Contador de Histórias escrita por Darth


Capítulo 5
Pilares do Conhecimento




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Após sua estadia em Haydeck, o bardo cantante pagou passagem em um navio rumo à Porto-Capital, no litoral centro-sul de Ornea. O destino de Galeth era ao leste da capital do reino, o Círculo. O Círculo dos Magi era um local de iluminação e conhecimento, onde aqueles que buscavam se tornar magos ou aperfeiçoar seus dons com a magia iam para aprender. O Círculo era a sede da Guilda dos Magos, a organização que supria os seus membros e afiliados ao redor do mundo conhecido. Ao redor da gigantesca torre de mármore polido com várias janelas iluminadas havia um pequeno vilarejo, que sustentava o Círculo com alimentos e em troca era protegido por ele.

Nesse vilarejo havia apenas uma taverna, aonde os alunos e os mestres do Círculo iam para relaxar entre as aulas e experimentos. Era frequentada principalmente pelos membros dos Magi e por viajantes que passavam por lá para descansar durante rotas longas. Seu nome era Estalagem Pilar do Conhecimento, em homenagem a uma velha história.

Galeth negociou sua estadia rapidamente com o taverneiro e foi tomar banho e jantar. Após comer, passou um tempo jogando conversa fora com as garçonetes enquanto afinava seu alaúde. Corriam rumores de que a cidade de Brishock, ao norte do Círculo no cruzamento com a Estrada do Rei, enfrentava problemas com algum tipo de monstro que exigia sacrifícios de crianças com bom condicionamento físico em troca de não destruí-la. “Esta história está muito mal contada, talvez eu mesmo vá a Brishock ver o que se passa por lá” pensou o bardo. Mas isso teria de ficar para depois, pois Galeth tinha responsabilidades mais iminentes.

Vários aprendizes e mestres já estavam na taverna, comendo, bebendo e conversando. O bardo cantante subiu no pequeno palco ao lado da lareira e, tangendo as cordas de seu alaúde, começou a tocar. Animou o local com músicas festivas e de bebedeira. Tocou “Com a filha do lenhador”, “Venha para mim, loura da cevada” e várias outras. Após sua apresentação, vários aplausos e gritos de uma plateia levemente, embora alguns estivessem fortemente, embriagada.

E assim chegou a hora do bardo por o alaúde de volta em seu estojo. Chegara o momento de Galeth contar a história que preparara para esta noite:

– Boa noite, meus amigos! – aplausos, assovios e gritos – Obrigado, obrigado. Chegou o momento que nós esperávamos. Hoje vou contar uma história bem conhecida nestas paragens. Para ser franco, é a história que deu nome a esta taverna. – a plateia ficou em silêncio, ansiosa pela famosa lenda que seria contada – Sim... Esta é a história de como Nikolas Fork, arquimago do Círculo há trezentos anos, adquiriu o conhecimento de que necessitava para ser elevado ao status de arquimago.

“Veja bem, naquela época Nikolas era apenas um mago do Círculo. Um mago prodígio, claro, mas ainda assim um mago. Ele não dispunha de todo o poder e conhecimento que um arquimago pleno possui. Da mesma forma que é hoje, naquele tempo haviam doze arquimagos, um para cada especialização da magia, e um prime. O prime é o líder do Círculo, líder da guilda e reitor da academia. O jovem Fork não era nada disso, era apenas mais um aluno entre os tantos que havia.

Mas as coisas tomariam um rumo diferente quando Nikolas descobriu em velhos manuscritos menções a um local místico conhecido como Pilares do Conhecimento. Nestes, o mago leu sobre como os Pilares detinham o conhecimento sobre tudo no mundo. Sobre como quem os dominasse deteria o saber sobre tudo o que ocorreu e tudo o que há de vir. E era deste conhecimento sobre o futuro que advinha outro nome para o local: Coração do Destino. E Fork precisava saber o seu.

