Emily, depois da primeira semana (Sarah não permitiu que a filha perturbasse a vida dos recém-casados antes dos sete primeiros dias), passava algumas horas com a cunhada durante as tardes. A garota queria saber como a relação do irmão e da amiga se desenvolvia. Bella nada tinha para contar além dos momentos deles quando almoçavam ou jantavam juntos. Algumas poucas conversas quando Jake saía, quando chegava, nas refeições, ou no final da tarde, na biblioteca.

A melhor parte de tudo era que o constrangimento inicial se fora, e havia certa camaradagem entre o casal agora.

Foi uma surpresa para a garota descobrir que a vida de casados poderia ser tão simples, pois em sua casa, desde que podia se lembrar, era quase sempre um inferno. Mas, para Bella faltava o principal, Jacob não se aproximava, não a tocava, nem a beijava, nem mesmo sua mão como fazia antes. E a noite, desistira de esperá-lo. Chegara a conclusão de que Renée estava enganada, ele nunca iria ao seu quarto, nunca se deitaria no mesmo ambiente que ela.

Numa dessas tardes em que Emily foi até a casa do irmão, Jacob chegou de surpresa, mais cedo do que de costume, enquanto elas tomavam o chá na sala íntima de Bella. Amigavelmente se aproximou, cumprimentou as duas e sem rodeios sentou-se numa cadeira entre elas. Se mostrando bem humorado.

Aquela interrupção poderia ser considerada como uma intromissão inoportuna, porém os modos dele, a maneira como colocava sua presença não parecia desagradável, e as duas não reclamaram quando ele decidiu ficar ali.

– Quer chá?

Isabella perguntou com a familiaridade de quem já se considerava parte da casa e da vida do dono dela.

– Quero... – ele respondeu acomodando o corpo grande na cadeira claramente elaborada para o corpo feminino ou para um homem pequeno.

O calor vindo do fogo da lareira era aconchegante, e aquele clima que se instalara em sua casa desde a chegada da “menina” era o que ele sempre deduzira que deveria ter em um lar. Por isso, Jacob passava mais tempo na residência. Mesmo que Bella não soubesse disso, ele sabia, e dava os créditos que a esposa merecia.

– Soube que Yorkie tem visitado você. – comentou de repente e imediatamente percebeu o olhar que a irmã lhe dirigiu. Não era de fazer rodeios quando o assunto se referia a Emilly, e não havia qualquer motivo que o impelisse a isso agora. Nem mesmo Isabella, pois Jake sabia muito bem que não havia segredos entre elas... nenhum segredo, pensou lembrando de Edward.

– Você tem alguma coisa contra? – a irmã perguntou empregando o mesmo tom desafiador que sempre usava com ele.

Rapidamente Jacob negou com a cabeça. Temendo ser mal interpretado.

– Gosto daquele rapaz... – respondeu antes de tomar um gole do chá que Bella lhe alcançou.

As duas se olharam e sorriram. Esse pequeno gesto não passou despercebido por ele.

– Estou perdendo alguma coisa?

Perguntou curioso.

– Acabei de dizer a Emily que gosto de Eric. Ele sempre me pareceu um rapaz muito agradável.

Jacob concordou:

– Oh, sim, ele é agradável! Pena que o título será herdado pelo irmão mais velho. De resto, você estará muito bem se ele pedir a sua mão.

Sem acreditar no que o marido dizia Isabella o olhou diretamente.

Jake ainda não compreendia o que aqueles olhares dela significavam, mas naquele momento compreendeu exatamente. Bella silenciosamente o recriminava pelo comentário. Sim, essa não era a primeira vez que via “aquele” olhar dirigido a si. Apesar de ainda não ter ouvido qualquer recriminação direta por parte da esposa, ele contava os dias para que elas começassem.

Será que isso seria um problema?

Será que Bella não era exatamente a menina dócil que ele imaginava e aparentava ser?

– Não acredito que você disse isso!

A voz era de Emily, mas aquela era a frase que estava estampada nos olhos de Isabella.

– O quê? – ele perguntou com ar inocente soltando o pires na mesa, segurando a xícara pelo corpo e não pela asa como qualquer cavalheiro educado faria.

– Oras! – era Isabella quem usava o tom recriminatório desta vez – O que você falou sobre Eric foi muito grosseiro.

Ele sorriu, sim ela não era exatamente dócil. Mas quando o recriminava tinha um quê de leveza que não o incomodava. Como poderia ser isso?

