Violette Von Bismarck escrita por Petra


Capítulo 6
Mudança de Planos




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Passando pela trilha na encosta, os ditos aliados se viram obrigados a desfazer a formação, passando em fila e revezando-se na transposição cautelosa dos obstáculos rochosos. Violette notara que o cavalo de Marian se aproximava cada vez mais do seu. Não surpresa, a garota ouviu um sussurro rápido: “Se quiser viver, faça o que eu disser”. Cética, e já cansada do teatro que parecia a envolver, ela só examinou os homens que a cercavam e pesbou suas chances contra eles, influenciada pela atmosfera visivelmente agressiva: nulas, sabia que só a decisão de brigar a mataria instantaneamente; tivera uma boa amostra de suas capacidades medíocres de combate anteriormente.

 

Absorta, a garota se alarmou com uma súbita mudança na expressão de Marian, que passou a fitar a curva a frente com visível apreensão. Novamente ela já previa que algo se estava por acontecer e que seu companheiro o sabia muito bem. Mais uma vez não se decepcionou: assim que se aproximavam do local, saiu da parte do percurso da qual não tinha visão um lobo humanóide grande e branco.

 

O recém-chegado deixava claras suas intenções, parado, ele contemplava o grupo mostrando os dentes e com os pelos eriçados. Dois dos vigias de Greta, ávidos, se lançaram então contra o aparecido. Para surpresa de Violette, ambos, deformando o corpo em uma metamorfose impressionante, tornaram-se o equivalente cinzento do lobo a frente. As omoplatas se projetaram para trás, as colunas se curvaram, surgiram caudas, as pernas se envergaram, os maxilares se alongaram e longas presas podiam ser vistas por entre os lábios, que nada mais eram que mandíbulas em um focinho: lupinos? É o que a garota imagina, já que seus estudos não abrangeram organismos dessa natureza pela óbvia escassez de material de pesquisa nos arredores do seu pequeno vilarejo.

 

Retendo seu cavalo, ela se viu novamente próxima a Marian, o qual se virou para ela:

 

- Você confia em mim?

 

Violette retribui o olhar, arqueando as sobrancelhas.

 

- E eu confiaria em quem? Neles? – Aponta para o grupo, ao qual já se juntaram os outros dois homens de Greta, assumindo a mesma aparência.

 

O homem ao seu lado, o que seria seu escudeiro, num rompante, se lançou sobre ela, que, surpresa, mal viu o movimento, só ouviu o “Não se mova!” que o acompanhava. Ele a acertou em cheio no abdômen e derrubou-a não somente do cavalo, mas também da trilha. E foi aí que as coisas começaram a dar errado.

 

Os dois rolaram pela encosta que ladeava o caminho, chocando-se contra rochas e raízes; Violette, caindo e antevendo os ferimentos que acometiam a si e ao outro, pensava com uma parte da mente no ridículo da situação, aquilo não parecia ter sido fruto de nenhum planejamento.

 

Acabaram em um rebaixo do bosque. Ela checa rapidamente seus pertences e vê que pelo menos a posse deles garantiu – apesar de o mesmo não se poder afirmar sobre a conservação de tais. Olha para Marian quando ouve um grito de angústia vindo da parte superior. Ele mal presta atenção ao som e se ocupa em recolocar o ombro ferido no lugar, logo após começa a se afastar, pedindo que a menina o seguisse. Esta, segurando a perna que se estendia em um ângulo não muito natural – e que simplesmente se recusava a funcionar plenamente – o seguiu e, a muito custo, iniciaram uma corrida.

 

- Isso foi realmente necessário? – diz ela, comentando sem esperar resposta.

 

Seguiram naquele passo até que a menina se deu conta que estavam deixando muito sangue para trás, e que, desta forma, não iriam muito longe sem serem interceptados. Ela chamou a atenção do outro, parou e começou a improvisar uma atadura com a barra de sua capa, ainda caçou rapidamente algumas folhas que sabia que ajudariam a parar o sangramento e enrolou sua perna e depois, relutantemente, ajudou com o ferimento no ombro dele.

 

- E essa trilha que deixamos? Será muito difícil nos acharem assim... - Ela mostrava que, do seu Senhor, pelos menos o sarcasmo aprendera muito bem.

 

- Eu lido com isso.

 

Ele, ainda apertando o braço, fechou os olhos e apontou o rosto para cima, gesto ao qual se seguiu uma revoada de pássaros em sua direção.

 

- Corte pedaços do tecido de sua roupa... E espero que isso funcione...

 

Eles arrancaram tiras de tecido e ele as estendeu para os pássaros – que, como muito do que ele fazia, ela desconfiou que fossem ilusões, enquanto se perguntava quão sólidas e materiais eram essas aparições. Os animais tomaram os pedaços e se dispersaram para todos os lados.

 

Marian, agora aparentando estar realmente esgotado, parecia mesmo assim satisfeito e retomou o passo, seguido pela garota. Ela logo percebeu as conseqüências de uma vida voltada única e exclusivamente para a ciência: mal conseguia acompanhá-lo e rapidamente se sentiu exaurida, no entanto seguiu mancando, forçando-se ao máximo; de repente pareceu-lhe uma questão de honra conseguir realizar uma tarefa tão simples – e era difícil admitir a si mesma que se achava uma inútil ultimamente.


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Notas finais do capítulo

Postado 29/03/10



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