As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 4
4- Mulan Mulady Mulorde


Notas iniciais do capítulo

Olá gentes! E aí, curiosos pra saber mais sobre a primeira das doze divassas das casas noturnas? Chegou a hora! Com vocês, a diva, a linda, a maravilhosaaaa... MUUUUULAN!!! Boa leitura, e o resto fica pro final. ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/605371/chapter/4

Querido diário, não sei o que diabos está acontecendo. Eu, antigo herói matador de dragões e demônios vim parar em um exótico lugar em que dançarinas de cabaré são extremamente andróginas e lutam muito bem. São inimigos assustadores, não podem ser subestimados sob hipótese alguma. Não sei até quando terei que explorar esse mundo, mas há de se notar o dialeto exótico que elas usam. Graças à experiência como professor de literatura e ao contato frequente com as gírias dos alunos posso entender algumas coisas. Outras estou aprendendo agora. Espero que seja uma experiência válida e que, como elas dizem, eu possa “lacrar o cu dazinimiga”, ou seja, acabar com meus adversários e superar meus obstáculos. E antes de tudo, descobrir porque diabos me meti nisso.

Sensei

***

E aqui estamos nós novamente, observando Sensei, parado, em frente à “casa das Arianas”. Suspirou antes de entrar com a boneca no ombro (que lhe fez perder um tempo considerável com suas virações intermináveis de esquinas e sua notável falta de direção). Apertou a espada de madeira na mão esquerda e tentou dar um passo a frente. Não conseguiu. Foi impedido por uma mão delicada, mas muito forte.

– Hm, então você veio. Tô sabendo de você com a mestra Sheyoncé , muito top você, viu... Gostou da experiência, gato?

– Não exatamente, mas tive que vir. Preciso visitar a Grande Bicha – disse Sensei.

– Eu sei, eu sei... e por isso você vai ter de passar por mim (e mais 11. Duvido, ninguém aguenta...). E por isso você trouxe essa espada, né, grande, forte, dura... maaaaas... não é essa espada que eu quero. Não permito armas na minha casa.

– Mas eu usei minha espada na Jamil e um babados sem problema nenhum...

– Tô sabendo. Elas piraram. Mas lá não é aqui. Aqui, nas doze casas noturnas, nenhuma de nós permite o uso de armas. Bem, permitimos espadas, mas não desse tipo, se é que você me entende... – disse a bicha, passando a mão no peito de Sensei – Então, eu sugiro que você enfie essa espada no lugar de onde ela saiu, se não quiser que eu me irrite e quebre cada osso que você tiver nesse corpinho delicioso... – continuou. E apesar da voz serena e dos gestos delicados, havia tal força naquilo que Sensei obedeceu antes que pudesse pensar em alguma coisa. Entregou a espada de volta para a bolsa de Kane, que por precaução ou vontade própria pulou para o ombro de Kruba.

– Muito bem... Eu sou Mulan, a dona dessa casa. Bem vindo à casa das Arianas... – disse Mulan, entrando, e pedindo para Sensei acompanhá-lo com um gesto. Ele entrou, os outros dois ficaram. Aos olhos de Sensei, parecia realmente uma casa noturna, havia mesas, um palco, garotas, ou travestis, Sensei não fazia a mínima ideia, enfim, haviam pessoas ali para lhe atender, todas com vestidos curtos e provocantes. E estranhamente, não havia cliente nenhum, o que fazia todas as atendentes encará-lo com olhares fulminantes.

– Como você já deve ter presumido, talvez tenha ouvido falar, e se não, está ouvindo agora, existe uma gigantesca rede de casas noturnas nesse mundo (quem sabe em todos?), chamada COSMUS.

– Hmm.. legal. Mas tá meio vazio, né – disse ele, olhando em volta – É uma temporada com pouca clientela?

