League of Legends: As Crônicas de Valoran 2ª Temp. escrita por Christoph King


Capítulo 11
Capítulo 10: Demacia


Notas iniciais do capítulo

Fiora encontra Louis; Jarvan III realiza a reunião do conselho após seu ataque; Shauna Vayne recebe a visita de uma antiga amiga.



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Capítulo 10:

Demacia

A última pessoa que Louis queria ver era a irmã mais velha, Fiora. Ela era tão alta quanto ele e ainda por cima era uma mulher. A cara dela também não era nada feliz, era como uma morta que havia voltado à vida com aqueles olhos envoltos em uma maquiagem escura.

– Fiora... – ele engoliu em seco, morto de medo. – Você chegou, mas tão cedo.

Ela cruzou os braços.

– Foi o mesmo que a Lu me disse – olhou ao redor, para todo aquele entra e sai de trabalhadores do aparente clube, que era um grande estabelecimento com um letreiro com o nome de Louis. – Vocês estão muito chegados, não é?

Louis olhou para baixo e depois para ela, com uma cara de quem não gostou do assunto.

– Sei que não veio aqui para conversar sobre a Lu, não é?

Fiora balançou a cabeça.

– Acho que não havia um clube com seu nome quando eu saí, sabe. Só acho.

Ele respirou fundo, como se pedisse aos deuses paciência, pois sabia que mexer com a irmã era o mesmo que mexer com uma leoa.

– Bom, eu fiz isso com um dinheiro que eu tinha...

Mentiroso – ela exclamou. – Alguém te deu esse dinheiro. Quem foi?

Ele fez uma cara feia, como se não quisesse falar sobre aquilo.

– Eu não sei – murmurou. – Eu recebi dinheiro de um estranho e as instruções de como montar o clube sem chamar a atenção do rei, ora. Mas não é ilegal, existem bordéis em todos os cantos de Valoran. Este, é mais sofisticado e menos promíscuo.

Fiora o fuzilou com o olhar.

– Se você quiser – ele fez um sorriso sarcástico –, eu te arranjo uma garota muito bonita.

– Muito engraçado! – ela cuspiu no chão perto dele e saiu andando para longe.

– Não quer ver o clube? – perguntou Louis.

Fiora, ainda de costas, ergueu um grande dedo do meio para ele. Ele riu. Virou-se para o lado, fazendo um sinal e um som com a boca. Pode vir, chamou bem baixinho. De um canto escuro brotou uma garota de cabelos vermelhos e um vestido curto, sem mangas e com espartilho. Ela usava maquiagem e estava vestida de forma sexy.

– Ela já foi? – perguntou ela.

– Sim – assentiu Louis. – Ninguém vai reconhece-la, Cassiopeia. Acredito em você, sei que perder o posto de “rainha” de Noxus e seu futuro marido realmente a abalou. Aqui você terá uma nova vida longe de sua antiga família.

Cassie sorriu.

– Obrigada, Louis. É difícil alguém que me entenda. Jericho quase descobriu que eu desertei. Minha irmã, por sorte, não sentiu minha falta.

Ele riu.

– Típico de Katarina, haha. Irei me certificar de lhe dar um novo nome. Que tal... Cassie Grey? É um nome bonito, melhor que o seu original. Parece shurimane.

É shurimane – ela concordou.

Ele sorriu para ela, maliciosamente.

– Você está linda. Não quer conhecer suas novas irmãs? Acredito que existem muitos aristocratas adorariam tê-la em mãos.

Ela deu alguns pulinhos, eufórica.

Louis foi até ela, pegando-a pela cintura e a puxando de leve, a levando para dentro do clube pela porta dos fundos. Ela olhou para trás antes de entrar, focada no alto de um prédio onde viu um homem com um capuz e manto azuis; a lâmina em sua mão reluzia às luzes do luar. Talon.

[...]

