A menina e o Lobo escrita por Bonnie Only


Capítulo 11
Disparo




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Alguém me sacudia muito. Assustada, abro meus olhos. Era de manhã, tive uma boa noite de sono até alguém me acordar dessa forma.

— Caramba, Melody, acorda! — Papai gritou. — Félix disse que avistou alguns oficiais passeando por aqui. Avistou exploradores também! Se descobrirem nossa cabana e os cadáveres, vamos todos presos! E você terá que ir para um orfanato! Por isso peço que arrume suas coisas e rápido! Vamos voltar pra nossa casa! — Papai sussurrou.

Tentando calcular aquilo, eu rapidamente me levantei. Nós iríamos embora daqui, das montanhas rochosas. Eu nunca mais veria Kenai! Essas foram as primeiras coisas que vieram em minha mente.

Desesperada, enquanto papai e os caçadores arrumavam e davam um jeito de esconder suas armas, comecei a juntar minhas roupas.

— Quando vamos partir, papai? — Gritei, mas ele não me ouviu, então repeti — Papai!

— Hoje mesmo, filha! De tarde, talvez! Temos que dar um jeito de avisar o Jake para trazer seu jatinho. Isso! Bem lembrado! Félix, tente entrar em contato com Jake! Diga a ele que vamos embora antes, diga para ele aterrissar aqui perto, temos muitos corpos de animais para transportar para nossa cidade! — Papai gritou.

Eu precisava me despedir de Kenai, precisava tocar no lobo que fez meus dias mudarem completamente. Precisava dizer adeus. Essas semanas significaram muito para mim, mesmo ninguém acreditando que um lobo não me atacou após eu passar dias ao seu lado.

Trocando minha blusa de frio, escondida do papai, fui jogando mais de cinco sanduíches dentro de uma mochila, eram todos para o Kenai.

— Papai, posso brincar ali fora? — Cutuquei ele.

— Brincar? Está louca? — Ele se virou para mim. — Eles podem te ver!

— Papai! Eles vão achar que sou uma simples criança, não a filha de um caçador! Posso ir?

— Tanto faz! Só não saia de perto! — Ele se livrou de mim.

Sorrindo, saio porta à fora. Não estava nevando, porém continuava muito frio.

Comecei a olhar para todos os cantos, mas ele não estava à vista. Preocupada, querendo vê-lo, e ver os filhotes pela última vez, decidi procurar por perto do riacho. Cansada chego até lá, mas não havia sinal dele. Eu estava desesperada, precisava vê-los. Eu não queria ir embora assim.

[...]

E meia hora se passou... Com um aperto no coração, ainda andando, comecei a chorar de desespero.

— Kenai... — Murmurei, chorando, querendo ver o lobo. — Kenai...

Limpando minha última lágrima com minha luva, sinto uma cócega em minhas pernas. Olho rapidamente para trás.

O filhote! Sorrindo alegremente, me ajoelho no chão, começo acariciá-lo, logo o outro aparece, os dois começam a brigar para subir em cima de mim. E quando olho mais além, Kenai se aproximava, com seus passos e o conjunto de suas patas grudando com a neve no chão.

Eu abro um sorriso sincero.

Ele veio se aproximando, os dois pequeninos saíram do meu caminho, deixando espaço para Kenai. Ele então, sentou-se bem em minha frente, bem pertinho. Meu coração disparou, essa era a minha chance?

Ele logo abaixa sua cabeça. Sim, essa era a minha chance! Mas... Por espontânea vontade, decidi abraçá-lo. Abracei Kenai com todas as minhas forças enquanto fechava meus olhos.

Ele não se moveu. Não sei o que Kenai sentiu, já eu, pude presenciar o que era abraçar um anjo. Era tão prazeroso abraçar uma criatura assim. Pude sentir sua cabeça baixando.

Logo depois de abraça-lo, olhei para seu rosto. Estava como sempre, só que de uma forma pouco diferente.

Ergui sua cabeça com uma palma de minha mão, olhei fixamente dentro de seus olhos azuis. Foi tão bom ter o conhecido.

— Eu vou embora, Kenai. Pra sempre. — Falei, chorando em seguida. — Cuide deles. — Eu fingi um sorriso e me levantei.

Comecei a caminhar de volta para a cabana, antes que papai surtasse. E atrás de mim, Kenai me seguia, fazendo os dois pequenos lobos o seguir.

Não falei nada, deixei-os me seguir. Não queria brigar com eles. Mas quando eu chegava perto de minha cabana, fui obrigada a expulsá-los.

— Por favor, voltem... Papai não pode vê-los.

Kenai continuou sentado, me observando. Me abaixei novamente em sua frente.

— Obrigada. — Sussurrei.

Ele, com seu rosto esculpido e seu instinto animal, continuou me encarando. Eram tantos sentimentos ao olhar para a profundeza dos olhos azuis de um lobo. Se você olhasse profundamente dentro dos olhos de um lobo, saberia tudo o que ele quer passar para você... Confiança, tristeza, gratidão. Era uma imensidão dentro de um lugar só. Tudo isso vindo de um simples animal.

Pronta para me levantar, decido dar um último abraço em Kenai. Assim que eu ia abraçá-lo, ouço um disparo. Um tiro em nossa direção. Acho que o tiro atacaria Kenai se eu não tivesse entrado em sua frente.


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