Quando o céu escureceu-se por completo, a única luz que iluminava o templo eram da lua, das estrelas e pelas diversas luzes da cidade e do próprio templo já que, eletricidade era realmente uma coisa maravilhosa.

Sim, Rikuo e seus amigos decidiram ficar. No entanto, com algumas mudanças. Não querendo enfrentar novos problemas, Maki e Torii foram embora para suas casas. Rikuo e Tsurara insistiram para que Kiyotsugu, Kana e Shima também fizessem isso. No entanto, eles não queriam perder a oportunidade de ver Rikuo e Tsurara lutando. Especialmente Shima que praticamente nem tinha visto os dois amigos em ação.

— Vocês três podem ficar dentro da minha casa se quiserem – disse Kagome preparando um arco e flecha e olhando para Kiyotsugu, Kana e Shima – Acho que minha mãe fez um okonomiyaki muito gostoso.

— Dá pra sentir o cheiro daqui – disse Kana fascinada com o cheiro.

— Não! Vamos ficar aqui! Ou vamos perder toda a ação! - insistia Kiyotsugu.

— Só tomem cuidado - disse Rikuo soltando um pesado suspiro olhando para a escuridão que envolvia o templo Higurashi. A noite chegara.

A atenção dos três jovens desviou-se dos pensamentos sobre comida quando Rikuo e Tsurara trocaram para sua forma youkai. Não tinha muita diferença na de Tsurara. Já Rikuo, a diferença era gritante. Seu cabelo começou a crescer e ficar branco e ele foi ficando mais alto enquanto seus olhos também adquiriam um tom belo e arrepiante de dourado.

— Eu nunca vou me cansar disso – disse Shima surpreso olhando para o amigo que agora estava com longos cabelos brancos e olhos dourados.

— Às vezes fica difícil cair a ficha né? – perguntou Kana.

— Eu sei... – disse Rikuo segurando sua querida e preciosa katana mas soltando um suspiro enquanto olhava para Inuyasha que o encarava de braços cruzados e com uma expressão pensativa.

— Quantos porcento humano ou youkai você é, garoto? - perguntou Inuyasha.

— 1/4 youkai apenas.

— Hum.

Inuyasha, embora monossilábico, estava com a mente perdida em outro lugar. Kagome o olhou e tocou-lhe o ombro e ambos compartilharam um olhar silencioso como se aquela troca de olhar fosse o suficiente para que eles expressassem entre eles o que estavam ambos pensando. Pensavam nos filhos. Dois.

— Pode talvez parecer uma pergunta meio indiscreta mas… - disse Kagome olhando para Rikuo - Você tem alguma ideia de… de quanto tempo de vida tem? Sendo 1/4 youkai e o resto humano?

A pergunta remetia à algo que Rikuo já havia sim pensado algumas vezes mas não tinha expressado o pensamento para ninguém mais. Imaginava que talvez Tsurara tivesse pensado o mesmo algumas vezes já que ela já nem se quer era um bebê quando ele nasceu e sabia bem como era a perspectiva de vida de um youkai.

Seus amigos, no entanto, olharam para ele com um misto de curiosidade e surpresa. Todos já sabiam, graças a todas as aulas de Kiyotsugu, que youkais costumavam viver centenas e centenas de anos. Rikuo não sabia se os amigos já tinham parado para se perguntar quanto tempo Rikuo viveria, mas, se nunca tivessem considerado a problemática, agora iam.

— Desculpe, mas não faço a menor ideia. - respondeu Rikuo e Kagome apenas acenou com a cabeça.

O grupo ficou mais um tempo esperando na escuridão até que uma luz azul no céu chamou a atenção. Não, não era um avião como Shima tinha primeiramente sugerido. O grupo teve mais certeza ainda de que não era um avião quando a luz começou a se aproximar cada vez mais da parte do templo que tinha o poço. Rikuo e Tsurara prepararam-se para o combate mas, sem querer que o inimigo se aproximasse, Inuyasha soltou um golpe com sua espada e Kagome atirou com a flecha. O golpe de Inuyasha, dourado e parecendo se comportar como uma forte ventania, acompanhou a trilha de energia purificadora que saia da flecha sagrada que Kagome atirarara.

— Tá aí um golpe legal - disse Rikuo depois de dar um assobio de admiração.

— Não sabe fazer nada legal, garoto? - perguntou Inuyasha com um sorriso exibindo seu canino afiado.

