Violette Von Bismarck escrita por Petra


Capítulo 11
Ercias Dagi - Fim


Notas iniciais do capítulo

Como tudo que andei postando, é só outra parte aleatória que acabei escrevendo para os jogadores da mesa...
Resta muito dessa parte e espero terminar um dia.. =/

—-
Atualizando (16/12) Terminei hauahua xD
Ou melhor.. quase.. falta bem pouco, mas o resto é fácil, a luta terminou ao menos ^^



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A dois dias do Solstício, quando provavelmente todos que compareceriam já haviam chegado, Violette, sentada na sala de Yakoff, relia as pesquisas de seu senhor sobre clãs específicos. A fascinava o tanto que ele havia descoberto sobre cada um deles, e ela esforçava-se a encaixar cada conhecido de sua vasta memória em um perfil daqueles.

Sua atenção foi atraída para a mesa dele, e, vendo que ele retirava a corrente do pescoço, ela apressou-se em levantar-se para observar atentamente.

Yakoff abriu a pequena ampola que pendia da corrente e, cuidadosamente, derrubou uma única gota daquele sangue rubro escuro sobre a extremidade de uma lâmina de vidro. Sobre a outra extremidade, ele depositou uma gota de uma infusão que Violette o havia visto fazendo mais cedo, com seu próprio sangue e extrato de algumas raízes conhecidas por seu poder paralisante.

Com a extrema paciência intrínseca de pesquisadores tão antigos, eles observaram por alguns minutos enquanto as gotas se estabilizavam em seus cantos e então assistiram, não sem um toque de surpresa da parte de Violette, a gota mais clara, da infusão, passar a se mover em direção a outra e então fundir-se com esta, clareando-a.

Violette viu seu mestre tomar notas e então repetir o processo, verificando a ocorrência novamente, mas em uma velocidade extremamente menor. Era óbvia a conclusão, mas tão mais fascinante sendo tão claramente observável que fez com que a garota ainda ficasse um tempo olhando o experimento antes de comentar qualquer coisa.

- Você vê... – Disse Yakoff – Como podemos observar a força do sangue... – Ele ainda tomava notas – Mesmo a esse nível... E como o outro o enfraquece...

Ele a olhou, fechando o pergaminho. Seu olhar de entusiasmo chegava a ser sinistramente obsessivo.

- Violette, preciso que você busque mais alguns itens para mim, acho que podemos conduzir ainda um bom número de experimentos antes de apresentar tudo a eles... Eu vou precisar de...

Ele revirou algumas coisas e foi listando os itens a ela... Ela, sem se esforçar muito, anotava tudo mentalmente, enquanto a porção principal de seu pensamento repreendia aquele comportamento irresponsável do seu senhor. A apenas dois dias do Solstício e ele a dispensava assim... Não que ela representasse muito para a segurança, mas preferia estar presente a todo momento por perto, ela cultuava o lema de confiar sempre em si mesma, e em mais ninguém. Era por isso que não entendia aquela confiança cega que ele parecia ter naquelas Lamias. E o conhecimento que ele – e só ele – possuía era inestimavelmente valioso...

Yakoff lhe chamou a atenção com as mãos. Ele já se mostrava rabugento outra vez.

- Vai ficar aí parada? Você me ouviu?

Para mostrar que ouvira, ela repetiu, na ordem que ele falara, todos os itens da lista, a maior parte plantas e raízes que ela encontraria nas redondezas.

- E então? Vai ficar aí parada?

Seus antigos dias de aprendiz lhe vinham a mente, dias que não eram de todo desagradáveis, nos quais se sentira finalmente útil para alguma coisa. Seu impulso instintivo era obedecer àquele homem sem pestanejar, porém...

- Me Senhor, estamos a tão pouco tempo do evento, não lhe passa pela cabeça que deveríamos...

- O que? Não confia em mim? Não acha que posso cuidar de mim mesmo? – Ele a interrompeu.

Ela sabia que não poderia argumentar mais, não com aquele a quem devia tanta coisa e que, em sua infância, aprendera a idolatrar talvez tanto quanto a seu próprio pai. Também, ele andara fazendo isso com certa freqüência nos últimos dias, requisitando sua saída para diversos fins e nada acontecera... Mas ainda assim...

Ela suspirou e se virou, pensando em alternativas.

Subindo a escada que saía da sala de pesquisas, pensou em algo e foi diretamente aos bancos do templo, onde esperava encontrar Raphael. Lá estava ele, apoiado comportadamente em um banco, com um pergaminho nas mãos. Assim que ele adentrou o recinto, ele a viu e sorriu em cumprimento. Um flash bizarro bateu em sua mente, como lembrando de algo que nunca ocorreu, um garoto como ele apoiado na parede de uma casa, displicentemente esculpindo uma tora com uma faca tosca, mas sorrindo para ela do mesmo jeito bondoso. Ela afastou a imagem estranha da mente e se dirigiu ao moço.

- Você está ocupado no momento? Eu vou descer a colina em busca de algumas requisições de Yakoff...

Ele apressou-se em fechar o pergaminho e se postou em pé.