O clube era grande e bonito, o tom de vermelho prevalecia em absolutamente tudo. Haviam várias poltronas acolchoadas que rodeavam postes de pole-dance e um palco central. Também haviam duas escadas que levavam até o andar superior, onde só os que pagavam bem mais poderiam chegar.

Louis a conduziu até uma outra ala, a ala de habitação e treino das outras garotas. O primeiro local aonde ele chegou para apresentá-la a elas foi uma sala de treinamento de ballet, com espelhos.

Haviam, ao todo, cinco garotas.

– Olá, garotas – ao dizer isso, Louis fez com que elas saíssem de um momento de descontração e se colocassem numa postura mais séria, algumas até pareciam estar com medo de Louis, sabe-se lá o porquê. – Essa é a nova irmã de vocês, Cassie Grey.

Uma das garotas sorriu e veio até Cassiopeia, apertando a mão dela. Ela era morena e muito bonita, tinha cabelos grandes, cheios e enrolados e olhos castanhos. Ela vestia-se com todas naquele local, com roupas chamativas que mostravam muito as pernas, a cintura e decotes. Algumas eram até extravagantes demais.

– Sou Senna, demaciana – disse a garota de cabelos cacheados; ela se vestia com roupas brancas e prateadas, que não combinavam em nada com seu tom de pele ou cabelos.

Louis interrompeu-a antes que ela continuasse as apresentações.

– Tenho afazeres melhores que ensinar a novata a tudo; vocês a expliquem como isso tudo funciona, pois pra mim já deu – deu a volta e foi embora.

Todas suspiraram, como se tivessem segurando o fôlego e a postura fazia tempo.

Senna revirou os olhos.

– Louis é terrível, saiba disso. Ele é legal no começo, é charmoso e bom com as palavras, mas é um péssimo anfitrião... para nós, ao menos – ela se virou para as outras garotas, gesticulando para que elas se aproximassem.

Uma outra garota apareceu, ela era morena como Senna, mas com um cabelo negro e curto (ela também tinha um corpo extremamente avantajado). Ela sorriu e cumprimentou Cassie.

– Me chamo Evelynn, sou de Noxus – ela se vestia com uma roupa curta e de couro preto, basicamente estava seminua. Também usava batom rosa forte. – Vamos te ensinar a sobreviver aqui.

[...]

Fiora estava em frente ao espelho, se maquiando. Não era vaidosa, não tanto quanto sua mãe ou sua irmã, Luciela, mas era na base do possível. Não dispensava um batom vermelho e uma sombra preta, fora seu cabelo que estava sempre bem cuidado e escovado.

Diferente das mulheres de sua casa, ela se mantinha da forma como bem entendia. Usava cabelo curto, uma franja com mecha vermelha, fora que nunca usava vestidos, às vezes em festas quando lhe convinha, mas fora essas situações, nunca.

No momento usava camisola e analisava as imperfeições de seu rosto. Não era mais tão jovem, já tinha quase trinta anos e ainda não havia se casado. Jarvan III havia lhe dado o direito de se casar quando lhe fosse conveniente, após ela ter vencido um duelo. Um duelo no qual seu próprio pai havia apostado contra.

Estava acostumada àquilo, sua família negando seus direitos, indo contra ela. Odiava-os por isso, e sempre estava fora de casa. Seu irmão mais velho, Olyvar, ficara responsável pelo conselho, deixando-a livre. Mesmo assim essa liberdade era chata, monótona. Iria ficar indo a festas, bailes, tomando chazinho? Ir a Noxus lhe reavivou, trouxe a adrenalina de volta ao sangue. Quase foi descoberta, mas adorou aquilo. A guerra deu um fim aos torneios de esgrima que ela e o rei tanto adoravam; não havia mais tempo para aquilo.

Olyvar adentrou o quarto dela sem nem bater, fazendo com que ela se sobressaltasse, alarmada e de olhos arregalados.

– Calma aí, mana – ele levantou as mãos. – Venho em paz, haha.

