Enquanto o Sol Brilhar escrita por Gabriel Campos


Capítulo 14
Jana: O fundo do poço poderia ser menos escuro


Notas iniciais do capítulo

Genteeeee, estou postando esse capítulo e no próximo postarei o link da trilha sonora, pra quem gosta de ouvir enquanto lê. . Falando nisso, a música do capítulo:

Música: In my Veins
Intérprete: Andrew Belle
Link: https://www.youtube.com/watch?v=q0KZuZF01FA

Ah, como demorei para entrar (pra variar) preciso responder alguns comentários ainda.



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Saio do laboratório de nutrição animal e começo a caminhar pelo corredor do bloco de medicina veterinária da universidade. Olho no relógio: quinze para o meio dia. Preciso correr para pegar minha irmã na escola. Não gosto de me atrasar, não quero que Tati se sinta abandonada nem por um instante.

— Amiga, você esqueceu de tirar o jaleco. — acordo do meu transe momentâneo com uma bronca de Ana Paula, que acaba de cruzar comigo por ali — Não quer que o pessoal te confunda com um pipoqueiro, não é?

Recordo-me de todos aqueles blábláblás sobre segurança laboratorial que os professores dos primeiros semestres sempre insistem em repetir, guardo o jaleco na minha pasta, despeço-me de minha amiga e saio correndo até o ponto de ônibus mais próximo. Após pegar Tati na escola, teria muito tempo livre, pois minha próxima aula só começa às duas da tarde. No entanto, precisarei faltar, pois, como já disse, não quero que minha irmã se sinta sozinha.

Chego dez minutos atrasada à escola onde minha irmã estuda. Meu coração palpita forte: há poucos pais ali, indo buscar seus filhos.

— Senhor, por favor, a Tatiana Bernardes, do sétimo ano. — dirijo-me ao porteiro, um senhor simpático com um bigode avantajado em cima do lábio superior.

Ele grita para dentro da escola, repetindo o nome e a série de minha caçula para uma das professoras auxiliares, que volta, pouco tempo depois trazendo uma notícia. Talvez a pior notícia da minha vida.

— Sua irmã já foi embora. — repete o porteiro. Cada sílaba, cada palavra, é enfiada no meu coração como estacas.

Minhas pernas ficam bambas, ar falta nos meus pulmões; tento evitar, mas penso no pior. E o pior é a realidade.

— O marido da mãe de vocês veio busca-la hoje mais cedo. — diz a professora auxiliar. — Eu só permiti porque eu o conheço.

— NÃO! — Eu grito, as pessoas em volta olham para mim. Devem estar achando que eu sou algum tipo de louca, então tento me recompor, mas é quase impossível visto a gravidade da situação.

— Moça, você está bem? — o porteiro pergunta, de certa notando meu nervosismo aparente: chego a suar frio tentando mover minhas pernas por conta própria, mas elas só tremem.

— Vocês não tinham o direito de liberar minha irmã e entrega-la nas mãos daquele verme! — sibilo, mostrando o indicador para aqueles dois.

Apoio minha mochila nas minhas costas e caminho com meus velhos all-stars brancos tentando digerir toda aquela informação. As mãos asquerosas de Fagundes nunca me deram tanto nojo como naquele momento. Eu não posso chorar, não agora.

Eu não queria, nunca mais, ter de voltar àquela casa, aquele que era o meu lar. Mas nos últimos meses, proteger minha irmã passou a estar acima de qualquer coisa para mim. Sinto-me como uma leoa, pronta para dar o bote ao tirarem o filhote do seu seio. Imagino aquele homem dando a mão para minha irmã, tão inocente, saindo da escola com ele. Não quero pensar que possa ser tarde demais. Meu Deus, nada pode ser tão injusto assim!

Tento rezar baixinho no ônibus, mas não sei se Deus atenderá as preces de alguém com o coração tão cheio de ódio. Estou com as duas mãos fechadas em punho, as unhas machucam as palmas delas; quero que este ônibus ande mais depressa, sei que todo minuto perdido faz muita diferença.

Faço o mesmo caminho que fazia todos os dias quando chegava da faculdade: meu antigo bairro não mudou nada. Das fofoqueiras às ruas esburacadas, tudo continua a mesma coisa. Apresso o passo, chego a correr, nem ligando para o peso das apostilas na minha mochila.

Bato duas vezes na porta de madeira, não ouço nenhum barulho. Desespero-me, achando que minha mãe não está em casa. Mas aquele doente mental poderia levar Tati para qualquer lugar, então só vejo meu problema aumentar. Tento bater na porta de novo, e então, devido a força que coloco, ela se abre. Respiro fundo antes de pôr os pés ali dentro novamente, esperando que não seja em vão.

Vasculho sorrateiramente pelos primeiros compartimentos da casa e fico preocupada por não achar ninguém, nem mesmo Fagundes. Ouço o barulho de algum móvel caindo na cozinha e, instintivamente, corro até lá.

O local está virado do avesso, louças estão quebradas, a geladeira escancarada e os mantimentos do armário e da dispensa estão derramados no chão. Novamente ouço o som de um móvel, agora sendo arrastado, e me aproximo mais. Vejo então minha mãe caída, debaixo da mesa. O tempo todo ela esteve arrastando uma das cadeiras, provavelmente para chamar minha atenção. Sua respiração está fraca e seu rosto cheio de hematomas.

Tento socorrê-la e coloco sua cabeça nas minhas pernas, de modo que ela respire melhor. Sandra então tenta balbuciar algumas palavras:

— Jana... minha filha... chame a polícia. — ela tosse, percebo um fio de sangue escorrendo no canto de sua boca.

Tento manter a calma, mas não sou a pessoa mais calma do mundo.

— Mãe, quem fez isso? Quem fez isso? — falo em um tom grosseiro, estou chorando, indignada.

— O Fagundes... ele enlouqueceu.

Mamãe então perde os sentidos; eu, em consequência, perco o controle.


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Notas finais do capítulo

Genteeee, completei 20 anos de idade esse mês ç.ç bem que eu poderia receber um review de presente rsrsrs
Amo vcs SZ