League of Legends: As Crônicas de Valoran 2ª Temp. escrita por Christoph King


Capítulo 10
Capítulo 9: Noxus


Notas iniciais do capítulo

Swain revoluciona Noxus; Marcus e LeBlanc têm uma conversa; Katarina se enfurece com Swain; todos vão a um teatro, inclusive o Conde Vladimir.



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Capítulo 9:

Noxus

Swain não estava se preocupando com muita coisa.

Sentado sob um banco, fazendo uma pose triunfante com uma roupa nobre, ele era pintado. À frente dele havia um pintor e uma tela, o mesmo a pintava com delicadeza, tanta que LeBlanc teve vontade de dar-lhe um tapa. Vivia há séculos e ainda não entendia como alguém podia ter tanta paciência.

Swain estava especialmente bonito. Vestia-se com uma calça apertada, botas de couro marrom, um fraque e uma gravata branca. Parecia tal como um lorde inglês vitoriano. Seus cabelos negros estavam penteados “lambidos” para trás. Tinha deixado o bigode crescer e estava levemente mais atraente.

Estava numa posição nobre faziam horas para que o pintor terminasse seu trabalho. Durante os últimos dias, Swain tinha tomado uma postura quase anormal. Beatrice pousou em seu ombro e então LeBlanc percebeu que ele estava se tornando cada vez mais como um corvo, em alguns aspectos.

– Há quanto tempo está aí? – Marcus Swain adentrou à sala, caminhando, vestido de forma elegante, como um conde inglês, usando até mesmo uma bengala.

Swain saiu da postura, suspirando. Virou-se para o avô recém-ressuscitado com uma expressão irritada.

– Gostaria de não o ter em minha presença; você me irrita.

Beatrice grasnou contra Marcus, que franziu a testa.

O pintor se voltou para ele, o olhando de cima até embaixo.

– Com licença?

– Passe – respondeu Marcus, sarcástico.

LeBlanc, sentada à uma poltrona próxima, com uma taça de vinho na mão, riu. Ela estava toda desleixada, como se estivesse no sofá de casa.

– Não perde tempo, não é, Marquinhos?

Ele sorriu.

– Já perdi meio século, não quero perder mais nada – olhou para a pintura de Swain. – Realmente, meu querido neto, essa pintura está fenomenal.

Jericho se levantou, ajeitando seu fraque e depois o seu cabelo.

– Não me conte nada. Só quero vê-la após terminada.

– De fato, Alto Comandante – o pintor abriu um grande sorriso animado –, quero que seja uma surpresa para vossa autoridade, se não se importa...

– Saia – pediu Swain. – Agora.

O pintor pareceu decepcionado, mas pegou a tela, compactou todos seus instrumentos em algumas pastas e maletas e saiu da sala. Logo só estavam ali Jericho, Marcus e Emília.

Swain foi até a mesa mais próxima, colocou um pouco de vinho em um copo e bebeu. Depois se voltou ao avô.

– Parece que está se dando bem na Nova Noxus.

– É assim que está a chamando? – Marcus foi até a janela mais próxima para ver o que se passava por lá.

Realmente, Noxus estava renovada. Fora totalmente pavimentada e alguns locais reconstruídos. Em menos de três meses a cidade estava totalmente diferente, mais bonita e iluminada. Com uns upgrades que Zaun disponibilizara, agora eles tinham luz elétrica.

Nas ruas haviam carruagens especiais que transportaram as pessoas, mais guardas, mais segurança e mais moda. Realmente a moda de Noxus mudara. Agora as pessoas vestiam-se de forma mais elegante, as mulheres com vestidos longos com mangas, usavam chapéus e joias. Os homens se vestiam como o próprio Swain. Estavam chegando a uma nova era noxiana.

Estava tudo semelhante a Inglaterra Vitoriana.

Marcus analisava tudo com um sorriso e olhos cintilantes.

– Não sei por que me repudia ainda, meu neto.

Swain suspirou.

– Não é que eu te repudie, mas é que... ah, é estranho isso. Por muito tempo eu pensei ser o último Swain, mas aí eis que surge você. Por um segundo eu te culpei por não ter sido presente na vida de minha mãe e nem na minha. Mas aí...