Ela fechou a cara.

– Não sabe bater, não? Pensei que papai tivesse te educado bem.

Ele riu e cruzou os braços imensos. Fiora nunca entendera como um cara tão parrudo e musculoso como ele perdera para ela em vários duelos. Não se tratava de força, claro, mas de estilo, de técnica e disciplina. Ele não tinha isso, sempre foi extremamente hiperativo.

Ele deu de ombros.

– Ah, sabe como é, né...?

– Não, não sei – ela se virou para o espelho e começou a pentear o cabelo. – Diga logo o que quer.

Ele sorriu e foi até ela, agachando-se ao lado dela e olhando ao espelho. Os dois não tinham nada em comum, só o cabelo de um negro forte e brilhoso, liso. O rosto de Fiora era pequeno e a pele era branca, quase pálida; o de Olly era retangular, feito um galã. Seu nariz era fino, assim como seus olhos, sempre semicerrados, frios e calculistas; o nariz dele era levemente grande e seus olhos, talvez, fosse uma das únicas coisas parecidas com as dela. Seus lábios eram proporcionais uns com os outros; os dele eram pequenos e quase brancos.

Ele sorriu; ela não.

– Você parece entediada. Deveria sair um pouco.

– Dispenso.

– Ah, que isso, mana. Vamos lá, que tal amanhã de manhã, tipo umas onze da manhã?

Ela revirou os olhos.

– Quer que eu vá ao conselho para você?

Ele assentiu.

– Vou ter que resolver um assunto e, bem, preciso que você fique em meu lugar. Nada de mais, não irá se repetir, eu juro.

Ela respirou fundo.

– Tudo bem, tudo bem. Eu estava super entediada aqui, nesse quarto.

Ele riu.

– Quem sabe você não tem de volta a adrenalina noxiana? Haha – ele deu um abraço nela por trás, enquanto ela ainda sentada, revirava os olhos. – Vou lá, mana.

Fiora fez uma cara enojada.

– Precisava de toda essa ceninha?

Mas ele já havia ido.

Ela permaneceu ali, em pensamentos, se olhando ao espelho. Percebeu que um nome não iria salvá-la de nada. Estava sobrando naquela cidade, antes tão famosa e tão aclamada, agora tão sem uso que fora colocada em posto de espiã. Odiava a guerra por isso, era ruim para os negócios.

Talvez, assumir o lugar de Olyvar fosse bom para ela, mesmo que por pouco tempo. Talvez aquilo fosse espantar o espírito do fracasso, quem sabe. Não queria se ver como uma fracassada, mas era o que estava sentindo. Em Kalamandra não passou de uma reclamadora, sem que sequer alguém a ouvisse. O rei parecia só ouvir Xin Zhao, o que fora ridículo.

Quem sabe você não tem de volta a adrenalina noxiana?, a voz de Olly ecoou em sua mente de uma forma estranha. Sentia-se mal, com uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada. Deu uma mexida no espelho e viu, na sacada da janela de seu quarto, uma figura sombria e encapuzada.

Não teve tempo de ver quem era, pois ele já tinha se projetado para a frente, em sua direção com uma adaga enorme acoplada a seu braço direito. Fiora jogou o corpo para trás, caindo no chão, mas se esquivando. Ele tentou fincar a adaga no rosto dela, mas ela rapidamente girou para o lado e lhe deu uma rasteira, fazendo o encapuzado cair em cima da cadeira.

Ele se levantou num salto; brandiu a adaga várias vezes rapidamente na direção de Fiora, que se esquivou de todas quase que por um triz. Ela era rápida, a mais rápida da família, aquilo era moleza para ela. Infelizmente o assassino era igualmente rápido. Ele a fez vários cortes no rosto e nos braços dela, enquanto ela tentava se esquivar.

– Maldito! – exclamou Fiora quando ficou encurralada na parede. – Quem diabos é você?

