Contador de Histórias escrita por Darth


Capítulo 6
Como Histórias Nascem




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Após partir do Círculo, Galeth rumou norte. Seu objetivo era chegar a Brishock e descobrir mais sobre os rumores que ouvira no dia anterior, a respeito de um monstro que exigia crianças em boas condições físicas como sacrifício. O bardo decidira investigar, pois algo lhe parecia mal contado nesta história.

“Por quê crianças? E por quê a necessidade de estarem em boas condições físicas para serem sacrificadas?” pensava o bardo cantante enquanto caminhava pela estrada.

Após umas boas horas de caminhada, Galeth chegou a Brishock. A cidade não era grande como Clarke, mas não era pequena igual o vilarejo ao redor do Círculo. Tinha uma praça bem movimentada, cheia de mercadores e suas barracas cheias de quinquilharias. Logo que chegou, rumou até a taverna Pata da Lebre.

A taverna estava cheia, com garçonetes servindo os presentes com o belo javali assado que era o prato principal do dia. O bardo foi ao taverneiro, deixou algumas moedas e foi se sentar em uma mesa bem cheia, para acompanhar as conversas enquanto esperava seu almoço. Mal sentou-se, e um homem levemente bêbado virou-se para ele:

– Opa, parece que temos um aventureiro por aqui! – Galeth sabia que fora julgado dessa forma pela sua capa de viagem empoeirada e pela espada que pendia na sua cintura. As pessoas não costumavam reconhecer o estojo de alaúde de Galeth, já que este aparentava ser apenas uma mochila de viagem como qualquer outra. – o que o trás a esta cidade?

– Ouvi rumores de que um monstro anda aterrorizando os arredores. Então vim para investigar a respeito. – O bardo decidira que seria mais fácil aproveitar a deixa que o homem lhe havia dado. – Sabe algo sobre isso, senhor?

– A gente ouviu que ele---

–Shhh! Você perdeu a cabeça John? – Disse uma das garçonetes, que vinha trazendo o prato de Galeth. – Todos sabemos o que acontece com aqueles que tentam descobrir sobre Ele.

As pessoas ao redor da mesa concordavam com a cabeça. Galeth então perguntou:

– O que acontece?

– Esses são os próximos sacrifícios. Os interesseiros são exigidos junto com o sacrifício, ou a cidade é destruída.

“Então agora tenho a melhor forma de encontrar esse monstro” pensou o bardo “Serei um sacrifício e matarei o monstro em seu próprio covil”.

Rapidamente boatos se espalharam sobre um aventureiro que viera a Brishock para acabar com o reinado de terror de Abissal, que era como chamavam o monstro. E então, uma noite Galeth recebeu a visita de um guarda da cidade, que disse:

– Venha, por favor. O Abissal requisitou-o como parte do sacrifício desta semana.

Assim, o bardo foi levado a um pântano não muito longe dali juntamente com uma criança, um garotinho de não mais que nove anos. Ele não parava de soluçar, aterrorizado. Galeth afagou-lhe o cabelo, dizendo:

– Vai ficar tudo bem. Eu vou cuidar do monstro e ele nunca mais vai aterrorizar ninguém.

–Quem é você? Outros já vieram para tentar matar o Abissal, mas todos fracassaram e acabaram mortos ou fugindo. O que você tem que eles não tinham?

– Bom, eu sou apenas um humilde aventureiro e me chamo Galeth. Quanto ao que eu tenho que eles não tinham, digamos apenas que essa não é minha primeira vez sendo um sacrifício para atrair um monstro e mata-lo. – Disse o bardo, com um sorriso cansado.

O garoto ficou em silêncio, pois percebera que algo mudara no homem a sua frente. Ele parecia mais alto, mais altivo. Seus olhos azuis estavam mais claros do que antes. E seu cabelo estava mudando de cor. Passava do castanho escuro para um cinza tão claro que podia ser chamado de branco. Era como se flocos de neve caíssem sobre seu cabelo e se tornassem parte dele. E quando o homem tirou o alaúde do estojo, a compreensão se abateu sobre o garoto e ele começou a chorar enquanto ria.

