A festa, apesar do clima frio, foi bem prestigiada, pois continha o número adequado de convidados para os dois membros da família Black que Bella decidira satisfazer.

Jacob manteve a esposa por perto boa parte da noite na tentativa de acabar de vez com os fuxicos maledicentes sobre si mesmo, mas especialmente sobre Isabella. Satisfeito, o futuro marquês viu e ouviu as pessoas a elogiarem tanto pela organização do evento quanto pela beleza. E só se afastou para se reunir ao pai e alguns amigos na intenção de conversar sobre negócios.

Bella não compreendia isso. Por que os homens discutiam coisas de trabalho em festas? Mas, era o aniversário dele, não era o momento de fazer uma crítica. Deixaria isso para depois, para uma das conversas que eles tinham no correr do dia.
Estava distraída pensando no assunto quando sentiu a presença de alguém ao seu lado.

– Posso dançar com a minha cunhada?

Era a voz alegre e descontraída de Edward.

Gentil e sorridente ele se oferecia para dançar como ela, da mesma maneira que fazia quando eram solteiros. Talvez, algumas pessoas não considerassem apropriado dançar com o irmão do marido, mas Bella aprendera a ver o rapaz como um bom amigo. Além de que, ela sabia, o cunhado era um ótimo dançarino.

Ele continuou:

– Que se me permite dizer, está radiante nesta noite especial.

– Obrigada! – era muito bom ouvir isso repetidamente. Ela se sentia radiante quando saíra de casa, mas naquele momento já acreditava estar errada, pois Jacob estava há muito tempo afastado.

– Vamos? – Edward insistiu.

– Certamente.

Respondeu de imediato enquanto aceitava o braço que ele lhe oferecia.

O rapaz a conduziu para o meio da pista, era uma dança simples e alegre que os fazia se mover com rapidez e provocava muitos sorrisos. Do outro lado do salão Jacob vislumbrou a esposa e seu irmão dançando, imediatamente parou de prestar atenção à conversa para constatar que eles formavam um casal bonito. Combinavam perfeitamente. Eram claros. Tinham uma aparência delicada e esguia. Sorriam um para o outro com certa intimidade, cumplicidade até. Talvez por isso Sarah fizesse tanto empenho para unir os dois.

De muitas formas ele, Jacob, e Isabella não combinavam. Ele se considerava velho para ela, (apesar de muitos casamentos se darem entre pessoas com grandes diferenças de idade, Jake não concordava com isso). Seus temperamentos eram diferentes. Ele era grande, ela miúda. Ela era romântica, apaixonada. Ele não sabia o significado de nenhuma daquelas palavras.

Mesmo assim, disse a si mesmo para justificar o incômodo, aquela mulher era sua esposa, se ainda não lhe pertencia fisicamente, pertencia moralmente. E mesmo que seu irmão estivesse sendo apenas gentil (Edward confidenciara ao primogênito, alguns dias antes, a intenção de pedir Leah em casamento), aquela dança não fora de forma alguma apropriada. Sem prestar atenção ao que fazia abandonou o grupo de amigos e se aproximou da esposa que Edward acabava de deixar junto a Emily.

As duas amigas sorriam enquanto seguravam as mãos uma da outra. Sua irmã era a confidente de Bella, sabia do amor que a cunhada nutria pelo outro irmão, mas Jacob duvidava que a incentivasse a flertar com Edward.

Era estranho se sentir assim, como se seu sangue estivesse fervendo nas veias. Mas era exatamente isso. Estava furioso por aquela demonstração pública de cumplicidade entre seu irmão e sua esposa. E o pior, na festa de seu aniversário. Pensava quando parou junto às mulheres. Como se eles já não tivessem que lidar com um número suficientemente grande de fuxicos e comentários maldosos.

Bella ergueu o rosto afogueado e feliz, viu o do marido, sério, a olhá-la de forma reprovadora. Ele estava zangado? Será que não gostara do fato de ter dançado com Edward? Talvez tivesse sentido ciúmes. Pensou alegremente esperançosa, e logo descartou a ideia. Não, se ele estava irritado, com certeza era porque ela fizera algo que não deveria ter feito.