– Foi Boram, se esqueceu? – perguntou LeBlanc. – Ele que petrificou seus aliados sem qualquer motivo aparente.

Marcus se virou rapidamente para Emília, como quem percebeu uma mentira. Ela fez uma expressão irritada para ele, como quem diz: “Ainda não”. Obviamente ela não havia contado tudo sobre a petrificação e nem o motivo real daquilo.

Marcus engoliu em seco.

– Realmente. Mas agora, Jericho, vejo que herdou a sabedoria dos Swain. Você, em poucos meses revolucionou Noxus. Estamos evoluindo, algo que não fizemos durante todo o reinado de Boram. Ele paralisou o progresso; você, o salvou.

Jericho sorriu.

– Certo, sem mais bajulações. Preciso resolver assuntos sérios.

– Como a fuga de Sivir?

Jericho fez que não.

– Irei deixá-la ir. Em tempo irei procura-la, mas agora tenho alguns livros para ler – ele foi em direção à saída da sala. – Se houver algo onde minha presença seja necessária, me chamem – e saiu.

LeBlanc encarou Marcus com uma expressão odiosa.

Nunca mencione a história de Sion para Swain... jamais!

Marcus engoliu em seco. Quando Emília queria, ela conseguia ser extremamente assustadora.

– M-mas por que?

Ela sorriu.

– Seu neto é extremamente inteligente, se já não percebeu. Essa descoberta não é para esse tempo, ele acabaria se adiantando. Algo que falta nele é paciência. Se ele a tivesse, ainda não teríamos luz elétrica, acredite. É uma qualidade perfeita para um grão-geral, por isso eu o escolhi.

Marcus deu de ombros.

– Faz sentido. Mas e se ele não gostar do que descobrir?

LeBlanc mordeu um lábio.

– Ele vai gostar.

[...]

Projeção Espectral é um feitiço complicado de se usar, admito, mas tem um resultado magnífico. Ler também tem ótimos resultados; sem tais livros eu não teria aprendido tantos feitiços sozinho. A Rosa Negra serve para muita coisa, entre elas me auxilia no governo de Noxus, pois um governador não governa sozinho. Boram, por exemplo, era um grande preguiçoso. Eu e LeBlanc fazíamos muito por ele, enquanto ele bebia e comia.

Quanto às projeções, foram extremamente fáceis. Desenhei um círculo negro no chão: os símbolos do Deus-corvo. Peguei uma faca e fiz um corte em minha mão, deixando o meu sangue despejar-se no círculo. Logo, ele brilhou e pude invocar meus soldados corvos.

Katarina adentrou à sala de Swain num ímpeto, uma expressão enfurecida no rosto e um jornal em mãos. Ela atirou-o na mesa dele, impedindo-o de prosseguir com a leitura. Ele ergueu a visão, e ela cruzou os braços.

– Leia a manchete – ela pediu, rispidamente.

Swain pegou o jornal e o leu: Rei Jarvan III é apunhalado por soldados negros mascarados. Testemunhas afirmaram que usavam máscaras de corvos. Logo percebeu que o jornal era demaciano.

– O jornal é demaciano – comentou. – Pelo visto seu gosto por Demacia não terminou com Garen Crownguard.

Katarina bateu com força na mesa dele.

– Esse não é o caso, Jericho. Acontece que você invocou esses demônios sem o consentimento de seus conselheiros. Sem o meu consentimento!

Swain cruzou os dedos.

– E em algum momento eu precisei de seu consentimento? – ele deu uma risada fraca. – Katarina, você está frustrada pois os seus esforços para encontrar seu pai não são suficientes. Está frustrada pois Cassiopeia está indo direto para Demacia de encontro à uma missão que seria perfeita para você. Está entediada; não desconte sua raiva em mim.

Katarina suspirou.

– Sempre com uma resposta, não é? – estreitou os olhos. – Mas imagino que você tenha sabido que Jarvan não iria morrer, não é? Você gosta de grand finales, não é?

Swain sorriu.

– Sempre.

Katarina pegou o jornal e deu as costas, saindo da sala. Antes de sair, ele disse:

– Esta noite haverá uma peça de teatro interessante. Você poderia ir.

