Violette Von Bismarck escrita por Petra


Capítulo 12
The Black Gala


Notas iniciais do capítulo

Outro pedaço desconexo.. escrevi porque a Natt comentou esses dias e então achei inspiração xD

PS. I Obrigada ao Gustavo por corrigir uma parte no final.. Sem isso nós pareceríamos mais derrotados ainda huahua

PS. II Obrigada ao pessoal por lembrar que o Viktor saia no meio! Já corrigido (20/12)



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As Lâmias a olharam sorrindo de lado. Ela só reagiu com um rolar de olhos. Não haveria outro jeito e, querendo ou não, aquela era uma ótima idéia.

Em um dos portos em qual pararam, Sonja e Corsya desceram para conseguir as roupas. Quando voltaram, Violette surpreendeu-se. Elas haviam trazido vestimentas ainda mais terríveis do que imaginara. Ela pensava consigo em que raios de prostíbulo haviam parado.

Rumo ao porto de Londres, uma vez mais ainda pegaram águas revoltas e inclusive notaram atrás de si uma embarcação sem muita sorte perder-se no caminho, mas chegaram sem maiores problemas ao seu destino.

Já aportando, as mulheres prepararam-se. Encontraram-se no convés e seguiu-se um constrangedor momento de análise visual umas das outras com a qual Violette teve certeza de que teria vivido melhor sem.

A Capadócia vestia um dos trajes trazidos do porto anterior. Um vestido vinho escuro, com ombros abertos, que abria-se em um decote extremamente indecente, deixando antever seus pálidos mas notáveis tórax e parte do busto.

A máscara que arranjara cobria a parte superior do rosto e seu cabelo fora arranjado num coque alto que acabava em uma fina mecha negra solta. Apesar de seu próprio repúdio à idéia, obrigou-se a ter também os lábios levemente pintados. Sabia que o resultado final seria dificilmente reconhecível até mesmo por ela própria e notara também - o que lhe causaria um terrível rubor se ela fosse capaz de tê-lo - que sua aparência não deixava a desejar.

As Lâmias viam-se exuberantes, a já notável beleza delas se acentuava com as roupas chamativas, apesar de quase vulgares. Raphael, saindo da cabine, rendeu belos olhares arregalados de algumas das Lâmias, até Violette teve de admitir que ele se encontrava terrivelmente belo. As roupas simples haviam sido substituídas por uma vestimenta de gala, um colete escuro sobre a camisa branca de magas largas e a calça escura aliada à uma bota de fina qualidade, sua máscara, também cobrindo a parte superior do rosto, cabia-lhe muito bem, ficando parte sob a franja. A garota não sabia muito de festas – as poucas de que tivera conhecimento no castelo do pai, não havia visto plenamente e, ainda, fora há muito tempo – mas podia imaginar que estariam todos à altura do que os esperava.

Como haviam em parte combinado, Violette deu o braço a Raphael e assim desembarcaram, seguidos pelas Lâmias. Uma charrete já os esperava e podiam ver que outros navios também chegavam e tinham seus ocupantes em trajes finos conduzidos à transportes semelhantes.

Violette subiu a charrete, segurando a mão que Raphael estendia de maneira cortês. Os outros entraram, recebendo um cumprimento do condutor, e foram levados ao castelo, cuja iluminação era vista de longe das ruas escuras de Londres.

Ao aproximarem-se do local, o transporte parou e os seis desceram. Foram conduzidos à entrada, de onde seguia-se um ostensivo corredor até a entrada do que seria o salão. Lá, os vários convidados passavam por uma estranha revista por parte de alguns empregados. O Príncipe estava sendo cuidadoso.

Violette, que carregava dois punhais no interior do vestido, misturou-se às Lâmias e torceu para que a revista não fosse tão meticulosa assim, ou teria seu disfarce estragado já no início do evento.

Sonja e Elizabeta, que se encontravam em sua frente, passaram bem. Na vez de Violette, sendo praticamente apalpada pela moça de cabelos castanhos e mascara, fez sua melhor expressão de ultraje afetado. Aparentemente, suas adagas não haviam sido notadas.

