League of Legends: As Crônicas de Valoran 2ª Temp. escrita por Christoph King


Capítulo 4
Capítulo 3: Noxus


Notas iniciais do capítulo

Swain começa a escrever um diário, enquanto faz descobertas sobre os aposentos de Boram Darkwill; Katarina se mostra um tanto agressiva no conselho, irritando Elise; Cassiopeia recebe uma proposta; Draven, o irmão de Darius volta à Noxus com uma descoberta.



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Capítulo 3:

Noxus

Jericho Swain sempre evitou contar sobre seu passado a qualquer tipo de pessoa. Talvez, a que soubesse mais sobre ele fosse LeBlanc, e mais ninguém. Durante os eventos de Kalamandra, Jarvan III disse que conhecera a mãe de Swain melhor do que ninguém e o mesmo respondeu que ela morrera após o seu parto. Foi mentira.

Swain nunca contou como a sua mãe, Beatrice Swain, realmente morreu. Isso é uma história difícil e complicada de se entender para descrentes, por isso é algo guardado a sete chaves.

Jericho começou a sua jornada a partir do momento em que entrou na sala daquele médico em Noxus, com a perna parcialmente destruída. Após isso encontrou-se com LeBlanc, mas e antes? E antes de tudo?

A verdade só pode ser contada por uma pessoa: o próprio Jericho.

[...]

Ando pela biblioteca de Boram com um ímpeto e curiosidade incessante. São muitas as histórias e os diários que ele escondeu. Seriam todos de uma riqueza incrível para a biblioteca oficial do castelo, mas ele preferiu deixar todos escondidos. Eu, como não sei do verdadeiro conteúdo de seus livros, prefiro deixá-los guardados até ler todos.

Desde os eventos em Kalamandra eu ando pensando: estou há quase seis meses no cargo, Noxus vêm crescendo, mas minhas memórias não estão sendo tão bem aproveitadas. Boram sempre escreveu diários, por que não eu? Eu violei os primeiros, que contavam a vida do jovem Darkwill de dezessete anos. Li sobre suas inseguranças, sobre seu primeiro amor, sobre seu primeiro homicídio... Tudo muito fofo.

Talvez eu devesse escrever um diário, pensei. E aqui estou eu, com a pena tingida em mãos, o papel imposto sobre a mesa, tudo que preciso para registrar minhas mais sombrias memórias. Inicialmente devo lhe avisar que caso esteja lendo este diário, talvez eu esteja morto. Logo, entregue-o ao atual Alto Comandante, e caso você for ele, siga meus passos, pois daqui há alguns anos, sei que levarei Noxus à glória.

[...]

Para começar minha história devo lhe avisar que ela não é a coisa mais bonita que pode se ler, mas vamos lá.

Nasci numa família relativamente pobre na periferia de Noxus, no lado mais pobre, não necessariamente o Submundo. Minha mãe era a moça mais linda que já conheci. Ela tinha longos e lisos cabelos negros, era humilde e uma ótima dona de casa. Ela dizia que eu deveria me tornar um bom e honrado homem, mesmo nascendo num lugar como Noxus, que eu devia manter a minha sabedoria e inteligência. Foi o que fiz. Sempre fui o melhor na pequena escola do meu bairro, mas também sempre sofri com alguns invejosos que não gostavam de mim por minha extrema inteligência. Por sorte conheci dois garotos que mudaram o jogo a meu favor: Darius e Draven. Os dois eram irmãos, sendo o primeiro mais velho. Eles eram órfãos e moravam em algum lugar, e só estudavam pois Darius trabalhava numa vendinha para conseguir comida e o dono do lugar o “adotou”. Mesmo tendo adotados, ele não os deixava morar em sua casa. Talvez não quisesse crianças pobres em sua casa, nunca se sabe.

Fiz amizade com os dois garotos, e de vez em quando eu os levava para brincar em casa. Mesmo humildes, mamãe, minha mãe dava comida a eles quando o homem não dava... Mas meu padrasto não gostava nada disso. Após eu nascer minha mãe dissera que teve de arranjar um outro pai para mim, visando que o meu a abandonara meses antes. O “melhor” que ela pôde arranjar foi o homem mais ridículo e inescrupuloso do reino. Não irei citar seu nome e nem dizer o que ele fazia de tão ruim.

