As Divassas do Zodíaco escrita por Dija Darkdija


Capítulo 2
2- Horizonte 37


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores e leitoras! Sejam bem vindos a mais um capítulo da épica história do nosso Sensei maluco em um lugar estranho até para os padrões da loucura. Espero que gostem do capítulo da semana. Apresento-lhes finalmente o misterioso "negão", que deixa mais perguntas que esclarecimentos na nossa história. Quem é? O que faz? Hoje, no globo de luzes. Boa leitura!



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Raitun e Kane saíram andando pelas ruas escuras daquele lugar, com a pequena garota guiando o professor. Foram horas (ou ao menos a sensação foi essa) dela dizendo “por ali, Raitun-do!”, enquanto apontava pra este ou aquele lado com o guarda chuva, que emitia uma luz parecida com a de uma poderosa lanterna. Depois de tanto andar, achar que não estava indo pra canto nenhum e que ela era realmente algum tipo de minitroll das sombras, Sensei parou e perguntou revoltado:

– Ok, quando vamos chegar... nesse tal lugar onde você tem que me levar?

– Já estamos chegando.

– Você tem certeza?

– Uhum! Por ali, Raitun-do! – disse ela, e apontou pra direita com sua lanterna-guarda-chuva.

Sensei entrou em um beco apertado e foi parar em outra rua deserta à sua frente havia uma construção simples. A placa dizia: HORIZONTE 37.

– Chegamos! Chegamos! Viva! Estamos seguros aqui! Yey! – disse Kane, batendo palminhas frenéticas.

– Como assim “estamos seguros aqui?” E uau, você é realmente elétrica pra alguém do seu tamanho. Ah, mas você é um poste, então tem lógica em ser cheia de eletricidade...

– Não sou um poste!

E em vez de responder com outra provocação, resolveu entrar no lugar. Era um bar. Nem muito sofisticado, nem muito pobre, porém com uma aura esquisita e um cheiro familiar que ele não sentia há muito, muuuito tempo. Viu algumas silhuetas muito diferentes entre si em vários cantos do bar, e, na dúvida, resolveu se dirigir ao balcão.

– Olá... – respondeu o barman em uma voz sedutora – vocês não vem sempre por aqui... O que vão querer? E se me permitem o atrevimento que eu adoro ter, o que vieram fazer aqui?

– Leite. – Respondeu Sensei

– E eu vim trazê-lo até o negão! É minha missão. – respondeu a garotinha.

– Hmmm... então você gosta de leite, e você guiou ele até aqui por que o negão mandou... fecharam de cadeado heim... Já amo/sou vocês! Você não tinha vindo aqui ainda, mas pode voltar quando quiser, Raitun.

– Raitun-do! Repetiu Kane

– Ahn... você cometeu algum tipo de engano e... pera, como sabe quem sou eu? Quem diabos é você?

– Ah, meu filho, a gente sabe de coisas aqui que você nem imagina! E eu sou Stradomus. Ah, mas pode me chamar de Strass, tá? Peter Strass...o prazer é realmente todo meu, sabe... adoro... – disse o barman, se inclinando pra frente do balcão. Raitun não gostou muito disso, mas teve a oportunidade de observar melhor o rosto do barman. Por baixo da maquiagem pesada, do batom e dos cabelos pintados e rebeldes, havia algo que lembrava um rosto conhecido.

– Pera, você é aquele Str-

– Não, não não... eu sou o irmão dele. A família Stradomus é uma família de mordomos. Então enquanto meu irmão gêmeo caretão seguiu o negócio de família eu abri minhas asas. Precisava voar, sabe...

– Sei... – disse ele, tomando um gole do leite (com achocolatado por cortesia da casa, ou seja, do barman) que acabara de ser servido pra engolir junto aquela história toda. Primeiro um poste-garota, agora um barman pansexual revoltado com a família. “Ao menos em Montris as coisas tinham uma lógica própria, porque não vejo nenhuma aqui até agora”, pensou.

– Ei ei, e o negão? Como ele tá? Tá tudo bem com ele? Eu tô com saudade, e eu cumpri minha missão, e eu quero minha recompensa! –falou quase de uma vez Kane, o que provocou uma risada alta e debochada em Stradomus.

– Isso é que é vontade de ver o negão, heim, fia? Vou lá chamar ele. Já volto, tuntun!

