Ainda estávamos no mesmo dia. O céu ainda estava claro, eu observava o teto sem nenhuma animação. Mas de repente ouço os roncos dos magricelas, os caçadores dormiram! Significando que eu podia sair dali! Eu não precisaria passar o resto do dia trancada na cabana, eu poderia fugir um pouquinho!

Me levanto sem fazer barulho e, então corro para a porta, abro ela e saio, mas sem querer bato ela forte demais, fazendo eu mesma me assustar e colocar minhas pequenas mãos na boca.

Corro pela neve para procurar por Kenai. Eu precisava vê-lo, passar mais tempo com ele. Quem sabe ele poderia me deixar tocá-lo?

— Kenai! — Começo a gritar de novo, após me afastar bastante da cabana.

Eu não ouvi sinal algum dele. Eu estava querendo encontrá-lo, de um jeito ou de outro. Então resolvi que procurar perto do riacho seria uma boa idéia! Correndo e gritando o nome do lobo, cheguei até o riacho. Eu pretendia encontrá-lo caçando um peixe, mas não havia nenhum sinal dele.

Estalando minha língua e bufando de raiva, me viro para voltar até a cabana, desistindo de procurá-lo, mas meus olhos se arregalam após esbarrarem em dois pequeninos lobos filhotes, eles pareciam distraídos, pareciam cãezinhos, além de fofos, dava vontade de apertar.

— Oi! — Caminhei até eles, acariciando. Eles rosnaram para mim, bem baixinho, já que já eram espertinhos.

Mas enfim, quando me aproximei mais, eles me deixaram acariciá-los. Fiquei temendo em encontrar os pais dele. Que raios dois pequeninos lobos faziam sozinhos?

Logo olho para algumas árvores e lá estava a mãe deles, provavelmente. Estava com a pata presa em uma armadilha. Ela foi vítima de uma das armadilhas do papai. Eu fico em choque, engulo um seco e meu queixo enruga, eu iria começar a chorar. O que seria desses dois filhotes que acabei de encontrar? Pensei em tentar ajudá-la, mas...

Logo me assusto quando alguém puxa a touca da minha blusa rapidamente, fazendo meu pescoço machucar.

— O que faz aqui, pestinha? — Me assusto ao ver que é um dos caçadores, amigo do meu pai.

— E-eu... — Começo a gaguejar.

— Veremos o que seu pai irá dizer ao saber que você esteve aqui perto do riacho... — Ele parou de falar ao ver que eu segurava um lobo pequenino na mão. Ele logo agarrou o outro lobo pequenino e fez cara de admiração, parecia chocado. Essa não! O caçador acaba de encontrar a presa! Em minhas mãos! Provavelmente ele vai querer pegar os dois filhotes!

— Melody! Meus parabéns! — O caçador magricela falou. — Você encontrou dois pequenos lobos! Seu pai ficará orgulhoso! — Ele me disse, sorrindo.

— Não! — Eu gritei bem na cara dele, fazendo o mesmo limpar a saliva que caiu em seu rosto. — Você não vai tocar neles, Félix! 

 Eu estava torcendo para que o Félix não notasse a mamãe lobo presa ali, mas já tarde demais, ele já a tinha visto.

— Fique quietinha! Você deverá me agradecer! Vou dizer ao seu pai que foi você quem achou esses lobos, ele vai ficar feliz. Agora cale sua boca, me ajude a levar esses filhotes e a mamãe para a cabana. Podemos matá-los lá mesmo, se quiser. — Félix disse, se levantando.

— Não, eu não vou! — Chorei, acariciando o lobo que estava em minha mão.

— Você vai, ou eu chamo seu pai! — Ele gritou, puxando meu braço.

— Me devolve ele! — Tentei pegar o pequeno lobo branco que estava nas mãos dele, mas ele desviou o lobo de mim.  — Eu vou levar ele para o Kenai! — Gritei, ainda chorando.

— Você está louca? Quem é Kenai? Seu amigo imaginário? Venha logo, a nevasca vai aumentar, você vai pegar um resfriado! — Gritou.

— Não! — Gritei o mais alto possível, dando um chute bem dado no meio de suas pernas. Por algum motivo ele se abaixou e começou a gritar de dor. A primeira coisa que me veio em minha cabeça foi tomar o lobo branco da mão dele, enquanto eu carregava o acinzentado com branco.

Desesperada e com medo do Félix, comecei a correr, na maioria das vezes eu quase tropeçava. O céu estava ficando escuro, mas meu maior medo era não encontrar Kenai. Ele era um lobo, ele sabe como tratar outros lobos. O pior de tudo é saber que Félix irá contar tudo ao meu pai, meu pai irá me dar o castigo mais severo do mundo. Eu não posso voltar para a cabana, de jeito nenhum!

Os pequeninos balançavam em meu colo enquanto eu corria muito. Quanto mais longe melhor. Só fiquei mal pela mamãe lobo que ficou oara trás. 

O problema é que eu não pensei duas vezes, uma menina de 7 anos não pode sair por aí assim, no meio da neve, com dois filhotes de lobo nas mãos.

Desistindo de correr, me ajoelho no chão gelado, no meio de um monte de árvores e começo a chorar, muito!

— Kenai! Cadê você! — Chorei, os lobos desceram do meu colo e começaram a andar ao meu redor.

Rapidamente ouço um barulho. Com medo, agarro os dois lobos e me encolho, sentada no chão gelado e repleto de neve.

Inesperadamente aparece Kenai, com seu focinho se mexendo e sentindo cheiro de alguma coisa.

— Oi! — Eu sorrio, e meu choro, se transforma em alegria.

Kenai começa a cheirar os filhotinhos, que logo fizeram o mesmo com ele.

— Kenai, a mãe deles foi capturada. Papai criou algumas armadilhas. Eles estão sozinhos. Papai e os caçadores devem estar atrás de mim. Eu estou escondida. — Falei.

Eu sentia que Kenai podia me entender. Ele agia como se conseguisse. Ele mais parecia um humano mais velho, que por algum motivo cuidava de mim.

Então ele começou a andar. Os lobos começaram a o seguir. Eu fiz o mesmo, não conseguia mais suportar o frio que sentia naquele momento.

Minutos andando, Kenai desviava de árvores congeladas e andava muito. Eu apenas o segui, segurando os dois pequeninos em minhas mãos.

Foi aí que percebi para onde Kenai nos guiou. Para uma gruta de gelo! Aquilo era possível? Era tão grande.

Kenai entrou na gruta, enquanto fiquei parada fora dela. Soltei os dois lobinhos que seguiram Kenai pra dentro da gruta.

Kenai parou por um instante e me olhou. Querendo dizer um “Você vem?”

Eu sorri e entrei com eles.

Ali não estava tão frio. Com certeza ficar dentro daquela gruta era melhor do que receber flocos de neve na cabeça.

Kenai se aconchegou, dando voltinhas e se deitando depois, em cima do gelo liso que a gruta possuía. Os pequeninos se deitaram ao lado dele. Eu então, fiz o mesmo, me sentei ao lado de Kenai. Mas ele então saiu de perto de mim e se deitou em outro canto, fazendo os pequeninos segui-lo.

Notei que Kenai não gostava de ficar ao lado de humanos.. Talvez só estivesse seguindo seus instintos de lobo, talvez odiasse os humanos, ou talvez, tivesse trauma por nossa espécie acabar com sua alcatéia. Ou então estava se contendo para não me devorar.

Piscando meus olhos lentamente, dormi.