Eu amava a minha mãe, e isso era o necessário para mim... Até o dia em que ela morreu. Na verdade, ela não morreu, mas sim foi morta. Certo dia a guerra entre Demacia e Noxus culminou por perto de onde eu vivia e minha mãe foi convocada para a guerra. Mal sabia eu que ela já fora uma guerreira, mas que se aposentara por minha causa.

Corri para a zona de guerra, me esquivando de todos os oficiais que tentavam me parar. Eu sabia que minha mãe morreria em questão de tempo e não poderia fazer nada além de tentar impedir.

Corri, corri, corri, até chegar ao campo da guerra. Vi muitos dos meus serem mortos, ao tempo que vi demacianos derrotados. Procurava minha mãe enquanto me escondia e me esquivava de qualquer um que tentasse me matar. Chegou um momento em que um guerreiro demaciano avançou em minha direção, me esquivei e, em um momento de pavor, rezei ao Deus-corvo pedindo ajuda.

Foi quando a ajuda veio. Uma torrente de corvos desceu do céu, atacando o homem, perfurando sua armadura como se fosse papel. Ele gemia de dor enquanto seu sangue escorria para o campo. Sorri, me deleitando com aquela cena. Os corvos pareciam obedecer às minhas ordens e, fiz uma verdadeira chacina com eles.

Foi quando vi minha mãe. Ela estava irreconhecível naquela armadura, mas eu sabia que era ela. Sabia que ela estava por baixo de todo aquele ferro, duelando contra um homem com uma armadura de ouro... O príncipe Jarvan III. Quando ele golpeou-a no peito, matando-a, eu gritei. Gritei tão alto que ele ouviu e, ao olhar para mim, não fez o mesmo que os outros. Não fugiu, não avançou em mim, apenas me encarou, como se me lesse. Voltou os olhos para a mulher que matara e pareceu se desesperar.

Pensei que meus corvos estariam ali para me ajudar, mas somente um permaneceu. Uma, na verdade. Depois daquilo eu fui embora, correndo para longe daquele lugar. Não queria saber sobre o resultado da guerra e nem nada. Queria minha mãe. Mas agora ela estava morta, e tudo que me havia restado era um corvo carrancudo que não largava do meu pé.

Acredito que ao morrer, a memória de minha mãe tenha reencarnado naquele corvo, então o nomeei com o nome do meio dela. Arianne Beatrice Swain.

[...]

Não faço de meu reinado algo entediante como minha história de vida, de jeito nenhum. A parte boa está chegando, mas antes tenho coisas a contar.

Bom, primeiramente, após assumir o trono de Noxus fiz muitas modificações e planos. Este ano mal começou e já tenho ele na palma da mão, literalmente. LeBlanc deixou tudo em minhas mãos. Ela já não é mais a líder dessa cruzada, agora sou eu. Espero superá-la e me tornar o patrono desse Rosa.

Digno do grão-general, tenho todos os cômodos do antigo em minha posse. Penso que é infeliz o fato de que Keiran tenha falhado em aproveitar a longevidade do pai, não que tivesse conseguido aproveitar o alto escalão de qualquer forma caso eu não o tivesse projetado. Os aposentos do Grão-General guardam muitos segredos. Meus segredos dessa vez.

Surreal é a quantidade de coisas inexploradas por minha pessoa nestes locais secretos, digamos.

O velho Darkwill era muito bem versada na arte da necromancia. Me levará décadas para vasculhar sua biblioteca de grimórios, mas esse será o tempo que posso roubar – assim como ele o fez.

Passei várias noites vasculhando todos os livros, subindo escadas e indo a locais diferentes naquela biblioteca. Dormia pouco, mas era o suficiente. Durante seções no trono enquanto resolvia casos que os plebeus me traziam, eu lia. Pedi que fizessem um suporte especial para meus livros no trono.

Os meses seguintes à Kalamandra se resumiam à leitura. Fico feliz em ver que minhas resoluções de casos tenham sido melhores que a do antigo líder. O povo está começando a gostar de mim, finalmente avaliando minha competência.

Ao mesmo tempo era bajulado pelos membros da Rosa que voltaram depois de tantos anos. Emília, porém, parecia analisar como eu me saía. Katarina não parecia muito feliz em seu novo cargo de conselheira do grão-general. Com seu pai desaparecido ela necessitava ocupar o cargo. Recebi bastantes respostas ofensivas dela, algo que não me agradou em nada.