– Vejo que ouviu falar de mim. Agora acredita que vou matar o Abissal?

– Sim, senhor Galeth. Eu acredito no seu poder.

– Então fique perto de mim. Eu vou protegê-lo e leva-lo de volta pra casa.

E adentraram no pântano. A guarda não tirara os pertences de Galeth pois sabiam que ele desejava enfrentar o monstro, mas não tinham mais esperanças de que alguém conseguisse. Vários haviam tentado antes, e todos falharam. Não levou muito tempo para chegarem a um charco enorme, que sabiam ser o covil do Abissal.

Havia várias caveiras ao longo do charco. O garoto que estava com Galeth ficou aterrorizado e começou a soluçar, correndo para longe das caveiras e do charco. E foi quando ouviram a voz:

–FINALMENTE MEU ALIMENTO CHEGOU!

E algo saiu das profundezas do barro e da água que formavam o charco. A coisa que se levantou não era humanoide e parecia ter saído dos pesadelos de uma criança. Era comprido como uma serpente e seu corpo terminava em uma cabeça tão grande que poderia engolir uma pequena casa. Tinha dentes enormes e pontiagudos que ficavam para fora da bocarra mesmo quando fechada. E pequenos olhos negros ao lado da cabeça. Sua pele era toda escamada e esverdeada, coberta por barro e plantas.

– DÊ-ME A CRIANÇA, HUMANO.

– Terá que passar por mim primeiro, fedorento!

– HAHAHAHA VOCÊ É DIFERENTE DA MAIORIA QUE VEIO ME DESAFIAR. A MAIORIA CORREU ASSIM QUE ME VIU, OS OUTROS MORRERAM ME ENFRENTANDO BRAVAMENTE.

– Então se prepare para uma surpresa, pois não sou nem aquele que corre e nem aquele que morre. Sou aquele que vai acabar com seu reinado de terror. Sou um aventureiro, mas também sou um contador de histórias. E hoje, vou colher uma história nova. Uma história sobre um monstro que caiu perante um bardo de cabelos brancos.

– VOCÊ PODE TENTAR!

Com essas palavras, o Abissal se jogou contra Galeth, tentando abocanhá-lo. O movimento, que tirara a vida de vários aventureiros antes, foi facilmente evitado pelo bardo, que saltou para o lado com leveza. Galeth respirou fundo. “É agora”. Tocou um acorde.

O garoto voltara quando ouviu um rugido monstruoso vindo da clareira. “Ele se foi... Nem mesmo Galeth pôde vencer o Abissal” pensava o desolado garoto. Ele sabia que deveria voltar ao charco, ou Brishock seria destruída. E mesmo que decidisse fugir, sabia que seria expulso da cidade e acabaria morrendo de fome igual outras crianças que tentaram.

Então, numa demonstração de coragem rara até mesmo em adultos, o garoto voltou para o charco. Voltou para a morte. Mas o que encontrou foi o corpo do Abissal flutuando no charco, morto. E sentado dedilhando uma canção tranquila estava Galeth. Seus cabelos agora estavam castanhos novamente, e seus olhos voltaram à tonalidade escura de azul. O garoto correu em sua direção e o abraçou, chorando e agradecido:

–Obrigado, Galeth!

Quando voltaram, a criança contou a todos como Galeth vencera o monstro apenas com a música igual um lendário bardo de mesmo nome costumava fazer alguns anos atrás. A diferença era que o bardo lendário era conhecido pelo seu cabelo branco e suas roupas chamativas, o contrário de Galeth, com seu cabelo castanho e roupas discretas de viagem.

Galeth não permitiu ao garoto que contasse sobre seu cabelo ter mudado de cor:

– Isso será um pequeno segredo nosso, tudo bem? – disse com uma piscadela divertida e um sorriso.

Assim Galeth salvou Brishock do Abissal. Mas questões permaneceram sem respostas: “se as crianças eram sacrifícios, por quê as caveiras no charco eram apenas caveiras adultas? Quem estava por trás do Abissal? Mas, como dizem, isso é uma outra história” pensou por fim o bardo, com um sorriso.


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