que nossa conversa está acabando ela vai entrar e fugir do assunto outra vez.

—Não era para você estar tentando me impedir de admitir qualquer coisa?

—Louise, você sabe o que eu penso, mas eu te conheço quase a vida toda, e eu nunca te vi desse jeito, se você está feliz eu não vou boicotar, que tipo de amigo eu seria?

—Ok já chega não é mesmo? Eu estou esperando o momento certo! —ela repete a minha fala com desdém.

—Golpe baixo! —ela dá de ombros e paramos em frente a casa dela.

—Nos vemos na aula, e mande um beijo para Annie! —ela diz e me abraça.

—Ok! Para sua mãe também! —eu a abraço de volta e quando nos soltamos ela sobe as escadas e entra sem cerimônia, sei o quanto ela odeia falar sobre sentimentos, principalmente os dela e principalmente quando estão relacionados ao David.

(...)

 —Um, dois, testando! —o som ecoa dos autofalantes logo após o intervalo, interrompendo uma aula que eu nem sabia sobre o que era, eu geralmente não presto muita atenção nas aulas que não conjuntas com as turmas de Ariane e Louise. —Bom dia alunos, aqui quem fala é o seu diretor, anunciando que a partir de hoje o ginásio está fechado para os preparativos do baile de aniversário da revolução e do fim dos Jogos Vorazes que será realizado na semana que vem. Tenham um bom dia!

O baile, havia me esquecido completamente disso. Louise e eu temos um acordo, ela sabe que eu odeio essas coisas, mas ela não, então nós revezamos um ano vamos ao baile, outro ficamos em casa fazendo maratonas de filmes. Esse era o ano de ir. Mas a única coisa que eu consigo pensar é: Ariane.

Não é obrigatório ter um par para ir ao baile, não precisa ter um convite, sendo aluno do colégio ou um acompanhante de um você pode entrar, mas geralmente quem vai sem par, vai com um grande grupo de amigos. Nos anos que eu fui Ariane sempre ia com o irmão, apesar de ter tido um ano em que eu não fui e eu ouvi boatos que ela tinha ido com outro garoto, não quis saber mais a respeito. Mas esse ano era diferente.

—Você ouviu o anuncio do diretor? — eu pergunto a Louise quando estamos indo embora.

—Claro. Todo mundo ouviu, ele ecoou pelos autofalantes.

—É. Esse é o ano de nós irmos!

—Eu sei, mas eu iria de qualquer jeito depois daquela sessão de filmes ridículos de vampiros que vimos ano passado, e ainda mais que é o nosso ultimo ano, nossa ultima chance de ir como alunos!

—Você não tinha me contado dessa decisão!

—Não faria diferença, é ano de ir! —ficamos em silencio por um tempo, eu olho para os meus sapatos enquanto caminhamos— Você vai chamá-la! —ela afirma, eu a encaro, ela não parece chateada nem nada.

—Nós sempre vamos juntos, eu não quero quebrar a tradição, mas...

—Mas é a primeira vez que você pode chamá-la! Eu sei! Liam não se preocupe comigo, é o seu ultimo baile, a última chance de chamá-la.

—Ainda tem o baile de formatura!

—É diferente. Esse é o ultimo baile Pós-revolução, e ela deve estar esperando que você a chame. Se você não chamar eu vou te socar, e você sabe que eu estou falando sério, deixa de bobagem e convide-a!

—Mas e você?

—Se esqueceu de que você é o sozinho de nós? Eu tenho amigos, e além do mais, não é como se vocês fossem ficar se agarrando, eu posso ficar com vocês. —eu a agarro sua cabeça e beijo seu cabelo, ela reclama rindo.

—Você é a melhor amiga do mundo!

—Me diga algo que eu não sei!

—E o David?

—O que tem ele?

—Você acha que ele vai te convidar? —ela dá de ombros e olha para o chão. —Se ele convidar você vai aceitar?

—Liam se preocupe com o seu pedido ok? —ela diz tentando ser o menos grosseira possível.

—Ok! Eu vou!

(...)