– O que acha que devemos fazer quanto a isso, Katarina? – perguntei a ela.

Katarina sorriu sarcasticamente.

– Pode repetir? Não sou fluente em armações.

Thorn Zyra riu. Ela parecia se divertir com a garota, apenas rindo do que ela fazia. Eu odiava aquilo, claro, pois dava moral para ela. Meu avô me dizia constantemente que ela queria me provocar, mas eu, sinceramente não estava muito afim de ouvir dele.

– O grão-general estava contando sobre o plano contra Demacia – repetiu LeBlanc. – Estamos planejando revelar o lado mais podre da cidade pelas mãos de Louis Laurent.

Katarina inclinou a cabeça.

– Ah, aquele metido a besta do irmão mais novo da Fiora – colocou os pés na mesa, algo que perturbou Petal, que era um tanto quanto perfeccionista e certinho. – Aquele cara é um canalha. Já me propôs coisas uma vez. Também é pervertido.

– Pois bem – complementou Elise Blackwidow, claramente me bajulando. – Se não prestou atenção, jovem Du Couteau, nosso general nos contou sobre o bordel que ele abriu em Demacia. O rei está tão atordoado com o sumiço do filho que se cega para o mal que se enraíza naquele local.

Vladimir, o cara que mais dava medo em Katarina sorriu para ela. Não era de menos, aquele cara dava medo em qualquer um. Era pálido em contraste com a cor de seu cabelo: brancos. Tinha olhos vermelhos e dessa vez se vestia com uma roupa preta. Ele era frio e um pouco melancólico.

– A ruína nasce sob nossos pés de forma que não vemos – ele disse.

– Como raízes de planta – sugeriu a alegre Zyra, que chegava a insultar Vlad com tanta alegria. Ela parecia que estava drogada, pois ria de quase tudo. Ou era drogada, ou era extremamente retardada.

Katarina cruzou os braços.

– Então o que pretendem fazer quanto a isso? Pelo que ouvi falar esse bordel faz sucesso lá. Querem expô-lo ao público e jogá-lo contra o próprio reino? Seria como um sujo que fala do mal lavado. Muita hipocrisia de nossa parte!

Eu sorri para ela, claramente ávido em quebrar seus argumentos. Nos últimos dias andamos nos estranhando. Aceitei essa situação, levando em conta a descendência dela e a minha afiliação – os Du Couteau sempre foram contra à Rosa Negra.

– Não é só isso, Katarina – respondi. – Os homens demacianos nunca fornicaram daquela maneira antes. A ganância de Louis trouxe a ruína interna sob eles – olhei para Zyra –, como raízes – ela sorriu. – Aqueles homens darão tudo por uma noite ou por simplesmente tocar em uma jovem garota daquelas... Até mesmo informações confidenciais.

Katarina riu.

– Você acha mesmo que eles darão informações desse tipo assim, na lata? Estará mais do que claro que é armação. Não vê como isso é ridículo?

Elise fez uma cara feia, claramente impaciente.

– Garota tola, deixe de ser cética quanto a nossos planos e aceite sua condição!

– Cala a boca – exclamou Katarina, desdenhosa. – Ninguém te chamou na conversa.

Elise fez-se boquiaberta, não sabendo o que responder. Fora treinada para responder de tudo, menos um “fora” daqueles. Parecia querer responder, só não sabia como. Estava indignada.

Katarina se voltou para mim, de braços cruzados.

– Se pretendem infiltrar alguém lá dentro, uma mulher, no caso... Em quem pensam? Eu me recuso a me fazer de prostituta!

LeBlanc sorriu.

– Já pensamos e já escolhemos quem irá nessa missão.

[...]

Mais cedo, antes da reunião, LeBlanc fora até o quarto de Cassiopeia. A garota não saía de lá fazia tempo, derramada em suas próprias lágrimas. Melhorara com a ajuda de Emília, que a consolava.

Quando entrou, foi bem-vinda, tanto que a garota permitiu que ela penteasse seus cabelos.

– Eu já não sinto falta dele – começou a dizer. – Eu pensava que Keiran era o homem da minha vida, mas quando ele morreu... foi como me livrar de um peso. Eu odeio isso, mas não posso evitar pensar que eu poderia ter sido maltratada por ele, como ele fazia com outras pessoas.