O homem estreitou os olhos e uma mecha de cabelo castanho longo caiu pelo rosto suado. Ele sorriu e brandiu a lâmina na direção da garganta dela, mas antes que pudesse matá-la, ela pegou seu florete embaixo de seu travesseiro em sua cama, ao seu lado.

Tlinc, fez seu florete quando se chocou contra a adaga do assassino. Ele rangeu os dentes, rodou e a golpeou na perna, fazendo-lhe um corte. Ela caiu no chão, de joelhos. Ele se colocou atrás dela, puxando a sua cabeça com uma mão, a outra com a adaga, pronta para degolá-la.

– Últimas palavras? – perguntou.

Fiora rangeu os dentes.

– Vá se foder.

– Péssimas palavras.

Antes que ele pudesse matá-la, a porta se abriu rapidamente, revelando Olyvar, assustado com o que acabara de ver. O assassino também ficou surpreso, principalmente por que Olyvar sacou uma adaga e atirou, atingindo-o no braço, impedindo-o de matar Fiora.

Ela pegou-o pela cabeça e o jogou para frente, ele caindo na direção de Olyvar, que já ia se preparando com outra adaga.

Talon foi na direção de Olyvar, mais rápido do que aquele quarentão poderia ir, se afastando do braço da adaga e saltando para longe. Ele correu e saltou pela janela.

Olly ficou parado, olhando para a janela, Fiora ainda no chão, ofegante e vermelha. Ela estava com o coração a mil, mau acreditando no que havia acontecido naquele lugar.

Olhou para o irmão.

– O-obrigada – ele estendeu a mão e ajudou-a a se levantar. – Se não fosse por você, eu...

– Aquele homem... – ele disse lentamente. – Aquele homem é noxiano.

Fiora fez uma cara feia e cerrou os punhos.

– Eu sei.

[...]

Lá estava Jarvan III sentado à mesa de seu conselho com o peito e barriga totalmente enfaixados. Odiava ficar sem camisa daquela forma, pois além de sentir frio, se sentia exposto e... envergonhado. Um rei jamais poderia ser visto daquela forma, sua mãe dizia. Jarvan I era um grande exibicionista, enquanto que Jarvan II era um homem gordo que não se importava em ser visto das piores formas.

Jarvan III decidiu ser diferente disso.

E agora lá estava ele, sentado à frente de todos, com Jaynee ao seu lado como uma babá – fora todos os médicos e mestres ao redor, observando-o, preocupado. Não pode sair da cama com um ferimento desses, meu rei, dizia um. O que serei se não sair da cama? Um rei ou um... travou nessa hora, sem saber como continuar o ditado. Deixou por entender.

– Primeiramente... – ofegou intensamente, de forma que fez com que todos o olhasse de uma forma preocupada e arregalada, como se ele fosse explodir feito um balão a qualquer momento. Isso não era legal. Olhou para o lado, para a esposa Jaynee, e ela sorriu. Se sentiu melhor instantaneamente. – Primeiramente bom dia. Como viram nos jornais mais recentes e pelo aviso desnecessário do sino da catedral – olhou para o Sumo-Sacerdote com uma cara feia – que eu fui atacado por homens vestidos de preto.

– Com máscaras de corvo – completou Jaynee.

Jarvan suspirou.

– Sim, minha querida – voltou-se aos conselheiros. – E eu acredito intensamente que esse ataque tenha sido feito por alguma espécie de feitiçaria sombria de Jericho para cima de mim e minha família.

O Sumo-Sacerdote fez menção de começar a chorar. Ele era um homem de meia-idade, com mais ou menos uns cinquenta anos. Tinha cabelos brancos curtos e era magro, com olhos azuis e um manto branco e dourado.

– Me perdoe, meu rei. Se eu tivesse lá, poderia repelir a escuridão com uma prece ao nosso Deus.

Shauna Vayne riu.

– Se fosse assim o rei já estaria morto – o Sumo olhou para ela enfurecido; ela apenas sorriu maliciosamente. – Meus dardos de prata foram suficientes para destruí-los e manda-los de volta para as sombras.

