A Depressão De Amy Cortese escrita por Letícia Matias


Capítulo 10
Capítulo 10: Doutora Rosie.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Capítulo novo o/
Espero que gostem desse capítulo. Alguns detalhes da Amy serão revelados aqui, então... É um capítulo bem importante...
Espero que gostem!



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As imagens estavam se passando na minha cabeça como um flashback. Eu tinha certeza de que estava sonhando. Eu já tinha vivido todas aquelas coisas que estavam se passando na minha cabeça. Meu primeiro dia de aula, Penelope falando comigo, Sean me olhando, eu me cortando, eu acordando na banheira enquanto a água fria caia sobre mim, eu chorando, a festa de aniversário de Sean, Sean me beijando, Eu no parque, eu avançando em Faye, eu mandando Sean me deixar em paz, eu caindo levemente como uma folha na piscina... Abri meus olhos e pisquei algumas vezes.
Virei à cabeça para o lado e vi uma janela grande de vidro onde eu podia ver o Sol se pondo e se escondendo enquanto algumas luzes alaranjadas do crepúsculo pintavam o céu quase preto.
Onde eu estava?
Olhei para meus pés e vi uma moça morena sentada numa poltrona bege olhando para mim.
– Oi Amy, eu sou a doutora Rosie, como está se sentindo?
Franzi o cenho.
– Estou no hospital? O que aconteceu?
– Podemos falar sobre isso daqui a pouco. - ela disse se levantando r vindo até mim - Como está se sentindo?
Dei de ombros.
– Normal.
Ela assentiu.
– Você tentou se matar, Amy. Pessoas que estão se sentindo normais não fazem isso. Mas, vamos começar do começo. Sou a doutora Rosie, sou psicóloga e só quero conversar um pouco com você, tudo bem? Tem algo que eu possa fazer por você? Está com fome, com dor, sede?
Balancei a cabeça negativamente. Ela sorriu e se sentou na poltrona ao lado da maca onde eu estava sentada. Ela tinha os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo, usava tênis esportivo, calça jeans azul escura e um avental branco por cima.
Olhei para meus braços e vi dois curativos em meus pulsos, havia uma bolsa de soro ligada na minha veia e eu estava usando uma camisola verde feia de hospital.
– E então Amy, me conte o que aconteceu hoje.
Olhei para ela.
– Como se você já não soubesse a resposta.
Ela sorriu.
– Sim, ei já sei o que aconteceu. Mas, quero que você me conte com suas palavras.
Suspirei.
– Se vai me entupir de remédios, só passe a receita e me poupe desse...
– Não estou aqui para isso. Não vamos falar de remédios agora ok? Apenas me conte o que aconteceu.
Respirei fundo e contei tudo a ela. Contei do dia do parque, da minha chegada à escola e a briga com Faye.
Ela ouviu calada e assentiu quando eu terminei.
– E por que você decidiu acabar com tudo?
Dei de ombros.
– Eu só estava cansada.
– Você não come, mal sai do quarto... Está deprimida?
–Estou triste.
– Por quê?
Dei de ombros.
– Eu não consigo sentir... Alegria sabe? Eu... Não consigo me socializar com ninguém, eu... Odeio todo mundo!
Ela assentiu.
– Mas por que Amy? Você teve uma chance de recomeçar numa nova escola, fazer amigos, ser sociável... Mudou de país! Isso é um novo começo, pelo menos era para ser, certo?
Dei de ombros.
– Amy, quem você viu no parque aquele dia?
Engoli em seco.
– Dom.
– Quem é Dom?
– Precisamos mesmo falar disso?
Ela respirou fundo
– Eu quero te ajudar Amy, quero que melhore.
– Estou cansada, não quero falar disso agora.
A doutora Rosie olhou para mim r ficou me analisando por um tempo.
– Tudo bem, Amy. Conversaremos amanhã então.
Ela se levantou da poltrona e disse:
– Só uma última pergunta.
Olhei para ela
– Quem é Sean?
Franzi o cenho.
– Sean? - perguntei.
– Sim, enquanto você estava dormindo, estava gritando para Sean te deixar em paz.
Engoli em seco.
– É só um menino da escola. - dei de ombros e ela sorriu.
– Tudo bem. Amanhã conversaremos melhor, Amy. Estou ansiosa para conversar com você.
Fiquei olhando para ela até que ela saísse.
Pronto, eu tinha voltado para onde eu já estivera alguns anos atrás.