Já ia avançar quando notou o olhar da moça sobre si. Ela a encarava fixamente, com os lábios apertados. Violette pensou se a conhecia... Ou pior, se havia sido reconhecida. A empregada fez menção de afastar-se para onde outros dois seguranças de encontravam. Violette segurou seu pulso levemente, amaldiçoando aquelas luvas que a atrapalhariam qualquer ação de sua disciplinas se necessário.

- Algum problema, querida? – Disse ela, com um forçado sotaque francês e afetado.

A moça voltou-se e a encarou novamente. A Capadócia viu-se analisada friamente e subitamente sentiu-se quase indefesa. Aquelas roupas, o sapato terrível, a máscara, a maquiagem e o cabelo não teriam sido suficientes para camuflá-la? Droga, seus punhais não seriam alcançados rapidamente e ainda  haviam aquelas malditas luvas...

Com alívio, Violette notou a expressão da moça abrandar-se após um tempo.

- Nada, achei ter visto algo, mas... Creio ter me confundido afinal.

Satisfeita, a garota Bismarck largou o pulso da mulher e forçou um sorriso agradável, enquanto dirigia-se pensativa ao interior do salão. Conhecia aquela voz? Achava que sim... Lilia. Mas... aqueles olhos... Devia estar errada. Aquele olhar frio e impetuoso não era de Lilia.

  Ainda imersa em pensamentos, adentrou a massa de convidados, sem importar-se em estar deixando para trás o grupo formado pelas Lâmias e por Raphael.

Encaminhou-se para o uma espécie de fila que movia-se constantemente e conduzia à cabeceira do salão. Ela enredou-se pelo grupo e, chegando sua vez, viu-se de frente ao trono, onde o Príncipe, escoltado por dois guardas, cumprimentava os convidados.

Violette, como havia visto as damas fazerem antes de si, fez uma reverência, segurando a barra do vestido e abaixando-se levemente. Mirou cuidadosamente o Príncipe, estudando suas feições, mas não deixando transparecer nada além do sorriso falso que ostentava. Ele era como a haviam alertado, seu sorriso era rasgado de um dos lados e os músculos do rosto pareciam todos saltados sob uma pele murcha e sem cor, o nariz entortava-se para um lado e os olhos pareciam estar prestes a cair de suas órbitas de carne flácida. Ela sabia o porquê de ele ser assim, era um Nosferatus, mas ela ainda se surpreendia com o quanto o sorriso dele parecia bondoso e orgulhoso apesar de tudo.

Ele cumprimentou-a com um aceno de cabeça e ela afastou-se, ainda mantendo o sorriso, seguiu até um aglomerado de vampiros, que conversavam polidamente ao redor de uma fonte de líquido rubro ao lado que uma vasta mesa com taças. Serviu-se de uma taça e a cheirou. Parecia sangue humano, mas pensou em algumas possibilidades envolvendo voto sanguíneo e resolveu apenas fingir bebericá-lo ora ou outra enquanto andava fluidamente por entre toda aquela gente mascarada.

A certo momento pôde visualizar um belo casal composto por Raphael e Sonja, que dançavam. Também, houve uma hora na qual notou uma pequena comoção próxima à entrada e foi verificar. Uma garota loira de cabelo brilhantes e cacheados andava escoltada por dói seguranças contra sua vontade, mas aparentemente algo envolvendo um vampiro – o quê? – bêbado chamou a atenção dos dois, deixando a moça loira escapar rapidamente da guarda.

Ainda com o copo em mãos, afastou-se para não chamar atenção, o que não era muito bem sucedido visto que parecia atrair vários olhares por onde quer que passasse. Maldita roupa.

Próxima novamente à mesa de bebidas, foi abordada suavemente por um homem alto de cabelos negros presos às costas. Vestido todo em preto, sua máscara branca com pontas retorcidas como algo que fora ao fogo cobria três quartos do seu rosto. As roupas de gala caíam perfeitamente no corpo atlético do homem e ele sorria, deixando a garota em alerta.

Ele lhe estendeu a mão e curvou-se um pouco. Violette ouviu a música enredar-se em um ritmo mais constante e notou vários casais dirigindo-se ao centro do salão. Entendeu a situação e sua Voz Interior riu alto de escárnio.