Evan Crownguard se inclinou sob a mesa na direção de Shauna.

– Eu adoraria saber como isso é possível.

– Eu adoraria saber onde você esteve todos esses anos, Shauna – retrucou o Sumo.

Shauna se vestia de forma simples: um vestido azul-escuro longo e com mangas curtas e seus cabelos presos em uma trança jogadas para a frente. A pele branca dela chegava a reluzir com a luz que saía das vidraças, dando um contraste ao seu batom vermelho-vinho. Ela não parecia tão ameaçadora, mas seu olhar era fatal.

– Eu andei investigando sobre o assassinato dos meus pais – fuzilou Jarvan III com o olhar –, já que vocês arquivaram o caso.

Jarvan III revirou os olhos.

– Shauna, isso foi há vinte anos. E você se lembra que há vinte anos a situação estava complicada, não se lembra? Não tive tempo de sequer pensar nisso, por isso coloquei os Crownguard no caso.

De repente todos olharam para Evan, que ficou um tanto quanto sem graça.

– S-Shauna, olha... – ele gaguejou. – Não vamos nos precipitar. Isso foi há tanto tempo...

Ela se emburrou e se virou para o rei.

– Vocês rebaixaram Garen por ele ter falhado com seu filho. Por que não rebaixa Evan por ter falhado comigo?

Fiora bocejou de forma sarcástica, como se estivesse sentindo sono pelo discurso de Vayne. Não havia dito nada até a pouco, nem dando sinal de que estava ali, embora sua presença fosse impossível de não ser percebida.

– E então você ficou vinte anos procurando o assassino dos seus pais... e falhou? – riu. – Francamente, Shauna. Nós nos conhecemos desde pequenas e eu sei bem que você não é uma detetive das melhores.

– Eu andei praticando.

Jarvan pigarreou.

– E você, Fiora, o que faz aqui? Olyvar é o mais velho de sua família. Onde ele está?

– Não faço ideia – respondeu. – Ele pediu que eu viesse no lugar dele. Mas não pense que foi só por isso. Tenho um bom motivo para isso.

Evan a olhou com os olhos semicerrados.

– Posso estar errado, mas essas mascas no seu rosto fazem parte do motivo?

Ela assentiu.

– Ontem um assassino adentrou ao meu quarto e quase me matou. Ele se vestia de roxo e parecia ter cabelo castanho.

Lestara Buvelle, que até o momento não se pronunciara, se sobressaltou.

– Eu sei quem é. Minha querida Sona já foi alvo dele uma vez. Ele é um pupilo do General Kael Du Couteau, e mestre de Katarina, aquela garota ruiva. Seu nome é Talon.

Jarvan III coçou a barba.

– Eu lembro de tê-lo visto em Kalamandra em algum momento, embora não tenhamos ficado tanto tempo lá – ele fez silêncio por um tempo, suspirou e continuou: – Noxus já está passando dos limites. Precisamos nos fortalecer. Evan – se virou para o general – já obteve contato com sua filha em Piltover?

Evan fez que sim.

– Luxanna conseguiu convencer os piltovenses a nos auxiliar com artilharia de ponta.

O rei sorriu.

– Ótimo. Assim que obtivermos essa nova artilharia, iremos partir para batalha. Eu nunca quis guerra, mas Noxus passou dos limites. Além de levar meu único filho eles ousam me atacar diretamente e tentar assassinar uma nobre como você, Fiora.

– Mas e quanto À Liga? – perguntou Lestara. – Eles assinaram um contrato conosco há muitos anos. A guerra não pode desestabilizar o equilíbrio de Valoran.

Jarvan respirou fundo.

– Kalamandra já desestabilizou demais nosso bom equilíbrio – ele pegou um pequeno martelo de madeira e deu com ele na mesa. – Reunião do conselho encerrada!

[...]

