Violette Von Bismarck escrita por Petra


Capítulo 2
Intervenção




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Certa noite, ao caminhar pelos arredores da capela, sentindo aquela brisa no rosto que outrora a faria ter arrepios, notou certo tumulto no vilarejo logo abaixo, ao qual logo se seguiram gritos e sons de violência. Violette estava portando apenas a adaga de seu pai – da qual nunca se separava – e, sem pensar, cobriu suas feições tão pálidas com a capa e desceu correndo para ver o que se passa. Ela desceu rapidamente a colina na qual residia a capela e se esgueirou pela lateral de uma casa na parte rebaixada, ocultando-se à sombra desta, para enxergar a rua principal.

 

No vilarejo reinava o caos: pessoas corriam de um grupo armado que parece ter saído do nada... Alguns corpos já se encontravam em exposição, espetados por lanças na entrada principal, guardas provavelmente. Havia gente saindo de suas casas enquanto móveis eram jogados para fora, mulheres tentavam levar suas crianças no colo, homens se armavam como podiam, só para serem abatidos como animais, e então casas começavam a ser queimadas. Violette assistia à tudo de sua posição, indiferente.

 

Um dos invasores, passando bem próximo de onde se encontrava a garota, abaixou-se para um moribundo que tivera toda a lateral do corpo arrancada por um golpe de espada e pareceu interrogá-lo sobre algo. A Capadócia achou incrível que o homem ainda conseguisse dizer algo, mesmo que incompreensível. O atacante não pareceu satisfeito com a resposta, então simplesmente levantou-se e pisou sobre a cabeça do homem. Até que pôde ouvir um estalo recompensador. O homem riu.

 

Violette não se detivera muito, mas já vira o suficiente. A garota, eternizada em sua aparência de 18 anos, já corria de volta à colina da capela, pensando em seus livros (tão duramente obtidos), sua atual e valiosa pesquisa sobre regeneração, seus pertences... E até cogitando – lá, no fundo da mente, ela notou que cogitava realmente, contra todas expectativas – alertar os residentes da construção quanto ao perigo... No entanto, momentos depois, seus pensamentos foram interrompidos pela súbita imagem que divisou no topo da colina: a capela estava em chamas. Ah, tantos anos de trabalho perdidos... Se ao menos ela estivesse lá... “Teria sido queimada junto” foi o que respondeu sua mente, cínica. Sem opção, mesmo não vendo os causadores do incêndio, sabia que não deveria arriscar-se mais para lá. Olhou ao redor e vislumbrou então o bosque... Foi para lá que correu, amaldiçoando todo e qualquer ser da Terra, sem ter conseguido imaginar uma forma de resistir ou sobreviver aos invasores.

 

Atravessou toda a distância correndo, aproveitando-se da ação que se desenrolava às suas costas para passar despercebida. Entrando na orla da mata, diminui o passo, ofegante, tendo certeza que ali teria mais segurança. Recobrando-se, ou pelo menos em parte, Violette olhou bem as silhuetas das árvores que a circundavam. Não seria a primeira vez que se refugiava em um bosque. Inferno. A impressão que tem é de que nada havia mudado: mais uma vez teria de recomeçar do nada. Pôs-se a caminhar, irritada, não obstante sempre alerta, quando ouviu um ruído. Parou. Pouco depois parecia ouvir alguém tentando lhe chamar. Seguiu na direção do som, aguçando os sentidos e desembainhando a adaga. “Quem está aí?”, ela, porém, não obtém resposta. Aos poucos, divisa na penumbra um vulto encapuzado, parado com os braços cruzados, como se a esperasse.

 

- Quem é? Não perca seu tempo fazendo mistério e diga logo o que quer! – Violette pergunta rudemente.

 

A garota vê que a pessoa sorri. E então o vulto descobre a cabeça. Tamanha é a surpresa de Violette que esta simplesmente não esboça reação, continua na mesma posição e apenas arregala os olhos, seu rosto protegido por sua própria capa: em sua frente está sua ama, Greta Shaw, nem um ano mais velha do se lembra de quando deixou o castelo há mais de 50 anos. Ela então, recobrando-se, com a atitude totalmente modificada, retira o próprio capuz.

 

- Greta? Sou a Violette, você se lembra de mim? E o q... – Pergunta, deixando morrer a voz, nunca fora boa com palavras mesmo.

 

A mulher apenas a olhava, sorrindo. E então, em voz firme, pronunciou de uma vez, antes de se afastar rapidamente nas sombras:

 

- Garota imprudente... Não há tempo. Saiba apenas que o que viu lá atrás faz parte de algo muito maior. Por enquanto, digo apenas que deve afastar-se o mais rápido possível. Vá para oeste rumo à França. Nos falaremos novamente quando for seguro e então terão lugar as lembranças e conversa vãs. Até mais, Violette.

 

- Como sabe? O que aconteceu? - Com o vulto se distanciando, Violette arrancara para a frente tentando aproximar-se, mas perdeu completamente a ama de vista ao chegar ao local onde esta estivera a poucos instantes.

 

A garota ainda fez menção de vasculhar as sombras a sua frente, porém se deteve ao notar um pacote apoiado em raízes próximas. Investigando, descobriu-o uma bolsa de couro cru, contendo algumas páginas de sua própria pesquisa e algo como vestimentas, que reconheceu como sendo de sua antiga casa. Suspirando, querendo ainda procurar pela ama, olhou mais uma vez para as sombras que a cercavam, pegou a bolsa e forçou-se a ater-se ao que lhe fora dito, uma vez que era toda informação de que dispunha e nem uma outra opção lhe prometia coisa alguma.


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Notas finais do capítulo

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Nesse capítulo, Greta Geldt tornou-se uma npc.



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