Jacob olhava em volta, acima das cabeças das pessoas que o circundavam. Bella sumira junto com Renée pouco antes de seu pai o abraçar. Os convidados continuavam a cumprimenta-lo efusivamente, mas ele buscava apenas pela esposa.
Para onde ela teria ido?

Foi nesse momento que Otto se aproximou, trazia os olhos agitados e a boca apertada. Ficou a volta, esperando a multidão se dissipar. Logo que Jacob o viu percebeu que o mordomo apresentava uma expressão preocupada no rosto.

– Com licença... – disse o mordomo por fim, quando conseguiu se aproximar do patrão. Sua missão ali não era das mais agradáveis, mas era necessária - Posso falar com o senhor... – pediu, parecia completamente encabulado como se tivesse feito algo errado.

– É muito importante? – Jacob inquiriu já se preparando para buscar pela esposa.

O que o mordomo queria falar deveria ser referente a algum problema causado por Sarah e suas intermináveis manias. Decididamente ele não pretendia se envolver nas loucuras da mãe, especialmente naquele noite. Tinha coisas mais importantes com que se preocupar e estava pronto para dispensar o mordomo quando este respondeu:

– Sim senhor. Muito importante!

Uma senhora carregando uma bengala se aproximou para cumprimenta-lo, mostrando um sorriso enrugado. O futuro marquês recebeu o cumprimento e logo depois, com um gesto indicou ao mordomo que o esperasse no canto da sala. Lugar onde poderiam conversar tranquilamente. Ao menos ele acreditava nisso, e mais duas pessoas se achegaram confirmando sua impressão de que demoraria a se livrar da mazela em que fora colocado.

Assim que se viu livre dos cumprimentos remanescentes, tomou a direção do mordomo, logo pedindo que lhe dissesse o que estava acontecendo.

– A "senhorita" Vitória lhe mandou um presente. – Otto foi muito claro, aquele problema não permitia rodeios.

Um presente? Jacob se perguntou irritado. Era costume da mulher enviar uma lembrança por ocasião do aniversário dele. Jake considerava o ato o que realmente era, uma forma de não ser esquecida. Mas isso só poderia ser aceito antes, quando ele era um homem livre. Vitória, como a mulher inteligente que era, deveria saber que no atual momento não era um gesto apropriado. Especialmente, não era um gesto desejado.

– Coloque separado dos outros, depois procure por um mensageiro de confiança e mande devolver. Diga que não receberei mais nada dela.

Otto apertou a boca mostrando que a ordem não poderia ser cumprida.

– Por que não?

Jacob teve vontade de perguntar em alto e bom som, mas não pode. Contrariado sussurrou a pergunta.

– A baronesa Swan o resgatou de mim antes que tivesse tempo de falar com o senhor.

Era só o que lhe faltava. Pensou zangado.

– Minha sogra... – falou baixo enquanto sua mente fazia conexões.

A imagem de Renée e Bella saindo juntas do aglomerado de pessoas que o saudavam voltou-lhe a mente. Muitas ideias o invadiram. Mas a principal delas era que sua esposa já sabia do presente. E naquele momento já deveria ter sido envenenada pela mãe, sim, pois isso era só o que mulheres como Sarah e sua sogra sabiam fazer. Jake lembrava bem como era entre sua mãe e avó, da forma como elas se uniam contra seu pai.

– Está certo. Deixe comigo. Resolvo o problema.

Sim, aquilo era um problema. Um grande problema. Logo agora que ele parecia estar se sentindo resolvido a definitivamente resolver as pendências conjugais com a esposa. Balançando a cabeça desviou esses pensamentos que só o fariam se distrair da missão principal, pois, o mais importante agora era descobrir onde Bella estava. E esclarecer tudo.

Dispensou Otto pedindo a ele que descobrisse onde Bella estava e viesse avisá-lo.

*

Cerca de meia hora depois Bella e Emily finalmente voltaram para o salão, Jacob conversava com o pai e mais alguns homens, parecia tranquilo. E não foi ele quem primeiro se dirigiu a ela, foi Renée.

– Onde você esteve? Fazendo o quê? Como pode sumir assim diante de um problema tão grave? Sabia que seu mordomo tomou o presente daquela... – a boca de Renée se apertou azeda sem conseguir pronunciar a palavra - de mim?

Em resposta Bella ofereceu apenas um suspiro cansado. Naquele momento desejava ter o poder de fazer a mãe sumir. Sem ter consciência disso, Renée continuava a falar:

– Além disso, já deve ter contado a seu marido sobre o presente. Os vi conversando muito agitadamente há cerca de meia hora.

– Mamãe... será que a senhora pode esquecer o que aconteceu aqui?