O golpe de Inuyasha, embora tenha atingido algo que parecia-se como uma enorme cobra, tinha errado a verdadeira fonte da luz que desviou e pousou na frente do grupo. O sorriso era grande e macabro repleto de dentes pontudos. Os olhos, completamente brancos mas que davam à eles a certeza de que a figura azul e chifruda os encarava. Uma luz azulada fantasmagórica envolvia o youkai de aparência etérea que vestia um longo kimono branco e tinha os cabelos pretos e escorridos tão longos que quase chegavam até o chão.

— É-É um Ao Andon… - sussurrou Kiyotsugu surpreso e com medo - Não podemos ficar com medo, ele se alimenta do med..

Talvez sentindo o medo que emanava dos jovens humanos, o youkai rapidamente se lançou para cima de Kiyotsugu, Shima e Kana que se encolhiam pouco atrás de Rikuo, Inuyasha, Tsurara e Kagome. Os três primeiros atacaram. Espadas, espada, gelo. Mas o Ao andon os atravessou como se não fossem nada. Os ataques não faziam efeito nele. O que realmente o parou, foi a barreira que Kagome havia montado ao redor da área onde estavam.

A jovem sacerdotisa pegou um pequeno papel, do tamanho de uma nota de dinheiro, contendo escrituras feitas com tinta e pincel. Um selo. Ela já ia jogar contra o youkai quando um segundo youkai pulou da escuridão, agarrou o Ao andon e o tirou da barreira pulando então para bem longe.

Esse segundo youkai, era uma velha decrépita de braços finos como gravetos, cabelo branco desgrenhado e kimono verde surrado e bem aberto. Seus pés descalços eram cheios de verrugas que davam embrulho no estômago. Tsurara e Rikuo olharam para Kiyotsugu como se buscassem o nome do youkai, mas ele negou com a cabeça. Não sabia.

— Eu vou com o Ao Andon - sussurrou Kagome preparando a flecha.

— Te dou cobertura - disse Inuyasha

— Ele não pareceu muito “acertável” com outros métodos - repetiu ela.

— Posso pelo menos puxar você pra longe mais rapidamente caso algo aconteça.

— Ficamos com a velha então - disse Rikuo.

O grupo assentiu com a cabeça e Kagome disparou a flecha na direção do Ao andon que desviou dela com facilidade. Tsurara tentou congelar a velha que, demonstrando agilidade e habilidade que eles não esperavam, desviou com facilidade enquanto soltava uma risada de arrepiar os cabelos. Entretanto, rapidamente Rikuo começou um combate com espadas contra a youkai idosa que usava de um bastão de madeira para se defender. Ela era rápida e, estranhamente, o bastão era incrivelmente resistente. Prova disso, era que não tinha se quebrado com os ataques da katana de Rikuo.

Tsurara tentou coordenar seus ataques com os de Rikuo, mas sua atenção foi tomada quando um youkai azul, de olhos caídos, sem pernas e cabelos longos e bagunçados que caiam por suas costas, agarrou-a pelos ombros. A garota soltou um grito agudo devido ao susto, mas congelou o youkai rapidamente com seus poderes de mulher-da-neve. O grito da garota causou uma distração em Rikuo que, instintivamente, virou-se para a parceira. A ação, no entanto, foi um erro pois a youkai idosa rapidamente se aproximou e mordeu-lhe o pescoço com força.

— CAI FORA!  - disse Rikuo dando um forte soco na cara da velha que se afastou levando junto com ela, um pedaço da carne dele.

— TENHA CUIDADO NURA-KUN! - gritou Kana falando o óbvio enquanto Rikuo colocava a mão no ferimento culpando-se pela própria falta de atenção. Nem seu avô e muito menos Gyuuki iam o perdoar por ter cometido um erro tão idiota.

— Só nos deixe passar, garoto - disse a velha lambendo os beiços com o sangue de Rikuo - Sua carne é de fato muito gostosa, mas me contentar se apenas nos deixar passar.

— O que raios querem aqui? - perguntou Inuyasha em meio à um salto apressado para tirar Kagome da frente quando, enquanto a garota tentava atirar no Ao andon, um outro youkai se aproximou atacando rapidamente. Esse, era igualzinho à youkai idosa, só que tinha a pele roxa.

