Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 9
Capítulo IX




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POV Jude

Encarando o meu reflexo no espelho, pensava sobre o quanto a minha vida tinha mudado da última semana para cá. Uma catástrofe atrás da outra, para ser sincero. Deveria procurar alguma maneira para me livrar de toda aquela mandinga, mas, como no momento estava atrasado para um casamento, apenas fiz uma nota mental e alisei o terno Brioni que usava. Ajeitei o cabelo pela última vez e, suspirando, saí de casa.

Iria direto para a festa de casamento, uma vez que nem Dominique tinha assistido à cerimônia. No caminho, uma única pergunta perturbava minha mente: Aonde é que eu fui me meter?

Cheguei no meu destino em um piscar de olhos, afinal, o trânsito não estava tão horrível como o desta manhã. Parei o carro no próprio estacionamento do salão de eventos. Várias pessoas, muito bem vestidas, entravam no ambiente com calma. A decoração estava impecável, e provavelmente havia saído bem cara. Dentro da festa, uma música animada tocava no fundo. Parei perto da porta, vasculhando o salão com os olhos. Não encontrava Dominique em nenhum canto, e meus pais só chegariam mais tarde.

Caminhei devagar até um barzinho improvisado, ainda olhando para os lados. O barman entregou-me, como havia pedido, uma dose de whisky no exato momento em que meus olhos alcançaram Dominique. Ela usava um vestido bege que ia até um palmo acima do joelho. Estava sentada sozinha em uma mesa, aparentemente muito interessada no que a tela de seu celular mostrava. Dei a volta no salão, aproximando-me de Dominique por trás. Quando já estava perto o suficiente, usei minhas mãos para tapar os olhos da loira. Praticamente no mesmo instante, ela levou as mãos de encontro às minhas, largando o celular na mesa. Puxou as minhas para baixo, sem se preocupar em ser sutil.

— O que diabos...? Ah, é você.

POV Dominique

Já mencionei o quanto detesto festas de casamento? É impressionante como os convidados para o evento parabenizam o noivos e comemoram algo que, com certeza, vai dar errado. Independente do tempo que a união dure, em algum ponto o relacionamento vai desandar.Traição, brigas ou seja lá o que for, o final sempre será um fracasso total.

Para piorar a situação, fui abandonada ali no meio de toda aquela gente desconhecida e estúpida. Tony tinha sumido, e Megan e James tinham ido dançar em algum ponto do salão que já estava fora do meu ângulo de visão, deixando-me sozinha na mesa que ocupávamos. Aliás, eu já estava ficando com ciúmes da minha melhor amiga. Então, com o meu rosto configurado na expressão “prisioneiro de ennui”*, apelei para o que seria a minha única salvação no momento: meu celular. Por mais que tentasse, nada naquele aparelho conseguia me distrair por completo, e já estava desistindo do mesmo quando um par de mãos apareceu em frente aos meus olhos, cobrindo-os. Por puro instinto, tirei-as dali, e confesso que não me surpreendi ao descobrir a quem aquelas mãos incrivelmente macias pertenciam.

— O que diabos...? Ah, é você. – Resmunguei.

— Toda essa felicidade que você demonstra quando me vê acalenta o meu coração, love – Ironizou Jude. Respondi-o apenas com um olhar repreensivo. Observei-o tomar o último gole de seu whisky, olhando-me de cima a baixo. Depois de virar o copo e colocá-lo sobre a mesa, voltou a dirigir sua palavra para mim. – Você está linda, por sinal.

Ri fraquinho, sem humor, e imitei seu ato, estudando-o com os olhos.

— Você também não está de se jogar fora. – Retruquei com o mesmo cinismo que estava presente na sua voz segundos antes.

Nos minutos seguintes, até que trocamos mais algumas palavras. Digo, isso até Melissa aparecer e começar a despejar baboseiras pela boca. O tom de sua voz era tão falso que não sei como Van der Bilt conseguiu manter uma conversa com ela. Bom, considerando que os dois só sabem falar besteiras, até compreendo como tal diálogo se desenrolou. Em certo ponto, parei o nada que fazia para prestar atenção na fala de Melissa. Como se não bastasse sua voz absurdamente fina e irritante, pude confirmar minha teoria: ela é uma pessoa tão estúpida e vazia que era praticamente um holograma.

Passaram-se intermináveis e aterrorizantes segundos até que alguém que não pude distinguir a chamasse. Logo, aquele que supostamente deveria chamar de namorado se virou para mim:

— Que carranca é essa, Dominique? Espere, não precisa dizer, já sei: está com ciúmes.

— Você é patético, Van der Bilt. Muito patético – Jude abriu a boca para me responder, mas a voz que escutei não era dele.

— Aí está o meu casal predileto – Disse um timbre alegre atrás de mim. Reconheci na hora, virando-me lentamente e colocando um sorriso claramente forçado no meu rosto.

— Pai, que surpresa – Ironizei.