Ela ignorou-o e saiu da sala.

[...]

Katarina odiava as novas vestes da moda noxiana. Mesmo assim eram extremamente elegantes e mais confortáveis que suas roupas de couro que usava para lutar. Claro, estava acostumada com elas, mas até que usar vestido não era uma má ideia.

Olhando-se no espelho percebeu estar tão parecida com sua mãe. Olhou-a em uma pintura no topo da parede da lareira de sua casa; sorriu. Sentia falta dela, sentia falta do pai, e, por mais incrível que pudesse parecer, sentia falta de Cassiopeia.

Seu vestido era vermelho e semelhante aos vestidos vitorianos usados ultimamente, com babados e outras coisas. Ela estava com mangas de crochê escuro, havia tecido vermelho e preto, de cetim. Usava várias joias que antes pertenceram à sua mãe. Seu cabelo fora preso em um coque.

A única coisa que ainda a lembrava que era Katarina Du Couteau era sua cicatriz no olho direito. Agradeceu a Garen por aquilo, mesmo que isso parecesse estranho, pois não é sempre que se leva uma espada de raspão no olho, quase perdendo a visão do mesmo.

– Sua mãe se orgulharia – Phildora Coulson, a governanta, adentrou à sala dos Du Couteau, sorrindo. – Está tão bela, senhorita Du Couteau. Tão feminina, não que já não fosse.

Katarina se virou para a governanta. Não conseguia se irritar com ela, nem mesmo com um comentário daqueles (que para Phildora era algo terrível). Após a morte da mãe, a governanta lhe cuidara muito bem.

Sorriu.

– Obrigada, Phildora. Essa roupa não é meu estilo, mas irei a um teatro hoje. Preciso espairecer um pouco.

A governanta deu uma risada fraca.

– Eu até lhe acompanharia, mas o que uma velha senhora como eu faria num local para jovens daquele?

– Não se subestime, Phildora. Você pode ir aonde quiser. Melhor que ficar enfurnada nessa casa, sozinha – Katarina se moveu até a porta mais próxima; se virou para a governanta. – Mas, se assim preferir, pode ficar aqui e me esperar. Não demorarei muito.

Phildora riu.

– A senhorita até está falando difícil. Nem parece a Katy que eu vi crescer.

Katarina sorriu.

– Pode ter certeza que eu não mudei nada, apenas me adaptei.

Saiu da mansão a passos lentos. Odiava ter que carregar o vestido, mas ele era muito grande e cheio. Sentiu saudades de sua calça de couro, que por mais que fosse um tanto apertada, lhe era de mais benefício.

Uma carruagem a esperava. Adentrou nela com dificuldade, dando de cara com Draythe e Riven, vestidos da mesma forma que ela, na nova moda “swainista”, como estavam chamando.

Nunca imaginou que veria Draythe tão bem trajado, e nem Riven de vestido longo. Os dois pareciam excitados, como uma criança que ganha um brinquedo novo.

– Katy! – exclamou ela. – Está animada para a peça de teatro?

Katarina riu.

– Vocês parecem estar.

– Por tanto tempo ficamos em guerra – comentou Draythe. – Agora que estamos de folga, queremos aproveitar ao máximo.

Realmente, a folga era algo bom. Sem guerras, sem treinamento, sem patrulhas. Havia uma centelha de novos guardas, vestidos com armaduras negras que ainda os lembrava que estavam em Noxus, não numa espécie de Demacia com luz elétrica.

Draythe e Riven aproveitaram esses últimos meses passeando por vários locais da Nova Noxus, indo a várias festas e transando muito. É, foi assim que a própria Riven descrevera seus últimos dias para Katarina.

– Vocês já foram a uma peça antes? – perguntou.

Os dois balançaram a cabeça juntos, negando.

Riven gesticulou com as mãos.

– Não acredito que em quatro meses nós fizemos tanta coisa, menos ir a um teatro.

– Fomos ao Jardim Botânico, fomos ao mini zoológico, fomos à várias festas... – Draythe engoliu em seco. – Até demos uma passadinha no Submundo. Nas duas camadas.

Katarina revirou os olhos.