Apenas isso! Afinal, agora Jake era seu marido e para toda a sociedade, isso queria dizer seu dono. Sustentou o olhar dele, de maneira firme e segura, não fizera nada de mais, apenas dançara e se divertira. Se ele não queria que outros homens a tirassem para dançar, que ele próprio fizesse isso. Há um bom tempo que os casais se revezavam na pista de dança, mas seu marido não a convidara ainda.

E como que ouvindo os pensamentos da esposa Jacob pediu:

– Vamos dançar?

– Claro... – ela respondeu ainda sem fôlego mostrando um leve sorriso desafiador.

Jacob bufafa internamente, especialmente ao constatar de perto as alterações sofridas por ela em decorrência da dança. Mas, a medida que seus passos o levavam cada vez mais próximo da pista e a mão dela apertava seu braço com segurança, a raiva passava. Bella não era como as outras, aquelas mulheres casadas que flertavam descaradamente nas festas. Ela não faria nada que o colocasse numa situação comprometedora. Não, ele não conseguia acreditar que fizesse tal coisa.

Pararam de frente, ainda se olhando firme. A música começou num ritmo diferente, ergueram as mãos e aproximaram suas palmas, giraram lentamente. Bella o observava nos olhos, sustentando seu olhar com determinação. De repente a garota sorriu e ele esqueceu o que acontecera enquanto ela dançava com Edward.

Aquele sorriso parecia muito especial.

Um novo giro os aproximou, fazendo seus corpos roçarem de leve. Jacob sentiu contra seu braço a saliência dos seios dela, e quando lhe segurou as mãos, o calor vindo da pele sob as luvas. Uma sensação tênue de dormência se instalou em seus sentidos, lentamente aquecendo o peito, fazendo o coração bater rápido.

A sucessão de movimentos lentos orquestrados pelo ritmo da música os aproximava constantemente, e os mantinha muito próximos. De repente ele não queria que acabasse. Aquela melodiosa sincrônica poderia continuar pelo restante da noite até que ele tivesse a oportunidade de leva-la para casa.

Para a casa deles.

Mas, a música acabou, imediatamente Bella foi requisitada por Sarah, afastando-a do marido, havia um brinde a ser realizado. Ele não queria brinde algum, queria saber o que acontecera ali durante aquela dança. Porém, contrariando seus pensamentos, o brinde foi erguido por Ephraim, saudando o filho mais velho, desejando muitas realizações. Em concordância às palavras do Marquês, as pessoas levantaram suas taças e pronunciaram efusivos desejos de felicidades ao aniversariante.

Entre as pessoas que erguiam suas taças estava ela, sorrindo para o marido, encantada com a voz dele enquanto agradecia o brinde feito pelo pai. Isabella estava realmente encantadora naquele vestido, com as faces rosadas e os olhos brilhando. Exalava feminilidade e sensualidade de uma forma surpreendente, fazendo com que ele mal conseguisse desviar o olhar do rosto da esposa.

Seria possível amá-lo mais? Ela pensava enquanto o observava. Apesar de tudo, do comportamento, dos muitos defeitos, das zangas, das manias, algumas vezes Bella achava que seu coração explodiria de tanto amor. E se Jacob nunca viesse a amá-la, provavelmente o amor dela serviria para os dois.

De repente um toque em seu braço a trouxe para a festa novamente. Era Renée que estava ao seu lado e a observava com um olhar atônito, que como a filha bem sabia, significava problemas.

– Bella...

O tom sussurrado confirmou a suspeita. Era um problema.

– O que aconteceu mamãe?

– Preciso falar com você. É urgente.

O que poderia ser tão urgente que não pudesse esperar o brinde ser finalizado? Bella se perguntou.

– Venha! - a mulher a puxava pelo braço tentando ser discreta – Sejamos rápidas enquanto todos estão atentos ao brinde de Ephraim.

Bella não tinha a intenção de seguir Renée por uma bobagem qualquer com algum dos serviçais.

– Mamãe... pare! O que está acontecendo?

Ficando os pés no chão, Isabella garantiu que não seguiria em frente enquanto não soubesse o que estava acontecendo.

– Aquela mulher se atreveu a enviar um presente para o seu marido.

Que mulher? Bella se perguntou distraidamente.