Olhou de uma garota para a outra, elas tinham quase a mesma idade, o temperamento se mostrava assemelhado, porém Bella de alguma maneira sempre lhe pareceu mais preparada para a vida do que sua própria irmã. E era bom vê-la junto de Emily, tanto quanto antes o foi.

– Não falei nada além da verdade. Por que estão surpresas? – continuou afastando da mente aqueles pensamentos.

– Porque nem Bella nem eu esperávamos esse comentário esnobe! – Emily sentenciou.

Ele riu alto, jogando a cabeça para trás, não tinha a intenção de ser esnobe (afinal gostava de verdade do rapaz). Aquela conversa estava muito boa. Os rostos e os olhares delas sobre si o divertiam. Será que aquilo era viver em família? Se fosse, ele gostava daquilo.

Contagiadas pelo riso dele, as duas o acompanharam e Emily completou o momento comentando:

– Adoro vir aqui! É tão bom estar com vocês...

*

O natal chegou, a ceia promovida pela marquesa, na casa principal, reuniu toda a família Black, bem como a Swan pela primeira vez como um grupo único. Emily e Bella passaram muito tempo juntas conversando, trocando informações, a jovem tinha muito a contar sobre seu pretendente, Eric. O filho do Duque De Yorkie a visitava com uma frequência quase semanal, e Sarah acreditava que em breve ele faria o almejado pedido. Emmett era definitivamente, águas passadas.

A princípio Emily se mostrara reticente quanto a aceitar um possível pedido do rapaz, mas depois de muitas visitas e conversas, ela aprendera que Eric era um jovem com quem gostava de estar. E de repente, se viu desejando vê-lo mais vezes. Daí para descobrir a possibilidade de estar apaixonada foi um pulo.

A felicidade da irmã trouxe a Jacob um alento a mais. Porém, para a própria vida ele não via qualquer tido de solução. Os dias passavam, o futuro marquês sabia o que deveria fazer, mas não conseguia desviar da mente a figura da menina que Bella ainda representava, principalmente quando a esposa estava junto de Emily.

Eles se davam muito bem, o fato era inegável. E os únicos momentos chatos pelos quais fora obrigado a passar depois do casamento, não se relacionavam com Isabella. Não, se restringiam as visitas de sua mãe e sogra. Ambas, com perguntas, ouvidos e olhos afiados para saber o que se passava na casa e no casamento deles. E nesse aspecto Bella marcou um novo ponto, a garota era habilidosa em escapar de perguntas indiscretas ou contornar pequenos comentários provocativos das mulheres. O que fez Jacob constatar que aquela habilidade se devia há anos de prática.

Estar com ela era fácil. Mesmo quando a esposa o recriminava por alguma coisa que fazia ou dizia sem pensar, e isso já havia acontecido algumas vezes, afinal ele estava desacostumado a viver tão próximo de outra pessoa. Na verdade era a primeira vez que se relacionava tão intimamente (sem que qualquer intimidade física tivesse ocorrido) com outra pessoa, mais especificamente uma mulher. Ninguém partilhava de seu mundo, exceto Emily esporadicamente, e mesmo a irmã, o conhecia de forma superficial. O primogênito dos Black fora morar em sua própria casa quando a caçula era pouco mais que uma criança.

Entretanto, algumas vezes, quando meditava demais sobre o assunto, os pensamentos se confundiam em sua mente, e ele dizia a si mesmo que seus direitos iam além de ter alguém para cuidar de sua casa e objetos pessoais. Mas, ao mesmo tempo também lembrava e se perguntava se Isabella ainda nutria os mesmos sentimentos por Edward.

Tudo lhe parecia desarranjado, e ao contrário do que acreditou a principio, quanto mais o tempo passava, mais complicado parecia ficar. Afinal, agora, ele tinha uma mulher, uma esposa transitando pela casa. Vistoriando objetos, organizando coisas, mandando nos empregados e nele mesmo. Mas, essa pessoa era pouco mais do que uma estranha e Jacob não sabia como trazê-la para o seu mundo, para partilhar de sua intimidade.

*

Nesse meio tempo, Jake completou vinte e nove anos. A desejada festa que Sarah pretendia foi promovida para comemorar a data. Bella auxiliou a sogra na organização de uma recepção digna do futuro marquês e ao mesmo tempo no nível que o bendito futuro marquês queria. Sem grandes percalços ou confusões contornou habilmente as exigências da sogra, concluindo o trabalho, árduo trabalho em tempo e a contento. No final da tarefa ela teve que dar créditos ao marido quando este mencionou a dificuldade que seria auxiliar Sarah. Mas não o fez abertamente, ao contrário, todas as vezes em que Jacob perguntava sobre o assunto, ela confirmava o sucesso que estava obtendo e omitia as artimanhas que precisava usar para chegar onde desejava, mas principalmente quanto tempo demorava na missão de convencer a sogra de que seu pensamento era o melhor.