Após um tempo passado do conselho, Fiora decidiu ir até a mansão Vayne. Lembrara de tantas vezes que foi para lá brincar com Shauna, enquanto seus pais tomavam um chá juntos. Uma perfeita harmonia, as famílias reunidas num domingo... a nostalgia bateu mais forte que uma onda.

Depois que os pais de Shauna morreram, só restou a família Spiritmight, mas não era a mesma coisa. A família da rainha tinha poucas garotas, mais garotos. Fiora nunca se sentiu inteira sem Shauna, que era sua alma-gêmea. Podiam ser elas mesmas quando juntas, sem ter que ser tão femininas e delicadas como as irmãs chatas da rainha.

Seus irmãos que se deram bem. Olyvar, Régis e Louis brincavam com os irmãos da rainha e anos depois davam escapulidas com as irmãs, enquanto Fiora tinha que ficar de olho em sua irmã Luciela. Odiava tudo aquilo. Na maior parte das vezes ela ficava sentada, olhando seus irmãos e irmãs – menos Francié, que ainda não havia nascido.

– Eu preferia que você se integrasse um pouco – olhou para o lado e viu seu pai. Ele, naquela época, ainda era alto e esbelta, assim como Olyvar se tornou. Ele tinha cabelos grisalhos e um bigode engraçado. Ele se sentou ao lado dela. – Fiora, minha filha, sei que Shauna era sua amiga, mas você precisa partir para outra. Ela está sofrendo pelos pais, precisa de um tempo. Talvez futuramente ela volte a ser sua amiga.

A jovem Fiora de apenas doze anos respirou fundo, um ar melancólico.

– Não sei o que fazer, papai. Me sinto tão triste.

Seu pai a abraçou e deu um beijo em sua testa.

– Sinto que você precisa de um pouco de mais atividades. Venha comigo.

Aquela foi a primeira vez em que Fiora segurara em um florete. Seu pai a treinou e ela se saiu bem. Confiou no pai, pensou que ele queria que ela fosse a melhor, por isso se dedicou tanto quanto seus irmãos. No final não recebeu o mínimo de reconhecimento que quis e se sentiu terrível após seu pai comprar uma luta para ela, alegando que ela não estava pronta para uma derrota.

Ela não perdeu.

Nunca mais.

Adentrou à mansão Vayne com Sebastian, o mordomo. Quando o conheceu ele era um homem alto, magro e de cabelos negros e sedosos. Agora estava bem mais parrudo que o normal, com cabelos grisalhos e barba, bigode fino e fraque. Um legítimo mordomo, com luvas brancas, sapatos cintilantes de tão engraxados e um visual impecável.

– A senhorita Vayne te espera no salão dos fundos – ele disse enquanto Fiora adentrava a mansão, admirando todo aquele hall de entrada, tão familiar, tão nostálgico. Sua infância se resumia àquilo. Fechou os olhos e sentiu o cheiro do local. – A senhorita cresceu. Se me permite dizer, está bonita.

Fiora se virou para Sebastian e sorriu; não fazia muito isso.

– Obrigada.

Ele a levou pela mansão imensa até o fundo, onde encarou o grande campo verdejante que se abria atrás da Casa Vayne. Na varanda Shauna se sentava em uma mesa branca de ferro com algumas poucas partes enferrujadas. Ao que parecia, Sebastian estava trabalhando naquilo.

Fiora respirou fundo quando viu Shauna, que se vestia da mesma forma que quando elas eram pequenas. Usava um vestido curto que lembrava uma colegial. Seus cabelos estavam soltos com duas tranças na parte de trás de coincidiam. Ela parecia uma jovem de dezesseis anos.

Fiora se sentou, ainda atônita em rever a melhor amiga de anos atrás. Durante o conselho, sentiu raiva dela por ter sumido por tanto tempo, mas agora, com ela ali à frente, só conseguia ficar boquiaberta. Shauna bebia chá de forma tão calma, como quando era jovem.