E assim Nikolas Fork estudou dia e noite, traçando rotas em mapas confusos. Tentando encontrar onde os Pilares ficavam. A falta de detalhes era irritante para o mago, mas ele perseverava. Usou complexas magias de adivinhação, perdeu aulas, experimentos, nota. Seus mestres e orientadores o advertiram de que estava começando a trilhar o caminho do ócio, sem saber o quão perto ele estava de encontrar o Destino.

Foi no terceiro mês de buscas. Nikolas já estava à beira da exaustão completa, devido ao seu ritmo de estudo aliado a passar as noites em claro tentando encontrar os Pilares. Um dia ao acordar, notou que adormecera durante um dos feitiços de adivinhação que usava. Mas ao contrário de o feitiço ser interrompido ao ter caído no sono, seu subconsciente parece ter o completado. E algo em seu interior sabia mais sobre o destino do que ele mesmo, pois ele tinha um lugar marcado no mapa. Era algo que nunca havia acontecido. “Só pode ser aqui. Só pode ser o destino me dizendo aonde ir.” Pensou o mago, radiante de felicidade.

Na primeira folga dos estudos que teve, alguns dias depois, Nikolas Fork partiu rumo ao norte. O local marcado no mapa ficava na borda leste do continente de Ornea, e ficava nas Montanhas Sombrias. As Montanhas eram uma cordilheira gigantesca que cortava o continente ao meio de leste a oeste, e era também o lar de cavernas de dragões tão antigos quanto o próprio mundo. Mas era lá que o mapa apontava, portanto o mago iria. Pegou um cavalo baio e partiu a galope pela estrada, levando dois dias inteiros para chegar ao sopé da cordilheira no litoral leste. “Agora só preciso de subir” pensou.

Com um gesto do cajado, proferiu algumas palavras:

– Sutnev tgilf

O ar ao seu redor se agitou, balançando sua capa de viagem. Depois de um instante o ar se solidificou ao seus pés e o empurrou para cima, fazendo com que Nikolas levantasse vôo. Avançando tranquilamente pelo ar, pode observar as árvores diminuindo de tamanho conforme subia. Também foi arrebatado pela imensidão azul do mar e pela grandeza do continente. Mas quando chegou ao topo foi que perdeu o fôlego.

Estava de fronte uma estrutura rochosa milenar. Veios de energia dourada rodeavam dentro de uma gigantesca câmara no interior da montanha. Acima da câmara havia vários pilares, alguns destruídos devido ao tempo. Mas vários ainda permaneciam de pé, velhos e fortes. Acima dos pilares tinha uma formação rochosa impressionantemente talhada, no formato de um lagarto gigantesco. “Provavelmente feito para assustar viajantes perdidos” pensou Nikolas quando assimilou tudo o que estava vendo.

Até que o rosto do lagarto se virou para ele, com os olhos brilhando em um intenso azul. “Não pode ser! Esta coisa é encantada?” foi tudo o que o mago conseguiu pensar, antes da criatura dizer:

– Alto lá, você que invade meus domínios. Eu sou Gurad, e sou o guardião deste templo sagrado. Nem mesmo os deuses se atrevem a me confrontar, pois sou uma criação de algo mais antigo. Diga-me, quem é você?

– Eu sou Nikolas Fork, ó guardião. E tenho desejo de obter conhecimento no Coração do Destino.

– Então você busca conhecimento. Não é um dos perdidos que aparecem aqui vez ou outra a cada século. Saiba que o nome deste local é mais literal do que aparenta. Pois na câmara abaixo de você, está o coração da entidade antiga conhecida como Destino. Claro que é apenas uma fração de seu coração, mas ainda assim o é.

– Jamais poderia imaginar tal coisa. Isto é tremendamente impressionante, ó guardião.

– Basta com as lisonjas. Chame-me de Gurad, mago Nikolas. – o jovem ficou surpreso, uma vez mais:

– Como sabia que eu sou um mago?

– Eu vivo nos Pilares, garoto. Eu sei. E sei o que acontecerá se você conseguir o conhecimento.

– Você sabe se eu conseguirei?

