A mais Olimpiana escrita por telljesusthebitchisback


Capítulo 20
Trauma Demoníaco




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-Belo colar. – Kane apontou para meu pescoço, a principio pensei que fosse o colar de Ártemis.

 

- O da lua?

 

- Também, mas o do Sol brilha muito. É incrível. – Ele ficou boquiaberto olhando. Minha mão instintivamente foi para meu pescoço.

 

Há alguns dias, eu havia jogado esse colar no chão, quando brigara com Apolo. Mas como ele é uma benção, voltara para o meu pescoço. E sempre voltaria.

 

- Foi um presente. – Eu murmurei meio magoada.

 

- De quem?

 

- Do deus do Sol. – Eu suspirei triste, virando minha cabeça para a janela, evitando uma conversa sobre ele.

 

Estava no banco de trás, pois já que excedíamos o número de pessoas por veiculo, precisávamos de espaço. Assim, Ethan e Luke – os maiores-, foram na frente. Percy e Annabeth foram juntos em um canto, Annabeth meio que ficava no colo do Percy, dormindo.  E eu exigira que fosse na janela, já que Kane ficaria fazendo perguntas, precisava de ar.

 

Lutei contra minha mente hiperativa e falatória que nunca ficava vazia, mas mesmo assim o nome dele me veio à cabeça, e não parava. Apolo, Apolo, Apolo, Apolo...

 

Lágrimas correram pelo meu rosto, mas eu tentei não fazer barulho, tudo que eu menos queria era empatia.

 

Acho que ninguém nunca amaria alguém como eu amava Apolo. Quando eu o via, meu coração parava. Na primeira vez que isso aconteceu, eu fiquei com medo, pois meu coração parou por tanto tempo que eu achei que morreria devido aos meus problemas de coração.

 

Eu nunca havia brigado com ele antes, e não queria nunca mais brigar. Era a pior sensação do mundo, eu me sentia sem ar e a claustrofobia atacava, mesmo estando à luz do sol.

 

- Porque não paramos em um hotel? Já está de noite, e aposto que todos estão cansados. – Eu sugeri depois de limpar as lágrimas, apontando para Annabeth. Luke pareceu perceber que havia algo errado comigo, pois analisou meu rosto e meus olhos, me lançando um olhar de empatia. Argh.

 

- Concordo. – Percy se pronunciou, tomando cuidado para não acordar Annabeth. – Ela é bem pesadinha. – Ele sussurrou, confidenciando.

 

- Eu ouvi. – Annabeth murmurou sem parecer estar acordada. Todos nós olhamos para ela com medo.

 

- Aquele parece bom o suficiente. – Luke apontou para um hotel de beira de estrada. A casa era feita de madeira clara, e a julgar por elas o hotel tinha uns 30 anos, com uma enorme porta de madeira central. O telhado era de PVC e com marcas de infiltração. Uma enorme placa de neon avisava que era um hotel. Não seria minha primeira escolha, mas estávamos no meio da estrada, não existia mais nenhum por perto.

 

- Por mim tudo bem. – Percy deu de ombros.

 

- Estou tão cansado que durmo até na rua. – Ethan murmurou com a cabeça quase caindo e a expressão sonolenta. Todos concordaram.

 

- E então, Aghata?- Ethan me perguntou, olhando pelo retrovisor e todos fizeram o mesmo, como se a minha escolha fosse a final e principal.

 

- Por mim tudo bem. – Eu dei de ombros.

 

- Certo. – Ele assentiu e virou o volante de uma vez, nos fazendo cair em cima de Annabeth e Percy. – Chegamos. – Ele freou de repente, me fazendo bater a cabeça no encosto de cabeça do motorista.

 

- Obrigada. – Eu murmurei sarcástica, cambaleando para fora do carro. Quando consegui ficar de pé com minha mochila, olhei ao meu redor.

 

A noite se estendia e fazia sombra na floresta envolta da enorme casa velha de madeira – que agora eu pude perceber, tinha 2 andares-, ouvi o barulho de uma coruja e bichos se mexendo, fazendo as folhas no chão farfalharem. Um enorme corvo passou acima de nossas cabeças. Não ouvia um som de vida humana naquele lugar, parecia filme de terror.  Fiquei arrepiada e fui para trás de Luke correndo, morrendo de medo do lugar.

 

- Vocês têm certeza?- Percy hesitou.

 

- Não temos escolha. – Eu murmurei em resposta, me escondendo atrás do braço de Luke. – Ou morremos na estrada de tão cansados.

 

- Deve ser melhor que morrer aqui.

