Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 18
Capítulo XVIII




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POV Jude

— Deixe de graça, Van der Bilt – disse a loira, depois de dar uma risadinha nervosa.

— Desculpe, mas eu realmente não sei quem é você. Qual é o seu nome? – Perguntei, ingênuo, enquanto ela murmurava alguma coisa para a amiga, que concordou com a cabeça e despediu-se de mim, alegando que precisava ir, mas que voltaria. A loira, por outro lado, nem sequer me olhou outra vez.

— Puta merda, não acredito que você esqueceu da DiNozzo! – Exclamou Mike assim que as garotas deixaram o quarto.

— É claro que eu me lembro da Dominique, Michael – revirei os olhos, impaciente. – Como poderia esquecer, não é mesmo? – O rosto dele se contorceu em uma hilária careta de confusão, mas esperei que perguntasse para esclarecer suas dúvidas. – Eu paguei o médico para confirmar que eu tive perda de memória. Então, supostamente, estou começando a minha vida do zero, correto? Se Dominique acreditar nisso, vai ficar muito mais fácil fazê-la se apaixonar por mim. Afinal, eu não lembro de nada que aconteceu entre nós. Sou completa e totalmente inocente – sorri. – Pois é, Mike. Parece que você já perdeu a aposta.

— O plano é bom, confesso, mas isso se chama trapacear, sabia?

— Em momento algum estabelecemos que pequenos truques não eram válidos, caro amigo – Mike murmurou um "Tanto faz, você vai perder mesmo", e ri de sua carranca.

Apesar de estar bem e com todos os ossos em seus devidos lugares, tive que passar a noite no hospital. Nesse meio tempo, meus pais e minha irmã passaram me visitar, mas quem pernoitou no sofá ao lado foi Michael. Insistiu em ficar por ali para se certificar de que eu não tinha enlouquecido com toda essa história de aposta. Não estava louco, é óbvio, apenas determinado a vencer. Mesmo que o acontecimento tenha sido trágico – além de deixar o meu carro na oficina por alguns dias –, me deu uma excelente oportunidade para alcançar meu objetivo com mais rapidez. Quero dizer, se DiNozzo pensasse que eu não me recordo do nosso passado (incluindo o falso namoro e afins), certamente não veria segundas intenções quando eu tentasse aproximar dela, somente enxergaria alguém tentando recuperar suas memórias. Sendo assim, em breve o ódio que sente pela minha ilustríssima pessoa seria amenizado e, aos poucos, daria lugar à paixão (incorrespondida, é válido salientar). Consequentemente, minha vingança estaria completa e a aposta, ganha.

Na manhã do dia seguinte, já havia recebido alta. Mike insistiu em me dar uma carona até a minha casa e, uma vez lá, comecei a planejar qual seria a minha próxima jogada. Posso parecer um pouco obcecado, mas começaria passando em todos os lugares que Dominique costuma frequentar. Já tinha algumas ideias em mente, e colocaria em prática o quanto antes possível. Posto isto, tomei um banho e me aprontei para dar início à minha vitoria iminente.

Comecei indo até o campus, onde gastei cerca de quarenta minutos sem ter sinal algum da loira. Atravessei a Universidade inteira e nada, nem mesmo na biblioteca. Minha próxima parada foi o Brew, origem de minha fracassada tentativa e também do hematoma em meu tórax. Até perguntei para a simpática atendente que cuidava do caixa se alguma garota com as características físicas de DiNozzo passara pelo estabelecimento, mas a funcionária negou prontamente, sorrindo mais do que deveria e piscando para mim. Sem dar muita importância para o suposto flerte, saí um tanto frustrado do café. Escorei-me na parede ao lado da porta do Brew, pensando em outros lugares em que poderia encontra-la. Alguns minutos naquela posição foram o suficiente para que eu avistasse uma figura loira extremamente conhecida entrando em uma livraria do outro lado da rua.

Sem pensar duas vezes, entrei na loja como quem não quer nada. Caminhei calmamente até onde Dominique estava entretida lendo a sinopse de um livro com uma capa azul. Observei seu rosto sereno por alguns instantes e, assim que fez menção para pegar outra obra, estiquei o braço rapidamente, tocando em sua mão, simulando um acidente clichê:

— Desculpe, foi sem querer – sorri fraco assim que a loira pousou suas íris azuis em mim. – Ei, você é a garota que estava no hospital com a Meg. Não vai mesmo me dizer o seu nome? – Ela pareceu ponderar, desconfiando de minha gentileza.