- Me concede a honra da dança? – Perguntou ele, sorrindo galantemente.

Ela sorriu com o canto da boca. Tinha de camuflar-se de qualquer forma...

- Tenho certeza de que o senhor encontraria pares muito superiores a mim, mas, mesmo assim, seria um prazer.

Pousou a taça sobre a mesa, aceitou sua mão e seguiu lentamente com ele. Ele postou-se frente a ela e segurou-a com delicadeza pela cintura, sempre sorrindo. Entrando no ritmo, começou uns passos laterais, levando-a consigo. Violette não conseguia entender direito a lógica dos passos, mas conseguia copiar um pouco do que via das outras damas e, ainda, o moço a conduzia muito bem.

Dançando em voltas pelo salão, atenta para não perder a postura naqueles calçados desconfortáveis, ela tentava manter uma expressão de constante divertimento e flerte, o que pareceu funcionar pois os casais em volta os olhavam como a um par perfeito.

O que a incomodava era o olhar do moço, sempre profundo. Ele pareceu perceber algo de sua inquietação e aproximou a cabeça lentamente da sua, encostando os lábios ao seu ouvido de forma bem suave.

- Não se preocupe tanto, Srta. Von Bismarck.

Com um sobressalto, ela quase tropeçou em seus próprios pés durante os passos, mas ele a recompôs quase imperceptivelmente e continuou a conduzi-la. Ele ainda sorria, mas ela já não sabia que expressão ela própria ostentava, provavelmente um sorriso torto ou uma expressão fria. Não reconhecia a voz dele de imediato.

- Parece saber meu nome cavalheiro, seria de boa educação que eu soubesse o seu também, não? – Disse ela, sem esconder plenamente o tom irônico. Ao menos conseguira recuperar o sorriso.

Ele balançou a cabeça e alargou o sorriso.

- Tenho certeza de que a senhorita sabe. – E sua voz pareceu modificar-se ao final. Ao que Violette pôde identificá-la.

- Sebastian? – Perguntou baixo.

Ele confirmou suavemente com a cabeça, sempre dançando. Ainda perguntou.

- Onde estão seus companheiros?

Ela, falando baixo ainda, respondeu lentamente.

- Não sei, vim aqui na esperança de encontrar a todos e descobrir o que anda acontecendo, na verdade.

Ele concordou com a cabeça, diminuindo a marcha junto com a música, que chegava ao final. Fez uma reverência cortês e beijou-lhe a mão.

Á dianteira do salão, onde residia um luxuoso trono e algumas cadeiras ornamentadas dispostas, um serviçal pedia a atenção de todos.

De onde estavam, os Cainitas começaram a voltar-se para ver a enunciação do Príncipe.

Este postou-se ereto em frente ao trono e sorriu. Os convidados o encaravam, alguns ainda não acostumados com a aparência do Príncipe.

- Meus caros súditos, gostaria de primeiramente agradecer a vossa presença conosco. Há muito venho organizando essa comemoração de abertura da nova Londres e muito me apraz vos ter aqui nessa noite. O que celebramos hoje é o início de uma nova gestão, um novo começo. Não podemos nos deixar intimidar e Londres tem o potencial para ser influente no mundo. Parte da nossa comemoração vêm da união de forças de duas vertentes tradicionais. Aqui, hoje, anuncia-se uma nova proposta de aliança. Aquele que tanto me auxiliou na reconstrução de nossa cidade terá a palavra. Por favor, recebam Gabriel.

Da lateral do salão, surgiu um garoto novo, aparentando cerca de oito anos de idade. Vestia um sobretudo fendado nas costas, com mangas austeras, calças aveludadas combinando com o colete azul-marinho e botas de cano longo em cor escura. Sua máscara, também aveludada em azul, foi retirada enquanto ele se dirigia para onde se encontrava o Príncipe.

Olhando para todos, mostrava a face madura, com um olhar cansado. Violette pensou em sua visão em Ercias Dagi. Sobre ele, a maldição de ser uma criança para sempre.

Tomando a palavra, ele iniciou, com uma voz fina, mas profunda.