Não fiz questão alguma de prestar atenção na conversa. Apenas sei que Anthony cumprimentou Jude agradavelmente e, depois disso, não pararam de tagarelar. Claro, era meu pai quem estendia o assunto, afinal, Van der Bilt o queria ali tanto quanto eu. No entanto, num ponto do diálogo, pude escutar meu pai referindo-se a Jude como “filho”. Juro que gelei. Era só o que me faltava. Percebi que a reação dele foi a mesma, pois sua voz falhou por um milésimo de segundo.

— Bom, vou deixa-los sozinhos. Juízo, garotos – Quando Sênior foi se despedir, fez algo inesperado: me abraçou. – Fico feliz que tenha vindo, filha.
Fiquei estática, sem entender nada. Não fui capaz de emitir som algum, nem mesmo de soltar um comentário sarcástico sobre o quanto meu pai havia adorado Jude. Acredito que meu estado de choque não passou despercebido, pois, assim que uma nova música começou, Van der Bilt me arrastou – literalmente – para a pista de dança, depois de muita teimosia da minha parte. Reconheci a letra da música no mesmo momento. Last Dance, do Camera Can’t Lie. Mais uma demonstração das manipulações do Universo. Ri fraco com a ironia que a música refletia nesse exato momento, enquanto Jude me segurava com uma mão pela cintura, mantendo nossos corpos unidos.

— Qual a graça, DiNozzo? – Perguntou, inclinando o tronco para poder me encarar. Dando de ombros, esclareci sua dúvida:

— Essa música – Disse, com o refrão da canção soando por baixo. Não pude deixar de contemplar o senso de humor do Universo, e acredito que Jude também percebeu, uma vez que acompanhou o meu sorriso.

Continuamos em silêncio, apenas apreciando a música. Como um filme na minha cabeça, todos os acontecimentos desde o início de nosso trato ridículo passaram pela minha mente. Flagrei-me fitando a aliança em meu dedo. Era engraçado pensar que, ainda essa noite, eu me livraria disso tudo. Pagaria minha dívida. Não precisava mais sequer me aproximar do homem que, neste exato momento, segurava-me em seus braços. Tal pensamento me relaxou tanto que, involuntariamente, apoiei meu queixo no ombro de Jude, fechando os meus olhos. Dali, conseguia sentir perfeitamente o seu cheiro.

— Então – Ele quebrou o silêncio. –, quando colocaremos um ponto final neste teatro?

POV Jude

Achei impressionante a maneira como Dominique, que se apresenta com uma armadura de ferro, se abalou tanto com um mero abraço de seu pai. Tudo bem, o cara era apenas um oportunista que, até aonde eu sabia, não demonstrava um pingo de preocupação com os filhos, mas não era para tanto.

Em todo caso, DiNozzo parecia tão aflita que começou a me dar nos nervos. Tive que insistir por quase dez minutos até que consegui tira-la da mesa para que dançássemos. No entanto, só reparei na música que tocava quando ela mencionou. Mais um dos caprichos do destino. Afundei em meus devaneios a partir daí, refletindo sobre como eu havia me aproximado de Dominique desde que pedi que fosse minha falsa namorada. Só voltei ao mundo real quando ela colocou o queixo em meu ombro, uma vez que, com esse ato, fui embriagado pelo seu perfume. Assustado com as consequências que aquela situação poderia trazer, decidi quebrar o silêncio.

— Então, quando colocaremos um ponto final neste teatro? – Confesso que tive medo da resposta.

Apesar dos momentos embaraçosos e de todos os outros problemas, de alguma maneira, aquilo parecia quase normal. Talvez já tivesse me acostumado com Dominique mais perto do que o usual. Talvez fosse algo a mais.

— Você sabe perfeitamente quando faremos isso. Só precisamos esperar pela nossa deixa – Assenti com a cabeça, mesmo sabendo que ela não tinha visto. Por um momento, não falamos nada. Dominique apenas se pronunciou mais uma vez quando a música já terminava.

— Sabe, o que você acharia se... – Ela fez uma pausa. – Esquece.

— Eu não vou esquecer se você não me disser – Rebati, me afastando um pouco para poder encara-la.

DiNozzo tinha um leve sorriso sarcástico nos lábios, mas que não deixava de ser encantador. Juro que, se você olhasse diretamente nos olhos dessa loira, conseguiria ver constelações inteiras. Foi nesse momento que percebi como era maravilhoso segura-la em meus braços. Quase que hipnotizado, fui aproximando meu rosto do dela lentamente. Alguns milímetros separavam nossos lábios quando uma voz conhecida ressoou pelo salão, atraindo a atenção de todos e fazendo com que Dominique se desvencilhasse de meus braços.

— Caros amigos, família, é um prazer tê-los aqui conosco para comemorar a união de minha mãe, Jessica Houston, com o meu, desde já, padrasto, Anthony DiNozzo – A voz de Melissa podia ser ouvida perfeitamente em qualquer canto do ambiente. – Eles são um grande exemplo para todos nós do que é o amor. Contudo, em contrapartida, para todo caso de amor verdadeiro, tem um que não passa de uma grande mentira.

