POV Eadlyn:

Acordei com o toque de uma mão macia em meu ombro e uma voz suave

—Senhorita Eadlyn, por favor, acorde ou vai se atrasar para o café- e ao abrir os olhos vi Neena, uma das criadas que me auxiliariam nesses dias no palácio, ainda com sono deixei escapar:

—Não era você quem eu esperava que fosse me acordar... - e girei na cama percebendo que Kile não estava lá, olhei para Neena que sorriu e estendeu a mão, onde tinha um papel escrito com uma caligrafia apressada “Meu pai precisou da minha ajuda e não sei o que o levou pensar que eu estaria em seu quarto” ri com o bilhete.

Levantei-me e percebi que ainda usava o vestido da noite passada, me olhei no espelho e vi meus cabelos em pé como se fossem uma juba e manchas do meu batom vermelho por todo meu rosto, ’É ontem a noite foi boa’ pensei ‘Se Kile não fosse tão puritano teria sido melhor’ mas deixei esse pensamento de lado.

Neena me colocou num vestido claro com pregas que vinham da cintura até o joelho, de decote U, num tom de lilás e começou a fazer uns ajustes. Conversamos de tudo um pouco, desde como era a família real até como eram os cavalos. Batidas na porta nos atrapalharam e ao olharmos para ela surgiu à rainha Kriss que olhava meu vestido, ela sorriu satisfeita e disse:

—Querida vamos... - Eu assenti e sentei para calçar meus saltos simples e baixos. Caminhando pelos corredores vi vários quadros da família real, mas um deles em especial chamou minha atenção, era uma jovem de dezoito anos, ela usava uma coroa e se sentava ao lado de um homem que parecia feliz, mas o mais engraçado era que ela era como eu, mesmo tom de cabelo e de olhos, e até o mesmo sorriso. Parei bruscamente e a fitei por mais tempo do que desejava, era uma versão mais nova e mais delicada de mim.

—Querida?! Está tudo bem?- disse a rainha me olhando com certo medo

—E-e-estou- gaguejei um pouco, ela virou-se para o quadro e eu temi por isso, algo me dizia que ela não deveria perceber tal semelhança- Vamos- disse pegando em sua mão e a puxando bruscamente, e assim que cheguei até a escada eu soltei sua mão e pedi desculpas, mas não deu muito certo, pois durante o café ela me encarava como se olhasse para uma louca, e eu não diria o contrario.

Mas me esqueci assim que vi os olhares furtivos de Ahren para a princesa Camille. Ele a olhava com uma grande cara de interrogação, pensei que ele iria se levantar e arrasta-la para fora do salão, e o porquê só Deus sabe.

Tio Aspen, Kile e meu sogro não estavam na mesa e me perguntei o porquê, ‘Onde eles estavam?’, minha preocupação aumentava a cada segundo até que o pai de Kile apareceu fez uma reverencia e disse algo apressadamente para o rei, que pensou em alguns segundos e depois confirmou, mas fez algumas observações sobre a decisão. Carter, meu sogro, saiu rápido e não disse nenhuma palavra ao passar pela esposa, que olhou preocupada para mim, e eu não pude me concentrar em mais nada.

“O que esta acontecendo?” “Por que Tia Marlee está preocupada?” “Será que tem a ver com Kile?”.

Repassei a noite anterior em minha mente “Talvez ele tenha comentado algo”.

“-... A situação na Nova Ásia esta controlada, Illea e ela estão numa situação estável até negociam, mas aqui dentro, bem depois que foi revelada a verdade sobre os sulistas e nortistas, estão tendo ataques não só aqui no palácio, mas em bases nortistas e a famílias que tentam sair das castas, por mais que já não existam mais, muitas pessoas continuam negando trabalho aos que tentam ser outra coisa que não seja de “sua casta” – Ele disse e eu o beijei, ele se preocupa com isso, ele se preocupa com a população como se fosse o rei, mas na verdade eu o vejo como um herói.

—Esqueça-se disso por hoje, e aproveite esses dias em que sua bela namorada está contigo- eu sorri e ele também...”.

