Céu & Mar escrita por Luh Castellan


Capítulo 8
Quase Sem Querer


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado a Anna, Raltz e a todos vocês, meus queridos fantasminhas ^^
Cap. baseado na música "Quase Sem Querer", da banda Legião Urbana.
Boa leitura o/



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Percy

Ela odiou. Essa era a única alternativa que justificava o fato de Thalia ter corrido como uma louca após beijo e evitado contato visual comigo por três dias seguidos. Ou então ela possuía sérios problemas mentais. Eu não sabia qual das opções me assustava mais.

Nos dias que se seguiram, ela fez todas as refeições de cabeça baixa, encarando o prato. Em todas as atividades que praticamos (equitação, canoagem, arco e flecha, entre outras), ela sequer dirigiu o olhar a mim, nem uma única vez.

Uma voz dentro do meu cérebro gritava: não fique encucado com isso, é só uma garota! Você sempre fez sucesso com todas, não vai se deixar abalar só porque uma o rejeitou. Erga a cabeça e siga em frente. Existem outras mulheres no mundo. Esqueça Thalia.

Mas era difícil dar ouvidos à razão quando aquele par de olhos azuis brilhantes era a única coisa que dominava minha mente.

Numa fatídica tarde de segunda-feira, eu tinha o chalé inteirinho só para mim. Todos os meus colegas de chalé estavam fora, pois a atividade do dia era corrida. Eu era tão veloz quanto uma tartaruga, por isso, nem me dava ao trabalho de ir ao campo.

Já que eu não tinha nada para fazer, resolvi dar uma geral no lugar (um milagre, como diria minha Sally Jackson), porque o dia de inspeção dos chalés estava se aproximando. Coloquei Imagine Dragons para tocar a todo o volume nos meu fones e comecei a fazer minha cama.

Depois de esticar todos os lençois, juntar um saco de roupa suja e varrer todos os papéis de bala, o chalé 6 estava até apresentável. Eu estava terminando de apanhar o lixo quando o refrão da minha música preferida, Radioactive, começou a tocar e eu me empolguei um pouco. Segurei a vassoura como um microfone e comecei a cantar junto com a música, feito um louco.

– Oh, oh, oh, oh, oh, I'm radioactive!

O som de batidas insistentes na porta sobrepôs a música. Tirei meus fones de ouvido, deixando-os pendendo em volta do meu pescoço. Larguei a vassoura num canto e fui atender à porta. Temi que alguém tivesse ouvido o meu pequeno show, isso sim seria uma vergonha.

Me deparei com a baixinha maluca que estava tirando meu sono. Seus olhos de safira arregalaram-se quando ela me viu e, dessa vez, ela não os desviou. A garota abriu a boca para dizer algo, mas não saiu nem um som.

Mil e uma coisas se passaram pela minha cabeça. Eu queria perguntar o por quê dela estar me evitando e tirar todo aquele peso da minha consciência, mas as palavras se amontoaram na minha garganta, formando um bolo, e eu não consegui soltá-las. Passamos um bom tempo nos encarando em silêncio, até que eu consegui quebrar o gelo.

Arqueei as sobrancelhas.

– Hã... Thalia?


Thalia

Eu estava esparramada no sofá, ouvindo Green Day e contando os quadrados de gesso do teto, quando Annabeth irrompeu o quarto, em prantos, amparada por Nico. Ela estava coberta de uma substância estranha e fedorenta. Seus cachos loiros estavam grudados no corpo e seus roupas estavam encharcadas do mesmo líquido. Ela chorava descontroladamente, abraçada com um livro, também arruinado por aquilo. Um odor de ovo misturado com outras coisas desagradáveis atingiu minhas narinas.

Levantei-me do sofá num pulo.

– O que aconteceu? - Perguntei, correndo até ela.

Devido aos soluços insistentes, ela não conseguia falar, por isso Nico respondeu em seu lugar.

– Clarisse e sua corja atacaram ela com ovo, farinha e várias outras coisas nojentas típicas da menina-porco. - Esse era o modo carinhoso que chamávamos Clarisse quando ela não estava por perto. - Eram muitas garotas, Annabeth não conseguiu se defender sozinha. Eu vi aquela cena e corri para ajudá-la, mas cheguei tarde e o estrago já tava feito - Ele murmurou, triste e solidário.

Annabeth estendeu o livro arruinado.