Apesar de não estar gostando nem um pouco do rumo das coisas, Raitun, ou melhor, Sensei parou para observar Kane e o resto do bar. Apesar de ser pequena, era grande o suficiente para que Sensei observar atentamente sua aparência e o que usava. E aquilo era algo que chamava atenção. Era como se fosse uma boneca de porcelana em um visual lolita: tinha uns 30 centímetros de altura, pele muito branca e cabelos castanho-claro, lisos e retos. Se fosse uma pessoa do tamanho de Sensei, ele diria que era uma garota alta e esguia de olhos curiosos. Um verde, outro azul claro. Usava um vestidinho esvoaçante de renda branca, em camadas, na altura dos joelhos, cheio de babados e laços. No pescoço, um colar dourado com algo que parecia uma micro bússola. Por cima do vestido, um bolerinho rosa claro com mangas bufantes. Nos pés, uma sapatilha de verniz preta com lacinhos. Usava ainda um chapeuzinho preto na lateral da cabeça com outro lacinho e uma bolsinha de algodão com estampa de cerejeira e um lacinho no fecho. Todos os lacinhos eram rosa. Um detalhe peculiar que ele já tinha percebido era seu guarda-chuva, ainda sobre o ombro da pequena garota. Emitia luz própria, como a de uma lamparina, iluminando a garota e o que estivesse em volta. Porém o que estava em volta não queria ser iluminado, muitas das vezes. Haviam silhuetas de todos os tipos nos cantos escuros do bar. Algumas pareciam criaturas conhecidas. Outras, sabe-se lá de que tipo eram. E o único ali no balcão era o Sensei Raitun. Pelo menos até o famoso “negão” aparecer. E ele apareceu com tudo.

Era realmente “ão”. Tinha uns dois metros de altura, e um sorriso enorme em um dos cantos da boca. No outro, um charuto cubano. Vestia-se completamente de preto: terno, camisa, gravata, calça, sapatos. Tinha a cabeça e a barba raspados e veio devagar o suficiente para o nosso Sensei notar todos esses detalhes. Tinha uma aura de mistério em volta de si, e um olhar misterioso voltado pra Sensei. Veio diretamente em sua direção.

– As crônicas de nossa história – disse, em uma voz grave, profunda e poderosa – finalmente podem começar!

– Se você me disser quem é você, e por que me chamou até aqui, talvez...

– Haddock James, Big James, Big Jay, J.,…

– Negão! Gritou Kane, pulando pro ombro dele e beijando-lhe o rosto.

– É assim que me chamam. Use o que preferir, e seja bem vindo ao Horizonte 37, Omni Raitun – disse James, estendendo a mão.

– Perdoe-me a curiosidade, mas... quem és tu? És de luz, de trevas? Algum tipo de demônio que quer me propor um pacto? Por que sabes meu nome? E por que fui trazido até aqui por um poste?

– Ei, não sou um poste!

– Não é pra menos que você tenha sido um aprendiz lendário. Sempre pergunta sobre tudo. Se sou de luz ou trevas, não sei, mas sim, eu lhe trouxe até aqui. Para um pacto? Talvez... – e olhando em volta para os olhares que começaram a notar a cena, disse – Talvez seria melhor conversamos no meu escritório, não?

– Acho que eu preciso pegar a katana mais vezes antes de sair de casa... – resmungou o Sensei, acompanhando o negão, sendo acompanhado pelo poste. Ou melhor dizendo, pela pequena Lolita.

O escritório era espaçoso e luxuoso em relação ao resto do lugar. Um sofá de couro negro encostado na parede. Do outro lado, uma enorme mesa de escritório com alguns papéis, uma estante, e, no canto da sala, uma pessoa.

– Seja bem vindo à minha cova.

– Você está morto?

– Um bom administrador precisar parecer que está e não incomodar os clientes. A não ser que os clientes estejam incomodando outros clientes...

Sensei olhou novamente o escritório, a pessoa no canto que lhe encarava, e James, que sinalizou para que se sentasse.

– Reformulando: eu preciso levar a katana e a raposa mais vezes quando eu sair de casa. – disse Sensei, enquanto se acomodava no sofá e olhava atentamente a figura em pé no canto da parede.