– Não, não. É que só atendemos clientes MUUUUITO especiais. Pessoas que tem algum problema. Ajudamos a resolver os seus problemas com nossos... tratamentos especiais, sabe? Por isso nossos serviços não são populares. Muitas pessoas têm problemas e vem até nós, mas preferem manter tudo em segredo. É quase como se a gente protegesse a paz do mundo, mas não pudesse conhecido. Somos quase heroínas! E nem todas são mulheres, ou se assumem, mas isso não importa nem um pouco, somos ma-ra-vi-lho-saaaaaaaaaaAAAAiêh!!!! Ai, me empolguei, desculpa! – disse ela, descendo de uma mesa em que havia subido – Esse distrito é onde se localizam as melhores casas, e foi apelidado de Santuário Vermelho. Todas nós vivemos aqui desde muito pequenas, ou viemos, fomos acolhidas e nunca mais voltamos para onde estávamos antes. Nos sentimos bem aqui.

– Sei... Mas agora que você falou de “Santuário Vermelho”... Eu já ouvi falar desse lugar antes... – disse, pensando alto. Pera. Pera... - E passou um tempo vasculhando a memória até encontrar olhos exóticos e um kimono. – PERA! Sayumi?! Sim, ela disse que havia sido adotada por um lugar assim... Ela Então ela...é ele?!

–Ah, então você conheceu a Sayumi... Hmmm... e se é ela ou ele acho que só ela poderia te responder.

Sensei “ficaria no chão”, se fosse uma delas. Mas preferiu ficar apenas espantado. Mulan continuou.

– Você sabe porque o nome dela é Sayumi?

– Ahn... não...

– “Sa” de safada de Yumi de “yummy”, delícia. Safada e delícia. Ela botou assim meio oriental por causa da aparência dela. Era uma das melhores daqui. Mas quando cresceu arrumou um “patrão” e agora só vive viajando por aí.

– ... Nós estamos falando da mesma pessoa?

– Não sei, mas não acho que Sayumi seja um nome muito comum. Vai que ela acalmou o fogo depois que saiu daqui, né... Todo monstro evolui, se bem que nem sempre da melhor maneira. Uma perda inestimável, ela fazia cada coisa que até as deusas duvidavam!

– Tá... bem, então – ele disse, tentando mudar de assunto antes que sua imagem da gueixa fosse completamente destruída - só para esclarecer, eu poderia dizer que, basicamente... vocês são uma espécie de... “comunidade gay” de dançarinas de boate, acompanhantes... algo do tipo?

– Não exatamente, querido, mas sim, uma enorme comunidade, não só “gay”. Somos bem estritas e restritas, mas basicamente, aceitamos qualquer um que venha até nós. Quem vem até aqui, vem por não ter pra onde ir. Aceitamos os perdidos. Alguns encontram outros caminhos, como a Sayumi, outros, como eu, descobrem que seu caminho é ficar aqui. Somos... uma comunidade de excluídos. Aqui reunimos o que os outros chamam de drags, andróginos, trans, pans, estranhos, aberrações, bizarrices, monstros, anomalias... e os que não querem nem dariam pra se encaixar em rótulo nenhum... – disse ela, em tom sério, olhando Sensei nos olhos. Ele quase se arrependeu de ter perguntado aquilo ao encarar sua expressão de profunda tristeza, mas decidiu ouvi-la atentamente até o fim – aliás, o único rótulo que nos importa é outro, na verdade, mas enfim, é por isso existem muitos gays aqui, sabe? São pessoas que só foram aceitas aqui. Isso não quer dizer que todos os gays façam parte da nossa comunidade, ou que sejam iguais a nós. Nem que todos aqui sejam gays. Existem alguns que são totalmente o oposto do que nós somos, e que nunca seriam iguais a nós, mesmo que também sejam gays. Existem muitos que nem vivem assim em comunidades, e estão certos. Existem outros que não querem nunca viver assim, e também estão certos. Cada um deve viver como e onde achar melhor, e triste é saber que nem todos aprenderam isso ainda. Então, sim, nós somos uma comunidade, e bem gay, e bem glitter, e você vai adorar a visita, claro, mas é bem específica, tá? Não nos misture com os outros. Não é por sermos gays alegres lindos e maravilhosos que necessariamente todos são iguais a nós.

– Entendi... Interessante! Fiquei curioso até em conhecer. Só conhecer – resolveu frisar, por garantia. - Bem, já que vou ter que passar pelas tais doze casas, vou acabar vendo muita coisa... eu acho.

– Se quiser eu te mostro tudinho... É... enfim, mais alguma dúvida?

– Nenhuma, por enquanto.