- Sei que alguns de vocês estão aqui provavelmente para me matar hoje, e não os culpo, no lugar de vocês, eu faria o mesmo. Mas então venho fazer uma proposta, não só para salvar minha existência, mas para dar a vocês a mesma chance.

- Alguns aqui talvez já saibam. Carlos, também conhecido como Folk, já não responde mais a mim. Ele não responde mais a ninguém. De alguma forma, ele obteve muito poder, e agora começou a formar um exército para marchar sobre qualquer um que se coloque em seu caminho. Não pensa mais em existência ou não de uma aliança com humanos, o que estará em jogo é a continuação da nossa própria espécie.

- Informações que obtive são preocupantes. Os planos dele não envolvem somente guerras entre nós, mas também entre os Anti-Diluvianos. E não temos chance contra isso sozinhos. Nem vocês têm. Então não peço que simplesmente nos perdoemos mutuamente e trabalhemos juntos. Peço somente que dêem um único voto de confiança. Se não fosse totalmente sincero o que digo, nunca me exporia tanto, nem entraria num salão que certamente significaria a morte para mim com tão poucos agentes. Ambos nossos lados estão reduzidos a números quase insignificantes, já estamos em trégua há um tempo e talvez tenha chegado a hora de unirmos forças. Essa é minha proposta para os integrantes da Arcangelis.

Uma risada alta pareceu ecoar pelo salão, vinda de todos os lados. O Príncipe ficou quieto e os convidados assustaram-se, olhando para os lados.

Alguns dos vampiros levaram as mãos à cabeça, desesperados, Alice entre eles. Violette pensou ver até mesmo sangue escorrendo de seus ouvidos. Eles emitiam guinchos de agonia.

Sobre todos os sons crescentes no aposento, a voz de Folk fez-se ouvir, risonha.

- Ah, se não são todos meus melhores amigos todos juntos! Quanto prazer em vê-los! Que bonitinho, vão todos dar as mãos e ser amigos então, não é? Hah – Riu novamente, esganiçando a voz – E vocês acham que tudo isso funcionaria contra mim? Eu, que sempre venci cada um de vocês? – A risada dele parecia ecoar junto com a voz, como se houvesse mais de um dele só para rir com suas própria insanidade – O belo casal Sebastian e Catherine... Vencidos por mim!! Pobre Dave! – E ele ria. – Ou Viktor, com sua graciosa irmã... Não tanto agora, não é mesmo?

Viktor, à menção de seu nome, soltou um rugido e, atraindo a atenção de todos no salão, abriu os braços, os quais, ao alçar-se sobre sua cabeça, criaram junções de couro com as laterais de seu corpo. Suas mãos adquiriram o aspecto de garras, com unhas negras desiguais e seus braços, com aspecto escamoso e pele preta acinzentada, tornaram-se asas. Todo seu corpo encurvou-se e de suas vértebras uma fileira de espinhas projetou-se. Ele tornou-se basicamente um morcego deformado e repugnante.

Alçando vôo, a criatura atravessou o aposento e, empurrando o portal, saiu dele, dando um último berro com a ordem “Selem o castelo!”.

Enquanto isso, Folk continuava seu discurso.

- Quem vocês acham que estava por trás de tudo? – Seu tom se elevava e o eco repetia as palavras duras. – Da morte do idiota do Bismarck intrometido, por exemplo? Eu sempre estive por cima, e agora estou mais forte do que nunca. Vocês realmente acham que podem comigo?

- Você, Gabriel. Quanta hipocrisia. Seus antigos inimigos vão juntar-se a você para vir atrás de mim? Vocês não foram capazes de lidar comigo quando eu ainda nem tinha tanto poder... E você não é nem capaz de cuidar de Alice, veja! Falando nela, oh pobrezinha, Alice Mistyrain, justo hoje nessa doce reunião familiar! Pois é, Gabriel, sentindo-se tão poderoso... Quem você tem a seu lado? Minha filha Lilia, ou Roam, que não nem sabe mais quem é, a qual receberia de volta de braços abertos. Chronos, que sei que não me desapontará. Raphael, Armand, Faria... Os Tremeres começaram a extinção dos Salubri, eu terei o prazer de terminá-la! Violette, a garota fraca que não foi capaz nem mesmo de salvar seu mestre. O bonito casal traumatizado e o húngaro que, da mesma forma, já sucumbiram a mim antes. E Jules que, bem, nada tenho contra e o qual aceitaria de bom grado se se juntasse a mim...