Assim como Ari disse depois do almoço ela tocou minha campainha, ainda não consegui não sorrir para ela toda a vez que abria a porta e me deparava com ela parada na minha casa. Aproveitamos que minha mãe estava cochilando e fomos para o jardim.

—Pobrezinhas, ficaram bem piores que as minhas, mas eu já sabia, elas são muito pequenas para aguentar uma tempestade daquela. Aqui me ajude com isso. — ela diz enquanto finca um palito de sorvete perto de uma muda e eu amarro com um barbante, depois ela aduba e coloca mais terra, fazemos isso em todas as plantas caídas e murchas, e depois ela faz uns buracos e tira um saco de sementes do bolso e me entrega. —Achei essas na feira, acho que sua mãe vai gostar, e ela vai ficar surpresa quando começarem a crescer.

—Ela vai achar que foi meu pai! —eu digo enquanto distribuo as sementes nos buracos que ela fez.

—Tudo bem! Eu não preciso levar o credito, talvez assim ela se anime um pouco com a falta dele e ele acabe sei lá voltando.

—Você acha que ela consegue vê-lo mesmo?

—Eu acho provável. Pelo que vocês dizem, Finnick venderia a alma para poder ficar aqui com ela de alguma forma.

—Minha madrinha diz a mesma coisa.

—Você não acredita? Que ele está aqui?

—Acho que eu gosto de acreditar que ele não está, porque ai eu não preciso me perguntar por que ele não aparece para mim também.

—Talvez ele não possa, talvez ele tenha precisado escolher um, e como você era um bebê e Annie estava sozinha...

—É, talvez, mas eu ainda prefiro acreditar na minha versão! —ficamos um tempo em silêncio. —E cá estamos nós falando dos meus pais. É inevitável!

—Aqueles que amamos sempre são assuntos inevitáveis!—então eu penso em como todos os meus assuntos acabam sempre voltando para Ariane. Ela tem razão. Ela é meu assunto inevitável!

—Ari?

—Oi?

—Você gostaria de ir ao baile comigo? —ela para de cavar buracos e me encara, não consigo ler sua expressão, ela fica em silencio por um bom tempo. Eu estava tão ansioso para fazer essa pergunta que não pensei na possibilidade dela dizer não. Por favor diga sim! Eu não sei o que fazer se você disser não! Diga alguma coisa! —A menos que você já tenha um par ou... — eu começo a gaguejar.

—Não! Não! Desculpe, eu só estou surpresa, eu não esperava por isso!

—Sério? Para mim pareceu inevitável! —ela sorri para as mãos percebendo a ligação com a conversa anterior.

—Claro! Eu adoraria!

—Tem certeza? Você está meio hesitante...

—Não! Eu realmente fui pega de surpresa! Sério, eu amaria ir ao baile com você! — amaria! Eu sorrio para ela, sinto meu rosto corar, e ela ri.—nós estamos parecendo pimentas! — ela ri, eu olho para ela e veja que ela também está corada. Eu rio mais e ela volta a fazer buracos, e eu volto a plantar as semente.

(...)

—“A menos que você tenha um par”? sério?

—Eu entrei em pânico ela estava em silencio me encarando, o que você queria que eu fizesse?

—Que não dissesse que se ela já tivesse um par não precisava aceitar!

—Ai você não entende Louise! Se ela já tivesse um par ela não iria aceitar!

—E quando foi que você a viu conversando com algum menino depois que vocês dois começaram a se falar?

—Isso não faz sentido, ela é uma menina linda, qualquer um poderia convidá-la sem conhecê-la.

—Você é muito ridículo!

—Eu entrei em pânico não me julgue! —Louise fica em silêncio por um tempo, assim que deixei Ariane na vila dela corri até a casa de Louise para contar. Louise encara os sapatos enquanto bate um pé no outro. Ela parece nervosa. —Lou? Você está bem? —ela olha para mim seus olhos tem um brilho que eu nunca vi.

—Eu...

—Lou! —uma voz fina a chama a nossa frente, nós dois olhamos e damos de cara com uma menina com duas tranças ruivas e uma mochila.