– Não precisa falar como se fosse errado – riu. – É, na verdade, mas somos noxianos. Não tememos o mundo inferior. Ainda mais com tantas atrações macabras. Se quiserem, podemos dar uma passadinha ainda hoje.

Riven arregalou os olhos.

– Até que não é uma má ideia – fez um sorriso bobo e se virou para Draythe. – Vamos, amor? Deve ter alguma coisa legal para apostarmos.

Ele sorriu.

– Quem sabe?

A carruagem parou.

– É nossa deixa – disse Katarina.

[...]

Katarina, Riven e Draythe foram conduzidos até a área VIP, na parte de cima, no segundo andar do teatro. De lá eles podiam ter uma ótima visão da peça em si, e até mesmo das pessoas mais plebeias que se assentavam abaixo.

Logo após se sentar, Kat sentiu alguém respirando à sua nuca. Se virou e viu-se encarada por um homem belo e atraente. Arregalou os olhos ao perceber quem era.

– Conde Vladimir? – não parecia em nada com o garoto esquelético que havia visto no conselho, dias antes. Ele estava claramente mais alto (talvez por usar botas de salto e ter uma postura melhorada), sua pele estava com cor, não tão pálida; ele parecia mais vivo, seus olhos tinham mais brilho, ele parecia mais forte e seus cabelos brancos mais bonitos, cortados na base do ombro, distribuídos igualmente em dois dos lados da cabeça. Ele usava um sobretudo preto e, por baixo, uma camisa vermelha desabotoada, revelando um peitoral musculoso e usava calças pretas de couro. – Uau, você está...

– Diferente? – ele perguntou. De fato, estava. Katarina se sentia levemente atraída por ele, o que era estranho. – Sim; andei pegando um pouco de sol, me alimentando melhor, fazendo exercícios físicos... sabe como é, fui retirado de uma estátua há pouco tempo.

Katarina respirou fundo. Ele emanava calor; ela começou a suar de leve.

Por muito tempo parara de pensar em homens. Decidira se focar em si mesma após Garen. Queria esquecê-lo apenas discutindo com Swain em reuniões chatas, mas não era o suficiente: precisava de um substituto, alguém que lhe fizesse melhor que ele jamais fizera.

Vladimir parecia o par ideal para ela, talvez para uma noite apenas, ou até mais.

Riven e Draythe se assentaram ao lado de Katarina. Draythe percebeu Vlad e sorriu, oferecendo a mão para apertar.

– Sou Draythe Darkwill e essa é minha namorada, Riven – ele era grande e sua mão maior ainda, causando um estalo na mão magra de Vladimir, que fez uma cara feia. – Oh, me perdoe. Às vezes me exalto em apertar mãos.

Vladimir semicerrou os olhos.

– Darkwill, é?

Draythe fez que sim.

– É, eu era filho de Boram... antes dele ter morrido.

– É – sorriu Vlad. – Eu era um dos conselheiros e magos dele... antes dele me transformar numa estátua por meio século.

Draythe ficou sério, parado ali por alguns segundos. Depois de um tempo ele voltou a sentar e ficou calado, com Riven o consolando, quem sabe.

Katarina queria odiar Vladimir por ele ter feito aquilo com seu amigo, mas só fez com que ela o achasse mais atraente – ou estava forçando uma barra. Mesmo assim os dois trocaram sorrisos, ambos maliciosos. Finalmente ela estava se entendendo com alguém da forma como realmente era: venenosa.

Sempre fez muitos papeis. Papel de responsável em Kalamandra, papel de quem ligava para Anson Ridley, papel de trouxa com Garen, papel de certinha para Phildora e até o papel de pavio-curto para Swain...

Quando as luzes se apagaram e os holofotes foram para o cenário, os atores entraram em ação. Foi quando Katarina percebeu que era uma atriz, sempre fora. Tentava fazer papéis diferentes para esconder seu maior e mais profundo papel: o de má. Os Du Couteau sempre acreditaram na justiça, mas há quem diga que a crueldade vem no sangue.

Vladimir sorriu para ela novamente, como se ele estivesse começando a entende-la de uma maneira única, telepática.

– Devolva meu filho, oh, mestre do mal! – exclamou uma atriz do palco.

