A menina e o Lobo escrita por Bonnie Only


Capítulo 10
A gruta de gelo




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Sinto lambidas em meu rosto. Quando abro meus olhos, um dos filhotes me lambia. Eu dei risada, afastando ele de mim.

Me arrumando e me levantando, olhei para os lados, procurando por Kenai. Saio da gruta, enquanto os dois pequenos lobos me seguiam. E lá estava Kenai, sentado ao lado de três peixes grandes. Acho que essa foi uma forma de ele me mostrar que é capaz de pegar um peixe. Ou três. Eu sorri, enquanto ele estava com cara de “ Quem disse que eu não sei caçar peixe?”.

Enquanto ele comia o dele, os pequeninos, seguindo seus instintos, começaram a mordiscar o peixe. Sobrou um, acho que era para mim, Kenai ficou me olhando enquanto comia seu peixe. Com meu pé direito, afastei aquele peixe, jogando para Kenai, ele precisava mais do que eu.

Após eles comerem, fiquei me perguntando o que eu faria. Cheguei a conclusão de que voltar para a cabana, seria a melhor decisão, se eu não quisesse morrer congelada.

Enquanto os dois filhotes brincavam e lambiam um ao outro, Kenai lambia suas patas. Me aproximei dele.

— Kenai... Eu acho que preciso voltar pra casa. Papai vai ficar uma fera. Eu preciso que você cuide dos dois, eles precisam de você. — Falei.

Ele me observou falando, me pareceu que ele entendeu perfeitamente o que eu queria dizer. Mas como resposta, Kenai se levantou, virou as costas, e saiu de perto de mim. Aos poucos ele foi se afastando, enquanto o vento balançava seus pelos brancos.

— Volta aqui! — Gritei. — Não pode me deixar sozinha com eles! Eu tenho que voltar pro meu pai!

Kenai não ligou, continuou a andar, sem olhar para trás, sumiu.

Os dois lobinhos estavam correndo atrás dele, mas tive que pegá-los no colo.

— Ele não vai cuidar de vocês. — Falei para eles. — Kenai é muito orgulhoso! — Resmunguei, acariciando os dois lobos.

Então seria assim? Sou destinada a morrer no frio? Com dois filhotes para cuidar? Por que Kenai não quer cuidar deles? Porque é um macho? Porque esses pobres filhotes não eram de sua alcatéia?

Com meus dentes batendo um no outro por causa do frio, decido andar. Eu estava sem saída, apenas com dois filhotes em minhas mãos, abandonada por um lobo que nem sequer me deixa tocar nele.

Papai a esse ponto estava me procurando, eu não sabia o que fazer, não podia abandonar dois filhotes e voltar para casa.

Após muito tempo andando, dou de cara com Kenai. De novo! Ele aparecia de propósito? Ele estava em sua mesma posição, com o vento balançando os pelos maravilhosos de sua cabeça. Ao sentir meus passos, ele vira sua cabeça, mas sabendo que era eu, vira sua cara de novo.

Rapidamente soltei os dois filhotes da minha mão, eles foram correndo até o Kenai, pularam em cima dele. Kenai bravo, se levantou e tentou desviar das caricias dos pequeninos.

Eu, percebendo que todos estavam distraídos, me virei, dando pequenos passos para me distanciar deles, sem que me vissem.

Então quando percebi que não me olhavam, corri. Corri muito rápido, coloquei todas as forças em minhas pequenas pernas, mas não demorou muito para eu olhar para trás e observar Kenai correndo atrás de mim. Desesperada, eu temia que Kenai fosse me atacar.

Então, a única coisa que consegui sentir foi meu tombo no chão. Kenai pulou em cima de mim, me fazendo ter uma queda contra a neve.

— Ai... — Resmuguei, caída com o peito no chão.

Kenai saiu de cima de mim, lambeu suas patas e, mais uma vez, os lobinhos vinham correndo atrás de nós.

Me levantando e sacudindo a neve da minha roupa, me senti presa com dois lobinhos. Então, minha última escolha, seria deixá-los sozinhos, eu precisava voltar para a cabana.

De pé, murmurei para Kenai.

— Até mais... — Falei triste, decidida à deixar os filhotes sozinhos.

Kenai, sentado, entortou sua cabeça para o lado e ficou me observando. Eu dei um sorriso triste e comecei a andar, deixando os três para trás.

Andando e andando já fazia vários minutos, comecei a tentar memorizar o caminho de volta para a cabana. Então surgindo de algumas árvores, avistei a pequena cabana.

Feliz, corri até ela, com todas as minhas forças, eu não via a hora de comer alguma coisa e trocar a minha roupa.

Abro a porta dela desesperada, e dou de cara com papai discutindo com Félix e Jorge.

— Não acharam a menina? O que vocês são? Ela não deve estar muito longe! Eu quero que encontrem a Melody! — Papai gritou, um grito tão sinistro que minha animação acabou ali.

Félix apontou para a porta, papai distraído olhou, deu de cara comigo, parada ali.

— Melody! — Ele se entregou, correndo até mim e me abraçando.

— Oi, papai. 

Ele não me soltou, me apertou. Mas logo depois sua alegria se foi, ele agora estava zangado.

— É a terceira vez que você some! Quer me matar? — Ele colocou a mão no coração, me observou mais uma vez, em seguida me abraçou novamente. — Está machucada? Está com fome? — Ele começou a mexer em meu rosto, procurando algum arranhão.

— Eu estou bem. — Dei uma gargalhada. — Com um pouco de frio.

— Frio? Jorge, traga um cobertor, rápido! — Papai gritou. Em instantes Jorge jogou o cobertor, papai me cobriu. — Filha, como consegue sobreviver? É um milagre! Dessa vez achei que te perdi para sempre! — Papai gritava.

— Kenai cuidou de mim, papai. — Falei, sorrindo.

— Kenai? Quem é ele? — Papai franziu a testa.

— O lobo da história maluca dela! — Félix se intrometeu. — Melody, conte ao seu pai sobre aqueles filhotes magníficos que você deixou escapar. — Félix disse.

Franzi meu lábio para ele.

— Melody? — Meu pai me repreendeu — Andou brincando com lobos? Você sequer sabia aonde os pais desses filhotes se meteu? — Papai me censurou.

— A mãe deles foi morta, papai. Por sua armadilha. — Falei.

— Esqueça isso... Não quero mais que fique criando histórias de lobos em sua mente... Droga, esse deve ser o efeito do frio. Jorge, jogue mais um cobertor! — Papai gritou.

Suspirei.


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