Acordo em minha cama no dormitório, mas não me lembro como cheguei aqui. Tento me levantar, mas a dor cruciante em minha cabeça me diz que é melhor ficar sentada. O que aconteceu noite passada?

Acho que pensei alto, pois Caroline está vindo em minha direção, rindo e trazendo um copo que acho ser de água.

– Você se divertiu. - Ela me entrega o copo e um comprimido, que tomo sem pensar duas vezes.

– A última coisa que lembro é do nosso brinde. É como se eu tivesse sido hipnotizada a esquecer tudo depois daquilo. Ninguém me hipnotizou, né?

Caroline gargalha antes de continuar.

– Não, você se sentiu tonta, então descemos você da mesa e te sentamos na cadeira. Você disse que estava melhor, mas cortamos suas bebidas. Ficamos conversando e jogando alguns jogos até você dormir na mesa. Matt te trouxe até aqui.

Lembro vagamente das cenas que Caroline me descreveu, mas fica difícil me lembrar com toda essa dor. É como se algo estivesse corroendo meu cérebro. Ou como se alguém estivesse martelando nos meus neurônios.

– Eu não me lembrava de ressacas doerem tanto. - Digo com as mãos na cabeça, na intenção de melhorar de alguma forma.

– Esse remédio é bom, daqui a pouco está novinha em folha, prometo. Tire o dia pra descansar, amanhã começa nossas aulas e você precisa estar bem. - Caroline dá um beijo na minha cabeça e me obriga a deitar, me cobrindo.

Tentando ignorar a dor, me encosto em meu travesseiro e tento repassar a noite mais uma vez. Antes de chegar na parte dos brindes, eu durmo.

*

Acordo com murmúrios femininos, sem conseguir entender uma só palavra. Me sento e tento me concentrar nas palavras, mas elas param ao me ver acordada.

– Ainda bem, estávamos discutindo sobre quem e como iria te acordar. - Bonnie diz, sentando em minha cama.

– Que horas são? - Pergunto ainda grogue, olhando ao redor procurando um relógio.

– Sete e meia. Sem querer te pressionar, mas sua primeira aula começa daqui meia hora.

Caroline, isso me pressionou. Lembrando-me das dores do dia passado, decido testar minha capacidade motora antes de sair correndo pelo quarto. Nada acontece, então corro até minha gaveta, pego uma calça jeans e a primeira camisa que vejo e me tranco no banheiro. As meninas olharam todo meu percurso, acho que garantindo que eu não fosse cair de cara no chão. Enquanto me arrumo, tento mais uma vez repassar a noite passada na cabeça. Paro na memória do garoto encostado na coluna. Será que ele viu o que aconteceu comigo lá? Mas pensando bem, acho que não vi ele depois de entrar na casa. Acho que ele não ficou na festa. Na verdade, eu espero que não. Ele parecia valer a pena e não quero que ele me veja daquele jeito.

Meus pensamentos são interrompidos pelas batidas na porta, me apressando.

– Estou saindo. - O que é verdade. Estou pronta no meio do banheiro com meus pensamentos. Giro a maçaneta e saio, já procurando minha bolsa.

– Aqui. - Diz Caroline, segurando minha bolsa. - Vamos logo, Elena. - Continua, impaciente. Bonnie segura a porta, pronta para fechá-la. Rebekah - que eu não tinha reparado até agora - está no corredor, batendo a bota no chão.

Pego minha bolsa e descemos. Seguimos até o prédio vizinho, onde ocorrem as aulas. Ando pelo campus olhando ao redor, procurando o garoto. Caroline e Rebekah fazem o mesmo. Caroline provavelmente procura Jesse, o moreno anfitrião da festa. Já Rebekah eu não faço a mínima ideia.

Bonnie devia estar pensando o mesmo que eu, pois pergunta para Rebekah. Ela fica calada por alguns instantes, até decidir desabafar.

– Ta. Desde o primeiro dia tenho estado de olho naquele amigo de vocês, o loirinho, Matt - Matt? Meu ex-namorado Matt? - Mas como eu estava enrolada com um garoto, não fiz nada. Então durante a festa, depois que deixei vocês com Jesse... por acaso, de nada Caroline. - Caroline sorri, demonstrando sua gratidão - Continuando, durante a festa, terminei com ele. Só que depois não achei mais vocês. Agora estou pronta pra fazer alguma coisa, nada me impede de ir conversar com ele. - Embora esteja claro que somos apenas amigos, ainda é estranho ver outra garota interessada nele. As meninas devem ter percebido minha surpresa, pois estão olhando pra mim, esperando minhas palavras.

– Nós podemos ajudar, se quiser. - Matt não é minha propriedade, estou disposta a ajudar ele a arrumar alguém legal, como uma boa amiga faria.

Rebekah sorri e balança a cabeça afirmando. Chegamos ao prédio das aulas. Sou a única delas cursando medicina, portanto minhas aulas são diferentes das delas. Vou para a escada do lado esquerdo, e elas se despedem indo pra escada do lado direito.

Ter minha primeira aula sozinha me deixa nervosa, não tinha parado para pensar nisso até agora. Estou acostumada a ter o apoio delas o tempo todo. Mas se eu quiser ser uma médica, preciso fazer isso sozinha. Respiro fundo e entro na sala indicada no meu papel - Anatomia. Sinto como se tivesse várias borboletas fazendo uma festa no meu estômago, e respiro fundo algumas vezes, torcendo pra não vomitar. Sento em uma cadeira no meio da sala, evitando olhar para os lados, não quero que me vejam nervosa.

– Está nervosa? - Parece que meu plano não deu muito certo. Viro na direção do som, rezando pra não ser comigo. Ao ver quem é, fico parada alguns minutos tentando formular uma frase que faça sentido. Ver o garoto da festa me deixou sem reação. Ele ri da minha falta de jeito, o que me faz dizer alguma coisa.

– Muito. - Eu sou uma idiota. Meia hora pensando em algo, e sai "muito"? Qual meu problema?

– Sou Liam Davis, prazer. - Ele estica sua mão direita em minha direção.

– Elena Gilbert. - Gaguejo um pouco ao dizer meu nome, e o ódio de mim mesma aumenta. Estico meu braço, cumprimentando Liam.

Na primeira vez que o vi, ele estava encostado em uma coluna, despreocupado, natural. Agora estava rígido em uma cadeira ao meu lado. Ai que cai minha ficha: ele está na minha turma, vai estudar o ano todo comigo, céus! Fecho os olhos e tento limpar meus pensamentos. Nessa hora entra uma professora - aparentemente com uns 40 anos -, e seu falatório me faz esquecer Liam. Sei que, para me formar, não posso ficar prestando atenção no garoto lindo sentado ao meu lado.

A aula acaba, e antes que eu consiga me levantar da cadeira Liam segura meu braço a fim de chamar minha atenção para ele.

– O que acha de nos encontrarmos lá no campus mais tarde? Para conversarmos. - O tempo todo um sorriso habita em seu rosto, me deixando sem reação - novamente.

– Hm. - Enrolo. Talvez ele ache que minha falta de resposta seja porque estou pensando. - Pode ser. - Boa, Elena.

– Ótimo, te vejo mais tarde. - Ele se despede me dando um beijo no rosto. E adivinha minha reação. EXATO! Nenhuma. Ele precisa parar de causar isso em mim. Sério.