Vinte anos depois lá estavam elas. Fiora se sentiu mal por se vestir com seu uniforme prateado de duelista e ter seu cabelo cortado daquela forma com aquela mecha vermelha e franja. Era como se estivesse desonrando a brincadeira de se vestir como antigamente.

– E então? – perguntou Shauna, colocando a xícara na mesa. – Sei que tem muitas perguntas.

Fiora assentiu.

– A primeira é: por que você sumiu? Eu senti a sua falta, se não ficou sabendo.

Shauna fez uma expressão sombria.

– Fiora, eu vi meus pais serem mortos por uma bruxa. Como acha que eu me senti? Li muitos livros e pesquisei muito sobre magia negra, necromancia, e essas coisas. E eu sei bem que aquela bruxa era noxiana. Sinto em minhas veias.

– E por isso você sumiu?

Ela balançou a cabeça.

– Não foi só isso. Eu viajei pelo mundo, sabe? Queria fugir de Sebastian, então peguei o primeiro navio para Bilgewater vestida de plebeia. Como a Casa Vayne ficou jogada às traças, ninguém tomou falta de mim.

Fiora queria dizer algo como: Eu senti; preferiu deixar para lá.

– Eu vivi como uma garota pobre por um tempo – continuou –, pelo menos até o Sebby me achar novamente – naquele momento Sebastian apareceu com uma jarra de chá e despejou mais sobre a xícara. – Eu teria morrido para ele, mas continuei fugindo – e riu.

Sebastian sorriu, mas nada disse.

– Eu peguei um navio para Ionia e, bem, fugi novamente – prosseguiu Vayne. – Bom, lá eu encontrei um monge que me treinou em artes marciais por dez anos. Eu pensei ter me livrado do Sebastian, mas eu o encontrei em um torneio ioniano. Ele estava totalmente diferente de antes, sabe, mais forte e firme, um exímio lutador – exímio, uma palavra muito utilizada para descrever o pai de Fiora. – Ele também se perdera em Ionia e encontrara um mestre. Ficamos mais uns anos lá, treinando, e aí voltamos, juntos.

– Há quanto voltaram?

– Dois anos – bebeu um pouco de chá. – Não faço tanta coisa desde então.

Fiora bufou.

– Duvido. Eu te conheço, mesmo que há muito tempo. Sei que você sempre faz alguma coisa quando diz não fazer.

Shauna sorriu.

– Sabia que você não falharia em me ler. Sabe, eu realmente tenho feito algo. Tenho estado na cola de tudo que seja sobrenatural. Quero vingança, sabe? Quero matar aquela que matou meus pais... com prata.

Fiora semicerrou os olhos.

– Prata? Por que prata?

– Há um conto sobre a prata, mas é longo. Dizem que o ouro foi feito pelo Deus da Luz para ser uma arma poderosa contra os deuses das sombras, enquanto que a prata serviria contra seus filhos, os demônios, vampiros, lobisomens, bruxas, etc. E é funcional. Minha família tem uma mina de prata. Eu tenho estoque quase infinito.

– Uau. E, bem, o que você faz com ele?

Shauna fez uma expressão sombria.

– Eu saio à noite e, bem, eu caço.

– Como os seres que esfaquearam o rei?

– Coisas piores. Passei um tempo investigando Noxus, e quando te vi lá, automaticamente te reconheci, embora você estivesse diferente – ela olhou para baixo, melancólica. – Foi quando percebi tudo que joguei fora. Sabe, eu estou diferente, mais forte. Mas perdi minha antiga vida. E aquela bruxa vai pagar por isso.

Fiora sorriu de forma triste.

– Espero que consiga sua vingança tão desejada.

– Eu terei... em tempo.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo teve um foco maior na Fiora, tendo de desenvolver um pouco dela e da Vayne. Próximos capítulos: Ionia > Freljord > Piltover > Shurima > Noxus > Demacia.



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