— O poço - disse ao Ao Anbou se distanciando como se flutuasse e ficando à uma distância segura - Ouvimos que esse poço leva ao passado.

— Queremos voltar ao passado. O presente não nos faz bem.

Kagome e Inuyasha se entreolharam por uns segundos. Rikuo e os outros nada disseram visto que o poço e a propriedade eram dos dois.

— De onde ouviram isso? - perguntou Kagome.

— E lamento informar, mas o poço não funciona pra qualquer um por aí não.

— NÃO TE INTERESSA! - gritou a youkai velha roxa ignorando o comentário de Inuyasha como se ainda estivesse afim de tentar.

Como se o grito dela fosse um sinal de ataque, vários outros youkais apareceram. Muitos, se pareciam com as duas velhas youkais mudando apenas as cores. Outros, no entanto, eram bem diferentes. Gordos ou magros. azuis ou vermelhos. Um ou dois olhos. Os youkais eram dos mais diversos tipos, formatos e tamanhos. Uma menina de cabelo escorrido e olhos vermelhos e amarelos em sua face em decomposição. Um youkai de mais de 3 metros de língua longa, olhos tortos, pele roxo-acinzentado e careca brilhante. Seres estranhos de pele cinza, braços e pernas finíssimos, barriga torta, olhos negros como buracos e com cabelos apenas acima das orelhas.

Os youkais ocuparam bastante o tempo de Inuyasha, Kagome, Rikuo e Tsurara. Os quatro usavam de todos as táticas que sabiam. Alguns youkais, fracos, morriam rapidamente, outros, eram mais resistentes. A quantidade de inimigos fazia com que a habilidade de Rikuo de desaparecer como névoa negra se tornasse muito útil e o golpes da espada de Inuyasha, muitos de longo alcance, junto com o Meikyō Shisui Sakura de Rikuo, faziam com que vários youkais fracos caíssem rapidamente e os mais fortes ganhassem alguns ferimentos. Os olhos de Kiyotsugu brilharam quando o garoto viu as chamas azuis do Meikyō Shisui Sakura do amigo brilhando e desintegrando youkais. O menino ainda, de quebra, gravava toda a luta contra os youkais. Foi Kagome quem notou, quando boa parte do exército tinha caído, que o Ao Anbou não mais se aproximava da luta. Ele se mantinha distante. Ela atirou uma flecha em sua direção e, mais uma vez, o youkai se foi. Dessa vez, ele foi para longe deixando o templo Higurashi para trás.

— Para alguém que se alimenta de medo. Ele me pareceu bem medroso - disse Kagome.

— Não estou com um bom pressentimento por esse daí ter fugido - disse Rikuo enquanto cortava com sua katana a cabeça do último youkai.

— Também não - disse Inuyasha passando o braço ao redor da cintura de Kagome - Está bem?

— Sim. Estou - completou a garota dando nele um leve beijinho na bochecha.

Ao ver a cena, Rikuo corou, mesmo estando em sua forma youkai. Achou aquilo estranho, o fato de ter ficado sem graça com uma cena simples. No entanto, não foi rápido o suficiente ao olhar para o lado onde o chão estava congelado, assim como alguns youkais e olhou para a garota de cabelos azulados e kimono branco que estava no centro do círculo de gelo. Tsurara respirou fundo, como se estivesse se recuperando da breve luta, e passou uma das mechas de cabelo para atrás da orelha.

— Está bem, waka[1]? - perguntou a garota.

— Tsurara, não me chame assim - pediu Rikuo de forma simples mas tranquila - Rikuo está bom.

— Ah não não não. É informal demais! - exclamou a garota tampando a vermelhidão que agora estava seu rosto.

A cena não passou despercebida para Kana que havia se aproximado dos outros junto com Shima e Kiyotsugu. O cenário da batalha revirava o estômago da garota e agora também era seu coração que se preocupava ao notar o comportamento dos dois achando ter notado uma coisa que talvez Rikuo não tivesse notado ainda. Ela, no entanto, nada disse quanto à isso e, por manter o silêncio, ficou chamando a si mesma de egoísta.

— Tem uma coisa que me intriga - disse Kagome - Onde eles ouviram sobre o poço?

— Pode ter sido da internet… - disse Kiyotsugu.

— Mas o rumor tem que ter começado de algum lugar - completou Inuyasha.

— Acho que posso ajudá-los com isso - disse um outro youkai que não estava ali antes.