Quando Emily diz que deveríamos ir visitar meu pai, foi como levar um soco no estômago. Para mim ainda é muito doloroso falar sobre a minha família.

– Por que esta me pedindo isso?

– Quando você estava internado, seu pai veio lá na clínica pedir para que eu fosse até o hospital. Ele estava muito abalado pelo seu acidente e se não fosse por ele eu não teria conseguido entrar no seu quarto. Acho que ele está tentando acertar as coisas com você Thomas..

– Eu não sei Emily..... depois de tudo o que ele fez... não sei se conseguiria...

– Eu sei que é difícil. Mas eu acho que só por ele ter permitido eu me encontrar com você no hospital, já foi o primeiro passo. Ele está tentando se aproximar de você Thomas.

– Eu posso até ir, mas você poderia me acompanhar? - Peço a Emily, não sei se conseguiria fazer isso sem o apoio dela.

– Claro que eu vou, te dou todo o apoio que você precisar Thomas - Diz ela me abraçando e eu retribuo.

Nos despedimos dos convidados e da família de Emily, em seguida entramos no carro e começo a dirigir. Minhas estão geladas mas ao mesmo tempo suadas. Quando paramos em frente a minha casa, Emily segura a minha mão.

– Vai dar tudo certo - Suas palavras me confortam e me trazem segurança.

Quando descemos do carro, eu olho para a casa e estranho. Não há os enfeites extravagantes que normalmente minha mãe obriga os empregados a colocar, o jardim está mal cuidado, definitivamente não se parece com a casa dos Markinstop.

– O que aconteceu aqui? - Pergunta Emily com estranheza.

– Eles estão em declínio, é isso que está acontecendo - Digo e em seguida toco a campainha.

Não demora muito para o nosso mordomo atender. Ele parece surpreso em me ver.

– Meu Deus Thomas, quanto tempo você não aparece aqui. Entre seja bem vindo.

– Obrigado. Essa é Emily, minha namorada. Por que a casa não está toda enfeitada.

– É um prazer conhece-la Emily. Não há motivos para comemorações esse ano Thomas, seus pais nunca brigaram tanto. Começo a me perguntar quanto mais essa casa irá aguentar. Mas podem entrar.

Concordo com a cabeça, seguro na mão de Emily e por fim entramos na casa. O local está escuro porém limpo. Encontro meu pai sentado em sua poltrona, com um copo de whisky ao lado. Ele está com uma aparência de cansaço, mas ao me ver se surpreende.

– Thomas... mas que surpresa. Vejo que trouxe sua namorada, fico feliz em ver você bem Emily. Por favor vamos entrando.

– Obrigada senhor Markinstop - Responde Emily.

– Pode me chamar apenas de John minha cara - Me surpreendo com a delicadeza nas palavras de meu pai. Eu e Emily nos sentamos em um sofá que fica de frente para a poltrona de meu pai.

– Como vão as coisas com vocês? - Pergunta ele, não consigo responder. Emily percebe isso e assume.

– Muito bem, Thomas começou um curso de direito e reformou o apartamento. Eu acabei de entrar para a orquestra suíça.

– Fico muito feliz por vocês - Diz ele e sua voz parece sincera.

– Onde está a minha mãe? - Pergunto finalmente.

– Ela não está mais morando aqui no momento. As vezes ela aparece e outras vezes não. Nosso casamento não está indo nada bem e ela só não pediu os papéis do divórcio, pois seria muito escândalo.

– É a cara dela - Digo com uma risada irônica - Viemos aqui para lhe desejar um feliz natal.

– Obrigado Thomas, eu lhe desejo o mesmo. Quando eu vejo você junto com Emily, uma felicidade me invade. Você pode não saber, mas eu torci muito para que você seguisse com o seu tratamento e encontrasse uma boa moça. E felizmente você encontrou essa linda jovem. Desejo a vocês toda a felicidade, pois vocês merecem.

Minha expressão deve ser de espanto, pois nunca em toda a minha vida eu pensei que viria e ouviria meu pai dizendo algo assim para mim. Percebo que talvez Emily estivesse certo, meu pai deve estar arrependido e querendo se aproximar de mim. Não será fácil lutar contra os fantasmas que por toda a minha vida me assombraram, mas talvez se eu criar a coragem necessária no fim haverá só coisas boas me aguardando.

– Obrigado pai, agora nós precisamos ir - Digo me levantando junto com Emily - Qualquer hora apareça lá no apartamento.

– Vão em paz os dois. Aceitarei o convite Thomas, passarei lá em breve - Diz ele, eu confirmo e em seguida saímos.

No lado de fora, eu respiro fundo e abraço Emily.

– Estou tão orgulhosa de você - Diz ela no meu ouvido - Tão orgulhosa....

Meus olhos começam a se encher de lágrimas e em choro em silêncio no abraço de Emily. Depois de 24 anos, eu estou conseguindo vencer os meus fantasmas.