LeBlanc sorriu, enquanto penteava os cabelos lisos, longos e escarlates de Cassiopeia, que, em frente a um espelho, parecia uma plebeia, sem maquiagem ou qualquer adorno. Estava pálida.

– Devo arriscar que sim, ele iria te maltratar. Conheço o garoto desde que ele era um bebê e, deuses, como ele era um porre! E a mãe – Emília fez uma cara feia –, nossa, aquela mulher era o demônio. Não sei como Boram, dentre tantas mulheres, a escolheu. Francamente, ela era chata com todos. Primeiro mimou o Draythe. O garoto nasceu bem feinho, mas ela o defendia. Quando Keiran nasceu, tão bonito, mais bonito que o irmão, ela se focou só nele.

– E abandonou o Dray? – perguntou Cassie.

LeBlanc fez que sim.

– Ela deixava clara a preferência por Keiran, aquela perua. Boram tentava dar atenção ao Draythe, mas ele tinha muito trabalho, fora que era gordo, então não poderia fazer muitas coisas com ele.

Cassiopeia encarou suas próprias mãos, como se sentisse culpada.

– E foi aí que ele entrou pra guarda e conheceu a Riven, não é?

LeBlanc assentiu.

– Mas voltando ao Keiran e a mãe, bem, ela morreu alguns anos depois, pouco depois do Swain chegar, mas foi o suficiente para pegar no pé dele. Ela ficava implicando com ele, por ser um garoto de rua, e também jogou o Keiran contra ele, dizendo que ele.

– Ela morreu de que?

– Um acidente envolvendo corvos.

Passaram um tempo em silêncio, enquanto Cassiopeia se encarava ao espelho. Algo estava errado. Talvez o jeito como LeBlanc a olhava, ou o fato dela parecer estar planejando algo o tempo todo. Era estranho. Ela sempre parecia estar pensando, não em coisas boas, com certeza.

– Você devia sair daqui – ela disse. – Sua irmã está atuando muito que bem no conselho.

Cassiopeia suspirou.

– Sair e fazer o que? Meu pai desapareceu, minha irmã nem liga mais para mim e Phildora vai ficar me consolando, e não quero isso. Quero alguém que me aconselhe, não que me coloque mais para baixo.

LeBlanc agachou-se para ficar rente à cabeça de Cassie no espelho, estando lado-a-lado com ela. Colocou uma mão no ombro dela e a outra na cabeça, fazendo uma espécie de cafuné.

– Se quer um conselho, acho que deveria atuar como espiã. Muitos homens por aí guardam segredos que precisamos ter conhecimento, sabe? Mas eles os guardam até mesmo na morte. Mas um rostinho bonito como você? Eles jamais resistirão!

Cassiopeia riu.

– Francamente, Emília. Estou pálida e seca, quase não como, quase não durmo, só choro. Como isso pode se caracterizar em “rostinho bonito”? Olhe só meu cabelo. Está ressecado, desbotado, parecendo um rosa de pobre.

As mãos de LeBlanc deslizaram mais por Cassiopeia, liberando uma energia que parecia causar prazer. Aos poucos os cabelos vermelhos dela começaram a ganhar mais brilho e um penteado mais bonito, sua pele ganhou cor, suas olheiras desapareceram, até mesmo seu corpo pareceu amadurecer mais rapidamente.

– O que vê agora? – perguntou Emília, sombria.

Os olhos de Cassiopeia ganharam um brilho surpreendente. Ela parecia dopada, mas o que via não era uma ilusão.

– Estou linda – ela exclamou.

– Você não está linda – LeBlanc se levantou –, você é linda. Nenhum homem resistirá aos seus encantos. Todos irão querer tê-la, nem que tenham que dar todos seus bens e todas as informações que armazenam. Agora eu te pergunto se você quer participar da missão de infiltrar-se no bordel de Louis Laurent.

– Sim! – exclamou Cassiopeia, radiante. – Sim, sim, sim!!

A porta se abriu e uma mulher adentrou. Ela se vestia com uma armadura noxiana feminina, tinha longos cabelos escuros, pele bronzeada e olhos verdes.

– Emília LeBlanc – ela disse –, o grão-general solicita sua presença em sua sala real.

Emília se virou para ela, enquanto Cassiopeia continuava a olhar-se no espelho, admirada, presa a um efeito narcisista.

– Sivir? – perguntou Emília. – Há quanto tempo não nos vemos? Foi visitar sua família pobre em Shurima e não nos avisou?