– Onde eu parei mesmo? Ah sim! Existem doze casas eleitas como as melhores entre as melhores aqui no Santuário, e eu sou a dona da primeira casa, a Casa das Arianas.

– Parece “aranhas”

– Por isso o-

– “Venha cobra”. É, a Sheyoncé contou esse detalhe...

– Foi ela que inventou o slogan. Bem, você precisa passar por todas para visitar a Grande Bicha. Para passar pelas doze casas noturnas você não pode usar nenhum tipo de arma, nem uma espada que seja. Nada além do seu corpo, e da espada que você tem desde que nasceu.

– Ok, mas espero que isso tenha sido metafórico...

– Foi, e não foi, heh. Você vai ter de lutar pra chegar onde quer. Pra passar pelas doze casas noturnas você não vai enfrentar um inimigo que nunca viu na vida. Não são cavaleiros, nem amazonas, nem damas, nem santas. Você vai enfrentar divassas (nós somos muito divas, mas também somos muito devassas, aí já viu né...).

– Bem, é o jeito... Eu já estou aqui mesmo... deve ter algum motivo para isso. Então, que venham as divassas!

– Eu sou Mulan. Mulan Mulady Mulorde, a divassa dourada de Áries. Se quiser passar por aqui, venha com tudo o que tiver. Eu não vou ser tão boazinha quanto antes...

– Então, Mulan, eu tenho muito a aprender contigo, mas também vou te ensinar uma lição. Eu também não serei bonzinho. Afinal, não é por você ser diferente de mim que deixa de ser um inimigo a quem devo derrotar... – Disse Sensei, se colocando em posição de combate.

Não havia ninguém além deles e das atendentes na casa. Não havia barulho. Não havia nada no salão além das mesas e daqueles dois se encarando intensamente, parados, como se quem piscasse primeiro fosse perder a luta. As atendentes ficaram atrás do balcão observando tudo atentamente. Mulan piscou primeiro, ou Sensei achou isso, e investiu de frente. Mulan segurou seu braço e o jogou de volta contra a parede de onde ele veio. Sensei se virou de algum jeito difícil de explicar, e ainda mais difícil de realizar, usou a parede para ganhar impulso e tentou atacar Mulan novamente. Soco, soco, chute, direita, baixo, esquerda, esquerda, de cima para baixo, giro no sentido horário. Todos os golpes foram defendidos ou desviados sem muito esforço. Todos os golpes foram recebidos com a mesma expressão serena. Com aquela expressão Mulan parecia estar lixando as unhas, não lutando.

– Você pode fazer melhor que isso – disse ela, sem parar de desviar ou defender os golpes – Você já fez isso antes, mas esqueceu como. Você esqueceu, não esqueceu? Então eu vou ter de fazer o seu corpo se relembrar com o meu toque sutil...

E com o movimento de um dedo, ou melhor, com o toque de uma unha pintada de roxo, Sensei voou de verdade pelo salão da Casa das Arianas, sem tempo para reagir.

Bateu em várias mesas, na parede, e de cara no chão. Não conseguia entender o que tinha acontecido, nem porque mal tinha forças para levantar.

– Vou te contar algo que talvez te ajude a relembrar. Não se luta apenas com músculos, nervos, sangue. Lutamos com o que há dentro de nossas cabeças e corações. E lutamos com o nosso espírito. E o espírito de uma divassa como eu precisa ser o mais forte do mundo, porque o mundo inteiro parece querer que eu definhe. O mundo inteiro parece querer que eu morra. Mas não vou morrer. Eu tenho algo em mim, que precisa explodir, que precisa brilhar! Dentro de mim, eu tenho um universo que brilha. Eu tenho Gleeter. E quando o Gleeter brilha, meu amor, aí sim você vira uma diva! Poderosa! Gostosa! Seduzente! Diva! Fechosa! Deliciosa! Irresistível! Enfim, top! E você, meu lindo, é igual a mim. Você lembra, não? Rejeição, incompreensão, abuso. Os outros riem por você ser diferente... Te tratam mal. Mal chegam a considerá-lo uma pessoa. “Monstro”, “Você é humano?”, “Que cara louco...”, “Estranho”, “Não chega muito perto não heim...”. Eu posso ouvir. Eu posso ver nos seus olhos. Mas posso ver também que algo dentro de você precisa voltar a brilhar... É hora de brilhar, bofe! Porque você também tem um espírito divo, divasso! E ele precisa ser livre!!!!