***

Na terça de manhã, fui acordada por uma enfermeira de cabelos ruivos. Ela me assustou, era branca como um fantasma e tinha aqueles cabelos cor de vinho e olhos verdes grandes.
– Bom dia Srta Cortese, pronta para tomar seu remédio?
– Que remédio é esse? - perguntei quando ela me entregou um copinho descartável pequeno com uma cápsula azul claro dentro.
– É só um calmante.
– Não quero ficar dopada.
– Não vai, é só um calmante.
Encarei-a por um momento. Ela sustentou meu olhar e então eu peguei o comprimido e enfiei-o na boca. Peguei o copo descartável com água e bebi um gole.
– Você pode abrir a boca para que eu possa ver se você tomou?
– Não. - respondi
Ela olhou pra mim e suspirou.
–Já vi que você é das difíceis.
Ela se virou e saiu deixando-me ali. Fiquei olhando para a porta.
– Ah, o café da manhã será servido em 10 minutos, você pode descer para comer alguma coisa. - ela disse quando voltou para a porta novamente.
Respirei fundo e fechei os olhos. Ia ser um longo dia. Peguei a cápsula debaixo da língua e enfiei-a dentro da fronha do travesseiro.
***
Eu não sabia em qual hospital eu estava e onde ele estava localizado, mas, sabia que tinha um jardim enorme e parecia mais uma casa de repouso para velhos, mas, não havia muitos velhos ali. Não idosos pelo menos.
Eu estava andando pelo corredor a procura do refeitório quando esbarrei numa menina magra de cabelos pretos. Ela era tão pálida e magra! Olhei para ela assustada.
– Desculpe. - falei num tom de voz baixo.
Ela não respondeu e continuou olhando. Que ótimo, eu estava num hospital para loucos! Afinal eu era a louca do parque.
Virei a esquerda e cheguei no refeitório.
Havia algumas mesas redondas com cadeiras vermelhas e várias bancadas com coisas para comer.
Me dirigi até essas bancadas, iguais a da escola e peguei uma bandeja. Olhei para as coisas de comer. Frutas, sucos, pão e bolachas integrais. Nada de cachorro quente, macarrão ou hambúrguer como na escola.
Suspirei e peguei um pedaço de melão, um copo de suco de laranja e um pão recheado com mortadela.
Me dirigi até uma mesa vazia perto de uma janela de vidro que ia do chão até o teto e me sentei silenciosamente.
Peguei o pão com mortadela e dei uma mordida pequena. Mastiguei lentamente enquanto olhava as árvores do lado de fora. O Sol estaca escondido ainda, era muito cedo.
De repente me perguntei se minha mãe ou Sam sabiam onde eu estava ou se eles tinham vindo me ver enquanto eu estava desacordada. Meus devaneios sumiram quando vi um vulto parar frente ao vidro. Era ele novamente.
Cerrei o punho e cravei minhas unhas na palma da minha mão. Fechei os olhos e respirei fundo. Não é real. Não é real. Respire Amy. Só... Respire.
Abri meus olhos novamente, não havia mais ninguém ali me olhando do outro lado do vidro. Suspirei, eu já tinha perdido a fome.
Olhei para o meu prato.
– Não vai comer o seu café da manhã Amy?
Levantei a cabeça e vi a doutora que estava no meu quarto ontem.
– Eu... Perdi a fome.
– Não pode ficar sem comer. Você gostaria de levar alguma coisa para comer lá no seu quarto?
Mordi os lábios.
– É, pode ser.
Levantei-me e peguei o prato levando-o comigo.
– Nós podemos conversar no seu quarto? Espero que não se importe.
– Não, tudo bem. - respondi.
Andamos de volta para o quarto onde eu havia passado a noite. A cama estava arrumada e a grande janela de vidro estava aberta.
– Você gosta da primavera Amy?
– Não. - respondi colocando o prato com o pão com mortadela cima da mesinha de madeira perto da janela.
– Qual é a sua estação favorita?
– Outono. - eu disse e me sentei numa poltrona marrom de veludo. - Desculpa como é seu nome mesmo?
Ela sorriu e se sentou no sofá bege de frente para mim
– Rosie.
– Ah. - falei.
– Então Amy, porque não começa me falando um pouco de você? Sua idade, o que gosta de fazer, cor favorita... Esse tipo de coisa.
Respirei fundo. Aquilo era irritante.
– Isso é mesmo necessário - perguntei
– Se quiser melhorar, sim.
Suspirei.
– Ta. Meu nome é Amy, tenho 17 anos, eu gosto de fumar, beber, me drogar, ler alguns livros e minha cor favorita é preto.