A peça em si consistia em uma mulher que tivera o filho sequestrado por um “lorde do mal” e pedia-o de volta. A mulher se vestia em trajes brancos de cetim, era branca e tinha cabelos castanhos e curtos. Se assemelhava demais com a rainha Jaynee. O homem se vestia de forma extravagante, com roupas roxas e um chapéu enorme, que cobria parte do rosto.

– Nunca, sua jovem inocente! – ele respondeu numa entonação que dava náuseas. Ninguém falava daquela forma, francamente.

Katarina viu um corvo voar pelo teto do teatro, indo na direção oposta a ela, do outro lado da área VIP, que fazia uma espécie de C acima da parte não-VIP. O corvo pousou no ombro de um homem vestido com uma armadura verde, negra e dourada. Jericho Swain. Seus cabelos estavam lisos e penteados para o lado. Ao seu lado estava LeBlanc, em um vestido preto e roxo, longo, mas extremamente decotado.

Continuou a observar Swain, até o momento em que ele olhou para ela sorrindo maliciosamente, como quem diz: Você não perde por esperar. Ergueu o copo de vinho, como num brinde imaginário, e depois acariciou a cabeça de Beatrice.

Katarina se sentiu aflita, como se algo ruim fosse acontecer. Por mais ruim que a peça fosse, agradava ao público e chamava sua atenção.

– Oh, Lorde Veigar – gritou a mulher de branco –, por favor, traga meu filho de volta!!

O homem de roxo deu uma potente risada maquiavélica e exclamou:

– Pois bem, mulher. Veja sua cria em sua decadência! – e bateu o cetro no chão.

Quando o fez, uma nuvem de fumaça explodiu do chão, e um alçapão pôde ser ouvido ser acionado. Uma figura se erguia da fumaça, um homem alto, mas curvado. Quando puderam saber quem era, todos se sobressaltaram e arquearam.

O homem que apareceu era alto e musculoso, porém ele estava com roupas curtas, sujas e surradas – uma camiseta branca (amarelada) e um short largo–, parecendo estarem sujas até mesmo de sangue. Ele tinha longos e desgrenhados cabelos castanhos semelhantes ao de um mendigo. Katarina não percebeu quem era de primeira, mas logo percebeu que a cor das pernas era mais clara que a do resto do corpo.

Jarvan IV.

– Esse cara... – disse Draythe com os olhos semicerrados. – Esse cara me é familiar.

Katarina olhou para Swain e LeBlanc, que sorriam para ela, como que em desafio.

– Oh, meu filho... – começou a dizer a atriz loira.

O resto da peça não fez o menor sentido para Katarina, pois tudo aquilo era tão humilhante para o príncipe dourado de Demacia, que ela chegou a se apiedar dele. Não por ter sofrido, mas por ser humilhado. A honra era tudo para um demaciano; sem ela só restava um saco de ossos e carne. Uma carne em um açougue, pronta para ser cortada.

Durante a peça, Jarvan foi obrigado a se submeter em situações humilhantes e, para o público, engraçadas. Aparentemente ninguém o reconheceu, pois se o tivessem feito, ele não estaria mais vivo. Teria sido surrado e linchado.

Katarina sentiu-se pesada por ser a única a saber daquilo. Queria contar a Riven e Draythe; aquilo estava entalado na garganta, ela queria falar. Mas sentia que aquele comentário não seria bem aceito. Ou os dois não acreditariam, ou a questionariam. Não acreditariam de primeira, principalmente pelo respeito que eles tinham por Swain. Draythe teve-o como um segundo e melhor irmão, e Riven, bem, ela era extremamente fiel aos seus princípios e honra. Parecia até uma demaciana.

Olhou para o lado, para o Conde Vladimir, que parecia maravilhado com a peça, rindo à toa. Havia acabado de conhece-lo melhor; não iria falar algo tão vago e sem certeza. Ainda mais por ele ser da Rosa Negra.

Lembrava-se da forma como seu pai falava da Rosa. Dizia que ela jamais deveria se afiliar a ela se um dia ela novamente desabrochasse. Se sentiu mal por isso. Ele fazia parte d’A Ordem Cinza, que era completamente contra o governo de Boram e da matrona LeBlanc. Antigamente ela era muito conhecida, agora era só uma fraca personificação do que o povo esperava que fosse uma rainha. Mal sabiam o nome dela, os plebeus.