—Aby! —Louise se levanta em um salto e vai até a irmã. Eu nunca a tinha visto pessoalmente, ela se parece muito com Louise, seus cabelos tinham a mesma tonalidade de vermelho, apesar dos de Aby serem lisos, e ela tem os olhos verdes que Louise sempre quis ter. —O que você está fazendo aqui? —ela diz olhando para os lados, provavelmente procurando o pai.

—Ele não está aqui! Papai! Ele não está aqui!

—Quem veio com você?

—Ninguém.

—Eles sabem que você está aqui? — a menina nega. —Aby! Você não pode viajar sozinha! Como você conseguiu entrar no trem?

—Ninguém tentou me impedir quando eu comprei a passagem e entrei!

—Meu Deus Aby! Papai vai te matar.

—Ele se quer deve ter percebido que eu saí.

—Por que... Aby o que aconteceu?  

—Eles não se importam! Só se importam com eles mesmos. Eu passei três dias inteiros no meu quarto, não saí nem para comer! E eles não deram a minha falta! Minha mãe está sempre cansada por causa da gravidez, sempre, ela vive deitada no quarto descansando, ela come lá, ela mora lá, e papai quando não está trabalhando está lá dentro com ela. Eles contrataram uma babá para tomar conta de mim! Uma babá! Eu tenho 11 anos, não 1, eu não preciso de uma babá. Eles só a contrataram porque eles não querem cuidar de mim!

—Então você decidiu pegar um trem e vir até aqui?

—Se você também não me quiser eu vou embora!

—Não é isso Aby! Você não pode viajar sozinha desse jeito. Você nunca saiu do seu distrito, podia ter ido parar no 12.

—Você disse que quando eu quisesse eu podia vir para cá!

—Mas com autorização! Eles podem ter chamado a polícia!

—Eu duvido!

—Aby você só vai poder ficar aqui se avisarmos seus pais. Você está em época de aula ainda, não pode largar tudo! Vamos fazer assim, nós vamos lá dentro ligar para o papai avisar que você está aqui, depois nós vamos fazer alguma coisa para você comer já que você não come a três dias!

—Talvez eu tenha exagerado nessa parte! —Louise sorri.

—É, eu sei, mas ainda assim eu vou fazer, então você vai ficar comigo o final de semana e domingo eu te coloco no trem de volta ok? É o melhor que eu posso fazer!

—Tudo bem!

—Vem cá coisinha! Estou feliz por você ter fugido para cá! —ela diz abraçando a irmã. Estou me sentindo um intruso. As duas começam a vir em minha direção e meu me levanto. — Aby, esse é aquele meu amigo que eu te falei. Liam, essa é a Aby!

—Você é bem mais bonito pessoalmente! —Aby diz enquanto aperta minha mão. Eu sorrio.

—Obrigada! Você também é muito bonita! —ela dá de ombros. —e é igualzinha a sua irmã! —eu olho para Louise que dá de ombros também. —Você precisa de alguma ajuda? —eu pergunto a ela.

—Não, tudo bem, eu sei como lidar com meu pai furioso, e independente do que ele diga Aby vai ficar aqui no final de semana. —Aby sorri com a informação.

—Bom ainda não escureceu, então será que depois da ligação e do sanduiche, Aby não gostaria de ver o mar? — eu pergunto a mini Louise. Que sorri surpresa e olha para irmã suplicando. Eu sorrio.

—Tudo bem, mas só depois de ligar para o papai! — ela sorri e corre para dentro da casa.

—Eu não estava esperando por essa! —diz Louise enquanto seguimos Aby para dentro da casa.

—Nenhum de nós!

(...)