Ele riu mais uma vez, os gritos dos convidados afetados se fizeram ouvir mais alto.

- Então vou deixá-los aproveitarem o resto do baile, afinal, só passei para cumprimentá-los. Vejo-os em breve, vermes. Na minha própria festa.

A voz ia sumindo, ainda com o eco de risos desvairados pairando. Aqueles que tapavam os ouvidos, todos amparados por alguém próximo, receberam o final com um fraco alívio. Vários deles desfaleceram, incluindo Alice, que foi tomada nos braços pelo serviçal que a seguia e levada para um cômodo lateral.

Um alvoroço iniciava-se lentamente com a tentativa de saída dos convidados. À frente, o Príncipe chamou a atenção, tendo Gabriel parado a seu lado.

- Meus ilustres convidados, por favor não vos alterais. É disso que falávamos, não podemos deixar que nos intimidem e nos ameacem dessa forma. Vós podeis retirar-se ordenadamente pela porta principal. Meus empregados já revistaram toda a construção e não há nada de errado, a voz é apenas uma projeção, ninguém corre perigo. Obrigado pela presença de todos.

As pessoas voltaram a dirigir-se para a saída, agora mais vagarosa e ordenadamente. A multidão estava tomada por burburinhos e conversas em voz baixa.

Gabriel avançou um pouco e falou algo ao Príncipe, que se pronunciou mais uma vez.

- Agora, se os integrantes da Orvalium e da Arcangelis pudessem, por obséquio, dirigir-se ao aposento à esquerda, há coisas a serem acertadas. O jovem mestre Gabriel pede um voto de vossa confiança.

Alguns indivíduos separaram-se, um pouco hesitantes, da multidão, e seguiram para o aposento. Violette pensou, a princípio, em não fazê-lo, a última coisa que faria era entrar conscientemente em uma armadilha, mas então viu Sebastian e seu par dirigindo-se ao local indicado. Elizabeta a encontrou, juntamente com Raphael, Sonja, Berta e Corsya. A cientista ainda pensou por uns momentos e então fez sinal para eles com a cabeça, encaminhando-se para o cômodo com os outros.

Adentrando o aposento sem mobília a não ser um único leito no qual repousava Alice, o grupo era composto por Catherine, Gabriel, Sebastian, o serviçal bem vestido que carregara a irmã de Vicky, a moça que revistava os convidados na entrada, Violette, Raphael, as Lâmias e um rapaz com o rosto totalmente deformado. Esse último, cujo único olho apontava para o teto, coberto parcialmente por um retalho que usava como máscara, enquanto a testa praticamente fundia-se à bochecha e uma saliência na lateral do queixo dava a impressão de que ele poderia estar tanto de frente para a pessoa quanto de lado, Violette reconheceu com genuína pena como sendo Jules.

Uma atmosfera estranha pairava. Ninguém, exceto talvez por Alice, que não estava em condições de sentir nada, deixava de estar tenso. Por um lado, a ameaça de Folk ressoando na mente de todos, por outro, a presença daqueles que por tanto tempo haviam sido os alvos e o perseguidores deles.

Catherine passou os olhos pelos integrantes, alguns dos quais retiravam suas máscaras. Seu olhar aparentou dúvida ao ver as Lâmias, mas Violette explicou apenas que elas a acompanhavam. Ele então encarou um homem que entrava – e que Violette distinguiu como sendo o vampiro aparentemente bêbado que distraíra a atenção dos guardas no meio do baile.

- Marian... E onde está Victoria?

A Capadócia se surpreendeu ao tomar conhecimento daquele ser seu antigo companheiro de viagem, mas a atenção de todos voltava-se à ausência da garota.

- Ela estava no salão, disso eu tenho certeza. Está com as feições de uma moça loira, de cabelos cacheados. Mais alta e de aparência mais velha que Vicky. Ela deveria ter vindo, mas como não a vi agora, julguei que estivesse por aqui já.