Como resolver um problema, o primeiro grande problema deles com sua mãe se intrometendo daquela forma?

– Isabella! Como pode dizer isso? Seu marido lhe obriga a aturar um presente da amante e você faz nada?

Ah, a paz que a muito custo ela conseguira devolver ao seu espírito naquele breve tempo com a cunhada na biblioteca, Renée estava colocando por terra.

– Com licença...

Era a voz dele. O coração de Bella quase parou. A hora era aquela, se ele sabia, ou suspeitava que ela sabia do presente, o assunto seria o motivo daquela abrupta aproximação.

Renée encarou o genro com um olhar ferino e agressivo. Jacob teve vontade de rir da expressão dela, e se satisfaria em provoca-la se com isso não fosse magoar Isabella, porém, naquele momento resolver-se com a esposa era tudo o que ele queria. Sem fazer rodeios foi diretamente ao ponto.

– Preciso conversar com minha esposa.

Ah, Bella pensou, ele enchia a boca para pronunciar aquelas palavras.

Minha esposa.

Mas, não demonstrava qualquer respeito pela pessoa dela, pela pessoa de Bella. Sua mãe tinha razão. A honra dele se fora, bem como sua promessa de sinceridade.

– Se nos der licença mamãe... – ela pediu séria, sem permitir que ele visse seu rosto. Queria muito ouvir o que o marido tinha a dizer, mesmo que não se agradasse do que ouviria, nem como o encararia enquanto ele falasse.

Renée se afastou pisando duro e antes que Jacob pudesse falar qualquer coisa outra voz se fez ouvir ao lado deles, era Sarah.

– Meus queridos! Estou tão feliz! - falou sorrindo.

– Mamãe... – Jacob disse sem acreditar e imediatamente bufou atraindo o olhar das duas mulheres.

A paciência se fora afinal, e como continuar tranquilo diante daquela situação?

Aquilo estava parecendo uma cena das tragicomédias que ele assistia no teatro da capital. Se não fosse realmente catastrófico, ele estaria de fato rindo.

– Preciso falar com a sua esposa meu filho...

O que a mãe queria desta vez? Sarah estava definitivamente se aprimorando na arte de atrapalhar- lhe a vida. Pelo menos naquela noite estava sendo assim.

Mas, alguém caído dos céus veio em seu socorro.

– Mamãe... – era Emily – preciso de ajuda.

De imediato ele percebeu que a irmã sabia de alguma coisa.

– Neste momento será impossível Emily! – o tom de voz era autoritário como sempre.

Porém Jacob não perderia a oportunidade:

– Vá com Emily. – falou firme para a figura materna enquanto segurava o cotovelo da esposa. – Bella e eu precisamos conversar... – Sarah ameaçou voltar a falar, mas sem dar tempo a matriarca para dizer qualquer coisa, Jake deu meia volta se afastando junto com uma irritada Isabella.

– Para onde estamos indo?

Bella perguntou antes que saíssem pela porta lateral, enquanto cruzavam por um casal que vinha em sentido oposto.

– Só um momento. – ele pediu baixo cumprimentando a dupla com um sorriso forçado.

A casa do Marquês não era totalmente familiar para Isabella, mas Jacob vivera ali por vinte e um anos, não havia uma única peça que não conhecesse. Num gesto rápido ele a colocou para dentro de uma sala de música. A peça era pequena, envolta em cortinas de veludo, com móveis delicados, mas muito aconchegante e tranquila. Fazendo um contraponto com os sentimentos que invadiam os dois.

– Quer sentar?

A voz dele era firme como sempre. Como se nada tivesse acontecido.

Sim, ela teve certeza de que o marido sabia que ela sabia do presente. Queria ouvir a explicação que Jake daria para o fato. Séria encarou o rosto bronzeado que na penumbra não demonstrava qualquer expressão. Lentamente sentou e esperou, se alguém deveria começar aquela conversa, esse alguém era ele.

– Tenho certeza de que você está a par do... incidente...

– Incidente?

Ela ia se fazer de desentendida? Ele se perguntou sem desviar os olhos do rosto da esposa.

– O presente. – a voz saiu entre dentes, estava zangado, fazendo algo que não costumava fazer, dar explicações sobre sua vida íntima (o que o fez lembrar que esse era um dos motivos que o levavam a evitar um casamento).

– Sim – Bella não tinha motivos para mentir, nem para facilitar a vida dele.

– Sua mãe também sabe... – não era uma pergunta.

– Sim, ela sabe.

Ele moveu a cabeça positivamente. Estava numa daquelas situações em que não sabia exatamente como agir, e essas situações eram raras. Seu caso com Vitória era público, o que queria dizer que todos inclusive os Swan sabiam. E se os pais sabiam, mais especificamente se a mãe sabia, a filha também sabia. Não havia razões para bancar o dissimulado.