– O futuro é como as águas de um lago. Não interfira e poderá ver seu fundo. Mas toque-o, e ele se tornará turvo e incerto. Não direi nada sobre seu futuro, assim como o Coração não revelará nada a você a respeito de seu próprio futuro. – Compreendendo a sabedoria nas palavras do guardião, o mago disse:

– Assim seja, Gurad. Então me conte o que devo fazer para ser digno de ver os mistérios que o Coração reserva para mim.

– Muito bem. Como é exigido de mim desde que assumi este posto nos Pilares, lhe farei três perguntas. Acerte as três apenas com sua sabedoria e inteligência e poderá descer à câmara. Erre alguma delas ou ouse trapacear com sua magia e eu o matarei.

– Sei que se trata de uma tolice desafiar seu poder, guardião. Portanto, aceito seus termos. Responderei as perguntas.”

– Por quê ele mataria Nikolas se ele errasse uma pergunta, Galeth? – perguntou um dos aprendizes, provavelmente um recém chegado ao Círculo.

– Porque Gurad sabia que não era sábio deixar alguém que falhara em seu teste ir embora sabendo da localização dos Pilares e provavelmente com um sedento desejo de retornar e conquistar o conhecimento à força. O conhecimento e a sabedoria não podem ser dados ou roubados, entende? Eles devem ser conquistados com sacrifício e esforço. – respondeu o bardo, tranquilamente. Pôde notar murmúrios de concordância vindo dos mestres presentes. Sorriu e continuou:

“Assim, o guardião de pedra perguntou:

– Eu tenho mares sem água, praias sem areia, cidades sem pessoas e montanhas sem terra. O que sou eu?

Nikolas pensou um pouco, apreensivo. Até se dar conta que sabia o tempo todo da resposta:

– Um mapa, o que eu mais usei para encontrar este lugar.

– Correto, mago. Vamos a próxima pergunta. – disse o guardião, com aprovação – Eu raramente sou tocado, mas sou muito usado. Se você possuir astúcia, me usará bem. O que sou eu?

Dessa vez o mago teve de pensar mais. A resposta parecia próxima e distante ao mesmo tempo. “Droga... tenho que pensar, está na ponta da minha..É ISSO”:

– Língua, a resposta é língua. E é por meio dela que devo passar em seu teste.

– Muito bem. Você é o primeiro a chegar à terceira pergunta e por isso tem o meu respeito. Mas vamos lá: Muitas vezes contarei uma história, nunca cobrarei por ela. Irei encantá-lo por uma noite inteira, mas nem assim se lembrará de mim. O que sou eu?

E foi nesse momento que Nikolas Fork compreendeu que realmente o destino o tinha guiado. Ele tinha todas as respostas, pois havia passado por aquilo:

– O sonho. Pois foi por meio de um que pude acertar o feitiço de adivinhação e achar os Pilares, mas não consigo me lembrar de como o fiz.

– Correto uma vez mais, Nikolas. Você acertou minhas três perguntas e passou pelo meu teste. Conquistou o direito de descer ao Coração do Destino e ver presente, passado e futuro.

O mago estava radiante, ele tinha conseguido depois de todo aquele tempo! Os meses não haviam sido em vão. Mas ele também compreendeu que era mais do que ter o direito de descer ao Coração do Destino. Ele havia obtido conhecimento. Ele havia obtido sabedoria. E foi com essa sabedoria e esse conhecimento recém-adquiridos que ele respondeu:

– Não há necessidade de que eu desça. O tempo não deve ser mudado, nem por um mortal e nem por um deus. Vim aqui para adquirir conhecimento, e o consegui. Aprendi que todas as respostas estão em mim e ao meu redor. Vou me tornar um mestre na arte de encontra-las.

– Minhas congratulações, mago. Você passou no último teste. Pois como disse, nenhum mortal ou deus tem o direito de interferir com o tempo. Vá em paz, e viva uma vida sábia.

Depois que voltou, Nikolas estudou mais sobre a arte de ler o destino, como passou a chama-la. Foi elevado ao status de arquimago um mês depois, como o primeiro décimo terceiro arquimago. Ele criara uma nova especialidade da magia, a magia de destino, a magia de encontrar respostas em si e ao seu redor e utilizá-las.”


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