Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 8
Capítulo VIII




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POV Dominique

Após planejar o tão glorioso final de nosso "teatro" por cerca de duas horas, eu já estava completamente acabada. Meu cabelo, preso em um coque que ameaçava cair, deixava minha franja solta em frente aos meus olhos quando fechei o notebook e massageei minhas têmporas, ignorando a incômoda dor de cabeça. Ao meu lado, uma revista em quadrinhos entretia Jude, o qual estava prestes a cair em um sono profundo na minha cama. Levantei-me, estralando os dedos.

— Hora de cair fora, Van der Bilt. — Minha fala pareceu despertá-lo, levando-o a se sentar na beirada da cama.

Parada em sua frente, mantinha minhas mãos na cintura. Em um movimento rápido e surpreendente, ele puxou o meu braço, permitindo que eu caísse em minha própria cama.

— O que diabos...?

— Acho que vou ficar por aqui, love. — Disse, com a voz embargada pelo sono. No primeiro momento, imaginei que fosse uma brincadeira de mau gosto, por isso soltei uma risada debochada. No entanto, como ele permaneceu com um semblante sério, franzi a testa.

— Claro, com certeza — Revirei os olhos. — Anda logo, levanta — Nisso, Jude já se acomodava no lado esquerdo da cama. Observá-lo cair no sono gradativamente fez meus olhos pesarem, fazendo com que eu me deitasse ao seu lado, com bons centímetros nos separando. Sem conseguir hesitar mais, me rendi ao cansaço, adormecendo ao lado de Jude Van der Bilt.

POV Tony DiNozzo

Não tinha certeza se já passava da 1 hora da manhã quando abri a porta de casa. Quase todas as luzes estavam acesas e o apartamento, silencioso. Dominique deve ter caído no sono mais cedo do que o planejado, deduzi. Mesmo assim, só me preocupei em passar na cozinha para pegar uma cerveja e depois cair na cama. Toda aquela busca incansável por La Grenuille, maldito traficante internacional, por trás de casos rotineiros de marinheiros mortos estava me deixando mais do que exausto, fora os nem tão inusitados contratempos com meu pai.

Neguei com a cabeça, tentando afastar o pensamento. Alguns minutos depois de despencar no sofá e tomar metade da minha bebida, o barulho de algo caindo atraiu minha atenção e levantei com um pulo. Caminhei sorrateiramente até o quarto de minha irmã, abrindo a porta o mais silenciosamente possível e torcendo para que Dominique não despertasse. Contudo, parei na porta. Estático. Estupefato. Sem qualquer reação que não trouxesse a tona certos impulsos homicidas.

Dominique estava encolhida em um lado da cama, com os cabelos cobrindo-lhe uma parte do rosto. Aparentemente, seu sono era pesado e tranquilo. Aliviei-me quando percebi que minha irmã estava devidamente vestida, afinal, aquele que julgava como seu namorado repousava ao seu lado, e o braço dele pousava na cintura de Dominique. Garanto que a imagem da minha irmã mais nova dormindo de conchinha com um sujeito de quem desconfiava inteiramente fez com que eu perdesse o sono, e fiz o possível para não expulsa-lo dali a tiros.

POV Jude

Acordei com um raio de sol incidindo diretamente em meus olhos, fazendo com que, assim que os abrisse, ficasse momentaneamente cego. Nesse meio tempo, percebi que meu braço apoiava-se em algo que parecia ser... Um corpo humano? Tomando essa análise como verídica, havia algumas opções para se considerar sobre a razão de ter um corpo até então desconhecido em minha cama: a) eu havia deliberadamente tirado a vida de um ser humano e me esquecido desse fato tão inusitado; e b) teria eu desfrutado de outra noite de loucuras que, devido ao possível alto teor alcoólico em meu sangue, não me lembrava de absolutamente nada?

Observando minuciosamente, a primeira alternativa era um tanto absurda. Afinal, não havia ninguém cuja existência me atormentasse tanto a ponto de me levar a privar esse alguém de ver a luz do dia novamente - com exceção, talvez, de Dominique -, sem contar que o movimento no tronco da pessoa ao meu lado indicava que sua respiração era constante e cheia de vida.