– Elas estragaram meu livro preferido - Falou, com a voz embargada. Havia ódio por trás daquelas lágrimas. - O livro de arquitetura que minha mãe me deu.

Cerrei os punhos. Meu corpo inundou-se de raiva.

– Ah, mas isso não vai ficar assim! - Rosnei. - Mexeu com minha prima, mexeu comigo!

– Bom, acho que eu já vou - Nico despediu-se. - A mocinha já ta entregue.

– Obrigada, Nico - Annabeth deu um sorriso tímido para ele. - Só não te dou um abraço agora porque não quero te sujar com essa gororoba.

– Sem problemas - Ele respondeu, sorrindo de canto. Estava inquieto, com as mãos nos bolsos da calça jeans. - É pra isso que servem os amigos.

O garoto se despediu com um aceno de cabeça e deixou o quarto.

– Precisamos fazer alguma coisa - Falei, decidida. - Não podemos ficar sentadas, lamentando, enquanto aquela cara de porco comemora com as amiguinhas.

Annabeth assentiu, lançando um último olhar melancólico para o livro em suas mãos. Ela já havia parado de chorar, o que era um mérito.

Comecei a andar de um lado para o outro pelo quarto, arquitetando sobre mil possibilidades de fazer Clarisse La Rue chorar como um bebezinho.

– Eu tenho um plano - Sorri, maliciosamente. - Mas vamos precisar de ajuda.

– Que tal os irmãos Stoll, reis dos trotes? - Annie sugeriu.

– Ótimo! - Exclamei. - Vou falar com eles agora mesmo. E você precisa de um banho. Já.

Tapei o nariz com uma mão e com a outra fingi abanar o ar a minha frente. Consegui arrancar uma risada de Annabeth.

Saí do quarto e cruzei com poucos passos a área comum até o chalé 6. Hesitei, olhando em volta para me certificar que ninguém estava por perto. Respirei fundo e bati na madeira com os nós dos dedos.

A porta se abriu, mas não eram os irmãos Stoll que estavam atrás dela. Me deparei com Percy Jackson sem camisa, lindo de morrer, usando somente um calção de futebol preto e exibindo seus músculos do abdômen levemente definidos. Perdi completamente a noção do tempo e do espaço. Esqueci o que eu havia ido fazer naquele lugar. As palavras me fugiram, junto com a consciência, o orgulho e a capacidade de respirar. O que estava acontecendo comigo??

Depois de um instante que pareceu durar uma eternidade, ele quebrou o silêncio.

– Hã... Thalia?

Aquelas palavras me fizeram voltar à realidade e eu recuperei a consciência.

– Eu tô procurando os Stoll - Falei, lembrando-me do motivo de estar alí.

Ele pareceu ligeiramente decepcionado.

– Ah. Eles saíram - Respondeu, tamborilando os dedos na madeira da porta.

– Hm... Okay, então, até - Murmurei, virando-me para ir embora.

– Ei, espera! - Ele segurou meu pulso e eu me virei para encará-lo. Seus olhos verdes me encaravam, quase desesperados. - Entre. - Abriu espaço e indicou o cômodo lá dentro. - Tô morrendo de tédio.

— Maria Gadú - Quase Sem Querer —

"É terminantemente proibida a entrada de garotos nos chalés femininos e vice-versa". As palavras do sr. D ecoavam na minha mente, como um lembrete. Eu não deveria entrar. Eu não tinha nenhum motivo para entrar. Eu sentia que haveriam consequências irreversíveis se eu prosseguisse com aquilo. Mas, como eu sou uma idiota, eu entrei. Annabeth e sua vingança podem esperar um pouco– pensei.

– Não posso deixar você morrer, seria uma grande perda pra humanidade - Sorri de lado, abusando do meu sarcasmo e cruzei a porta para dentro do cômodo.

– Muito gentil da sua parte - Ele retrucou, fechando a porta atrás de si.

– Eu não tenho nada melhor pra fazer mesmo - Dei de ombros.

Meus olhos percorreram o cômodo e eu notei que era uma versão masculina do nosso chalé. Tudo era em tons de azul, porém eram de um azul escuro. E estava surpreendentemente bem organizado.

– Uau - Exclamei. - Isso aqui tá bem arrumado, para um quarto de homens.

– Obrigado - Ele sorriu, presunçoso.

Sem pedir autorização, me joguei no sofá azul de três lugares e agarrei uma almofada em formato de estrela do mar. Percy sentou na outra ponta, de frente para mim. Era difícil me concentrar com ele sem camisa, alí na minha frente.

