Deitei na minha cama e não pude conter as lágrimas que surgiam. Meu pai? As únicas lembranças que eu tinha dele era dos gritos que eu ouvia toda vez que ele chegava bêbado em casa, acusando eu e minha mãe de todos seus problemas. Porque em sã consciência minha mãe o aceitaria de volta? Nossa vida já não fora ruim o suficiente? E o pior, além de estragar sua vida, ela também permitirá que ele destrua a minha?

Em meio a todas essas preocupações o que mais me afligia era o que fazer com Gerard. Como dizer-lhe tudo isso? Como dizer que eu sou covarde demais para enfrentar minha mãe e um projeto de pai que nunca significara nada para mim? Eu realmente não sabia como encará-lo agora. Tudo estava tão bem, eu realmente pensei que minha vida se acertaria dessa vez, mas não, eu sou desgraçado demais para levar uma vida normal e feliz.

Talvez o que eu estou dizendo agora possa soar como um drama exagerado de um adolescente com os sentimentos em completa desordem, mas qualquer um que já sofreu de uma solidão intensa sabe os danos que isso é capaz de proporcionar.

Cansado de tanto chorar, acabei caindo no sono. Acordei na manhã seguinte com uma enxaqueca intensa, e com os olhos inchados. Levantei-me e desliguei o despertador. Segui até a janela e olhei para a de Gerard; pude ver sua sombra se movendo preguiçosamente lá dentro, e novamente não consegui conter uma lágrima que escorreu pelo meu rosto. Todos os problemas vieram a tona novamente, e uma tristeza sem tamanho tomou conta de mim novamente. Eu não sabia exatamente o que faria, mas ir para escola definitivamente não seria a opção mais sensata. Os minutos foram passando vagamente, quando ainda pela janela eu pude avistar Gerard e Mikey saindo pela porta e olhando em volta, na frustrada tentativa de me encontrar. Um sentimento de culpa angustiante me veio à tona, mas eu sabia que isso era o melhor a fazer. Eles vieram e tocaram a campainha uma ou duas vezes, e sem resposta saíram em direção a escola, com expressões confusas no rosto.

Essa situação se repetira pelo resto da semana. A diretoria do colégio já havia se cansado de telefonar e não obter uma resposta convincente sobre meu desaparecimento, e Gerard e Mikey também desistiram de tocar minha campainha sem resposta. Minha mãe passara fora todo esse tempo, provavelmente estava viajando preparando tudo para a chegada do "novo hóspede", e eu fiquei sozinho, em todos os sentidos possíveis da palavra, sobrevivendo graças a meu generoso estoque de cafeína.

Eu sabia que essa situação não podia mais se estender por muito tempo, e que em algum momento eu teria que superar tudo isso de forma madura e aparecer para Gerard e Mikey com uma boa explicação engatilhada. Eu o faria... em algum momento. Mas por hora, desaparecer era a única opção plausível.