Logo, presumimos que a alternativa "b" é a correta! Feliz com minha provável performance, me mexi na cama para saber mais sobre a minha mais recente parceira de insanidades noturnas. Primeiramente, me ocorreu, erroneamente, que a garota era Caitlin. No entanto, a Estranha Misteriosa tinha os cabelos tão claros quanto a pele, e tirei os fios que cobriam seu rosto para obter mais informações. E foi nesse momento que o sorriso desapareceu do meu rosto.

Minha "namorada" e arqui-inimiga — não necessariamente nessa ordem —, Dominique DiNozzo, dormia tranquilamente ao meu lado. Minha reação a essa descoberta chocante foi nada mais, nada menos do que encará-la, atônito, piscando e com a boca relativamente aberta. Quase que instintivamente, olhei para baixo e soltei um suspiro de alívio ao perceber que estava inteiramente vestido, assim como DiNozzo. Levantei-me depressa e, alguns segundos depois, percebi que fitava as curvas de Dominique, aproveitando um dos raros momentos em que não discutíamos - quando um de nós estava dormindo ou inconsciente.

No intuito de não acordar Dominique, fui até a janela e fechei a maldita fresta da cortina que tinha permitido que os raios solares entrassem e, assim, me acordassem. Afinal, aquela loira me torturaria de maneiras inimagináveis quando descobrir que dormimos na mesma cama.

Saí do quarto sem fazer barulho algum, em uma busca desesperada e frenética pela cozinha. Encontrei-a rapidamente, para a alegria de meu estômago que já começava a reclamar. Sem parar para analisar se seria educado da minha parte ou não, comecei a abrir todos os armários em busca do necessário para fazer um café da manhã digno.

A cafeteira já trabalhava arduamente quando, felizmente, um par de células cinzentas foi até a superfície, sugerindo que o apartamento onde me encontrava não pertencia somente a Dominique: ela tinha um irmão mais velho, com quem minhas experiências não tinham sido muito cordiais, e acredito que ele não estava disposto a criar um vínculo de amizade com a minha pessoa.

O aroma do café fresco invadiu minhas narinas, expulsando qualquer pensamento negativo que envolvia irmãos ciumentos e formas de homicídio. Naturalmente, peguei uma xícara qualquer e comecei a enchê-la daquela Bebida Dos Deuses.

— Não sabia que passaria a noite por aqui, garoto — A voz fria de Anthony DiNozzo ressoou no ambiente, assustando-me a ponto de me fazer derramar, lamentavelmente, um pouco do café. — Pelo menos não tão cedo.

Sem saber o que responder, balbuciei algumas palavras sem sentido e amaldiçoei meu cérebro por parar de funcionar em um momento tão decisivo. Sorrindo cinicamente e esperando uma resposta do Pobre e Desolado Jude, Anthony passou a mão na minha frente e pegou a xícara que eu servira com café, sem dar espaço para minhas objeções. Sabendo que não seria nada inteligente protestar e exigir meu café de volta, tentei mais uma vez responder aquele comentário mordaz.

— Bom, é que... Na verdade, eu... — Parei por aí, ciente de que minha habilidade de conversação estava ausente no momento.

— Estou de olho em você - Anthony sibilou e não disse nem sequer mais uma palavra, apenas abandonou a xícara, já vazia, em qualquer lugar e pegou suas coisas — incluindo sua arma, uma pistola Glock 9mm que fez questão de mostrar-me não tão discretamente —, batendo a porta atrás de si quando saiu, e eu suspirei de alívio.

Como tudo o que é bom, meu estado de alívio durou pouco. Cerca de cinco minutos depois daquela breve seção do que deveria se aproximar muito da tortura medieval, o som de chinelos batendo contra o assoalho chamou minha atenção e olhei na direção do ruído. Mentalmente, recapitulei, tentando lembrar se o pagamento do plano de saúde estava em dia e se já tinha alguma ideia de como faria meu testamento. Respirei fundo, me preparando para morrer nas mãos de Dominique DiNozzo.

— O que diabos você está fazendo aqui?

POV Dominique

Acordei com um susto quando o despertador começou a tocar freneticamente. Assim que me virei para impedir que continuasse com aquele barulho estridente e irritante, fiquei encarando o nada por alguns instantes, incerta, tentando fazer com que meu cérebro recém acordado funcionasse. Vários e longos segundos depois a minha massa cinzenta provou-se útil e encontrei o aparelho, o qual estava, curiosamente, debaixo da cama. Desliguei aquela porcaria e fui até o banheiro para fazer minha higiene. No meio do caminho, ocorreu-me que ainda vestia a roupa que usei no dia anterior e fiz uma nota mental para que me certificasse do motivo de eu não estar usando pijamas.