Rosie sorriu.
– Ótimo Amy! Estamos progredindo.
Sorri e ela sorriu.
– Amy, não estou aqui para te entupir de remédios, não estou aqui para te julgar ou falar que você é louca ou algo do tipo. Só quero te conhecer melhor e ver no que posso te ajudar tudo bem?
Respirei fundo. Ela não era tão mal.
– Sim. - respondi.
– Ótimo. - ela falou e cruzou as pernas. - Amy, conversei com sua mãe ontem, ela esteve aqui, não quis que você a visse, pois achei que isso iria piorar as coisas. Mas, ela esteve aqui e ela estava bem preocupada com você.
Bufei.
– O que foi? Você não acredita que ela se importa com você?
– Ela não se importa.
– Ela é sua mãe.
– Ela não se importa! - repeti.
– Por que não me conta como é a sua relação com a sua mãe? - Rosie sugeriu.
– Nunca nos demos bem, ela nunca foi muito presente, nem mesmo quando Sam e eu éramos pequenos. - dei de ombros.
– Ela brigava com você ou te batia?
– Não. Ela simplesmente não sabia que nós existíamos. Éramos invisíveis para ela. Quando meu pai era vivo, ele cuidava da gente.
Ela assentiu anotando algumas coisas em sua caderneta.
– E o seu pai, como ele era?
Sorri.
– Ele era incrível. - eu disse e algumas lembranças vieram á minha mente. - Ele... Brincava comigo e com o Sam, ele era atencioso e fazia o melhor macarrão com almôndegas no Natal, ele era... - parei de falar e olhei para ela. Dei de ombros e ela assentiu.
– Qual a idade que você tinha quando seu pai morreu?
– Acho que eu ia fazer uns 8 anos. Foi quando minha mãe descobriu que estava grávida.
Rosie anotou mais algumas linhas em sua caderneta preta antes de olhar para mim novamente.
– Você sente falta do seu pai Amy?
Suspirei
– Não sei se sinto falta. Acho que sim, acho que as coisas teriam sido diferentes se ele estivesse vivo.
– E quanto ao namorado da sua mãe? você se dá bem com ele?
Ri.
– O cara é um idiota! Não sei quem é mais idiota ele ou a minha mãe que dá pra ele todo santo dia.
Ela me olhou um pouco surpresa com a liberação de emoções.
– Desculpe. - eu disse.
– Não, tudo bem Amy. Estamos aqui para falar o que pensamos certo?
Não respondi e fiquei encarando-a.
– Amy, depois do que aconteceu com Dom, você foi para um hospital e ficou lá por um ano, correto?
Assenti.
– E... O que aconteceu com Dom? Você pode me contar?
Mordi a língua com força e contei mentalmente até 10 para não explodir.
– Eu... Não gosto de falar nisso.
– Isso vai te ajudar, Amy. Eu preciso saber.
– Você já sabe.
– Mas eu preciso ouvir de você.
Percebi que eu estava arfando, respirando rápida e pesadamente, meus olhos começaram a embaçar. Fechei os olhos e balancei a cabeça. Quando os abri novamente, Rosie estava me olhando pacientemente.
– Tudo bem. - eu disse.
***
Nós ficamos por mais ou menos uma hora conversando sobre aquele assunto que eu sempre evitara, foi... Libertador. Eu expus minha raiva e chorei e foi uma tortura também. Após eu tere recomposto, Rosie disse:
– Amy, você é uma pessoa forte. Você se corta porque se acha fraca, você acha que não é boa o suficiente e se culpa mas, não é culpa sua! Gostaria que você colocasse isso na sua cabeça. Sua mãe te culpou?
– Não. - eu disse. - Apenas no começo.
– Bem, não foi culpa sua. Amy, eu acho que você precisa... Se perdoar, entende? Você se sente sufocada com o que aconteceu e se culpa e é por isso que se sente tão mal. Você se fechar, não vai resolver as coisas.
Não disse nada e continuei olhando para ela.
– Quero te dizer que gostei muito da conversa que tivemos, gostei do modo como você agiu e acho que você está disposta a melhorar. Estou certa disso?
Dei de ombros.
– Você quer melhorar, Amy?
– Eu não quero mais sentir dor. - respondi. - Há tanta dor, sabe?
Ela assentiu a cabeça lentamente.
– Amy, você precisará ficar uns tempos aqui no hospital. Neste tempo eu, você e Sam teremos conversas, algumas vezes juntos e algumas vezes conversarei em particular com cada um de vocês. Eu quero te ajudar, Amy. Eu vou te ajudar. O que você me diz? Acha que consegue não me odiar como odeia todo mundo? - ela perguntou sorrindo.
Sorri e olhei para as cicatrizes vermelhas nos meus pulsos.
–Talvez.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Eu espero que sim. Por favor, críticas ou sugestões são muito bem vindas então please, comentem o que vocês acharam, assim vou saber que não estou escrevendo para fantasminhas.
Espero vocês no próximo capítulo :)



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