 

- Ora, vamos logo, seus molengas. – Kane assumiu estressado.

 

- Sim, você tem razão, vamos. – Eu me recompus, assumindo o controle, mas ainda segurando o braço de Luke com minhas mãos frias.

 

- Relaxa. – Ele sussurrou para que só eu ouvisse. – Essa não é a casa de 6 anos atrás, te prometo. – Ele colocou a mão em meu ombro, me acalmando.

 

- Ah, obrigada, nem me lembrava disso. – Eu murmurei em resposta, sarcástica.

 

- Vamos, eu estou com você. – Luke me abraçou de lado, me puxando para o grupo. Tentei me recompor e assumir a liderança, como meu pai faria, mas meu trauma não deixava. Estava pior ainda agora que Luke me lembrara.

 

Assim que nós entramos pela enorme porta de madeira escura, um sino tocou em cima de nós, avisando que havia clientes nesse hotel fantasma. Por dentro, era ainda pior. Um balcão de madeira estava posicionado entre duas escadas entrelaçadas de madeira que davam para o mesmo lugar. O térreo parecia ser apenas uma pequena e abarrotada sala de madeira, mas eu sabia que havia passagens ‘secretas’ ali, em algum lugar, para algum outro lugar de madeira, com tudo de madeira. Aquilo parecia uma selva, se o Green Peace visse essa casa, processaria na hora.

 

- Luke... - Eu murmurei o apertando mais, olhando para o lugar morrendo de medo.

 

- Calma, está tudo bem. – Ele afagou meu ombro.

 

- Não, Luke, é igualzinha. – Minha voz saiu baixa e esganiçada.

- Gente... – Percy murmurou olhando apavorado para a sala, com Annabeth grudada de medo nele. Se não tivesse assim também, tiraria uma foto. Uma criança de Atena com medo não é a coisa mais comum do mundo.

 

- Olá. – Uma voz acima de nossas cabeças me fez pular nos braços de Luke, morrendo de susto. Olhei para o homem, e quase desmaiei.  No corrimão da escada, estava um homem com um sorriso demoníaco, com a cabeça virada para nós, com um rosto muito, muito familiar. – Quantos quartos vocês gostariam de alugar?- Ele riu enquanto descia as escadas.

 

- Er... Senhor, nós gostaríamos de... - Luke tentou dizer, mas sua voz falhava. – Quantos, pessoal?- Ele perguntou para todos.  O homem parou no pé da escada da direita, olhando para Luke com uma expressão curiosa. Até que seus olhos me encontraram e ele abriu um sorriso maligno.

 

- Luke... – Eu sussurrei quase chorando. O homem era igualzinho ao das minhas péssimas lembranças. Ele era gordo, velho e enrugado. O cabelo grisalho e crespo era aparado curto, um sorriso demoníaco e rasgado por uma cicatriz que atravessava a boca não saia do rosto, enquanto ele me analisava dos pés a cabeça. Sua camisa xadrez estava manchada de um líquido preto, e um pano laranja sobre o ombro escondia a esquerda de seu pescoço.

 

- Calma, Aghata. – Luke sussurrou baixo o suficiente para só eu ouvir. O homem nos analisou conversando, e um sorriso maior e mais demoníaco ainda tomou seu rosto, sua cicatriz parecia brilhar.

 

- Aghata, belo nome. - Ele começou a chegar perto. – Há cinco anos, eu conheci uma pequena garotinha de nove anos, muito parecida com você, devo dizer, cujo nome era Aghata. – Ele tocou meu rosto, eu estava paralisada de medo, congelada no lugar, sem me mexer, sem respirar, sem ar. Sua pele era áspera e grossa, ele fedia a gordura velha, um choque horrível corria pela linha que ele traçou em minha bochecha.

 

A garotinha de nove anos que ele disse conhecer, só poderia ser eu. Apertei mais o braço de Luke, pedindo socorro, era a única ordem que meu corpo obedecia: pedir socorro.

 

- Bom, senhor... - Luke o interrompeu, fazendo-o tirar os olhos demoníacos e castanhos tão escuros que pareciam vermelhos de mim.

 

- Que grosseria a minha. Meu nome é Clancir. – Ele se apresentou. – Clancir Beltrão. - Ele sorriu demoníaco para mim.

 

Não pude conter a lagrima que caía, enquanto cobria a boca com a mão e prendia a respiração. Aquele nome. O primeiro nome era inesquecível, que tipo de nome é Clancir? Era o mesmo de quando eu o conhecera. Mas Beltrão? Esse era diferente, e significava corvo negro. Esse sobrenome ele só pode ter adquirido após sua morte. 

 


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