— Tem certeza de que... – Suspirou, finalmente acreditando na minha inigualável atuação. – Sou Dominique. Dominique DiNozzo.

Consegui fazê-la cair perfeitamente na minha trama. Convenci DiNozzo a me acompanhar até a cafeteria do outro lado da rua, para que ela pudesse me contar como nos conhecemos. Ela relatou perfeitamente o ocorrido de quinze anos atrás, quando a vi pela primeira vez na casa de Megan. A parte mais curiosa é que eu me lembrava perfeitamente daquele dia, mas escutar a narração de Dominique foi sensacional. Tínhamos apenas cinco anos, e minha mãe combinara com os pais de Meg para que nós dois passássemos a tarde brincando. No entanto, assim que fui recebido por tio Noah, reparei que uma garotinha loira com fitas no cabelo fazia companhia para sua filha. Não me recordo ao certo se foi precisamente nesse dia que nossas intrigas tiveram início ou se foi à medida que crescíamos, mas Dominique retratou muito detalhadamente algumas de nossas principais brigas no Ensino Médio (sem o mínimo de imparcialidade, é claro). Mencionou até momentos que não me lembrava, e tive que rir de algumas situações. Entretanto, conforme se aproximava do presente, DiNozzo omitia certos detalhes. Não deixou de lado, é claro, o início de nosso acordo, mas também se negou a relatar as vezes em que nos beijamos e até mesmo Aquela Noite de Sexo Selvagem.

— Não pode ser – disse, assim que Dominique terminou sua sentença. – Não acredito que fui capaz de discutir tanto com uma garota tão incrível quanto você— Lancei-lhe o meu sorriso mais sedutor, fitando suas íris cinzentas. Em função disso, DiNozzo desviou os olhos, tomando um longo gole de seu café para disfarçar a vermelhidão do rosto.

— É a pura verdade, Van der Bilt. Pode acreditar – Confirmou, ainda um tanto ruborizada. – Satisfeito?

— Para ser sincero, não. Por que me chama pelo sobrenome? – Perguntei, e confesso que sempre quis saber o motivo de tanta formalidade. – Quero dizer, você falou que nos conhecemos há bastante tempo. Não somos amigos, então?

— "Amigos"? – repetiu. – Por acaso prestou atenção em pelo menos uma coisa que eu disse? – Ri fraco, alegre por Dominique ter caído tão bem na minha jogada. – E quanto ao sobrenome... Eu francamente não sei. Acho que, como você sempre foi um idiota, nunca quis ter nenhum tipo de intimidade contigo.

— Então nunca fomos íntimos? – Alfinetei, esperando que a loira admitisse que nós já tivemos os nossos momentos.

Apesar da esperança, DiNozzo insistiu que nunca houve nada entre nós, e fiz questão murmurar um "Nunca mesmo? Que idiotice a minha" que deixou-a ainda mais envergonhada, e não pude deixar de me divertir com o seu constrangimento. Antes que eu terminasse de jogar o meu charme, alegou que precisava voltar para casa e decidi fazer o mesmo, contente com os resultados de minha primeira jogada. Acompanhei-a até a saída, abrindo a porta para que passasse.

— Uma gentileza sua? Agora sim terei que lidar com uma cavalaria de fogo, o apocalipse e o final dos tempos – revirei os olhos, rindo com deboche. – Sério, não faça mais isso. Prefiro você desprezível como antes.

Com um meio sorriso sarcástico, deu início à sua caminhada até o edifício onde mora, e tive mais certeza do que nunca: DiNozzo se apaixonará por mim em pouco tempo.

POV Dominique

Sabe quando todas as suas certezas simplesmente se esvaem, descendo ralo abaixo? Tudo o que antes era concreto acaba se tornando variável, e uma conclusão parece inatingível. Seus conceitos, ideias fixas e julgamentos transformam-se em um enorme ponto de interrogação, além do nó em seu cérebro aumentar cada vez mais. Bem, era exatamente assim que eu me sentia. Não fazia ideia do que diabos fora aquela maldita conversa com Van der Bilt no Brew, e isso me deixava com calafrios. Aquele não era o Jude. Tudo bem, ele havia perdido a memória e não tinha a mínima noção de quem eu sou e do que nós já fizemos, mas apenas não era ele. Certo, ele tinha batido a cabeça, porém isso realmente pode mudar a personalidade de alguém por completo? Aliás, por que ele se lembrava de todos, exceto de mim? Não nego que isso me deixou um tanto aborrecida, mesmo que me doa confessar. Eu não quero que Van der Bilt me esqueça. Não admito que nossa convivência seja diferente do que era antes. É tão ruim assim querer que a minha vida volte ao normal? E o normal sempre será a nossa convivência conturbada. Esse novo Jude estava me deixando pateticamente assustada, além de eu ter a sensação de que há alguma coisa muito errada por trás da pessoa diferente que ele está sendo. A pior parte? É um diferente bom, que eu me acostumaria facilmente. Só tem um detalhe: não quero me acostumar. Não quero ter que enxerga-lo com outros olhos. Tudo o que eu quero é o Van der Bilt de volta.