- Não, estava só passando o tempo, precisa de algo? – Ele ainda sorria, simpático.

- Na realidade, sim. Eu não confio inteiramente na guarda dele e... Bem, eu gostaria de ficar e vigiá-lo eu mesma, mas, já que não posso, gostaria que ao menos de por alguém mais de olho nele. Você se importaria de ficar um pouco por lá?

Ele balançou a cabeça energeticamente – Logicamente que não! Ficarei por lá até que volte. Boa sorte.

Por mais que Violette não estivesse inteiramente satisfeita com a situação – afinal, Raphael era grande, mas também provavelmente bom e ingênuo demais – já se sentiu menos apreensiva. Seguiu então para o exterior do templo.

Descendo a estrada, ela parou vez ou outra ao avistar algo de relevância na margem do caminho, mas não deteve-se muito e adentrou o bosque. Ela apressava-se em fazer rapidamente o requisitado e voltar o quanto antes, aquele zumbido baixo de alarme em sua cabeça deixava-a apreensiva.

Em meio às arvores, colocando na sacola de pano mais um dos tantos ingredientes e completamente perdida em pensamentos, ela sentiu uma dor aguda varar sua cabeça. Naquele momento pareceria totalmente plausível se ela se visse de repente cercada por arqueiros de todos os lados e descobrisse que todos eles haviam acertado sua cabeça simultaneamente. O acesso foi tão absurdamente claro que ela não teve dúvidas, saiu correndo, largando tudo pelo caminho, em direção ao templo. Algo estava tão errado quanto era possível estar.

No caminho, enquanto tentava ganhar velocidade mesmo na subida, ela se odiava profundamente, mas tentava evitar pensar nisso.

Assim que alcançou o topo da colina, correndo como podia, ela vislumbrou a capela, seu refúgio de tantos anos, em chamas, e se viu de novo em seu vilarejo, vendo toda sua pesquisa ser queimada enquanto uma cidade inteira ruía atrás de si.

Em desespero, ela balançou a cabeça para afastar a imagem, que lhe vinha com a torrente da lembrança, e forçou seu pensamento em conter-se no presente. Sua capela em chamas deu lugar ao Thor ruindo, pedra a pedra, sobre uma multidão atônita de Capadócios que se dispersava assustada.

Chamas pareciam brotar do céu e chover sobre o círculo, pondo os palestrantes a correr por suas não-vidas. Olhando para cima, Violette pôde ver uma única figura no céu, aparentemente flutuando a cerca de dez metros de altura. Era dessa pessoa, que se aproximava descendo, que saía o fogo. Usurpador.

Com toda a força que seus pulmões permitiam, gritou para que todos se dispersassem. Como era uma pessoa só que atacava, eles teriam mais chance.

Desviando seu percurso do Thor, local no qual não avistou seu Senhor, ainda correndo o mais que podia, ela descreveu uma curva aberta enquanto se dirigia ao templo. Na ponta dele, que se projetava em direção ao círculo de pedras, achou quem procurava. Raphael estava no chão, aparentemente tendo acabado de se desviar de uma pedra caindo e lá estava seu mestre, com uma maldita Lamia próxima a ele, como prestes a falar-lhe algo ao ouvido. A garota temeu o pior.

Elizabeta, como a Capadócia pôde perceber, parara o que quer que estivesse tentando fazer por causa do caos ao redor, que aparentemente também a pegara de surpresa, e isso deu a Violette tempo de chegar a seu mestre e segurá-lo diante de uma guerreira completamente surpresa, como se não conseguisse imaginar de onde a outra surgira de repente.

Mal tocara Yakoff e nem tendo tempo de observar com satisfação a reação que provocara a Lamia, a garota sentiu como se uma mão gigante a segurasse e puxasse para fora. A força simplesmente a arremessou colina abaixo como se fosse leve como um seixo.

Pedra, chão, pedra. Só parou quando atingiu com as costas uma árvore larga. Sem tempo para qualquer alívio por ter parado, ela recebeu um golpe forte no abdômen e caiu no chão, só então percebeu o que a atingira, era Yakoff, que ela aparentemente havia arrastado junto consigo.

\t   Olhando para a parte superior do barranco, onde ainda via vários Capadócios, fogo e pedras das ruínas caindo, postou-se rapidamente em pé quando viu o que já imaginava que aconteceria: o vulto se aproximava, agora a três metros do chão. Mas então foi pega de surpresa, era aquele que conhecera como Senhor de Lilia que chegava. Carlos, ou pior, Folk.

Levantou-se com pressa e sentiu algo roçar seu braço. Sem pensar, agachou-se e rolou para o lado, só para ver, num rápido vislumbre, os galhos da árvore fecharem-se onde estivera. Continuando o movimento, alcançou onde seu bastão caíra e arrebatou-o para o lado, onde tivera a impressão de um movimento próximo.