– Peço desculpas, não tinha ideia que Vitória faria tal coisa.

Bella se empertigou. Primeiro, mesmo que aquela fosse uma desculpa esfarrapada, ela não esperava por ela. Segundo, como assim Jacob Black, o libertino, o sedutor escorregadio, o futuro Marquês de La’Push não conseguia controlar uma simples cortesã?

– Ela com certeza tem liberdade para isso, ou não enviaria um presente para você, para a casa de seus pais, na festa do seu aniversário e ainda com um cartão pessoal...

Jacob desviou os olhos, encarou a parede distraidamente, Otto não lhe dissera nada sobre o cartão. Deduzira que o mordomo sabia de quem se tratava por causa do mensageiro. Vitória costumava usar sempre o mesmo garoto.

– Ela não tem liberdade para isso... – falou firme voltando a encarar a esposa, mesmo sabendo que não dispensara definitivamente a cortesã quando deveria – não mais... – concluiu sendo mais claro.

Bella continuou calada por mais alguns segundos, mãos sobre as pernas, a encará-lo séria.

Por fim falou:

– A sua vida antes do casamento não me afeta... – ela queria pensar que fosse assim – Mas, depois de hoje, é possível imaginar que a relação de vocês permanece igual, e agora isso me afeta, principalmente quando lembro da nossa conversa...

Jacob se moveu pela peça que parecia ainda menor com a presença imponente dele a preencher o espaço.

– Não há mais nada entre Vitória e eu. Não sou homem de descumprir a palavra dada – desde o casamento ele não voltara a ver a cortesã ou qualquer outra mulher que não Isabella. – E o presente, será devidamente devolvido.

Ele informou como se aquela simples frase a fizesse esquecer o que ouvira da mãe e tudo o que sentira.

– Ela vai aceitar?

Ele a observou como se Bella estivesse falando uma bobagem. Jacob Black, futuro marquês de La’Push, nunca era desobedecido.

– É claro!

Suspirando Isabella desviou os olhos para chão, pensativa, antes de comentar:

– A intenção dela foi muito mais do que presentar você. – falou firme – Foi me afrontar. Mostrar que está acima do nosso casamento.

Sim, era isso, ele pensou se detendo no rosto que a esposa erguera para ele, percebendo que Bella era mais amadurecida do que esperava. E que ele tinha mais culpa no fato do que realmente gostaria de crer.

– Você tem razão... mas essa história acabará assim que eu possa falar com ela.

Bella sentiu o coração se apertar. Ele ia falar com Vitória? Não, isso não deveria acontecer.

– Vou encerrar de vez esse assunto. – deveria ter feito isso na última vez que estiveram juntos, antes do casamento pensou insatisfeito consigo mesmo.

Rígida ela ergueu o queixo. Não queria que ele fosse até a casa da mulher.

– Não há outra forma de resolver? Sem que você precise ir até ela? – perguntou diretamente.

– Cartas nunca foram boas mensageiras. – Jacob rebateu.

Desviando o olhar Bella encarou as próprias mãos sobre o tecido do vestido. Estava tão feliz quando saíram de casa, agora tudo desabara.

– Se alguém souber, e sempre acabam sabendo, as fofocas irão...

– Ninguém saberá! Serei o mais discreto possível.

Ela se calou, o marido não desistiria.

Jacob a observou detidamente, não sabia o que se passava com a esposa. Se ela estava irritada, se estava magoada, se estava com... ciúmes. Orgulho ferido talvez. Uma mulher, mesmo que não queira o homem com quem está, não aceita ser substituída por outra.

– Você garante que não voltará a acontecer?

Ela perguntou num tom resoluto.

– Dou minha palavra.

Bella suspirou lentamente e ficando em pé falou:

– Se está tudo resolvido, precisamos voltar para a festa antes que os comentários comecem... – sua mãe falaria no assunto por pelo menos um mês.

Caminhou em direção a porta. Mas antes de atingi-la sentiu a mão do marido a segurar a sua. Ergueu os olhos e encarou os dele.

– Sinto muito... nunca tive a intenção de magoar você...

Os olhos dele eram sinceros. Jacob era sincero, ela dizia a si mesma, e queria muito acreditar nisso. Mesmo assim, o sentimento de magoa não a abandonara.

– Espero que você conclua essa história. Que coloque um ponto final.

Era um ultimato, ele compreendeu, e estranhamente se sentiu pronto a cumpri-lo. A presença de Isabella em sua vida, mesmo que ele ainda não a tivesse tocado como marido, era mais importante do que a de Vitória.