Na pausa que ela fez em seu discurso, eu e Dominique nos entreolhamos. Quando tirei os olhos da loira, pude ver um rosto conhecido parado ao lado do palco onde Melissa recitava para toda aquela gente sobre o meu relacionamento falso. Enquanto isso, o Rosto Conhecido sorria, astuto, e eu estava perplexo demais para encarar Melissa ou qualquer outra pessoa, mesmo sentindo centenas de olhares em mim. Eu não conseguia desviar os olhos do rosto traiçoeiro de Caitlin Todd.

POV Dominique

Já perceberam que, de vez em quando, começamos a ter a impressão de que o mundo todo é uma conspiração com o intuito de fazer você parecer um idiota completo? E, se for uma criatura razoável com um conhecimento ainda que superficial de lógica, você se diz que tudo isso é mera paranóia; você se convence a esquecer isso e a persistir. Porém, alguma coisa acontece que faz você pensar que essa não é uma ideia assim tão absurda, afinal de contas.

Pois é exatamente isso que se passa na minha cabeça enquanto aquele projeto de prostituta relata, com alguns detalhes fictícios, minha suposta relação com o primogênito dos Van der Bilt. Já estava há quilômetros de distância do meu ponto de equilíbrio, e o sangue corria quente em minhas veias. Estava prestes a caminhar até lá e libertar os meus instintos homicidas quando uma mão tocou o meu ombro. Quando me virei, vi Megan, que sibilou um “Vamos acabar com essa vadia”, arrancando-me um sorriso nervoso. Além disso, James saíra do lado de Meg e me deu um breve abraço de lado, um tanto desajeitado, seguido de um murmúrio: “Mantenha a calma, Cardumi”. Agradeci-os com o olhar e saí dali antes que alguém viesse tirar satisfação.

POV Jude

Quando finalmente tirei meus olhos estupefatos de Caitlin e fiz uma nota mental para resolver esse assunto com a própria, olhei para o lado e Dominique tinha sumido. Todavia, pude ver Megan conversando com os meus pais e James com o tio e o primo. Não perguntei à Meg onde diabos Domi teria se metido, uma vez que precisaria me aproximar dos meus pais para isso, e não estava com paciência para pseudo-moralismo no momento.

Vasculhei canto por canto daquele lugar, incluindo o banheiro feminino, e nada da Dominique. Já tinha desistido de procura-la e saí para tomar um ar e refrescar as ideias. Fui parar no estacionamento. Apoiei-me em meu carro, respirando fundo. Dali, pude ver um parquinho, ao longe. Estava escuro por lá, e só consegui enxergar uma silhueta, mas eu a reconheceria em qualquer lugar.
Avancei a passos largos, até que, sem pronunciar uma sequer palavra, sentei-me no balanço ao lado do ocupado por Dominique.

— Estou a ponto de matar alguém, Van der Bilt. Caso valorize a sua vida, dê o fora daqui – Praguejou, sem me encarar.

— Gosto de viver grandes emoções. Correr riscos. Prefiro ficar por aqui mesmo – Não obtive resposta.

Virei-me para observar a loira. Seu cenho estava franzido e ela mordia o lábio inferior, além dos nós de seus dedos estarem brancos. Conheço-a muito bem para saber que tem um comportamento extremamente explosivo, e que deveria estar colocando todas as suas forças em seu, até então desconhecido por mim, auto-controle. Contudo, algum momento ela iria explodir, e não gostaria de estar por perto quando isso acontecer.

— Parece que nosso teatro finalmente terminou. – Por incrível que pareça, eu não sentia o alívio que esperava. Francamente, eu nem sabia o que sentia em relação ao final do nosso acordo. – Foi um prazer fazer negócios com você, love.

— Queria poder dizer o mesmo. – Confesso que ri de sua sinceridade.
Sem pensar, segurei o rosto de Dominique e uni nossos lábios. Um beijo calmo se desenrolou, quase como uma despedida. Usando a mão que me restava, entrelacei nossos dedos. Quando me preparava para transformar nosso beijo em algo mais quente, senti uma mão espalmada no meu peito. DiNozzo me empurrara suavemente, levantando-se do balanço.

— Não. Já quitei a minha conta. – Alisou os longos cabelos loiros, nervosa. Tirou a aliança de seu anelar e a entregou para mim. De repente, senti meu coração apertar, mesmo tendo plena consciência de que aquele anel nunca significou alguma coisa. Pus-me de pé, apenas com alguns passos me separando dela.

— Quer que eu te leve para casa? – Perguntei, com o meu tom de voz um tanto aflito.

— Não, eu vou dormir na Megan. Aliás, tenho que ir procurá-la. Tchau, Van der Bilt.

Observei-a se afastar, apertando a aliança que Dominique devolvera na palma de minha mão. A cada passo que ela dava, eu sentia um vazio cada vez maior.


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Notas finais do capítulo

* Expressão de tédio.



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