Como se já não bastasse, fiquei pensando em tal assunto durante todo o resto do dia, sempre batendo na mesma tecla. Meu psicológico havia sido completamente abalado, e até cogitei fazer uma tomografia para conferir se não tinha algum tumor atrapalhando minhas atividades cognitivas, mesmo sabendo que esse tumor tem nome, sobrenome e endereço. Cheguei ao ponto de trocar os nomes, chamando, por exemplo, meu irmão de "Jude" sem querer, ou o porteiro de "Van der Bilt". O desgraçado simplesmente não saía da minha cabeça. Lutei contra isso, é claro, mas era inevitável. Certamente acabaria louca, e por fim tiraria a vida do miserável de uma vez por todas. Por mais incrível que pareça, ele havia se transformado em um paradoxo, uma equação aparentemente sem saída que me assombrava, deixando-me com uma dor de cabeça infernal que aspirina nenhuma ajudaria a curar. Consequentemente, a situação embaraçosa me levava à pergunta que não quer calar: com outras seis bilhões, novecentas e noventa e nove milhões, novecentas e noventa e nove mil novecentas e noventa e nove pessoas no mundo todo, essa catástrofe tinha que acontecer justo comigo? Devo ter salgado a Santa Ceia, ou até mesmo ter atirado pedras na cruz para receber tantas punições, uma pior do que a anterior. As informações não se uniam para que eu elaborasse uma linha de raciocínio capaz de me auxiliar na resolução do enigma que o imbecil havia se tornado. Não sei se o detesto ainda mais do que antes, com toda essa simpatia e cordialidade.

Acredito que é do conhecimento de todos a maneira como Murphy rege a galáxia, além do senso de humor negro que o Universo tem, aparentemente com seus bonecos vodu, certificando-se de que a raça humana tenha vida cada vez mais miserável. Como ninguém está isento dos caprichos do destino, senti minha mente se embaralhar ainda mais por volta das onze horas da noite. Já trajava meus devidos pijamas quando cometi o inocente ato de pegar o livro que ocupava espaço demais na cômoda, mais precisamente aquele que me acompanhara na Inglaterra – que, incrementando ainda mais o sadismo puro, recebera o título de Inferno. Assim que o tirei de onde estava, um pequeno papel branco caiu de dentro dele. Respirei fundo, já esperando por uma voadora da terrível Realidade e abaixei-me para pega-lo de volta. Contudo, não se tratava de um papel, como eu previra, mas sim de uma foto impressa por uma máquina Polaroid. A imagem mostrava Jude beijando o topo da minha cabeça, enquanto me abraçava de lado. Por outro lado, eu escondia o rosto em seu peitoral. Ainda observando a fotografia, deitei-me na cama, relembrando o dia retratado. Dessa forma, lembrei-me de que omiti esses detalhes quando contei a ele a nossa história. Nem ao menos cogitara mencionar os momentos que o ódio era deixado de lado por alguns instantes. Automaticamente, a noite em que dormimos juntos apoderou-se da minha mente. Lembranças incômodas tiraram o meu sono, e prometi a mim mesma que nunca deixaria Jude recordar-se de tal acontecimento único.

Antes que qualquer outra situação voltasse a me assombrar, meu celular vibrou inesperadamente. Alcancei o aparelho, rindo de toda a ironia do cenário, além de amaldiçoar o Universo por suas jogadas sujas. Uma nova mensagem de texto era exibida na tela de bloqueio, deixando-me ainda mais incerta:

"Tenha uma boa noite, Dark Princess. Durma bem ;-)"

Dormir? Depois dessa que eu não prego o olho mesmo, Van der Bilt. Graças a você, seu idiota desprezível, vou passar a noite em claro. Essas foram algumas maneiras que encontrei de responder seu inoportuno recado, mas acabei não enviando nada. Bloqueei o telefone e deixei-o de lado, junto da maldita fotografia, virando-me para o outro lado da cama e amaldiçoando até a quinta geração de Jude Van der Bilt.


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