Por pouco não acertou Raphael, que havia se aproximado. Seu olho na testa abriu-se e ela sentiu um machucado no abdômen que mal percebera fechar-se. Procurou Folk e viu que ele dirigia-se a seu Senhor, o qual parecia ter sido agarrado pelos galhos. No mesmo momento, viu para onde dirigia-se o olhar de Folk e entendeu o que ele queria.

Ela levantou-se em um pulo e, ainda sendo curada, correu até a árvore, apoiou um pé na raiz e o outro em seu tronco e se impulsionou em um salto, passando entre Yakoff e Folk, que estendia a mão para o o pescoço do outro. No ar, ela estendeu o braço e agarrou a ampola que seu Senhor levava ao pescoço, rompendo a corrente que a prendia e com a outra mão, tentou empurrar Folk com o bastão, mas só acertou-o de raspão por não estar olhando.

Atingindo o chão, perdeu o apoio dos pés e caiu de lado, escorregando mais para baixo no barranco. Olhando para cima, sentiu-se bem satisfeita ao perceber que pegara o mago de surpresa. Tentou recompor-se sobre os pés, mas o terreno solto não ajudou, foi atingida na lateral do corpo por uma esfera de fogo e suas vestes incendiaram-se.

Aproveitando sua posição, a garota rolou mais para baixo, apagando as chamas em sua roupa. Conseguiu colocar-se em pé, usando o apoio de outra raiz, e olhou para sua mão esquerda, onde segurava firmemente a ampola que tirara de Yakoff. Viu que Folk aproximava-se, ainda pairando a um metro do chão e algo passou-lhe pela mente. Ele queria a ampola... Então ela faria qualquer coisa para impedi-lo.

Colocou o pequeno vidro fechado na boca e sorriu para Carlos. Acomodou o vidro com cuidado na bochecha e correu para o lado à vista de um novo ataque do mago. Ele, que esticava os braços para conjurar chamas, parou subitamente, seu corpo convulsionando num rápido espasmo. A interrupção deu tempo a Raphael de aproximar-se por trás, descendo de sua posição, e acertar Folk com sua lança, próximo à coluna. O Tremere, virando-se, arrancou a lança das mãos de Raphael, que, por encontrar-se muito perto, não foi capaz de desviar-se da esfera flamejante que Carlos lançou contra ele.

O Salubri, completamente coberto por fogo, saiu correndo aparentemente sem rumo, gritando em agonia enquanto sua pele se retorcia nas labaredas. Violette, enquanto isso, flanqueava correndo o mago, com uma idéia em mente, que decidiu manter mesmo com a terrível visão de Raphael sendo consumido pelas chamas.

Ela lembrava-se de algo que lera nos pergaminhos de Yakoff e que nunca aplicara. Algo que ela própria era capaz de fazer e nem sequer sabia. Sua Disciplina que a permitia envelhecer o corpo do alvo, também tinha o poder de afetar a mente. Se ela pudesse apenas tocar Carlos na cabeça, poderia impedi-lo de usar seus próprios poderes.

Folk, para sua surpresa, continuava parado, alguns tremores percorrendo seu corpo. Desconfiada, ela concentrou-se em tentar ver sua aura, e o que conseguiu ver a assustou: um halo negro despedaçado o envolvia, dezenas de pedaços de aspectos diferentes e com luminosidades sutilmente distintas se moviam ao seu redor, criando um aspecto conflituoso quando chocavam-se. Parecia que era a isso que Carlos estava reagindo, havia algo de errado com ele.

Ela, pensando em tomar vantagem da distração, aproximou-se rapidamente pela lateral dele e estendeu o braço para sua cabeça.

Ele a repeliu com uma velocidade impressionando, arrematando o braço e arremessando-a para o lado. Violette percebeu um estalo sinistro em seu ombro esquerdo e uma pontada aguda de dor se seguiu. Folk, levando as mãos ao abdômen, foi tomado por outra convulsão rápida e então começou a elevar-se, flutuando.

Violette, sem desistir, usou seu bastão para apoiar-se e erguer-se em um salto. Largando o bastão, estendeu a mão direita mais uma vez para o mago, visando a pele descoberta de seu pescoço. Ela já tocava a pele dele e conjurava seu poder quando uma força imaterial a repeliu. Ela agarrou o braço de Folk na queda, e debateu-se, tentando segurar-se e mordê-lo. Ele a acertou com o cotovelo e a derrubou. Ela ainda conseguiu segurar-se em sua perna, de repente percebendo a enorme altura em que se encontravam.

Vendo-a, ele deu um sorriso que transformou-se em um sinistro esgar com outro espasmo. Com a outra perna, chutou-a, acertando a garota em cheio no maxilar e fazendo com que suas mão o soltassem.

Subitamente atingida por uma onda terrível de dor, caindo de costas, a garota sentia sua visão escurecer, seu rosto virado perfeitos noventa graus para a esquerda. Suas vestes negras esvoaçavam a seu redor enquanto ela caía cerca de vinte metros.

Viu ainda a árvore onde seu Senhor se encontrava, meio inconsciente. E  então entrou ela própria na mais profunda escuridão.

Descia por sua garganta seu próprio sangue misturado ao líquido doce da ampola que se quebrara.


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