Renato escrita por William Maya


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Renato é uma criança de rua.

Todos os dias ele vai à frente do supermercado e senta, de pernas cruzadas, abaixa a cabeça e pede um biscoito, um salgadinho, uma maçã. Abaixa a cabeça porque se levantar, as senhorinhas — aquelas com seus cabelos pintados e dentaduras lustrosas que a gente encontra pavoneando nesses espaços — podem achar que ele vai roubar.

Não que ele não roube, claro que rouba.

Mas não gosta. Rouba porque é a única coisa que pode fazer pra sobreviver no meio da rua.

Chamam-no de marginal.

Renato, com sua mente de criança, sabe que viver na margem é um luxo que nunca poderá ter. Ele some na paisagem, ignorado por todas as pessoas. Torna-se parte da parede a cada segundo que se passa.

Chamam-no de viciado

Renato pede comida. Podia ser dinheiro pra comprar drogas, como seu pai deve fazer até hoje, depois que abandonou ele e seus irmãos.

Não que Renato não fume. Já fumou até. E já viu todo tipo de gente morrer pela droga. Rico, pobre, branco, preto, homem e mulher. Maconha só de vez em quando agora. Fuma pra esquecer que é esquecido.

Renato de vez em quando ganha alguma coisa. Hoje foi um sanduíche de presunto, que uma moça com um bebê lhe deu. O grito escapou-lhe. "Comida!", a moça sorri, mostrando os dentes branquinhos e leva sua criança, abraçando-a mais forte para que ela nunca saiba o que é ser abandonada.

Renato para, olhando o sanduíche. Sabe que hoje é sexta feira santa. Não que ele seja santo: toda a sua santidade foi embora no momento que teve o azar de nascer naquele mundo. Não pediu pra nascer, mas a partir daí já estava condenado a morrer pedindo.

Carne é pecado, mas Renato não pode escolher.

Dá uma mordida na beira do pão, com seus seis ou sete dentes que resistem a cair e pensa se vai pro inferno por isso. Pede desculpas. Está uma delícia, muito obrigado.

Chamam-no de bandido.

E bandido bom é bandido morto.

Renato já ouviu, com seus 12 anos, que devia estar atrás das grades. Também já ouviu que devia estar no colégio, estudando pra ser alguém na vida.

Lugar de criança é na escola.

E lugar de criança bandida é onde?

Renato nasceu indigente e será enterrado como um. Assim ele segue sem que ninguém perceba. Lutando pela sua vida.

Chamam-no de todos os nomes. Só não o chamam pelo seu.

Renato.

Pobre Renato que nasceu pobre.

Pobre da gente que nasceu rico, de alma cega e pobre.

Perdoai-nos, Renato, nós não sabemos o que dizemos. Perdoai-nos.


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Notas finais do capítulo

Favoritem, comentem, mostrem pros amigos, não sei.
P.S: Desculpem, gente. Escrever essa história me deixou um pouco pra baixo.