Todos entreolharam-se rapidamente, pressentindo algo não muito agradável. Saíram às pressas do cômodo. Quando estava para sair, passou por Violette o serviçal de aparência distinta. Em sua mão, ele girava provocativamente um punhal inconfundível: o punhal do pai de Violette, que havia sumido no episódio longínquo com Prince e o qual ela vira posteriormente com Greta na batalha contra as gárgulas. O mordomo, vendo que atraíra a atenção da garota, abriu um sorriso largo e cheio de dentes que Violette reconheceria até no inferno. Maldito Chronos.

Voltando a atenção para a problema atual, Violette forçou sua mente a ignorar o fato. Ela já sabia que ele estaria por lá e ele ter o punhal só significava que esteve com a Greta, o que não era nenhuma surpresa. Depois se acertaria com ele... E então não importaria se ele estivesse vestindo a pele de um serviçal, de uma criança ou de Cain.

Todos espalharam-se pelo salão, a busca sendo atrapalhada pelo contingente de convidados saindo pela porta principal. Então, um grito de alerta ouviu-se e puderam ver a garota que revistava os convidados na entrada apontando para a saída lateral que conduzia aos jardins.

Vicky, em sua aparência costumeira, com o cabelo ruivo preso aos lados da cabeça e agora com um vestido grande demais para ela, dirigia-se a passos trôpegos ao um homem de cabelos negros e longos, ricamente vestido e de feições belas, um rapaz que nunca tinham visto antes, mas que estendia a mão convidativamente à menina.

Ele apoiava-se no muro de pedra da saída, próximo ao começo do arco da ponte ornamental que conduzia ao início do jardim e sorria. Puderam ouvir uma voz suave, ainda quase que ecoando e seus lábios delineavam claramente as palavras “Venha, Vicky.”. Um mesmo pensamento passou por todos, no mesmo momento conectaram o homem desconhecido à aparição de Folk.

Todos já haviam começado a correr para atravessar o salão, e Violette, seguida de perto pelas Lâmias, juntava-se a eles o mais rápido que podia. Mas a menina já estava muito perto.  

Chronos, ultrapassando os outros vindo do outro lado do salão, alçou-se em um salto e, estendendo um arco que mantivera ofuscado sob os olhos de todos, puxou duas flechas. O homem, abrindo um sorriso, apenas assistiu enquanto ambas elas o alcançavam e se cravavam simultaneamente em cheio em seu peito.

Pousando sobre um pé e o joelho, Chronos mal tocou o chão e recomeçou a corrida.

O desconhecido apenas olhava distraído as flechas cravadas em si, parecendo mal tê-las sentido. E então, do local onde as flechas estavam, dois ossos projetaram-se, expelindo-as. Ele deu uma fungada, satisfeito.

Não sendo rápidos o bastante, só puderam ver Vicky estender a mão para o homem, que a tomou, enquanto dava um último olhar para aqueles que se aproximavam a passos largos. Ele abriu um sorriso grande de escárnio, mostrando dentes pontiagudos e transformando o rosto numa máscara estranha e deformada. Ele puxou a menina, envolvendo-a com ambos os braços e pareceu deixar-se cair para trás. Mas o que havia atrás dele era o muro de pedras.

Como um adeus, em um toque de mau-agouro, proferiu com palavras bem articuladas.

- Você evoluiu muito desde que lhe entreguei aquele pergaminho... Porém enquanto vocês vampiros aprendiam a manipular a carne, nós demônios aprendemos a manipular o espaço.

O que aconteceu a seguir foi que sua imagem fundiu-se ao muro, parecendo ser englobada, atravessando um portal invisível. E ambos sumiram naquele movimento que soava tão impossível.


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Notas finais do capítulo

Qualquer coisa que o Gabriel ou o Folk tenha dito de errado ou a mais/a menos, por favor me avisem, eu não lembro realmente tudo o_o"

Já aviso que a próxima arte que me concentrarei em registrar é minha briguinha com o Chronos, e então voltarei para tentar descrever toda a luta com os gárgulas, mas aí precisarei da ajuda dos jogadores, já que não lembro quase nada xD



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