– Aquela mulher... a cortesã! – Renée salientou percebendo que a filha não lhe dava a devida atenção. E imediatamente um amontoado de comentários foram feitos a respeito da honradez de Jacob. A trégua erguida pela mulher no pedido de casamento acabava de acabar. – Colocou até um cartão. Isso é uma afronta Isabella! Uma afronta pessoal avalizada pelo seu marido!

Perplexa com o acontecimento Bella quis saber como a mãe descobrira o fato.

– Está lá. Entre os outros presentes. Um mensageiro o trouxe, seu mordomo não sabia o que fazer... o vi caminhando preocupado pelo salão e fui em seu socorro. Com certeza instruído por seu marido o homem tentou desconversar, mas descobri o que era.

Sim, Bella imaginava como ela tinha conseguido o feito. E internamente não sabia se agradecia ou repudiava a informação que a mulher lhe trazia. No final pediu:

– Se ela mandou, deixe com os outros. Afinal, Otto vai dizer a Jacob que o presente chegou, que a senhora o pegou e com certeza ele virá até mim se não o encontrar.

Embasbacada com a resposta da filha Renée estava pronta a oferecer seus conselhos, que Bella sabia, provavelmente tinham a melhor das intenções, mas a colocariam em sérios problemas. Ela tinha uma vaga ideia de como resolver a situação. Sem falar que aquele assunto pertencia apenas a ela e a Jacob.

Oferecendo as costas para a mãe Bella caminhou até a cunhada. Emily parecia ser a pessoa adequada para lhe ajudar naquele momento. Apesar ser jovem, tanto quanto ela própria. De ter pouca experiência de vida, ainda não fora influenciada pela falta de amor da qual suas mães sofriam.

– Precisamos conversar um pouco... reservadamente. Num lugar tranquilo. – Bella pediu – Onde?

Sem fazer qualquer pergunta, assim que viu a expressão no rosto da amiga e cunhada, a menina a conduziu para o lado de fora do salão, entrou por uma porta lateral, dali seguiram por um corredor estreito que desembocava na biblioteca.

– Algum problemas Bells?

A garota perguntou vendo a amiga se sentar, afundando no sofá, como se estivesse muito cansada.

Isabella estava pálida. Magoada, triste. No momento em que recebeu a informação pela boca da mãe, não lhe deu o devido crédito, mas agora, pensando bem, aquilo era uma afronta! Uma afronta tão grave que Jacob precisava se explicar direitinho.

– A cortesã... mandou um presente para o seu irmão. – era estranho não estar chorando.

– Não! – Emily falou mais alto do que o necessário e sentou também.

– Sim... é verdade... com dedicatória e tudo. – a voz começava a engasgar.

– Como você sabe disso?

Emily mal conseguia acreditar naquilo. Seu irmão não parecia ser o tipo de homem que afronta a esposa dessa forma.

– Essa é a pior parte. Minha mãe pegou o presente.

– Desgraças nunca veem sozinhas.

Isabella puxou o ar com força tentando reter uma lágrima. Aquela era a primeira vez em que se sentia realmente triste desde o começo do casamento.

– Nem me fale...! Agora, preciso resolver esse... contratempo com Jacob, e apaziguar minha mãe. Será um drama sem fim...

Emily ainda queria contornar a situação trazendo para o assunto algo que considerava positivo, usando um tom esperançoso.

– Você me disse que estava tudo bem entre vocês.

– E estava... – se Bella descontasse o fato de Jacob não chegar perto dela.

Porém, a garota lembrou, de alguma forma seu marido parecia mais próximo nos últimos dias. Ou será que era apenas ilusão? Tudo poderia ser ilusão, ele sempre a tratou bem. Sempre foi gentil. Sempre foi cortês, educado. E o fato da cortesã ter tido a empáfia de mandar um presente para a festa de aniversário dele queria dizer muito mais do que simples provocação. Ela queria escancarar diante de Bella que ainda era a dona daquele homem, apesar do casamento.

– O que você quer fazer?

A outra perguntou.

– Ainda não sei, só precisava sair do salão por alguns minutos, me refazer da notícia... se é que há como se refazer de uma noticia como essa...

Seus olhos encontraram os da cunhada. Bella sabia que haveria momentos complicados, e apesar de os estar evitando o máximo que podia, percebia agora que não estava pronta para eles. E, que por mais que os evitasse, eles acabariam batendo em sua porta uma hora ou outra.