Se encararam. Continuaram se encarando. Pela visão periférica, Sensei percebeu que era negro, tinha um biotipo mais esguio que o seu, e usava um casaco vermelho, um chapéu também vermelho e óculos de lentes avermelhadas. Ficou tentado, mas não desviou o olhar para o que pareciam duas pistolas apontadas pra sua cabeça.

– Ele é o seu cão de guarda? Então eu realmente deveria ter trazido mesmo minha raposa.

– Não seria uma boa ideia. Ele é mais como um lobo faminto... – respondeu James, sempre em seu tom misterioso.

– Um motivo a mais pelo qual eu deveria ter trazido a raposa. Ela é do tipo que gosta de mostrar aos primos metidos que eles não são tudo o que acham que são dentro da família. Foi o que ela fez com o Fenrir, sabe, e olha que ele parecia o bicho de estimação do Forgoth, o senhor das trevas esquecidas. De qualquer forma, deveria ter trazido a katana. Ela resolveria o problema.

– Hmph, e você acha mesmo que poderia fazer algo com uma katana diante das minhas meninas? – respondeu o outro, alisando de forma quase doentia uma das pistolas – Espadachins não são nada pra mim.

– Acho que você não encontrou nenhum espadachim decente ainda, se eles perderam pros seus estilingues de ferro. As minhas meninas cortam dragões, balas são coisa de criança.

E o clima foi interrompido por uma gargalhada.

– O Kruba – e tossiu – O Kruba – e tossiu novamente, de tanto rir. Já recomposto, disse: - Este é Kruba Jenkins, mais conhecido como Headshot Kruba, ou apenas O Kruba. É o melhor dos meus coveiros. Mas, se suas meninas realmente cortaram dragões como contam as histórias, ele ganhou um péssimo concorrente, hein! – e riu novamente, de um jeito mais contido e misterioso – E você é mais engraçado que ele, de fato! Faria um grande sucesso no ramo da arte, ou da comédia, talvez no circo...

“Eu fui chamado de palhaço? Sou um palhaço então, não um professor?”

– Enfim... – deu uma pausa pra tragar o charuto e soltar uma cortina de fumaça pelo ambiente – Enfim, temo que a situação seja bem mais séria do que as piadas de vocês dois. Pelo menos vocês se deram bem, e isso vai nos ajudar muito.

“Onde??” Pensaram os dois.

– Não que isso tenha alguma relevância para mim, mas tenho que lhe dizer: seu destino inevitável está nas suas mãos. Sua existência, e talvez até muitas outras... Você é realmente o homem certo para o trabalho... – parou para outro trago – Sensei é como te chamam agora, não é? E você ensina sobre histórias e lendas, não? E gosta de viajar, pelo que sei. Conhecer coisas novas, entrar em aventuras sem rumo definido... mas acima de tudo, você gosta de uma boa história? Uma boa o suficiente para se tornar uma lenda?

Cansado dos rodeios misteriosos e da sua mente tagarelando teorias a cada palavra dita pelo anfitrião, Sensei respondeu: - Sim... esse é meu trabalho. Sim, gosto de viajar em vários sentidos... mas onde você quer chegar? Qual a “situação séria” para a qual eu “fui escolhido”? Por que eu?

– Qual é a graça de saber tudo antecipadamente? O grande charme de uma boa história é a virada surpreendente dos eventos. Por que estragar isso? Eu poderia te enviar a lugares que você nunca viu, a enfrentar situações totalmente inesperadas... você iria? Você sobreviveria? Me pergunto até onde você suportaria... – respondeu James, conseguindo ficar cada vez mais misterioso, se isso era possível.

– ... e por que diabos eu deveria ir, em primeiro lugar?

– Por que eu preciso de uma história... uma história que possa se tornar uma lenda. Muita coisa depende disso.

– Que coisas?

– “Informação confidencial”, como você costumava dizer. Você se atreveria?