Sivir cerrou os punhos; odiava LeBlanc.

– Na verdade, sim. Pelo menos ainda tenho família, uma família que me ama.

LeBlanc bufou.

– Diga a Swain que eu já estou indo.

Sivir sorriu.

– Claro.

[...]

Darius passeava pelas ruas de Noxus, porém, sem seu imenso machado. Digamos que ele assustava as pessoas. Mesmo assim elas o adoravam, sempre o saudando na rua, ele era como um herói. Ter dado o golpe final em Keiran por Swain deveria ser dado como trapaça, mas foi dado como heroísmo. O garoto não era muito querido em seu próprio reino, e os Darkwill estavam ultrapassados na mente do povo.

Recebera uma carta mais cedo, uma carta que dizia para ir até o bar mais próximo. Ao entrar avistou muitos homens bebendo, rindo igual loucos, com mulheres ao lado, algumas até seminuas, que os acompanhavam. Havia um grupo fazendo uma rodinha ao redor de alguém que parecia contar muitas piadas, pois todos riam.

– ...e aí ela respondeu: “Dei, dei muito, meeeeeesmo”. – Todos riram.

Darius revirou os olhos. Só conhecia uma pessoa que fazia piadas tão sem graça daquela forma, e essa pessoa se vestia como uma celebridade, mas dessa vez vestia roupas um tanto quanto diferentes, parecendo as de um gladiador shurimane. Usava um saiote com partes de ferro, deixando suas grossas pernas à mostra, grevas, luvas, uma ombreira e um cinto que passava pelo peito, tão musculoso quanto o de Darius. Tinha tatuagens pelo corpo, como um freljordiano, e o pior, usava uma espécie de tiara que segurava seu imenso topete escuro no alto, fora seu resto de cabelo preso num rabo-de-cavalo. Sem falar de seu imenso bigode. Ah, como Darius odiava aquele bigode.

– Draven!! – gritou Darius de forma que espantou todos os seus amigos, principalmente a mulher seminua que se esgueirava em seu colo. Logo de todos os bebuns só sobrara o piadista.

Draven arregalou os olhos miúdos, como quem tem medo, mas depois sorriu, um sorriso insano que ele sempre teve, mesmo quando não estava bêbado. Ele se levantou, encarando a expressão odiosa de Darius.

Do nada os dois começaram a rir e se abraçaram. Darius apertou-o tão forte – propositalmente e para machucar – que suas costas estalaram e o deixou sem ar.

Se sumir novamente sem avisar eu juro que te encontro só para espancar essa sua cara feia! – sussurrou em seu ouvido de forma assustadora.

Quando soltou Draven, ele cambaleou para trás, ainda atordoado.

– Uou, mas que viagem – ele disse. – Se mamãe ainda estivesse viva, eu a faria te colocar de castigo por falta de vergonha. Fala na cara logo, caralho! OLHA SÓ, PESSOAL! – gritou para que todos ouvissem. – MEU IRMÃO MAIS VELHO DISSE QUE SE EU SUMIR DE NOVO ELE ME MATA, HAHAHAHA!!

Alguns poucos se atreveram a rir, enquanto outros se escondiam de medo. Os Irmãos Sangrentos estavam juntos de novo, como eles eram chamados.

[...]

Saíram daquele bar para conversarem melhor enquanto andavam pelas ruas.

– Que droga de roupa é essa? – perguntou Darius. – Parece um gladiador viado bombado.

Draven riu.

– Você que parece uma puta gorda com essa armadura, imitação noxiana do “Garenzinha Franjinha”.

Se fosse outra pessoa falando, iria levar um sacode, não só um sacode, mas precisaria de um ótimo médico para sequer conseguir reconhece-lo depois de tanta surra que iria levar.

– Pode crer – foi tudo o que Darius respondeu. – Mas e aí, por onde andou? Perdeu toda a diversão de Kalamandra. Perdeu, eu bem matei Keiran com minhas próprias mãos.

– Como é que é?! – arregalou os miúdos olhos. – Não acredito. Aqueles bebuns me contaram algumas coisas, mas “sacumé, né”, eu “tava” tão chapado que nem entendi nada.

Darius riu.

– Ah, claro. Precisarei fazer um resumo, mas só depois que você me mostrar o que encontrou em Shurima.

– Nananinanão. Vou mostrar primeiro ao Tio Boram para ver o que ele acha.