Sumir foi a melhor coisa que Emília já fizera. Agir pelas sombras, tramar planos... Katarina estava farta disso. Podia ler nos olhares deles que eles tramavam algo grande.

Quando a peça se pôs em intervalo, Katarina foi até o bar do teatro. Assentou-se em uma cadeira próxima do balcão, irritada com o vestido, nada prático. Ao redor haviam pessoas de várias classes sociais, de pessoas ricas a plebeus, todos bebendo juntos. Alguns fumavam e também conversavam, riam... O local ao redor, em si, estava iluminado por lâmpadas acopladas às paredes, que lembravam as antigas velas. O local era bem decorado e fazia o bom uso do mármore negro noxiano com a sofisticação swainista e da boa e velha madeira.

– Um pouco de oráculo, por favor – pediu Katarina.

Doses pequenas de elixir do oráculo deixavam a pessoa mais acesa, acordada. Um revigorante natural. Doses maiores faziam com que a pessoa tivesse alucinações; mas há quem diga que são visões de outro mundo.

O badernista, que era um homem extremamente gordo e barbudo, pegou um copo pequeno e derramou nele um pouco de um jarro de líquido rosado. Katarina bebeu no mesmo instante.

Vladimir sentou-se do lado dela. Sorriu para o badernista.

– Um Martini, por favor – e se virou para Kat. – Parece aflita, minha dama. Algo lhe aflige?

Katarina suspirou.

– Na verdade... – balançou a cabeça, sentindo a adrenalina do oráculo passear por suas veias. Sorriu. – Na verdade, nada. Às vezes Noxus é sombria demais; precisamos aproveitar melhor os momentos de luz.

Vlad sorriu com um olho semicerrado; Kat percebeu que ele tinha presas um tanto quanto afiadas para uma pessoa comum, mas não eram nem um pouco surreais.

– É assim que eu gosto que fale, milady. Odeio ver jovens belas como você nesse estado, tristonhas. Mulheres bonitas devem sempre sorrir, manter a compostura e serem boas... em todos os sentidos.

Katarina riu.

– Está tentando me cantar? Vá lá, pode dizer o que quer dizer sem tanta enrolação.

Ele deu de ombros, com o copo de Martini na mão.

– Se é o que quer, não reclame depois – ele levou uma mão à uma área pouco abaixo do rosto de Kat, acariciando-a de forma que a deixou nervosa. – Devo dizer que é a flor mais linda e flamejante neste jardim sombrio.

Katarina fechou os olhos, sentindo a adrenalina e o prazer tomar conta de si. Queria aquilo, e se Vlad quisesse, poderia fazer com ela o que quisesse, sem hesitar, sem relutar. Ela seria dele.

Mas um som de bater de bengala a acordou do transe prazeroso.

Vários guardas pareceram abrir caminho entre os ricos e plebeus, unidos naquela bebedeira – embora uns ficassem em um lado e outros, bem, em outro. Eles escoltavam Swain e LeBlanc, que caminhavam, confiantes.

– O grão-geral já vai embora? – comentaram algumas pessoas.

– Mas a peça nem terminou.

– E aquele que vem com eles?

De fato, vinha uma figura encapuzada atrás dos dois, que ao andar devagar, era empurrado por alguns guardas, como se fosse gado. Jarvan, pensou Katarina. Por mais que ele fosse o príncipe demaciano e odiado por todos, aquelas ações de Jericho pareciam tão... pessoais. Como se estivesse se vingando de algo, talvez.

Katarina sentia que a vingança não tinha nada a ver com Kalamandra ou qualquer outro conflito anterior.

Levantou-se e seguiu-os, até a entrada do teatro, onde uma carruagem os esperava. Jarvan entrou primeiro, sendo obrigado a prosseguir, quase jogado lá dentro por um oficial; parecia o cãozinho de Jericho.

Antes que o próprio pudesse entrar, Katarina o chamou:

– Muito bonito, Swain... muito bonito.

Jericho se virou para ela, sorrindo. Emília estava quase entrando quando parou e se virou para Kat.