Refleti por alguns momentos, não tem nada a ver, deve ser outra coisa. Balancei a cabeça e terminei meu café, algumas pessoas ficaram para conversar, outras foram para o jardim, e eu fui para o quarto dele, onde não estava. Fui para a área onde Kile poderia estar, a ala dos guardas.

Desci as escadas e entrei no corredor do quadro, onde o Rei Maxon estava sentado olhando o quadro, tentei passar por ele sem que me visse, mas não deu certo, eu sempre chamo atenção.

—Eu sempre os imaginei ruivos- Ele disse ao ar

—Perdão?- disse

—Sempre figurei em minha cabeça que a sua mãe teria filhos ruivos- ele disse sem tirar os olhos do quadro- Sabe, eu nunca tinha visto um Singer moreno- ele disse e eu me perguntei se ele já tinha conhecido meus avós.

—Eu não sou apenas uma Singer, também sou Barcelos- disse em disparada, e com isso ele me olhou, seus olhos revelaram surpresa como se visse um fantasma e eu me assustei com isso, queria sair, mas ele disse:

—Eu preciso ir- e se levantou caminhando para longe.

Saí o mais rápido, quase correndo até encontrar a ala de Kile, mas meu sorriso vacilou ao ver o corredor com vários quartos, ‘qual era o dele?’. Bati na porta do primeiro quarto da onde saiu uma voz dizendo: ’entre’ e assim que abri a porta revelou um homem de toalha e fechei com tudo a porta e gritei um desculpe, assim que me virei vi guardas me olhando curiosos tentando entender o porquê de eu estar lá, 'não posso ter batido a porta tão alto assim, posso?'’ me perguntei e depois disso disse:

—Onde está Kile Woodwork?- disse alto, e no final do corredor ele surgiu, e o resto entrou nos seus quartos, segui até lá e sorri para ele, entrei na sala que era maior que os outros quartos lá dentro estavam Aspen, Carter, um soldado, Kile e agora eu.

—O que faz aqui?- Kile perguntou

—Eu vim-te procurar-disse- Ou não ouviu lá de fora?- completei meio cética, ele revirou os olhos e eu cruzei os braços e levantei uma sobrancelha.

—Diga- ele disse preocupado e eu juro que ouvi risos baixos. Pensei um pouco, não queria ser a namorada chata, e depois disse:

—Você tem algo para me contar?- Kile arregalou os olhos e eu não me contive quando ouvi algo parecido com alguém cuspindo agua com força e risinhos e com o olhar reprovador de Kile para Aspen que secava a boca, tive de sorrir um pouco. Kile me olhou sem saber o que dizer.

—Meu filho, não temos tempo a perder, e Eadlyn não irá sair até que você conte, então ande logo- Carter disse, Kile me guiou até a porta- só o necessário.

No corredor eu esperei ele me contar, mas o nervosismo estava o dominando.

—Kile, o que tem para me contar?- disse nervosa, ele me olhou e bufou.

—Você sempre descobre... - eu sorri, mas voltei a minha feição de preocupada- Eu... Lembra-se de ontem, quando disse sobre os ataques dos sulistas às bases dos nortistas, nossos aliados?- assenti- E também disse sobre a nova Ásia?- assenti novamente impaciente, ele bufou e disse:- Bem, ouve complicações na Nova Ásia e Aspen terá de ir para lá, por já saber lidar com os asiáticos- ele fez uma pausa e eu pensei em Lucy e o Tom, o bebê que os dois haviam adotado- E com isso as bases que nortistas que estavam sobre o controle de Aspen ficarão no poder de meu pai, que infelizmente não pode cuidar de tudo, até porque ele sempre precisa da permissão do rei, enfim, Aspen, meu pai e o rei permitiram que eu assumisse temporariamente as bases do leste- ele terminou com um suspiro, eu sorri e me perguntei ‘tudo isso por nada Ead?’

—Isso é bom, não é Kile?- eu disse e o abracei, e assim que nos separamos veio o golpe.

—Eu irei amanhã de manhã para lá, irei ficar por um semestre no máximo, só até tudo melhorar na Nova Ásia.

—Você não pode- disse assim que meu sorriso sumiu- Mal seus treinamentos e cursos acabam e você já vai? Da ultima vez que você foi você me prometeu que não ia se mudar por um bom tempo, talvez ficar em Angeles e ajudar seu pai...