Quando minha mãe acordou e viu o jardim consertado ela ficou tão feliz que deixou a casa toda alegre, minha avó sempre diz: quando Annie sorri a casa inteira sorri com ela, sempre foi assim. Tivemos uma noite incrível e no sábado fomos até a feira e compramos várias sementes, e é claro tive meu encontro habitual da feira de sábado com Ari, que ficou mais que feliz quando viu minha mãe animada pedindo dicas para as plantas. Foi um ótimo dia, no final da tarde fomos a praia, pensei em chamar Louise e Aby, que ficou maravilhada com o mar, todos sempre ficavam quando vinham ao 4 pela primeira vez, mas como as duas nunca tem um tempinho entre irmãs resolvi deixá-las a sós.  Um tempo em família para todos. Minha mãe nadando no mar com “meu pai” que finalmente apareceu, meus avós caminhando devagar pela praia enquanto o sol sumia no horizonte e eu ali sentado na areia absorvendo o dia.

De tarde no domingo Louise me ligou dizendo que ia levar Aby à estação e perguntou se eu poderia ir com ela. Aby não estava nada animada.

—Você acha que ele vai me deixar de castigo? —ela pergunta a irmã quando estamos nos despedindo e as pessoas entrando no trem.

—Aby, você fugiu, veio para outro distrito, e não deixou nem um bilhete. Eles provavelmente vão te deixar de castigo. —ela suspira.—Da próxima vez que você quiser fugir me liga primeiro, eu converso com o papai, e ele te coloca em um trem direto para cá.

—Tudo bem!

—E não maltrate a babá, ela não tem culpa! —ela revira os olhos e abraça a irmã.

—Tchau Liam, foi legal finalmente te ver! —ela diz e me abraça.

—Digo o mesmo. Até a próxima! —ela afirma e vai para o trem, nós damos tchau pela janela enquanto o trem apita e parte. —E ai como foi? —eu pergunto enquanto nos afastamos da estação.

—Ela está completamente quebrada, e ele nem percebe, ele se quer ligou para o fato dela estar aqui, realmente não tinha dado falta dela, obvio que eu não disse isso a ela, disse que eles estavam loucos atrás dela, mas não estavam, ele só disse uma dúzia de broncas dizendo que eu estava manipulando minha irmã, ai eu parei de ouvir e disse que a devolvia no domingo e que ele tinha que pegá-la na estação.

—E a sua mãe?

—Mal saiu do quarto o final de semana inteiro, ela disse que Aby se parece muito com ele. O que é ridículo, porque ela se parece com ele  tanto quanto eu.

—Ela ainda está abalada pela ultima visita dele.

—Eu sei, por isso eu relevei! Mas apesar de tudo foi bom, ter a companhia dela aqui, me distraiu!

—Distraiu de que? —ela fica em silencio olhando para os pés, então ela olha para mim e vejo novamente aquele brilho diferente que vi na varanda da casa dela.

—Podemos dar uma volta?

—Claro! Para onde?

—Eu não sei, só vamos! —andamos em silêncio por um tempo, então ela puxa meu braço apontando para uma colina e vamos até lá e nos sentamos na grama, dá para ver o mar daqui, mas não a praia, só o infinito azul de água.

—O que aconteceu Lou?

— Sexta quando eu cheguei do colégio, David estava sentado na minha janela com um buque de flores. Foi a cena mais engraçada que eu já vi.—ela diz rindo, mas ela não olha para mim, olha para as mãos. —eu ri na cara dele, obvio, ai ele disse que sabia que era clichê, então ele jogou o buque na minha cama, e veio até mim e me convidou para o baile.  Eu sabia que podia acontecer, mas... Sei lá, eu não esperava que acontecesse entende? Quer dizer, ele já se ajoelhou e me pediu perdão em um ginásio com as nossas turmas, nós chegamos à festa da Melissa juntos, ele me levou ao jogo dos amigos dele, mas eu me dei conta de que se nós fossemos ao baile juntos todo mundo ia ficar sabendo de nós, e nem eu sei direito o que rola entre nós, e ai eu fiquei pensando nisso, ele estava me encarando e parecia muito tenso, acho que ele esperava que eu fosse dizer não. —penso então no momento em que eu convidei Ariane e ela ficou em completo silencio, será que ela estava pensando nisso também? Que se nós fossemos juntos todos ficariam sabendo sobre nós?

—Você aceitou?