E, naquela noite especial, para comemorar a vitória sobre Sarah, e talvez impressionar duplamente o marido (que abertamente não a considerara capaz de fazer frente à mãe), decidiu que deveria se vestir de forma diferente. Abandonou as roupas delicadas que insistia em usar, mesmo depois de casada, em prol de cores e enfeites que uma mulher casada usaria.

Jacob terminava de se vestir quando ouviu leves batidas na porta que separava seu aposento do da esposa. Contrariando o característico espirito racional, seu coração saltou.

Era ela.

O que Isabella queria? Nunca se atrevera a vir até o quarto dele desde o casamento, há quatro semanas. O que a trouxera até ali agora?

Moveu-se lentamente até a porta e num gesto calmo a abriu.

– Estou atrapalhando?

Ela perguntou sorrindo ao ver o rosto dele muito sério.

– Não... – a voz masculina quase não saiu.

Aquela mulher que estava ali não era definitivamente a mesma com quem se casara. Bella usava um vestido vinho que realçava o tom chocolate do cabelo e fazia seus olhos brilharem. O busto de alguma forma estava mais evidente. Os cabelos erguidos deixavam a mostra a pele delicada do colo e do pescoço esguio.
Estava vistosa, elegante, atraente. Imediatamente ele soube que era capaz de deseja-la. Sim, ele não sabia disso ainda, mesmo que seu inconsciente lhe gritasse esse fato desde o beijo no jardim.

– Desculpe a intromissão...

Ele se afastou lentamente para que ela entrasse em seu quarto. Entendendo o gesto Bella passou por ele, encabulada observou em volta, como se não tivesse estado ali por diversas vezes enquanto ele trabalhava fora de casa.

– Não... está tudo bem. – algumas vezes Jake se sentia encabulado com a presença dela, mesmo assim foi adiante com o elogio, era preciso ser sincero: - Você está linda.

Tão logo o ouviu, Bella imediatamente se voltou para ver o rosto do marido.

– Obrigada...

Jacob ainda sério a observava detidamente. Aquele elogio era mais do que sincero. Ela pensou sentindo o coração bater feliz. Sim, ela se sentia linda. Mas, o melhor de tudo era que ele notara.

– Estava terminando. – ele informou desviando o assunto e pegando a casaca do cabide.

Ela então decidiu ir direto ao ponto:

– Você saiu muito cedo hoje e não tivemos a chance de conversar ... – ela não tinha a intenção de fazer cobranças, mas sentiu isso assim que a frase saiu – Faltou oportunidade para lhe dar... – estendeu a mão enluvada em direção a ele, na palma havia um embrulho não pequeno. Uma caixa com certeza. – Feliz aniversário.

Jacob observou o gesto, ainda havia certa ingenuidade na maneira como Bella falava, o que contrastava com a exuberância de suas roupas naquela noite. Quando seus olhos se cruzaram ele compreendeu que a menina estava gradativamente perdendo espaço. Em breve ela seria mesmo uma mulher, só faltaria...

Estendeu a mão agradecendo e pegando o presente.

– Obrigado...

– Sua mãe disse que você tem várias. Mas, achei que mais uma não seria demais.

Ele abriu a caixa, eram abotoaduras. Belas abotoaduras.

– Você gostou?

Bella estava tão ansiosa que não foi capaz de esperar pela resposta.

– Gostei... – sorrindo Jacob comprovou o valor de suas palavras quando as tirou do veludo e imediatamente substituiu as que pretendia usar pelas que a esposa lhe deu.

Aquele gesto tão simples fez o coração de Isabella bater feliz. Ele as usaria naquela noite? Era com certeza o gesto mais delicado que seu marido lhe concedera desde o casamento.

– Você está pronta? - ele perguntou enquanto tentava desviar a atenção do constrangimento daquele momento.

Eles haviam adquirido algum tipo de intimidade mas a esposa nunca estivera em seu quarto, e vê-la tão próxima da cama, vestida daquela forma, era no mínimo uma visão... atraente.

– Estou... – Bella respondeu passando as mãos pelo tecido do vestido.

– Então, acho que podemos ir.

A festa seria na casa dos pais de Jake, no salão principal. Era na realidade o maior evento público em que os dois estariam depois do casamento. O que queria dizer que todos os olhares se colocariam sobre eles. Principalmente porque os comentários maldosos não haviam cessado completamente... ainda.