– Então essa é a sua lição, Mulan? – disse Sensei, se levantado como podia, ou seja, não muito bem – Então, eu também preciso te dar uma lição: os nossos inimigos podem nos ensinar três coisas. A primeira é o sabor da derrota. Mas só os melhores inimigos podem ensinar a segunda coisa. A segunda coisa é como evoluir a partir da nossa derrota. A terceira coisa, ensinada por inimigos formidáveis, é que essa evolução só depende de si mesmo. Você me derrotou, Mulan, mas acho que eu aprendi o que precisava.

– Então me mostre. Eu quero ver a sua espada. A verdadeira. Seu espírito de combate está queimando. Seus olhos mostram. Sinta esse fogo. Queime... venha!

“Venha, cobra!”

E Sensei foi com tudo. E como se seu braço e suas unhas (que cresceram de repente) fossem uma espada, atacou. Com tudo. Seus olhos ficaram prateados. Os de Mulan, arregalados. Ela tinha sido arrastada para trás tentando aparar o golpe. Sorriu satisfeita quando conseguiu parar e disse.

– Sim, era dessa espada que eu estava falando... a espada do seu espírito. Sim, você tem Gleeter, gato, você pode brilhar... Mas agora é hora de você descansar um pouco. A sua jornada vai ser longa... e dura. Mais longa e dura do que você e eu podemos imaginar... – disse ela, encostando a testa à de Sensei.

Após um baque surdo, o silêncio retornou à Casa das Arianas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vamos às tradicionais notinhas:

— Sayumi é uma personagem inspirada em Nitta Sayuri, protagonista do romance/filme Memórias de uma Gueixa. Infelizmente ela só é citada nas Divassas, aparece mais em outra história que tenho, chamada Memórias de um Aprendiz. Ou seja, é alguém com quem supostamente o Sensei se encontrou no "outro mundo" lá, seja isso invenção da cabeça dele ou não. Preciso escrever mais sobre a vida dela um dia. Um dia, quem sabe...

— Mulan Mulady Mulorde é o Mu, claro, mais a Mulan da disney(?) e a Lorde, nossa referência pop. Não sei se fui muito feliz nessa referência, já que a Lorde é bem trevosa, ao contrário da nossa Mulan cheia dos glitter, sem falar na fama de desbocada que a Lorde tem, enquanto o Mu é calminho. Por outro lado, Mulan e Lorde tem algo impulsivo bem típico de Áries. Enfim, não pude evitar o trocadilho com "Milorde/Milady", foi mais forte que eu. Fica aí uma possível outra faceta do Mu. Pensem algo como..."e se desse #aloka no Mu"? Daria a Mulan. Ela é umas das que tem mais destaque na história, eu acho, então, espero que ela tenha agradado! :3

— A motivo de curiosidade, o signo da Lorde é escorpião. Será que a Mulan adquiriu algum ascendente ou lua em escorpião e por isso é desse jeito? Será que ela tem alguma característica de se defender com o rabo? Mistééérioo~

— A ideia é também de parodiar não só os cavaleiros, como também o nome das casas e dos golpes, só que em alguns casos ficou muito difícil. Foi o caso das Arianas. Talvez um dia eu consiga trocar "Arianas" por algo mais genial (aceito sugestões), ou mentir e dizer que faz referência àquela coisa da raça Ariana, ou à Ariana Grande. Sei lá, vai que cola? sahsuahsuahsuahsua mas por enquanto é aquilo da aranha mesmo (venha cobrona, venha...)


Enfim gentes, por enquanto é só. Segunda que vem tem mais. O próximo capítulo ainda vai ser com a Mulan. Não vai ter tanta ação, mas vai ser hilário. Muuuuito hilário

(SPOILER: vai ter um Sensei só de lençol, pra quem curte um fanservice maroto aí /SPOILER)

Até segunda que vem, e muito obrigado por continuarem lendo/acompanhando! Qualquer comentário ou dúvida, fique à vontade pra falar! A casa é to-di-nha sua ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Divassas do Zodíaco" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.