– Coloque uma roupa, Jackson - Resmunguei, desviando o olhar.

Ele riu satisfatoriamente. Tirou os fones que estavam pendurados em seu pescoço e os jogou num canto.

– Não - Afirmou, exibindo seu típico sorriso de lado. - Meu chalé, minhas regras.

– Okay - Suspirei e levantei as mãos, me rendendo.

– Então... Me fale mais sobre você - Ele disse, me analisando com seus olhos de esmeralda. - Já trocamos saliva e eu não sei nem seu sobrenome.

A menção do beijo me fez ruborizar.

– Grace - Respondi, virando o rosto para ele não notar que eu fiquei escarlate. - Thalia Grace. O que mais você quer saber?

Ele refletiu um pouco.

– Sei lá... Seus gostos, talentos, fetiches... O que vier na cabeça.

Eu olhei para ele e ri.

– Bom... Eu amo música - Falei, enquanto passava os dedos pela costura da almofada. - Ela com certeza é minha melhor amiga. Gosto de rock... E eu acho que não tenho nenhum talento.

– Tem sim, o talento de ser chata - Provocou, com um sorriso zombeteiro no rosto.

– Ha ha, muito engraçado - Bufei, cruzando os braços. - Nesse quesito você ganha de 10 a 0.

Ele riu.

– Além disso, você beija muito bem - Deu um sorriso malicioso.

Achei que estava na hora de conversar sobre o ocorrido.

– Olha Percy... Sobre aquele beijo... Foi um erro - Eu não sabia de onde estavam vindo aquelas palavras. - E não vai mais se repetir...

Ele fez uma expressão de alguém que tinha acabado de levar um chute no estômago. Eu queria me estapear naquele momento. Me odiei mil vezes por ter dito aquilo e me odiei mais mil por ter machucado ele. Um lado de mim queria que as minhas palavras fossem verdade, que tudo seria mais fácil se eu cortasse aquilo antes mesmo de começar. Mas mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira.

– Vamos apenas esquecer, certo? - Minha mente ordenava: Cale a boca agora, sua idiota!! Mas a minha língua não obedecia. - Apenas amigos?

– É, apenas amigos - Ele concordou, tentando sorrir, mas o que surgiu mais pareceu uma careta de desgosto.

Continuamos conversando sobre banalidades, porém o clima ficou meio pesado entre nós. De vez em quando ele fazia alguma brincadeira para quebrar a tensão do ar, mas em seguida voltava à insegurança.

Num momento, eu fiz uma pergunta a ele, mas ele não respondeu. Só ficou parado me encarando. Eu sustentei o olhar. Aproveitei o instante para observá-lo com mais atenção. Seus olhos verdes como duas poças sem fim me sugavam para o seu interior. Reparei nos seus lábios, tão macios e delicados quando estavam acariciando os meus. Desejei tê-los de novo. Mas eu sabia que isso não seria possível. Tudo por culpa minha. Eu estraguei tudo.

– Tá me olhando assim por quê? - Indaguei, arqueando uma das sobrancelhas.

– Eu acho que eu vou te beijar agora - Ele murmurou, olhando fixamente a minha boca.

– E eu tenho certeza - Respondi, instantes antes dele me puxar para si.

Ele me deitou no sofá e ficou por cima de mim, apoiando-se nos cotovelos. Uma de suas mãos fortes ocupou minha cintura. Ficou uma quentura demarcando o lugar. Enlacei minhas pernas em sua cintura e entrelacei meus dedos em seus cabelos bagunçados, trazendo-o para mais perto de mim. Estávamos colados, mas mesmo assim ainda não parecia próximo o suficiente. Dessa vez, o beijo era mais intenso, ávido, quase desesperado, como se tivéssemos esperado uma eternidade para enfim nos unirmos.

Paramos para recuperar o fôlego. Meu coração batia feito louco e eu temia que fosse possível ouvi-lo do outro lado do acampamento.

Ele afastou uma mecha do meu cabelo, colocando-a atrás da minha orelha.

– Tomara que esse beijo "não se repita" mais vezes - Sussurrou no meu ouvido, fazendo-me arrepiar. Di Immortales! Isso era tão bom...

– Cale a boca, Jackson - Selei nossos lábios, parando seu protesto.


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Notas finais do capítulo

Então... É isso, cupcakes, digam o que vocês acharam, se gostaram, ou em que preciso melhorar.
Até semana que vem o/