— Ele estava parecendo que ia explodir de ansiedade, então eu falei o que eu estava pensando, e ele disse que não se importava com os outros, que ele só queria ir a um estúpido baile comigo. Ai eu perguntei se ele iria jogar sangue de porco em mim quando eu subisse para pegar a minha coroa, e ele riu e disse que era mais provável que eu fizesse isso com ele, ok eu estou vendo a sua cara eu vou resumir. Nós conversamos bastante sobre isso e ele disse que ia me deixar pensar e responder depois.

—E você pensou?

—Pensei, pensei muito. Ai você chegou e começou a falar do seu pedido para Ariane...

—Espera, porque você não me contou...

—Eu ia contar, mas ai a Aby chegou e eu esqueci completamente.

—Mas em fim, você vai aceitar?—ela suspira e sorri. Fico extremamente surpreso com essa reação.

—Quando eu entrei no quarto e o vi com aquele buque... Eu só conseguia pensar em quão ridícula era aquela cena, ai depois que ele foi embora, eu peguei o buque e achei mais ridícula ainda, quer dizer, o que eu vou fazer com aquele buque? E eu sei que ele pensa a mesma coisa, mas saber que apesar disso ele fez algo assim... Liam, foi a primeira vez que alguém me chamou para ir ao baile. E eu sei que isso é ridículo. Ai meu Deus eu sou tão clichê assim? Não acredito que estou me derretendo pelo primeiro cara que me chama para o baile, e ainda é o David! — agora ela parece realmente irritada

—Louise, por favor! Você é a pessoa menos clichê que eu conheço. Faz sentido, vocês estão... Próximos faz um tempinho, ele já te provou que é sério, apesar de eu ainda ter um é atrás. E mesmo você negando, você quer ir ao baile com ele! Apesar de eu não saber por quê! — ela sorri e começa a ficar vermelha. —Você está completamente ruiva!

—Tem outra coisa que eu tenho que contar! — e mesmo eu achando impossível ela fica mais vermelha ainda. —Nós quase nos beijamos!

—O QUÊ? —eu não sei se eu estou surpreso, ou assustado, ou enjoado, acho que todos. — você... ele.. a... O QUÊ?

—Calma — ela diz me encarando. —Hoje de manha eu estava jogando um jogo de tabuleiro com a Aby quando tocaram a campainha, eu fui atender e ele estava parado na minha porta, eu perguntei o que ele estava fazendo lá, ai ele disse que não aguentava mais de ansiedade pela resposta, ai a Aby o viu e foi se apresentar e o chamou para jogar com a gente, eu disse que ele devia ter coisa melhor para fazer mas ele disse que não tinha e foi jogar, e nós passamos a manhã toda na minha sala jogando, ele não tocou no assunto do baile, nem fez perguntas sobre a Aby, ou o que ela estava fazendo ali, ele estava sendo tão gentil com ela, ai minha mãe apareceu e ele se apresentou para ela, ele disse que era meu amigo e piscou para mim, obvio que minha mãe viu, depois ela ficou me fazendo milhões de perguntas. Aby saiu para ir ao banheiro por um tempo e nós ficamos conversando, e eu não sei o que deu em mim, eu só sei que eu pensei que eu gostaria de ir ao baile com aquele cara, então eu disse isso, e ele disse que ele iria ficar muito feliz com isso, e ai nós nos encaramos e nós já estávamos perto um do outro, e ficamos lá nos encarando e sorrindo, ai ele se aproximou... Mas a Aby chegou, nós nos afastamos e voltamos a jogar, mas eu podia ver pelo canto do olho que ele estava sorrindo.

—Ai meu Deus!

—Na hora de nos despedirmos ele não tentou nada de novo, mas ele me deu um beijo na bochecha e disse que nos víamos no colégio. Mas depois eu só fiquei pensando que se a Aby tivesse chegado uns minutos depois nós teríamos nos beijado! —ela começa a falar mais alto e ficar inquieta. — Está entendendo? Ele teria me beijado! E eu teria beijado de volta! Isso é loucura, eu disse sim, eu vou ao baile com ele. Só Deus sabe o que pode acontecer no baile, se acontecer algum momento como aquele de novo, a gente vai se beijar! Liam, eu vou ter o meu primeiro beijo com o David! —ela está completamente surtada agora.