– É mesmo? – perguntou Emília. – Eu que escolhi a roupa dele e penteei seu cabelo. Por isso ele está tão bonito.

Katarina cerrou os punhos.

– Nada disso, LeBlanc. Acha que eu não sei quem é o acompanhante de vocês?

– Na verdade – respondeu Swain. – Nós sabemos também. É bom finalmente ter algo em comum com você, minha cara. Mas não vamos discutir diferenças e semelhanças, pois tenho afazeres no Castelo. Se me permite.

Katarina retirou uma adaga imensa de uma falha em seu vestido, que estivera presa à sua perna; apontou-a para Jericho, automaticamente fazendo com que os guardas apontassem as espadas para ela.

– Eu sei que você tem ressentimentos com ele – ela disse. – Mas isso é errado. Deveria matá-lo em vez de brincar com a presa.

– Então por que você não para de brincar comigo e me mata logo? – perguntou Swain, levantando uma sobrancelha. Beatrice pousou em seu ombro e grasnou contra Katarina. – Fica nesse joguinho de amigo e inimigo. De que lado você está? Os Du Couteau sempre tiveram uma conduta duvidável, mas Boram os amava, por isso eles permaneceram. O homem com o qual estava conversando, Vladimir, foi um dos favorecidos pelo ódio de seu avô contra A Rosa. Ele que aconselhou Boram a congelá-los em estátuas de pedra e guardar em um compartimento abaixo do castelo. Ele me mostrou antes de morrer.

A mão de Katarina tremeu na adaga. Não se sentia bem com aquela roupa, com aquele cabelo, com aquelas joias... Era como se não fosse ela. Agora, várias pessoas observavam, assustadas, enquanto ela apontava uma adaga pro recém-nomeado grão-geral, amado por todos por trazer avanços antes não possibilitados.

Foi inteligente, abaixou a adaga e deu um sorriso fraco.

– Então faça a porra que quiser com essa droga de príncipe – guardou a espada na bainha acoplada à sua perna. – Mas quando seu plano der errado, eu estarei lá para rir da sua cara. Até lá eu posso te servir, mas minha devoção nunca será sua.

– E será de quem? – perguntou LeBlanc. – Por acaso será de um pau demaciano?

Os soldados ao redor riram, para a desgraça de Katarina e para o sucesso de Emília, sempre sarcástica.

Katarina deu a volta e voltou ao teatro, irritada com o que acabara de fazer. Se sentia dividida num sentimento de orgulho próprio por ter desafiado o Alto Comando Noxiano e A Rosa Negra ao mesmo tempo, mas sentiu medo por sua própria vida, que podia muito bem ser atazanada por Swain, começando por sua irmã, que agora já deveria estar em solo demaciano.

Fechando os olhos ela podia vê-la seduzir Louis Laurent, dando alguma desculpa idiota pela coloração de cabelo e dando um nome falso. O idiota cairia na armadilha e a levaria até seu clube, com segundas intenções, claro.

Chegando ao hall de entrada do teatro, não encontrou o Conde Vladimir. Riven e Draythe deveriam estar se pegando em algum canto escuro – o lado ruim de se sair com amigos namorados era “segurar vela”.

– Para onde o Conde Vladimir, o homem de cabelos brancos, foi? – perguntou ao badernista.

Ele deu de ombros.

– Grande ajuda – queixou-se Kat.

Ela subiu de volta ao teatro, para a área VIP. Assentou-se no mesmo local, sentindo a falta de Riven, Draythe e de Vladimir. Não conseguia pensar aonde eles estavam, e se sentiu solitária naquele meio tempo. A cada minuto que passava naquele papel, parecia que ela ia explodir.

Engoliu em seco.

Quantos papéis mais restam?

Ouvia a voz de seu pai ecoar em sua mente. Não confie em Emília, muito menos em Jericho. Ela não entendia o porquê, pois gostava dele, era um amigo. Mas ele é meu amigo, como posso não confiar nele? Ela perguntava, mas a resposta que vinha não era nada boa. Apenas saiba que a Rosa Negra desabrochará novamente. E quando isso acontecer, mantenha-se afastada dele.