Cerca de vinte minutos depois, caminhei até a cozinha a passos lentos enquanto respondia as infinitas mensagens deixadas em meu celular por Megan e James. Assim que levantei o olhar da tela do telefone, parei onde estava, imóvel. Precisei de alguns instantes para absorver e interpretar o choque, enquanto meu cérebro trabalhava o mais rápido possível sem a influência da cafeína.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Foi a única frase coerente que minha mente conseguiu formular. Em contrapartida, Jude sorriu de canto, claramente se esforçando para tirar-me ainda mais do sério.

Tudo bem, vamos apontar os fatos. Em primeiro lugar, Jude Van der Bilt estava parado na minha cozinha, com os cabelos desalinhados e uma expressão que indicava que acordara há pouco tempo. Segundo, suas roupas também eram as mesmas do dia anterior, se a minha memória não falha. Não demorou para que juntasse as peças, finalmente montando o quebra-cabeça e chegando à conclusão mais pateticamente óbvia:

— Você dormiu aqui — Murmurei em um tom alto o bastante para que pudesse ser ouvido por Van der Bilt. Mentalmente, dei um tapinha em meu próprio ombro para me parabenizar pela minha explosão de perspicácia. Jude pareceu se divertir com a minha confusão, uma vez que alargou seu sorriso e logo soltou um comentário relativamente mordaz.

— Como assim você não se lembra das nossas loucuras noturnas? — Ele fez uma breve pausa, provavelmente para admirar a careta que eu certamente tinha feito. — Nem mesmo da maneira como chamava o meu nome, implorando por mais?

Confesso que fiquei um pouco tonta, mas preservei a compostura com um semblante que se esforçava para não demonstrar toda a raiva que corria em minhas veias e o caos que reinava em meu cérebro.

— Perdão? — Amaldiçoei-me mentalmente por isso ter sido o melhor que pude dizer. Afinal, as informações estavam desconexas demais para que eu pudesse bolar alguma frase inteligente. Jude riu da minha situação, alcançando-me uma xícara de café. Não pude deixar de encarar a bebida, com o cenho franzido.

— Relaxa, Dominique. Não cuspi aí — Alertou, revirando os olhos.

— Nunca se sabe — Dei de ombros, reunindo coragem para levar um gole da bebida até a minha boca. — Refresque a minha memória e conte-me o motivo de ter passado a noite na minha casa. E diga a verdade, sem gracinhas de qualquer índole, principalmente sexuais.

Respirando fundo e soltando o ar lentamente, Jude foi explicando como tínhamos acabado naquela situação, e minha memória voltava aos poucos. Como já era de se esperar, em meio à sua fala, Van der Bilt soltava comentários, a meu ver, completamente desnecessários e incrivelmente irritantes, tirando-me do sério de uma maneira que apenas ele conseguia.

— Ok, beleza — interrompi, assim que começou a dramatizar sobre a maneira que estávamos dormindo: aparentemente, de conchinha. Mesmo desconfiando da veracidade do fato, me arrepiei. — Já chega. Estamos atrasados – Seu rosto converteu-se em uma expressão confusa. — Para a faculdade, paixão.

Enrolando mais um pouco para sair, Jude alegou que não gostaria de ir para o campus com a roupa que tinha passado a noite. Ofereci uma blusa do Tony, acredito que serviria. No entanto, Jude negou bruscamente, e juro que vi uma pitada de pavor em seus olhos.

Como ele tinha ido para minha casa no meu carro, tive que levar o infeliz até a faculdade também. Depois de uma longa e árdua busca pela chave do automóvel, finalmente deixei o apartamento, entrando no elevador logo em seguida e apertando o botão que nos levaria até o subsolo.

Durante o breve percurso, permanecemos em silêncio. Tudo o que podíamos ouvir era o ruído que os cabos do elevador faziam e, vez ou outra, um pigarrear. Nesse meio tempo, confesso que trocamos olhadelas. Sempre que nossos olhos se encontravam, desviávamos no mesmo momento. A quietude desagradável continuou, e só foi rompido quando parei no segundo semáforo.