—Hey Louise calma!

—Eu não sei se eu quero ter o meu primeiro beijo com ele!

—Então não tenha!

—Você não entende!

—Hey lembra que eu ainda não beijei ninguém também?

—Eu não quero me arrepender, Liam, o primeiro a gente nunca esquece, e eu não sei direito o que a gente tem, se eu realmente gosto dele, nós temos... Uma atração, eu não sei, mas eu não sei se ele é...

—A sua pessoa especial!

—Exato! Para alguns não é nada, mas para mim é alguma coisa, eu esperei até agora, obvio que não é como se eu tivesse uma fila de garotos para beijar e eu estivesse ignorando todos eles, mas se não  aconteceu até agora é porque não era para acontecer, porque eu estava esperando alguém, e eu não sei se esse alguém é ele. Eu sempre pensei que o meu primeiro beijo seria com uma pessoa mais que especial, com alguém que eu conhecesse e admirasse, e que fizesse o mesmo comigo, com alguém especial que eu amasse! —ela fica em silêncio por um tempo, eu analiso tudo o que ela disse, e apesar de eu não parar para pensar nisso regularmente, eu penso a mesma coisa, parece que eu sempre esperei por Ariane, pela minha pessoa especial. —Liam... —eu a encaro ela parece confusa, completamente perdida. E eu não consigo nem identificar o que se passa em minha mente quando ela começa a se aproximar de mim, não consigo nem me mexer eu estou completamente chocado, então ela para e suspira indignada. —Ai meu deus! O que eu estou fazendo? Desculpe-me! Meu Deus, no que eu estava pensando? —ela se afasta e passa a mão pelos cabelos. —Você tem a sua pessoa especial! Eu ia estragar tudo para você! Ai meu Deus! Desculpe-me Liam, eu fiquei pensando no que eu disse e você é meu melhor amigo, o único que realmente me conhece, o único para quem eu já disse eu te amo que não fosse da família, você é especial, mas não desse jeito, meu Deus! O que você vai pensar de mim agora?

Ela não olha nos meus olhos de jeito nenhum, ainda estou paralisado, então penso no que ela disse “alguém que eu conhecesse e admirasse, e que fizesse o mesmo comigo, com alguém especial que eu amasse”, e ela tem razão, eu entendo porque ela fez isso, isso é realmente uma coisa grande para ela, eu encontrei a minha pessoa especial, tenho certeza de que qualquer beijo com ela será especial e único, mas Louise não tem certeza sobre a pessoa dela, e ela tem razão, nós nos conhecemos e nos admiramos e nos amamos. Mesmo não sendo A minha pessoa especial ela é uma pessoa especial para mim, e eu me importo com ela, e percebo que eu não me importo de ser beijado por ela.

—Louise! —eu seguro sua mão que estava agarrada em seu cabelo e puxo o rosto dela para que ela me olho, tem lágrimas nos olhos dela, nunca pensei em Louise como sentimental, mas como todo mundo ela tem sentimentos, e eu posso vê-los passando por seus olhos agora, angústia, vergonha, desespero. Coloco seu cabelo atrás da orelha e junto meus lábios nos dela, foi um beijo simples, só um encaixe de uma boca na outra, mas ainda assim eu consigo sentir. Deve ser diferente beijar alguém só por beijar e beijar alguém para ser algo especial, e eu sei que mesmo sendo o mais simples dos beijos esse foi especial, para nós dois! Quando nos soltamos eu olho no fundo dos olhos dela e digo— Você é especial para mim! —ela afirma e coloca a cabeça no meu peito.

—Obrigada! —eu a abraço e nós ficamos ali por um tempo, e eu sei que mesmo não sendo A pessoa especial um do outro, valeu apena e nós vamos nos lembrar desse momento sem arrependimentos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado,
e lembrem-se seria legal ver se tem alguma alma viva lendo isso,então, se quiserem dar um oi, sintam-se a vontade



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Herdeiro de Odair" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.