De repente tudo fez sentido para ela. Arregalou os olhos. O pai sempre temeu o momento da nova ascensão da Rosa, pois seus antepassados fizeram de tudo para destruí-la e destruir a forma como eles dominavam Noxus. Agora tudo fazia sentido. Ele havia previsto tudo, tudo o que aconteceria no momento da ascensão da Rosa.

Se levantou e caminhou na direção da janela mais próxima, sem saber o porquê de estar se aproximando dela. A janela que encontrou dava para o lado de fora, uma vista da rua do teatro. Lá fora viu o local escuro e deserto, mas viu duas pessoas se beijando, se agarrando, tudo isso em um beco.

Não eram Riven e Draythe.

O homem que fazia movimentos periódicos na mulher se vestia de preto e tinha cabelos brancos, enquanto que a mulher era morena e usava um vestido verde-escuro.

Katarina sentiu nojo de si mesma por ter se sentido atraída por aquele cafajeste de meia tigela. Foi só ela ter se distanciado por alguns segundos e ele já estava lá, quase trepando com a mulher em um beco, achando que não estava sendo visto. De fato, não haviam guardas na rua, o que era estranho.

Afastou-se da parede, da janela, pois não aguentava mais aquilo. Sentia uma pulsação fervilhante em sua cabeça; a mão da adaga chegava a tremer. Era como um impulso assassino e psicótico de apunhalar a primeira pessoa que visse.

Desceu para fora do teatro, para a rua, enfurecida. Estava abandonada, sem rumo e sem destino. Pela primeira vez na vida estava parada, sem missões e sem assassinatos de aluguel. Boram sempre a movimentava, enquanto que Swain a torturava com aquelas reuniões de conselho malditas. Aquela deveria ser a vingança dele por ter levado um fora quando adolescentes.

Queria muito encontrar Vladimir e a puta, mas quando saiu, não encontrou ninguém. Absolutamente ninguém na rua. Eles haviam sumido do beco, os guardas haviam desaparecido... Uma carruagem vinha em sua direção, e assim que estacionasse, ela iria direto para casa. Não aguentava mais aquela tortura. Precisava de um pouco mais de ação... e sabia exatamente como consegui-la.

[...]

Vladimir havia chegado ao ápice do prazer... sem roupa pelo menos. Desde que voltara dos mortos, haviam feito um verdadeiro harém em sua mansão. Tinha uma sede insaciável por mulheres e o que elas tinham embaixo da roupa. Pensou em possuir Katarina Du Couteau, mas ela demorou demais. Por isso a primeira “dama” que se apresentou a ele, foi a vítima.

Eles se beijavam loucamente, ele passava a mão em sua perna, ela em seu peito, e os dois faziam a troca justa de acariciamentos. Podia imaginar todas as posições possíveis que poderia fazer numa cama, esperava apenas a próxima carruagem para levá-la até sua mansão e “comê-la”.

– Me beije, Vlad... – ela pediu e gemeu.

– Farei mais que isso.

Ela gemeu mais alto quando ele beijou seu pescoço, depois lambeu... e sua boca se encheu d’água. Ele recuou, fazendo com que ela estranhasse. Ele começou a sentir um impulso, uma força descomunal que o impulsionava para ela... e essa força não era o tesão.

Sua visão se tornou vermelha; podia ver cada veia da garota, que se destacavam pela cor branca e pulsante. Piscou seus olhos algumas vezes; a visão voltava ao normal e depois à visão de caça.

– Algum problema...? – a garota arqueou quando os olhos de Vlad se tornaram negros e as veias ao redor dos olhos também, como relâmpagos escuros. – V-Vlad...?

– Me perdoe por i-isso.

Ele abriu a boca tanto quanto um animal poderia abrir, mostrando suas presas que havia dobrado de tamanho, se tornando surreais. A garota gritou, mas não alto o suficiente, pois em poucos milissegundos, Vladimir já estava à sua garganta, as presas fincadas, ele sugando cada gota de sangue do corpo dela.

Ela tentou gritar enquanto a vida se esvaía, mas não conseguiu sequer dizer uma palavra.


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Notas finais do capítulo

Uma semana se passou e aqui estou eu, com mais um capítulo maravilhoso de Noxus



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