— Encontrei seu irmão, mais cedo. Simpático ele. Pensei que me torturaria ali mesmo — Fazendo uma breve pausa, me encarou, e eu retribuí o olhar. — Deve ser de família.

Ri sem humor, avançando com o carro assim que a luz do sinaleiro ficou verde. Andamos mais algumas quadras, chegando ao nosso destino em pouco tempo. Demoramos apenas o tempo de parar em um pequeno engarrafamento, causado por um grande caminhão de tomates que tinha derramado a carga na rua. Atrás do caminhão onde carga tinha caído, um homem alto e com a cabeça raspada trocava socos com um senhor baixo que usava um rabo de cavalo preto. Por isso, o tráfego diminuiu o ritmo para um rastejar, permitindo que as pessoas assistissem ao espetáculo. O clássico bom-humor matinal nova iorquino.

Estacionei relativamente longe do prédio, o que exigiu um pouco de caminhada. Quase havia me esquecido da presença de Jude, que só foi devidamente notada quando ele entrelaçou seus dedos nos meus. Encarei-o um tanto surpresa, mas não me pronunciei. Afinal, ambos sabíamos o porquê: estávamos em público.

A medida que nos aproximávamos, Meg vinha ao nosso encontro, com o cenho franzido.

— Vocês vieram juntos. Por que vieram juntos? — Perguntou, confusa. Trazia consigo um pacote de doces, e fiz questão de pegar alguns. Em resposta, recebi um leve tapa na mão.

— Dormi na casa dela. — Respondeu Van der Bilt, sem rodeios. Foi tão direto que, se até eu me surpreendi, imagine a Megan. Ela deixou a boca entreaberta, parecendo processar a informação. Quando finalmente o fez, compartilhou conosco sua conclusão.

— Vocês dormiram juntos? – Disse, mais afirmando do que perguntando.

— Sim – Van der Bilt confirmou, impassível.

— Não! – Falei junto com ele, as respostas saindo em uníssono. Jude riu do meu desespero, e Meg parecia ainda mais confusa.

Ao longe, Mike acenou para meu nem tão querido namorado que, antes de se juntar ao amigo, roubou-me um beijo no canto dos lábios. Antes que pudesse protestar, ele se afastou.

— Nos vemos de noite, no casamento. Tenha um péssimo dia, love. Até mais, Meg – Dizendo isso, saiu, deixando-me com uma Megan curiosa e cheia de perguntas.

POV Melissa Houston

Esperara ansiosamente pelo dia de hoje. É claro, não me agrada muito que minha mãe se case com aquele velho, mesmo que a única coisa que me conforte é o dinheiro que ele tem. Tinha plena consciência de que era somente por isso que mamãe se uniria a ele, e para mim estava tudo ótimo. Tudo excelente, até que aquela vagabunda loira apareceu.

Criei falsas expectativas, ou melhor, certezas. Ora, Christopher Van der Bilt tinha me garantido que seu filho cairia aos meus pés assim que me visse. Percebi olhares espantados, é claro, todos o fazem. Contudo, foi na festa da empresa que todos os meus planos foram por água abaixo. Encontrar Jude com aquela garota me deixou furiosa, não aceitava que pudessem estiver juntos, não mesmo. Precisava agir logo, até que me ocorreu que poderia dizer à família de Jude que duvidava do romance e, de alguma maneira, provar. Faria isso, apesar de perceber a maneira com que os dois se olhavam. Não permitiria ser passada para trás. Não aceitava que ele estivesse apaixonado por aquela garota.

Logo, o rosto de uma grande amiga apareceu em minha mente. Unindo com a notícia de uma festa neon, pedi à Caitlin que fizesse um pequeno favor para mim: seduzisse a carne fraca de Jude, e é lógico que deu certo. Não podia errado. Como também estava no evento, aproveitei para fotografa-los e alertar minha querida irmãzinha sobre seus recém adquiridos chifres. Cait disse que tudo ocorreu como deveria ser. Não me agradava, é claro, mas ela conseguira seduzi-lo e até mesmo leva-lo para cama. Todavia, hoje seria o gran finale. Você perderá, Dominique DiNozzo. Isso eu posso garantir.


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