—Ead, eu estou ajudando meu pai...

—Ajuda-lo AQUI! Porque você tem que ir? As bases do seu pai são aqui, sei lá troque com ele, ou...

—Ead não é tão fácil- ele disse e tudo caiu em silencio, até uma lagrima escorreu no silencio. Ele a secou e beijou meus lábios- Eu escreverei, todos os dias...

—Mas e se algo acontecer com você- eu disse soluçando

—Lá é uma área tranquila, sem conflitos e eu sei me cuidar.

—Prometa que voltará bem - disse toda vez que ele partia era assim, cheias de promessas vazias que ele fazia questão de torna-las cheias.

—Prometo, e cuide de minha mãe, por favor- ele pediu com meu rosto entre suas mãos.

—Cuido- sorri meio triste

...

Antes do almoço, Charlie e mamãe estavam no meu quarto escolhendo a musica de hoje à noite, seria uma apresentação de duas musicas, Charlie e Mamãe tocarão a thousand years de Cristina Perri. Ames com o violino e Charlie no piano. Depois teria de ver qual música eu irei tocar, pois se quer pensei no assunto.

Ensaiavam a musica quando eu disse:

—Kile vai partir- cobri o rosto- De novo- Balancei a cabeça. Kile tendo a profissão e o pai que tem, viaja e estuda muito para ser um bom general como o Pai- Mas dessa vez eu terei mais tempo com ele antes de partir, por isso- ergui a cabeça- eu vou passar à tarde com ele- sorri- Mas antes eu preciso da sua ajuda, Que musica eu devo tocar? Mãe me salva, não faço ideia de que musica eu devo tocar... Talvez A Thousand years, tão linda no piano com minha voz acom...

—Querida, nós vamos tocar essa, esqueceu?- Charlie disse e minha feição murchou. Mamãe riu

—Que tal se você perguntar para Angeles que musica ela gosta?- opinou meu pai. Pensei um pouco, não eu já sabia o que tocar. Desci as escadas e caminhei até o jardim onde me encontraria com Kile, ele estava na orla da floresta e assim que me viu sorriu e acenou, corri até ele e vi ao lado dele uma cesta e uma toalha quadriculada. Sorri ao ver:

— Um piquenique agradaria vossa alteza?- Kile disse se curvando e eu ri

—Agradaria muito vossa alteza- disse me curvando e o olhei nos olhos- ou devo chama-lo de meu príncipe?

—Se seu príncipe prometeu chegar em um cavalo branco...- ele deu de ombros- Deve apenas me chamar de Alteza- dei um tapa em seu ombro e ri. Já mais ao fundo, onde não poderiam nos ver estendemos a toalha e nos sentamos.

—E o que vossa alteza trouxe para nós?- perguntei, enquanto ele fazia mistério sobre o que tinha na cesta, me inclinei e foi assim que eu vi... Num pote havia varias tortinhas de morando com bordas de chocolate, que só a tia Marlee sabe fazer. Ele as colocou no chão e riu quando viu que a saliva transbordava de minha boca. Meu pai gosta de dizer o quanto minha mãe comia torta de morango quando estava gravida, mas depois que Ahren e eu nascemos ela parou de comer, acho que enjoou.

Nós comemos e conversamos sobre coisas aleatórias, até que um guarda nos achou e avisou que havíamos perdido o almoço e que Carter procurava Kile.

Juntamos as coisas e eu fui passar na cozinha para agradecer tia Marlee por ter feito as deliciosas tortinhas, enquanto comia a ultima, que Kile negou-se a me dar, encontro o rei Maxon lendo o jornal, ele ergueu o olhar e uma sobrancelha e me viu com a tortinha a caminho da minha boca. Eu olhei para a tortinha e para o rei, e decidi enfia-la na boca e sorrir sem mostrar os dentes, pois ainda mastigava, passei em sua frente me curvei e me retirei. Ouvi um suspiro e um riso e ao virar no corredor vi pelo canto do olho um sorriso nos lábios do rei.

Estranhei, mas continuei andando. Agradeci tia Marlee e ao sair da cozinha fui ensaiar minha musica.

CONTINUA...