– Eu me atrevi a ir para outro mundo, James. Eu me atrevo a ir para uma sala de aula todos os dias, James. Existe atrevimento maior que esse? E outra: você quer que eu faça algo por você sem ao menos me dizer seus motivos. É como se me chamasse pra sair mas não me desse nem um chocolate, pelo menos. Isso é meio forçado, sabia? – disse Sensei, derrubando o sorriso misterioso de James pela primeira vez durante aquela conversa. – Apesar disso, sinto que devo aceitar a sua oferta. Uma história, é? Uma boa história não depende de quais personagens são utilizados... e sim do que esses personagens fazem. Depende do jeito com que perfomam suas ações. Ainda é preciso fazer com que essas ações sejam entrelaçadas e contadas do jeito certo. Isso sim cria uma boa história. Trarei uma boa história, uma história que se tornará uma lenda, e a trarei vivo o suficiente para contá-la a você antes que você tire um cochilo, ou para rirmos e conversarmos juntos, não sei...depende de qual história eu vou encontrar e coletar... Então, honrada criatura que não é mago, troll ou algo do tipo, ainda preciso esperar mais alguma coisa? Talvez...entender por que o seu cão de guarda continua rosnando pra mim, talvez... escutar alguma recomendação final... é...talvez... talvez...não. Não... Ah, mais uma pergunta. Você vai ficar esperando a minha história aqui nessa cova rodeada de zumbis bêbados? – provocou, franzindo a testa e levantando a sobrancelha, enquanto encarava o anfitrião por cima dos óculos.

James encarou o professor por alguns instantes, deu mais algumas baforadas, e por fim disse, com um sorriso discreto:

– Você vai junto com Aikane, ela tem o que você precisa, e certamente vai iluminar seu caminho. O Kruba também vai com você. Me pergunto quão interessante é a história que você poderia me trazer...

– Também estou curioso pra saber. Então, em vez da minha katana e da minha raposa terei que carregar um poste e-

– Eu não sou um poste! – ouviu, em tom meloso

– Um cão de guarda que rosna pra mim...

Ouviu uma arma sendo engatilhada.

– Que ótimo. Presumo que devo ir agora, correto? – completou ele.

– Seria a hora perfeita. – Respondeu o negão.

– Até mais. Nos veremos em breve, “patrão”.

– ...será? – E ouviu outra gargalhada ao fechar a porta.

Ainda tentando absorver tudo aquilo, Sensei se dirigia a saída (seguido por Kruba), quando ouviu o barman chamá-lo.

– Psiu... vem cá, lindinho, tenho uma coisinha pra você!

– Ahn... pra mim?

– Sim, sim, um babado fortíssimo! Tem uma pessoa que quer ver você. Dá uma passadinha na Gleetering CherryPie e procura a Lady Unique, ok? – disse Strass, finalizando com uma piscadinha.

– Onde?

– Ela sabe onde é – apontou pra boneca. – Vai lá, vai ser um arraso. Vai que ela tenha exatamente o que você precisa, seja lá o que for?

– ... Ok... – “por algum motivo não gostei disso”, pensou ele, depois pediu direções à boneca.


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Notas finais do capítulo

Antes de qualquer coisa, alguns esclarecimentos:

— Fãs de CDZ, não me batam ainda. As nossas divas douradas vão começar a aparecer a partir do próximo capítulo. Demorou porque elas estavam se produzindo só pra vocês. ;)
— Horizonte 37, o Negão e a Kane foram inspirados em uma banda chamada Sound Horizon.
— Aikane/Kane Villumna é uma mistura de personagens da mitologia da banda e uma amiga minha (uma lolita linda de quase 2m de altura, pessoas. É muito inacreditável ver a moça).
— Kruba é inspirado em um colega de escola que tinha esse apelido estranho misturado com o ... Alucard de Hellsing!? Boa pergunta. Eu sempre tive na minha cabeça que ele seria um atirador, e aí quando resolvi finalmente colocá-lo na história essa imagem dele me veio na cabeça. Mas também, como não ser influenciado pelo Alucard depois de assistir as todas OVAs e ler o mangá? kkkkk
— O James (vulgo conhecido por negão) é inspirado em Ike Nelson, uns dos narradores da banda.
— O barman é um personagem original.

É isso, gentes. Gostaram do capítulo? Bem cheio dos duplos sentidos, né? Eu quase não terminava de escrever/revisar, porque ficava rindo das trocentas insinuações, rsrs. Tem algo em especial a comentar ou que acha que ficou ambíguo/duvidoso/mal explicado? Podem comentar ou mandar MP que eu tento responder/consertar/explicar. De resto, não percam o próximo capítulo. Tem muito mais de onde esse veio (e finalmente teremos uma divassa na pista, digo, na história)!

Fiquem de olho, muito obrigado pelas leituras e tudo mais, e até semana que vem! :3



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