– Ah, Draven, quanto a isso... Bem, tenho uma má notícia pra você.

[...]

Fiz muita coisa durante o dia, mas o ponto alto foi minha leitura. É incrível, subestimei tanto a Boram que não pude perceber o quanto ele era brilhante. De certa forma ele sabia quais livros eu leria primeiro e, neles, colocou uma pista. Cada pista dava referência para outro livro, e em cada um deles haviam comentários feitos pelo próprio Boram. Eles resumiam o que eu precisava saber sobre aquele livro e sobre o que servia.

Basicamente seguia uma sequência: A Magia do Sangue, que dava referência para O Bestiário da Noite, que ia para Vampiros e Sua Influência Sobre o Sangue, Necromancia em Noxus, que me levava para um diário de Boram, algo que parecia estar invisível naquela sala, até que eu terminei a leitura do último. Não sei como, mas li todos estes livros em menos de três meses.

Fiz uma descoberta, hoje, neste diário. Foi uma das primeiras experiências de Boram com necromagia. Parece que ele tentava realizar algum tipo de ressuscitação. Mas quem ele buscava fazer retornar?

O antigo regime era exigente na manipulação de registros históricos, mas há tanta história a ser contada a partir do que está desaparecido quanto há do que restou.

Há muito Boram me contou sobre partes do castelo não visitadas. De fato, em seu diário conta sobre uma parte assim, embora eu não saiba explicar com detalhes o que acabei de ler. Não faz sentido se não visitado. Preciso ir lá, de alguma forma.

Swain foi retirado de seus pensamentos quando alguém bateu à porta. Odiava aquilo, estava escrevendo seu diário com o de Boram ao lado. Hesitou em se levantar e abrir a porta. Não podia deixar aquele diário ali. Foi quando algo lhe ocorreu. Aquele diário... se lembrava dele. Após a morte de Boram, nas piras flamejantes, um soldado lhe entregou um diário encontrado na carruagem. O diário ainda por cima estava manchado com o sangue de Darkwill.

Engoliu em seco. Não se lembrava de tê-lo guardado ali. Talvez tivesse sido LeBlanc. Talvez ela tivesse lhe escondendo algo. Não se lembrava o motivo pelo qual Boram petrificara a Rosa Negra, e nem se parou pensando no porquê. Iria pensar após atender a porta.

– Entre! – exclamou.

A porta se abriu. Darius entrou.

– Por que me importunas? – perguntou Swain; Darius entendeu que estava em um momento importuno, embora fora necessário.

– Meu irmão, Draven, retornou de viagem de Shurima com um artefato que pode vir a ser útil.

– Shurima? – perguntou Swain. – Sim... Shurima – ele tinha planos para aquela parte do globo, mas não para aquele momento. Sim, talvez fosse a hora certa. – Convoque-o para se apresentar ao trono. Estarei lá em dez minutos.

Darius assentiu e saiu da sala.

[...]

– Olha, tu tá de parabéns – Draven disse, enquanto encarava Swain assentado no trono. – Eu nunca imaginei que você se assentaria ao trono. Sabe, não o Jericho que conhecemos, e...

– Basta! – exclamou Swain, impaciente. – Mostre-me o artefato que encontrara em Shurima.

Ao lado de Swain haviam guardas, todos homens, com exceção de uma: Sivir. Ela parecia inquieta com aquela situação, talvez pelo fato de ser shurimane. Ela sempre fora uma soldada muito habilidosa, fosse com espada, fosse com arco, fosse com adagas, e Swain sempre a apreciou, dando a ela um cargo importante após sua “ascendência de cargo”.

Draven riu, enquanto mexia nos bolsos de sua roupa, aparentemente shurimane. Ele passou um bom tempo lá, fodendo morenas e matando filhos da puta, como dissera para o irmão. Sua estadia no local foi uma festa, fez o que fazia de melhor: matar. Seus machados gêmeos pendiam de sua roupa, de um cinto. Eles não eram como os de Darius. Eram menores, semelhantes a adagas e neles havia uma argola com um cabo, que permitia que ele os segurasse e os girasse.

Draven nunca contou onde arranjou aquelas armas, mas havia quem dissesse que ele as encontrou em uma expedição, numa catacumba. Isso explicava o porquê das armas sempre voltarem para ele, como mágica e, às vezes, baterem no alvo e ricochetearem de volta. O que era fisicamente impossível.

– Para começar – ele disse –, vou contar tudo detalhe por detalhe. Bem, como deve se lembrar, eu fui pra Shurima por que estava puto com o tio Boram, que agora está morto. Meus pêsames. Maaaaas, com os males vêm os bens – o que não fez muito sentido –, e posso dizer que transei com tantas mulheres gostosas de Shurima. Nenhuma que se assemelhe a você, Sivir.

– Muito obrigada – ela respondeu –, embora eu não me importe com sua opinião ou com sua personalidade machista. Nem todas as mulheres shurimane são putas!

– Mas a maioria é, e eu “comi” várias, foi um paraíso.

Resuma a história, por favor! – ordenou Jericho. – Não estou afim de ouvir histórias eróticas de como você penetrou uma prostituta com seu pênis miúdo – riu, demonstrando ainda haver um espírito de zoeira dentro daquele homem carrancudo que Swain se tornara.

Draven sorriu.

– Quer ver o meu pênis miúdo? Pensa nele todas as noites antes de dormir, Jericho?

– Já tenho pesadelos o suficiente com sua cara feia – respondeu. – Não preciso sonhar com suas partes baixas para saber que são horríveis.

– Por favor, né?! – gritou Sivir. – Foco.

Draven fez uma cara feia, Darius riu.

– Continuando a minha história, bem, após dormir com duas prostitutas de uma vez só, eu saí do bordel e fui dar uma volta, quando eu encontrei uma casa destruída, corpos de pessoas mortas, um casal de velhinhos, na verdade. Na verdade, não foi uma voltinha que fui dar. Fui para perto das pirâmides e encontrei aquela casinha destruída.

Sivir arregalou os olhos, quase desesperada.

– U-uma casa perto das pirâmides?!

Draven assentiu.

– Aí eu encontrei isso – ele retirou do cinto um disco dourado com ornamentos shurimanes, com fendas ao redor. – Não sei muito bem pra que serve, mas na casa tinha um porão com uma fechadura neste formato, mas não consegui abrir.

– Por que você não sabe como liberar a verdadeira forma dessa arma – lágrimas desciam do rosto de Sivir, o que fez Swain estranhar o que estava acontecendo.

– É uma arma? – perguntou. – Não parece uma arma.

Sivir cerrou os punhos.

– Me desculpe, Draven! – ele não viu, mas em uma questão de segundos ela estava à sua frente, dando-lhe um chute tão forte que o fez voar longe, sem o disco em mãos. Ela o pegou.

Swain se levantou num ímpeto, ao tempo que os guardas a cercaram, com lanças em mãos.

– O que pensa que está fazendo? – perguntou Swain, irritado.

– Vocês não sabem o poder disto – ela respondeu. – Não posso permitir que fique com ele.

– Ele o que?

– O Bumerangue de Azir! – ela exclamou e o disco brilhou. Realmente veio a se tornar um bumerangue, com pontas dos quatro lados parecendo um símbolo de mais (+). Todos recuaram com a súbita saída das lâminas da fenda no disco. Agora era um bumerangue. – Não posso deixar que fiquem com ele, de jeito nenhum!

Swain não teve tempo de fazer nada, quando ela brandiu o bumerangue que, lateralmente, começou a golpear cada um dos soldados, derrubando-os ao chão. Draven correu para perto do trono, com medo de levar outro chute.

– Não pense que saíra impune! – gritou Swain. – Será dada como traidora!

– É! – concordou Draven.

– Eu não me importo – respondeu, áspera. – Já estava cansada desse lugar mesmo. Voltarei às minhas origens!

– Mas não vai mesmo! – Draven girou um de seus machados em alta velocidade, parecendo um ciclone. Atirou-o na direção de Sivir, que girou e atirou seu bumerangue que, por ser maior, colidiu com o machado e o mandou para longe.

Depois fez uma curva e voltou para Sivir, que o agarrou de uma forma épica.

Ela saiu correndo em alta velocidade pelo hall do castelo, Draven pronto para ir atrás, mas Swain o impediu.

– Deixe que ela vá.

– E leve minha descoberta? NEM PENSAR!!

– Não!! – sorriu sombriamente. – Tenho planos para ela.


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Notas finais do capítulo

Eu disse que esse capítulo (o 3) seria sobre O Monte Targon, mas adiei por que sim.



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